segunda-feira, 5 de novembro de 2012

Eu falarrrrrr portchugués



Erros ortográficos e gramaticais afetam traduções de games lançados no Brasil; jogos dublados têm sotaque americano


ALEXANDRE ORRICO
DE SÃO PAULO

A era dos games dublados e legendados em português ainda está na infância.

No passado, a existência de jogos traduzidos para o nosso idioma dependia de legendas caseiras, sem autorização das produtoras, feitas por fãs dedicados.

Hoje, Sony e Microsoft já têm mais da metade de seus jogos traduzidos, segundo as próprias empresas.

Sequências esperadas, prestes a serem lançadas, como "God of War: Ascension", "Call of Duty: Black Ops 2" e "Halo 4", contarão com texto e/ou áudio em português.
Como é um processo que começou há cerca de dois anos, parte das traduções ainda tropeça em erros, termos "emprestados" do português de Portugal e pronúncias com carregado sotaque norte-americano.

"As empresas devem, em caso de erro nas legendas, oferecer atualizações gratuitas. E quem quiser pode trocar o jogo ou pedir o dinheiro de volta", afirma Maria Inês Dolci, diretora da Proteste (Associação Brasileira de Defesa do Consumidor) e colunista daFolha.

No mês passado, a Proteste enviou uma solicitação ao DPDC (Departamento de Proteção dos Direitos do Consumidor) do Ministério da Justiça: tomar providências sobre erros e termos equivocados na legendagem dos games "Mortal Kombat" e "Gears of War 3". "Avaliamos que as falhas afetam o entendimento do jogo", diz Dolci.

O caso começou em janeiro, quando a Proteste notificou a Warner e a Microsoft (produtoras dos games) por causa das falhas. A Microsoft disse que os erros são "bem pequenos" e não comprometem a experiência. A Warner não se pronunciou, mas, à época das críticas a "Mortal Kombat", prometeu corrigir os erros. Até hoje, nenhuma modificação foi feita.

O DPDC disse que espera detalhes dos estudos para decidir se tomará providências.
Mas nem tudo são trevas: alguns jogos, como "Halo 4" e a franquia "The Sims", são pontos fora da curva e têm excelentes traduções.

"A tendência é que as empresas adquiram experiência e melhorem. Mas para isso precisamos apontar os erros e cobrar soluções", diz Dolci.

    Busca de voz do Google entende bem português

    Recurso de nova versão do app para iOS é vantagem sobre Siri, da Apple
    Em inglês, novidades incluem linguagem natural e resultados falados, presentes no Siri e no Google Now
    DE SÃO PAULO

    O Google lançou a versão 2.5 do seu aplicativo de busca para iOS, sistema usado no iPhone, no iPad e no iPod Touch (bit.ly/googleios).

    Agora, o app tem um recurso de reconhecimento de voz que entende bem o português -diferentemente do Siri, assistente virtual da Apple, que não compreende o idioma.
    Para fazer pesquisas por voz, é só abrir o aplicativo, apertar o ícone de microfone e falar. Uma breve pausa basta para a busca ser realizada.

    A transcrição de palavras em português -incluindo nomes próprios- está rápida e precisa. A versão 2.0 já tinha reconhecimento de voz, mas o recurso falhava muito com termos em português. Agora, os erros são poucos.

    O app não funciona com mais de um idioma simultaneamente. Para trocar a língua, aperte o ícone de engrenagem e o item "Pesq. por voz".

    A nova versão lembra um pouco o Google Now, assistente virtual incluído no Android (a partir da versão 4.1). Alguns resultados são apresentados com um visual diferente. Por exemplo, uma pesquisa sobre clima exibe um painel gráfico com a previsão do tempo para os próximos dias.

    Além de entender melhor o português, o novo app oferece um reconhecimento de voz mais rápido e sofisticado.

    A busca em inglês permite o uso de linguagem mais natural, como em "what's the weather like tomorrow morning?" (como estará o tempo amanhã de manhã?). "Show me pictures of whales" (mostre-me imagens de baleias) redireciona automaticamente para a busca de imagens.

    O aplicativo ainda fala em voz alta resultados para algumas buscas em inglês.
    Tanto o uso de linguagem natural quanto os resultados falados são recursos presentes no Google Now e no Siri.


    Aécio e o ambiente

    Revista Carta Capital - 05/11/2012
    O tucano mineiro herda uma oposição fragilizada, em busca de um novo discurso e cercada pela contínua ascensão do PT. Será capaz de liderá-la até 2014?
    POR SERGIO LIRIO*
    Aécio neves saiu de Belo Horizonte rumo ao seu gabinete no Senado, em Brasília, na manhã da quarta-feira 31, antevéspera do Dia de Finados, data em que os brasileiros acendem velas aos mortos. Três dias antes, o ex-governador mineiro acompanhou de casa o enterro político de seu maior adversário no PSDB, o paulista José Serra. Embora, durante o velório, ou melhor, durante o discurso em que reconheceu a derrota na disputa pela prefeitura de São Paulo, Serra tenha se declarado “revigorado”, conta-se nos dedos quem apostaria em seu renascimento.

    A vitória de Haddad tirou Serra do páreo e colocou Alckmin na defensiva. A saída está em Minas Gerais. Foto: Antonio Cruz/ABr

    Ou talvez o único a resistir à realidade seja o próprio Serra. Segundo o jornal O Estado de S. Paulo, irritado com a proposta unânime de renovação partidária, defendida, entre outros, por Fernando Henrique Cardoso antes mesmo de as urnas consagrarem a vitória de Fernando Haddad, o tucano teria dito que a ideia era “coisa de petista”. Mas a insistência do paulista em permanecer na ribalta e seu encontro final com o ultraconservadoris-mo, após a definitiva guinada direitista em 2010, deixaram um rastro de destruição não só em sua biografia, sempre demasiadamente inflada pela generosidade do colunismo político brasileiro, mas nas rotas alternativas da oposição. Em entrevista a Cynara Menezes, à pág. 28, Aécio critica o neoudenismo dominante no PSDB nas últimas eleições: “Não está no ideário do partido e não é da natureza do partido”.

    O mineiro acena com o retorno do protagonismo perdido pelo PSDB nas últimas eleições, em novas bases. Quem sabe por engano muitos ainda supervalorizem o fato de Serra ter chegado ao segundo turno nas presidenciais de 2010 e na disputa municipal deste ano. Ilusão. O tucano paulista foi coadjuvante em ambas as eleições, beneficiado por fatores inesperados e empurrado pela mídia e pelo sentimento antipetista. Nunca pelos eventuais méritos de sua campanha. Apesar de toda a narrativa midiática a seu favor, o ex-governador atingiu um índice recorde de rejeição em 2012, mais de 50%. A página 30, Nirlando Beirão escreve o obituário político de alguém que “prometia ser e não foi”.

    De volta ao mundo dos vivos: Aécio está perfilado na coluna dos vencedores destas

    eleições, ao lado de Lula, Dilma Rousseff e Eduardo Campos. Sua vitória não pode, porém, ser constatada pela simples análise dos números. O PSDB ficou menor em 2012. Perdeu 90 prefeituras e centenas de vereadores, recebeu menos votos do que em 2008 e foi varrido das capitais do Sudeste. O DEM e o PPS, os demais componentes da banda oposicionista, também se deram muito mal. A grande conquista tu-cana, relevante apenas pelo simbolismo e pelas circunstâncias, ocorreu em Manaus, onde Arthur Virgílio derrotou uma ampla aliança montada para apoiar Vanessa Graziottin, do PGdoB, que contou inclusive com o empenho de Lula.

    Em Minas Gerais, os tucanos perderam espaço para o PT em algumas regiões, ainda que no cômputo geral tenham mantido seu predomínio. Em Belo Horizonte, Aécio conseguiu excluir os petista da composição eleitoral, mas o prefeito reeleito, Márcio Lacerda, apesar de convicto “aecista”, é filiado ao PSB de Eduardo Campos, legenda da base aliada de Dilma. Seria incorreto atribuir todas as glórias do triunfo em BH ao senador.

    Por que Aécio deve então ser considerado um vencedor? Por causa do cenário no campo de batalha. Serra é um corpo estendido no chão à espera da passagem de uma valquíria. O governador de São Paulo, Geraldo Alckmin, outra estrela partidária, herdou a solitária missão de proteger a cidadela ocupada há duas décadas pelos tucanos. Também em terras paulistas o PSDB contabilizava perdas importantes para o principal adversário. Como se deu no resto do País, o PT ampliou sua influência. Administrará seis das sete cidades com mais de 500 mil habitantes, tornou-se o partido mais votado, manteve o cinturão vermelho na região metropolitana praticamente intacto e conquistou municípios no interior historicamente ligados ao latifúndio tucano.

    Como Serra, Alckmin parece sofrer os efeitos de fadiga de material. Desde 2000. o governador e o candidato derrotado à prefeitura se revezaram na representação do PSDB. Em dez eleições, cada um disputou cinco. Uma reclamação recorrente de tucanos de outros estados diz respeito, aliás, à hegemonia paulista. Nas últimas cinco eleições presidenciais, a legenda só lançou candidatos da unidade mais rica da federação.

    O desempenho eleitoral de Alckmin é ligeiramente melhor do que o de Serra (três vitórias e duas derrotas, o inverso de seu companheiro de partido), mas nos dois últimos pleitos diminuiu o número de paulistas dispostos a votar no atual governador.

    Qual o risco de uma derrota caso o PT consiga emplacar um novo “poste” em 2014 na corrida pelo governo estadual? “A vitória de Haddad provou que a estratégia de um nome novo, lançada pelo Lula, estava certa”, afirma Antônio Dona-to, vereador e coordenador da campanha petista em São Paulo. O partido trabalha com algumas possibilidades, entre elas, o prefeito de São Bernardo, Luiz Marinho, e o ministro da Saúde, Alexandre Padilha, que acaba de transferir seu domicílio eleitoral para a capital paulista. Alckmin, portanto, terá de atuar na defensiva.

    Aécio, ao contrário, tem Minas Gerais nas mãos e pode continuar a dedicar tempo à sua estratégia de consolidação nacional. Durante a campanha, o senador visitou diversas cidades e subiu nos principais palanques do PSDB e aliados, à exceção de São Paulo. Mas não passou despercebida sua predileção por Recife e pelo Palácio do Campo das Princesas, onde despacha o governador pernambucano Eduardo Campos.

    O neto de Tancredo Neves e o neto de Miguel Arraes tornaram-se, antes de tudo, amigos. São os maiores expoentes da nova geração de políticos brasileiros, porém jovens o suficiente para ter paciência. Encaram os dilemas do País de outra maneira e um dos motivos é o fato de terem vivido os estertores da ditadura e não os seus anos mais sombrios. Buscam um caminho para superar a polarização PT-PSDB e se notabilizaram em seus estados por um colossal arco de alianças que quase não deixa espaço para a sobrevivência da oposição. Por fim, comungam de visões semelhantes sobre o exercício do poder, a começar pela defesa de um certo gerencialismo na administração pública. “Eficiência na gestão”, define Aécio sobre sua prioridade, caso se tornasse presidente da República.

    A conjunção dos astros anima uma parte dos analistas empenhada em empurrar o PSB para a oposição e até alguns tucanos como Virgílio, que sugeriu uma chapa Aécio-Campos ou Campos-Aécio em 2014. “A posição na cabeça de chapa não importa”, afirmou o prefeito recém-eleito. As afinidades pessoais seriam suficientes para amalgamar a parceria? Não, segundo Fabiano Santos, cientista político da Universidade Estadual do Rio de Janeiro. “Não vejo por que o PSB faria esse movimento de aproximação para além das realidades e conjunturas locais. A história no âmbito nacional é de parceria com o PT.” Em entrevista na terça 30, Ciro Gomes, que anda sumido do noticiário, mas permanece uma das vozes mais influentes do PSB, fez questão de demarcar o território: "O Aécio não projeta uma compreensão do País. Eu gosto muito dele, sou muito amigo dele. O antagonismo do Aécio não é de valores. Poderia ser, porque ele representa coisas muito melhores do que o PSDB de São Paulo”.

    0 dilema do senador mineiro é agora o dilema da oposição. Aécio é um moderado por natureza, conciliador no melhor estilo da tradição do estado que sintetiza a política tecida nos bastidores. Constrange-se quando obrigado a recorrer a discursos moralistas. Enquanto Serra usou e abusou do julgamento do “mensalão” na campanha, Aécio tratou do tema de forma envergonhada, quase com pedidos de desculpa. Embora nascido em um estado de grande religiosidade, cujos habitantes costumam ser tipicamente carolas, é difícil imaginar o senador agarrado aos pés de Nossa Senhora ou abraçado ao pastor Silas Malafaia em tentativas desesperadas de angariar votos.

    E sintomático: dois de seus grandes aliados na seara oposicionista mudaram de discurso. Eleito em Salvador, ACM Neto minimizou a ameaça de bater em Lula no auge da CPI dos Correios. E até tentou atribuir ao seu avô-coronel a paternidade do Bolsa Família (Antonio Carlos Magalhães foi o relator do Fundo da Pobreza, base dos recursos do programa), até pouco tempo atrás considerado pela esmagadora maioria do reacionarismo brasileiro como uma fábrica de produção e reprodução de vagabundos. Arthur Virgílio declarou-se igualmente arrependido de ter pensado em ir às vias de fato contra Lula e conclamou o governo federal ao diálogo. Sinais dos tempos?

    Para Santos e outros acadêmicos, o fracasso do neoudenismo é tão evidente que não resta outra saída à oposição a não ser o caminho da moderação representado pelo mineiro. O voto anti-PT, dizem, virá naturalmente em 2014. “A fase udenista do PSDB começou a minguar porque se mostra contraproducente. O Aécio deve tomar outro rumo, de oposicionismo puro e forte, mas não raivoso e antidemocrático”, afirma Cláudio Couto, da Fundação Getulio Vargas.

    Não parece,tão simples. Na mídia e nos círculos de poder econômico, principalmente aqueles incrustados em São Paulo, cada derrota alimenta o ódio, em vez de minimizá-lo. Novamente se viu nas redes sociais, a partir de declarações de líderes tucanos, uma tentativa de culpar os nordestinos, associados à pobreza e à ignorância, pela vitória de Haddad. Embora goste de citar o desempenho de Henrique Caprilles na Venezuela, um jovem opositor que adotou um discurso menos conflituoso (chegou a se comparar a Lula), reconheceu avanços sociais no país e deu trabalho a Hugo Chávez nas eleições, essa porção minoritária, mas influente, entrincheira-

    da em São Paulo e, desconfia-se, saudosa : da revolução de 1932, recusa qualquer tipo 5 de distensão. A dificuldade em reconhecer l; a vontade das urnas e o esforço em produzir ficção para adaptar à realidade nos jornais nais, revistas, canais de tevê e rádios mostram a obsessão eterna pelo terceiro turno, s a esperança inquebrantável de que na próxima tudo será diferente, apesar de usarem

    O mesmo e surrado método.

    A desconfiança do eleitorado paulista em relação a Aécio tem a ver com a leitura que os principais meios de comunicação fazem de sua atuação. O senador mineiro precisa se perguntar algumas coisas: seria possível tornar sua candidatura competitiva em 2014 sem assumir a causa da truculência representada pelo poder concentrado em São Paulo? Se não, ele estaria disposto a vestir o figurino, como Serra fez de bom grado, em troca do apoio incondicional dessa turma? Vale tudo para ganhar?

    O senador, ao menos por ora, recusa o papel. “Existe espaço para uma oposição mais propositiva. Não teríamos a capacidade de fazer a oposição que o PT fez ao PSDB, em que considerava vício de origem tudo que vinha do governo.” E mais: “Sou um tucano que não vê apenas defeitos em nossos adversários”.

    O novo camisa 10 da oposição parece ter escolhido sua tática.

    Os derrotados em São Paulo José Serra não foi o único a sofrer um revés

    FERNANDO HENRIQUE CARDOSO

    O ídolo no Alto Higienópolis, anônimo, para dizer o mínimo, no resto da cidade, FHC esforçou-se para vitaminar a campanha de José Serra. Apareceu no programa de tevê, quando sua agenda permitiu, e atacou em seus artigos dominicais a miséria moral do Brasil representada pelo julgamento do "mensalão". Seu maior feito foi reunir, em apoio a Serra, intelectuais do porte de Agnaldo Timóteo e Bruna Lombardi, Não bastou.

    A MIDIA

    Errou antes, durante e depois das eleições. Continua a brigar com os fatos e ver a derrota do PT e da base aliada onde só se vê, à luz de qualquer confronto de dados, vitória. Produz explicações equivocadas dos resultados eleitorais. Torce em vez de analisar. Só produz um resultado: a alienação crescente de seus leitores e telespectadores.

    O Perfeito Idiota Paulistano considera-se um ilustrado nova-iorquino, mas não passa de um texano decadente.

    Lê certos jornais e revistas como se fossem a atualização diária ou semanal dos Dez Mandamentos.

    Com as urnas abertas, nunca entende os resultados e fia-se nas explicações mais estapafúrdias.

    Bytes de memória - Gus Morais


    QUADRINHOS

    BYTES DE MEMÓRIA GUS MORAIS

      Uma nova ciência social - Luli @radfahrer


      LULI RADFAHRER

      Supercomputadores e grandes bases de dados apontam para um novo Iluminismo

      O mundo está cada vez mais complexo. Os velhos modelos de abstração não conseguem dar conta da crescente sofisticação e interligação dos sistemas digitais. De uma rede de comunicação global, a internet evoluiu para uma espécie de memória coletiva, a que boa parte dos processos é delegada. Smartphones, computação em nuvem e internet das coisas, cada vez mais familiares, mensuram cada transação e, por meio da compilação de dados, definem quem é você, o que faz e onde passa a cada instante.
      Big Data, quem diria, pode transformar as ciências humanas. Ao simular a complexidade social a partir de regras simples, como é feito em meteorologia e macroeconomia, computadores descobriram que o comportamento humano pode ser previsível, já que é derivado de opções limitadas pelos ambientes coletivos. Por mais que o livre arbítrio tente provar o contrário, o estado de um indivíduo conectado depende cada vez mais dos estados de seus vizinhos e das regras que determinam como ele deve responder a eles.
      A norma, válida para organismos, ecossistemas e redes de tráfego, se mostra cada vez mais aplicável a fenômenos sociais. Mesmo que, em grandes grupos, as relações humanas deem a impressão de uma enorme complexidade, modelos matemáticos conseguem decifrar resultados que se sustentam independentes dos detalhes de seu ambiente.
      A base teórica de sistemas que partem de regras simples para chegar a resultados complexos é conhecida há algum tempo, mas a interação entre os elementos era tanta que não havia como computá-la. Hoje esse cenário está mudando. Cientistas como Stephen Wolfram e laboratórios como o MIT Connection Science propõem uma integração da teoria de redes, computação e ciências comportamentais para propor novos modelos de fluxo de informação e influência em redes sociais, sejam elas digitais ou não.
      Isso dá aos paranoicos bastante combustível, prevendo um futuro que materialize "1984" e "Minority Report", por mais que essa hipótese já tenha se mostrado improvável. As descobertas geradas pelas bases de dados apontam na direção contrária, em que por mais que as interações possam ser calculadas, elas dependem de variáveis extremamente complexas e interativas. Isso ajuda a compreender por que a visão excessivamente racional que se tinha do futuro -o admirável mundo novo- seria difícil de concretizar em ambientes dinâmicos, incompletos, orgânicos, repletos de interações. Os ideais iluministas de racionalismo, empirismo e universalismo eram reduções, incapazes de captar a psique humana e seus extremos.
      Por melhor intencionados que estivessem Spinoza, Locke, Voltaire e Diderot, a ideia de organizar o espaço social não poderia ser tão simples. Já naquela época, Goethe e o grupo Sturm und Drang queixavam-se que as restrições e a constância do racionalismo não seriam suficientes para administrar a subjetividade individual e a emoção. Ao opor indivíduo criativo e escravo do racional, ela antecipava em 250 anos um conflito de interesses muito similar ao que se vê hoje.
      Estamos a caminho de um novo iluminismo, uma ciência ao mesmo tempo abstrata e sistemática. Ela deverá nos ajudar a entender enigmas que até há pouco eram restritos à filosofia, sociologia, epistemologia e linguística e, por meio de simulações, formular hipóteses sem precedentes na história das ciências.

      Apesar de trotes, Twitter salva vidas durante tempestade


      CICLONE SANDY


      Reprodução
      Página do Twitter cominformações sobre o ciclone Sandy
      Página do Twitter cominformações sobre o ciclone Sandy
      DA REUTERS - Enquanto o ciclone Sandy castigava a Costa Leste dos EUA, milhões de moradores recorreram ao Twitter para se informar e pedir socorro. A rede social também abrigou boatos e fotos manipuladas. Com o 911 congestionado em Nova York, muitos moradores pediram ajuda para os bombeiros via Twitter (@fdny).

        Análise: Reação emocional pode sufocar direito a privacidade e expressão


        NELSON DE SÁ

        DE SÃO PAULO



        Dois anos atrás, na corrida presidencial, veio à tona o tema da homofobia.
        Pressionadas por extremistas evangélicos e católicos, as campanhas passaram a admitir o direito ao discurso homofóbico, sob o argumento da liberdade de expressão.
        Passados dois anos, pelo levantamento da Safernet, descobre-se que as páginas suspeitas de homofobia tiveram no período um crescimento superior a 300%.
        O site é extremamente útil. No mínimo, serve para que se tome consciência do efeito dos discursos eleitorais e religiosos mais oportunistas, como no exemplo citado.
        Por outro lado, o levantamento também carrega riscos, vinculados ao próprio impacto emocional dos delitos que cobre.
        Pornografia infantil e outros incentivam reações por vezes descontroladas, que podem levar ao desequilíbrio, à irracionalidade no debate público.
        Editoria de Arte/Folhapress
        De alguns anos para cá, está em curso uma atualização ampla da legislação, ligada às mudanças de comportamento e, em especial, às mudanças na comunicação.
        Episódios de eco sensacionalista, como o das fotos atriz Carolina Dieckmann, tendem a ser explorados na discussão das novas leis.
        A urgência na aprovação é justificada pelo salto tecnológico, mas não pelo abuso de temas de impacto momentâneo, que podem distorcer normas de longo prazo.
        Tome-se o que alguns chamam de "Lei Carolina Dieckmann", aprovada dias atrás no Senado. Apesar do apelido, é anterior às fotos e tem patrocinadores corporativos de interesse específico.
        Ganhou apelo ao envolver celebridade, atropelando o capítulo de crimes cibernéticos em discussão para o Código Penal, e criminalizou até a derrubada de páginas.
        Se avançar pela Câmara e pelo Executivo, vai proibir uma ferramenta de protesto on-line que muitos consideram legítima, talvez a única: o ataque DoS, de negação de serviço.
        No caso dos dados destacados agora pelo levantamento da Safernet, o risco é quanto ao efeito sobre o Marco Civil, também em debate no Congresso.
        Uma reação emocional poderia sufocar o direito à privacidade e à livre expressão, já tão restrito nas redes sociais.
        Por outro lado, informação nunca é demais. E o crescimento de 300% nas páginas suspeitas de homofobia pode levar, afinal, à aprovação do projeto de lei 122.
        Na fila há seis anos, ele criminaliza o preconceito por orientação sexual -e é o grande alvo do discurso de ódio, hoje, de religiosos a Jair Bolsonaro.

        Navegar pela ferramenta de denúncias de crimes na internet é tarefa complicada


        BRUNO ROMANI
        COLABORAÇÃO PARA A FOLHA
        MARCELO SOARES
        DE SÃO PAULO


        Os dados compilados da Central Nacional de Denúncias de Crimes Cibernéticos entram hoje na internet, em uma página dentro do site da Safernet (indicadores.safernet.org.br). As estatísticas estão abertas a qualquer internauta, mas navegar por elas é tarefa árida.

        A nova página substituirá a antiga sessão "indicadores", que já tinha números sobre tema, mas não todas as estatísticas.
        Editoria de Arte/Folhapress
        O primeiro entrave do site é só apresentar informações sobre o período completo fechado. Não é possível ver números ano a ano de denúncias, de páginas únicas denunciadas, de hospedeiros e de tipo de crime.
        Só há informações anuais para as listas dos dez maiores hospedeiros e de países denunciados. Mas não é possível aplicar um filtro que englobe períodos definidos pelo usuário (de 2007 a 2009, por exemplo).
        Outro problema é que as funções de alguns botões não são óbvias. Para visualizar, por exemplo, os dados do período de 2006 a 2012 relacionados ao ranking de países hospedeiros, é preciso clicar no botão de calendário, que, à primeira vista, parece ser mais um indicador de dados.
        Para a versão final da ferramenta, a Safernet criou um guia de navegação. "Estamos pedindo a opinião do usuário para poder melhorá-la", diz Thiago Tavares Nunes de Oliveira.

        Redes sociais abrigam maioria das denúncias de crime na internet


        Redes sociais abrigam maioria das denúncias de crime na internet

        BRUNO ROMANI
        COLABORAÇÃO PARA A FOLHA
        MARCELO SOARES
        DE SÃO PAULO

        Muito populares no Brasil, as redes sociais são líderes no número de denúncias e páginas únicas denunciadas, segundo dados da Central Nacional de Denúncias de Crimes Cibernéticos

        Desde 2006, o Orkut é o principal hospedeiro de páginas denunciadas --são 337 mil endereços, ou 72% do total nos últimos seis anos.
        Editoria de Arte/Folhapress
        Se tivesse mantido a força dos primeiros anos, os números totais da rede do Google poderiam ser ainda maiores. Até 2008, o Orkut concentrava 89% das páginas denunciadas. Em 2012, ele abrigou 39% do material, mas ainda é o primeiro do ranking de hospedeiros neste ano.
        O peso da rede social é sentido também em mais dois indicadores: no número total de denúncias registradas, que tem caído desde que o Orkut entrou em declínio, e no ranking de países hospedeiros, no qual os EUA são líderes absolutos, porque a maioria dos servidores da rede social estão naquele país.
        "O resultado era esperado. Nenhuma rede social tem a história de longevidade que o Orkut tem no Brasil", argumenta Felix Ximenes, diretor de comunicação e assuntos públicos do Google.
        "Além disso, o Orkut tem um volume maior de páginas, pois tem o conceito de comunidades. De 2006 a 2008, nós fizemos várias campanhas para que os usuários denunciassem crimes cibernéticos", acrescenta Ximenes.
        A queda do Orkut coincide com o crescimento do Facebook, que se tornou a rede social com o maior números de usuários no Brasil em setembro do ano passado.
        Esse movimento se refletiu no ranking de hospedeiros. Ausente da lista dos dez primeiros até 2010, a rede de Mark Zuckerberg ficou em terceiro em 2011, com 5% das páginas denunciadas. Neste ano, pulou para segundo, com 18% (6.257 endereços).
        "Apesar de não ter acesso aos dados completos do levantamento, podemos dizer que manter os usuários seguros dentro do Facebook é a nossa prioridade. Incentivamos os usuários a reportar páginas, posts ou pessoas que violem nossa declaração de direitos e responsabilidades", afirmou a rede social, em comunicado.
        Editoria de Arte/Folhapress
        Para Thiago Tavares Nunes de Oliveira, presidente da Safernet, mesmo que no futuro o Facebook alcance a hegemonia que o Orkut teve no Brasil, dificilmente atingirá números tão altos de denúncias e páginas denunciadas.
        Segundo ele, a estrutura dos sites faz a diferença. "O Orkut é uma rede mais aberta e permite que o usuário interaja além do campo delimitado da sua rede de amigos. O Facebook é como uma bolha, e o usuário tende a ficar dentro dela", avalia.
        "O Facebook também tem demonstrado tolerância muito menor com conteúdos potencialmente ofensivos ou suspeitos. Eles são mais rígidos, o que tem gerado até debates sobre censura", diz.
        Twitter (1%) e YouTube (1%) ocupam o terceiro e quarto postos no ranking no período total.
        Editoria de Arte/Folhapress

        A sedução fatal do PMDB - RENATO JANINE RIBEIRO

        VALOR ECONÔMICO - 05/11/2012

        Sem identidade, os partidos são bons coadjuvantes


        Perguntem a quase qualquer partido político brasileiro o que ele quer ser quando crescer, se crescer, para crescer. É quase certo que, se ele for sincero, responderá: "PMDB". Chamo de "PMDB" um partido de pouca definição ideológica, capaz de sustentar um governo de direita ou esquerda, mas formado por tantas alianças regionais que consegue um bom retorno da União em troca de seu apoio.

        Em 2011 foi criado um segundo PMDB, com o nome de "PSD", a maior realização do prefeito Gilberto Kassab - um partido que, em sua certidão de nascimento, conseguiu se definir como não sendo "de direita, de centro nem de esquerda". Nos últimos meses, o Partido Socialista Brasileiro, que pelo nome deveria ter posição ideológica de esquerda, caminhou para ser nosso terceiro e simultâneo PMDB. Nas eleições deste ano, o PSB fez alianças as mais diversas, ampliando o contingente de seus prefeitos e também, o que pode ser um sinal, aliando-se ao PSD em várias cidades.

        Por que vivemos essa peemedebeização dos partidos? Na década de 1980, o Brasil parecia caminhar no rumo oposto. Foi quando nasceram os dois partidos que, nas últimas duas décadas, governaram o país. Em 1980, surgiu o Partido dos Trabalhadores. Demorou a ter uma bancada parlamentar digna de nota. Mas desde o começo conheceu um sucesso de crítica. Nasceu, em certa medida, contra o PMDB. Pretendeu, quando a democratização despontava no Brasil, libertar as causas trabalhistas e populares da dependência em face dos projetos apenas liberais da oposição então existente. A par disso, se caracterizou pela ética e mesmo pela intransigência. Queria mobilizar as pessoas, mais do que ganhar eleições ou benesses. O PSDB nasce depois do fim da ditadura, em 1988. Seus fundadores eram membros históricos do PMDB, mas romperam com ele por divergências que seriam éticas com as lideranças do partido original.


        Com suas diferenças, PT e PSDB mostravam forte preocupação ética e convicções ideológicas. Por isso mesmo, continuam tendo as personalidades mais marcantes de nossa política. Esta continua a se polarizar em torno deles. Vejam a questão das coligações possíveis. Por mais de dez anos, tivemos quatro grandes partidos, o PMDB, o PSDB, o PT e o PFL (depois, DEM). Pois bem: deles, o PT podia se aliar apenas ao PMDB; o PSDB, ao PMDB e ao PFL; o PFL, somente ao PSDB - e o PMDB a qualquer um dos outros três. O PT e o DEM eram os mais consistentes em ideologia, o PMDB o menos. Ora, hoje, com a queda do DEM para a oitava posição na Câmara, após a criação do PSD, quase todos os nossos partidos podem se aliar a qualquer um. Mesmo o PCdoB, que por ser comunista deveria ter fronteiras ideológicas nítidas, entrou para a administração Kassab em São Paulo. Numa conta rápida, que não deve esquecer as diferenças internas a cada partido, dos 513 deputados federais apenas 164 pertencem a agremiações exigentes em termos de alianças - repito, o PT (87 deputados), o PSDB (49) e o DEM (28).

        Quer dizer que, na década de 1980, ante o fim do regime militar e a eleição da Constituinte, queria-se mais dos partidos. Hoje, após três décadas de avanços democráticos, com eleições mais limpas, forte inclusão social e até sinais de que a corrupção poderá começar a ser punida, os partidos políticos têm ambições rasteiras. Querem o poder, claro. Isso é de sua natureza. Mas dizem cada vez menos para que desejam o poder. Projetos para o país melhorar, têm poucos. Nesta eleição, o próprio PSDB só conseguiu apresentar seu programa para a prefeitura de São Paulo em cima da hora.

        Por que essa queda em ambição, em projeto, em idealismo? Por que esse avanço do interesse, da busca da oportunidade, da aliança sem muito pudor? Sem dúvida o fenômeno não é positivo. Mas pode dever-se, em parte, à consolidação do PT e do PSDB como os partidos ideológicos ou, embora a palavra cada vez valha menos até para eles, idealistas de nosso espectro politico. Para os outros, não vale a pena ter ideais ou ideologias. É o que sucedeu, na esquerda, com os partidos socialista e comunista, e, na direita, com o PP e agora o PSD, criado para eleitos da direita poderem apoiar o governo Dilma (ou qualquer governo).

        E isso é curioso, porque tanto se cantou o fim da polarização, tantos quiseram ou querem uma terceira via na política brasileira... O PMDB tem falado em lançar, talvez em 2018, um nome próprio para a presidência da República; isso parece indicar que o principal cargo do país, o que define o rumo político do Brasil, poderia ser preenchido só na base de alianças, sem projeto. Resta ver se isso dará certo. Pessoalmente, duvido. Creio que o avanço dos grupos de interesses, dos partidos em que o projeto cede lugar ao lobismo, também os incapacita para voos mais altos. O PSB pode, sim, aumentar seu cacife pedindo a Vice-Presidência da República para escolher se apoia um tucano ou um petista para a sucessão de Dilma. Mas isso não o converte em cabeça de chapa - ao contrário. Isso o limita a uma posição secundária.

        Por mais que o modelo PMDB ofereça ganhos tangíveis e certos, os dois partidos que, somados, ou melhor, brigados, chefiam o Estado há quase 20 anos, só conseguiram isso porque não foram nem são PMDB. Nosso grande partido-ônibus é vantajoso para apoiar, não para liderar. Lutar pela hegemonia, como fazem PT e PSDB, tem um custo. Você pode perder. Já fazer alianças com qualquer lado (exagero um pouco no "qualquer") tem suas vantagens, mas traz um custo: você não disputa a final do campeonato. Pode até se manter na primeira divisão, mas não chega à final do Brasileirão.

        Pornografia infantil domina denúncias de crime na internet no Brasil


        BRUNO ROMANI

        COLABORAÇÃO PARA A FOLHA

        MARCELO SOARES
        DE SÃO PAULO

        Casos de pornografia infantil dominam as denúncias de crime na internet feitas no Brasil. De janeiro de 2006 a outubro de 2012, 40,5% do que foi denunciado no país supostamente abrigava conteúdo desse tipo.
        O levantamento inédito é da ONG Safernet, especializada em segurança na rede, e resultou no site da Central Nacional de Denúncias de Crimes Cibernéticos. A página, que entra no ar hoje, reúne estatísticas de sete entidades que possuem canais on-line para acusações anônimas de delitos contra os direitos humanos e dos animais.
        Editoria de Arte/Folhapress
        São elas: Polícia Federal, Câmara, Senado, Secretaria de Direitos Humanos, Ministérios Públicos Federais de Minas Gerais e da Paraíba e a própria Safernet.
        Em seis anos, internautas fizeram 3,1 milhões de denúncias para 463 mil páginas únicas (endereços de internet) hospedadas em 88 países. A Folha teve acesso exclusivo aos números, que agora podem ser vistos em indicadores.safernet.org.br.
        Ainda há outras oito categorias de delitos: incitação a crimes contra a vida (com 19,2% das denúncias), racismo (9,4%), intolerância religiosa (7,9%), maus tratos contra animais (7,6%), neonazismo (7,1%), xenofobia (3,9%), homofobia (3,4%) e tráfico de pessoas (0,1%). Outras 31 mil denúncias (1%) não foram classificadas.
        Páginas únicas com suspeita de pornografia infantil também dominam os resultados: 224,6 mil endereços denunciados (48,5% do total).
        "Infelizmente, essa é uma guerra que a nossa sociedade está perdendo. É muito fácil encontrar imagens de abuso sexual na rede", diz Thiago Tavares Nunes de Oliveira, presidente da Safernet.
        Quase todo o conteúdo denunciado está hospedado fora do país 97,6% encontram-se em servidores estrangeiros, em especial dos EUA, onde fica grande parte da infraestrutura da internet mundial. Tal cenário dificulta as investigações e faz com que as autoridades nacionais priorizem a análise dos 2,4% das páginas suspeitas que estão hospedadas no Brasil.
        Nem tudo o que está na central é crime. Os dados do site não excluem casos em que a denúncia é falsa ou vazia. Alguém pode, por exemplo, denunciar uma página sem conteúdo ilícito só para prejudicar um terceiro.
        Nesse sentido, a rotina do site pode ser comparada à de uma central 190 da Polícia Militar, que lida com alta porcentagem de trotes. "Boa parte são denúncias sem fundamento. Nem todas precisam ser investigadas", explica o presidente da Safernet.
        Tudo que é recebido pela central de denúncias passa por análise, automatizada e humana, até que se decida por uma investigação --a Safernet não calcula quantos casos chegam a esse estágio.
        Ainda assim, denúncias recebidas pelos canais que formam a Central Nacional de Denúncias de Crimes Cibernéticos já resultaram em sete operações da Polícia Federal, seis contra casos de pornografia infantil e um contra neonazismo e racismo.
        Essa última ocorreu em março deste ano, quando a PF prendeu em Curitiba dois homens que mantinham um site cujos textos eram ilustrados com fotos de mulheres decapitadas e continham frases que incitavam a morte de mulheres que mantinham relações sexuais com negros.

        Quadrinhos



        CHICLETE COM BANANA      ANGELI

        ANGELI
        PIRATAS DO TIETÊ      LAERTE

        LAERTE
        DAIQUIRI      CACO GALHARDO

        CACO GALHARDO
        NÍQUEL NÁUSEA      FERNANDO GONSALES

        FERNANDO GONSALES
        MUNDO MONSTRO      ADÃO

        ADÃO
        BIFALAND, A CIDADE MALDITA      ALLAN SIEBER

        ALLAN SIEBER
        MALVADOS      ANDRÉ DAHMER

        ANDRÉ DAHMER

        Charge


        CHARGE

        Partidão exigente - ALCIONE ARAÚJO‏


        ALCIONE ARAÚJO
        ESTADO DE MINAS: 05/11/2012 
        Dias atrás, saiu anúncio no jornal com título “Empresário”, e texto: “Posição social elevada, separado, procura moça de ótima aparência, de 30 a 40 anos, para relacionamento sério. Carta com foto de corpo inteiro para o jornal”. Foi um frisson de curiosidade. Em vez de buscar via internet, pagou R$ 15 mil pelo anúncio destacado, sem nome, foto ou idade. Alheio ao ato antiquado e patético, oferece status econômico, e faz exigências. O anúncio é atraente e enigmático como uma cilada. Instigante e pitoresco, logo fisgou a imprensa. 

        Nota e reportagem, sem nome, idade ou foto, reuniram dados do casadoiro solitário. Carioca de Copacabana, mestrado em direito e economia, frequenta o Teatro Municipal, Jockey Clube, bons restaurantes, e foge das redes sociais. Atua na área de imóveis e mora numa cobertura duplex na Barra da Tijuca. 

        Mudo sobre a idade, admite que pinta de preto cabelo e bigode. Pôs o anúncio porque foi como conheceu, há 10 anos, a ex-mulher, mãe do filho, que vive em Boston. Libriano, diz-se arrojado nos negócios, sentimental e tímido. Fã de Gisele Bündchen, admira Ivete Sangalo, é doido por Juliana Paes. Dispensa as candidatas de ter curso superior, cultura e riqueza. Mas exige muita classe.

        Não é ciumento, mas é rígido na exigência: tem que ser magra! Prefere a pele e os olhos claros e cabelos longos, mas não exclui outros tons e cortes. Sendo pessoa humilde, sem roupas adequadas, ele irá ao subúrbio. Acha que está à altura, fisicamente. Não é magro, mas não tem barriga de chope. Sobre a vida sexual, promete dedicação à causa. Em troca, ela terá todo o conforto, muito carinho e atenção. Pediu resposta por carta, em vez da internet, para fazer leitura mais íntima, até da letra. E a foto impressa é mais nítida que no site. 

        Decepcionado por receber apenas uma carta por dia, publicou outro anúncio. Mesmo texto, sem foto e novo título: “Sim, eu existo!”, advertiu os incrédulos, reforçando as suas intenções. Nova decepção. Concluiu que o sigilo inibia as mulheres, e decidiu findar o mistério sobre sua pessoa. Saiu do anonimato: chama-se Carlos Brito e, sem falar em idade, se mostrou de corpo inteiro.

        Na foto, a figuraça! Jaquetão azul com botões dourados, gravata vermelha, calça bege. Moreno claro, cabelo preto feito a asa da graúna e bigode que descai até o cavanhaque. Vaidoso e convincente, tem suas preferências, mas se a pessoa não se ajusta ao seu modelo, não significa que não goste dela. O objetivo maior é arrumar esposa, mas acha um prazer fazer novas amigas. Ele crê, com infantil fervor, que esse arranjo pode ensejar um verdadeiro amor.

        Eis que cai o véu que ocultava a verdade e levou ao ato antiquado e patético de pagar R$ 30 mil de anúncios para expor sua carente fragilidade. Apesar da sociedade da informação, dos meios de comunicação, das redes sociais e sites de relacionamentos, o encontro amoroso anda difícil numa cidade como o Rio de Janeiro, onde 3 milhões de solteiros, mais da metade da população, sonha encontrar sua cara-metade. Diz Carlos Brito que, afora os jogadores de futebol, com as “Marias Chuteira”, e artistas de TV, o homem comum tem vivido a pão e água. Das fotos recebidas, se encantou por uma nutricionista de 40 anos, que não gosta de cozinhar e perde o humor quando está com fome. A mulher de hoje dispensa homem exigente, mesmo sendo um antigo partidão.

        Jogo do bicho


        FOLHATEEN

        Documentário que estreia na sexta mostra a batalha de seis jovens por vaga no ensino superior

        IURI DE CASTRO TÔRRES
        DE SÃO PAULO
        "Meus pais são advogados, meu irmão também é, assim como meus avós e todos os meus tios. Mas não tem pressão nenhuma, é um sonho, está no sangue", diz Carolina Fairbanks diante da câmera.
        O sonho, no caso da paulistana, é entrar para a faculdade de direito da Universidade de São Paulo. E o depoimento é para o documentário "Virando Bicho", que estreia sexta (9) e brinca com a expressão que designa os calouros.
        Carolina é uma das personagens do longa que mostra a dura trajetória de jovens que lutam por uma vaga no ensino superior no Brasil.
        Lutar é um verbo apropriado. Em vestibulares com até 50 candidatos para cada vaga, como nos cursos de medicina e de engenharia da USP, é preciso nervos de aço para enfrentar a batalha.
        Os campos de "guerra" são os cursinhos preparatórios, com seus professores piadistas, salas com até 180 alunos e vestibulares simulados.
        Para muitos a batalha começou no sábado passado: 5,8 milhões de jovens se submeteram ao Enem (Exame Nacional do Ensino Médio), cuja nota é utilizada para ingressar em várias faculdades.
        É desse universo que "Virando Bicho" trata. Seis alunos com idades entre 17 e 20 anos de diferentes estratos sociais com o mesmo sonho. "Melhorar de vida entrando na faculdade", diz Alexandre Carvalho, diretor do longa ao lado de Silvia Fraiha.
        O sonho de Carolina não parece tão impossível, já que a menina estudou em bons colégios particulares de São Paulo e frequenta um cursinho de classe média alta.
        Não é o caso de Samara Oliveira, que vai a aulas em um curso comunitário no Rio. Ela estudou a vida inteira na periferia da capital fluminense e só agora tem "professores de verdade, que não faltam às aulas e ensinam mesmo". Quer estudar artes visuais.
        Quem também tem dificuldades é Ana Deise de Souza. Negra, a garota diz, no filme, que teve de enfrentar preconceitos para conseguir se formar no ensino médio.
        "Mas não quero me fazer de coitada", diz Ana à Folha. "Todos no filme passam pelos mesmos desafios."
        Pelo filme também conhecemos o figuraça Renan Campari, ex-promessa do futebol que decidiu se dedicar aos livros. Carismático, quer ser administrador de empresas.
        Do interior de São Paulo vêm Erick Rocha, que trabalha no cursinho para assistir às aulas, e Olivia Zanetti, que estuda para medicina.
        "Entrevistamos mais de cem jovens para chegar a esse panorama amplo", revela o diretor. O filme demorou dois anos para ficar pronto.
        DISCUSSÕES
        Mais do que apenas o dia a dia dos estudantes, "Virando Bicho" acende discussões que cercam esse universo.
        Estão lá, por exemplo, as cotas raciais, a eficiência de um exame como o vestibular para aferir a capacidade de alguém e o embate entre instituições públicas e privadas.
        Os cineastas foram atrás de especialistas no assunto para elucidar alguns desses pontos, como os colunistas da Folha Drauzio Varella e Contardo Calligaris.
        Mas são os professores que acabam tendo papel fundamental nesse período. O filme mostra jovens de classe alta do Rio que dão aula em cursos comunitários e os famosos professores que mais parecem atores de comédia.
        Não fica de fora a discussão ética sobre os "mestres" que namoram -e até se casam- com suas pupilas.
        O fim de "Virando o Bicho" mostra o nervosismo dos personagens nos dias D: a prova e a divulgação do resultado.
        Se quer saber se Carolina, Samara, Ana, Olivia, Erick e Renan conseguiram ou não a tão sonhada vaga em uma faculdade, bem... alguns viram "bicho", outros não.
        VIRANDO BICHO
        DIRETORES Alexandre Carvalho e Silvia Fraiha
        PRODUÇÃO Brasil, 2012
        CLASSIFICAÇÃO 14 anos

          Tesouros da Pampulha - Ana Clara Brant‏

          MAP vai expor obras de seu acervo, revelando preciosidades criadas por nomes de ponta da arte brasileira. Entre elas há desenho inédito de Guignard e doações de Assis Chateaubriand 

          Ana Clara Brant
          ESTADO DE MINAS  05/11/2012 



          Desenho revela o lírico apreço de Guignard pelos amigos
          Desde que começou a funcionar, há 55 anos, o Museu de Arte da Pampulha (MAP) recebe e abriga importante acervo de artes visuais. Boa parte dessas obras é desconhecida do público ou foi apresentada raríssimas vezes. A partir do próximo sábado, entrará em cartaz uma das maiores e mais representativas exposições desse conjunto de trabalhos.

          Museu revelado oferecerá um recorte das 1,6 mil obras do MAP. Pinturas, gravuras, desenhos, instalações e fotografias contarão um pouco da história do museu. “Vamos resgatar a memória que há muito tempo estava escondida. A ideia é ressaltar a trajetória artística do MAP – da época dos famosos salões de arte de Belo Horizonte à contemporaneidade, passando pelo período das doações à instituição. Esse acervo foi mostrado algumas vezes em outros espaços, mas não aqui”, destaca Michelle Mafra, gestora do museu.

          A publicação do Livro inventário, há dois anos, foi o primeiro passo para revelar o precioso legado às novas gerações. A nova exposição vem reforçar esse compromisso. Michelle diz que foi extremamente rico o processo de pesquisa e compilação das obras, cuja curadoria ficou a cargo do jornalista Sérgio Rodrigo Reis. A assistência de curadoria coube a Rodrigo Vivas, professor da Escola de Belas-Artes da UFMG. De acordo com a gestora, o olhar mais atento para garimpar e catalogar peças gerou várias surpresas.


          Amor, serigrafia de Décio Noviello premiada em 1968

          Entre as descobertas estão a coleção com 16 obras doadas ao MAP por Assis Chateaubriand, nunca exibida em sua totalidade e que contempla diversas épocas e propostas artísticas; cinco trabalhos de Guignard, inclusive um desenho inédito; obras de Volpi, Burle Marx, Goeldi e Amilcar de Castro; além de produções de arte contemporânea assinadas por Rivane Neuenschwander, Cao Guimarães, Márcia Xavier, Cristiano Rennó e Valeska Soares.

          O público também poderá conferir trabalhos de Vik Muniz, Cildo Meirelles, Roberto Vieira e Decio Noviello. Há até uma curiosidade “histórica”: um quadro pintado por Winston Churchill, primeiro-ministro inglês que teve papel fundamental na vitória dos Aliados na 2ª Guerra Mundial.
          Do presente ao passado 
          Ana Clara Brant

          A exposição começará pelos jardins externos do MAP. Criados por Burle Marx, eles abrigam esculturas importantes, como O abraço, de Ceschiatti, e Nu, de Zamoyski. Depois, seguirá pelo Salão Nobre e mezanino. As peças serão ordenadas cronologicamente: a mostra parte da produção visual das últimas décadas, passará por movimentos como Geração 80 e obras representativas dos salões nacionais de arte de BH para chegar ao modernismo brasileiro.
           

          A Casa do Baile receberá uma extensão de Museu revelado. Por dialogar com a arquitetura, o design e questões urbanas, o espaço receberá obras relacionadas a essas temáticas.

          Bastidores Em dezembro, informa Michele Mafra, o MAP será revelado sob outro prisma. Os visitantes terão a oportunidade de se aproximar dos bastidores da mostra. “As pessoas não conhecem o que está por trás da montagem de uma exposição como essa. Vamos apresentar esse trabalho interno, ou seja, como funciona a curadoria, a compilação das peças e a restauração. Isso é bem interessante”, ressalta a gestora.

          De acordo com ela, a nova etapa virá acompanhada de um edital de arte contemporânea. “Selecionaremos duas propostas curatoriais para integrar o calendário expositivo do museu em 2013, democratizando o espaço e dando oportunidade a novos curadores”, conclui. 


          Saiba mais - Joia de Niemeyer




          Idealizado para abrigar um cassino, inaugurado em 1943, o Museu de Arte da Pampulha (MAP) foi o primeiro projeto de Oscar Niemeyer para o conjunto arquitetônico da Pampulha. Seu interior interpreta de forma criativa os elementos essenciais do barroco mineiro por meio da composição de espaços livres e cenográficos, do uso de perspectivas ilusórias nas paredes espelhadas e do jogo de curvas e rampas. Os jardins que circundam o prédio, criados pelo paisagista Roberto Burle Marx, têm como característica principal as formas sinuosas, com grandes blocos e manchas de cores construídas com espécies da flora brasileira. Com a proibição dos cassinos no país, o museu (foto) passou a funcionar no prédio de Niemeyer a partir de 1957.