segunda-feira, 29 de abril de 2013

Dancin' days - Katia calsavara

folha de são paulo

Festival O Boticário na Dança restitui espaço para grandes espetáculos do gênero no país


KATIA CALSAVARA

COLABORAÇÃO PARA A FOLHA

Considerada quase um patinho feio no mundo das artes, a dança acaba de ganhar o festival O Boticário na Dança, que será aberto ao público depois de amanhã, em São Paulo, e seguirá para Rio e Curitiba.
Trata-se de uma oportunidade para conferir ótimos trabalhos de quatro companhias internacionais e três nacionais. A organização é a mesma que produziu, entre 1987 e 1997, o Carlton Dance Festival, que costumava trazer ao Brasil companhias de vanguarda.
"A curadoria buscou o que há de mais representativo e inovador, dentro e fora do país. A dança em suas várias formas e estilos; o novo e o inesperado, aquilo que apaixona e que faz questionar foram quesitos essenciais para a escolha dos grupos", explica Ana Ferrell, diretora de comunicação de O Boticário.
De quarta até o dia 6, o festival ocorre no Auditório Ibirapuera, com as companhias Shen Wei Dance Arts (EUA), Hofesh Shechter (Reino Unido), Peeping Tom (Bélgica) e Maribor Ballet (Eslovênia), todas inéditas na América Latina.
Entre as nacionais estão Quasar (Goiânia), Mimulus (Belo Horizonte) e Grupo
de Rua de Niterói.
Divulgação
Apresentação do grupo Shen Wei Dance Arts, que participa do festival O Boticário na Dança
Apresentação do grupo Shen Wei Dance Arts, que participa do festival O Boticário na Dança
As companhias estarão no Rio de 4 a 8 de maio, no Theatro Municipal. Em Curitiba (de 7 a 9, no Teatro Guaíra), apresentam-se apenas os grupos internacionais (exceto o Hofesh Shechter).
Entre os curadores está Dieter Jaenicke, diretor artístico do Centro Europeu de Artes de Dresden (Alemanha), responsável pela seleção de companhias para grandes festivais internacionais.
"A dança tem relações avançadas com a música, as artes plásticas, as tecnologias, o teatro, a acrobacia e o esporte. Queremos mostrar alguns dos protagonistas destes caminhos artísticos", afirma Jaenicke.
A curadora Sheyla Costa, em parceria com a consultora e coreógrafa Marcia Rubin, elegeu os grupos nacionais.
PASSO A PASSO
Na abertura do evento, a norte-americana Shen Wei Dance Arts apresenta "Folding" (2000), aclamado trabalho do chinês que dá nome ao grupo. O design de cena, unido às cores e formas, monta uma espécie de "quadro em movimento".
Eles mostram ainda "Sagração da Primavera" (2003), baseada no tema de Stravinsky (1882-1971). "Nessa peça, há um equilíbrio entre a exatidão e a intuição do movimento", explica Stephen Xue, assistente de direção do grupo.
Em um caminho completamente diferente vem a inglesa Hofesh Schecter, com energia digna de festivais de rock. Para se ter ideia, a música de "Political Mother" é executada ao vivo, por guitarristas e percussionistas. "Os bailarinos parecem lutadores da dança, atuando com rapidez e precisão", aponta Jaenicke.
Já a belga Peeping Tom traz uma linguagem mais teatral, que se mistura ainda a mágicas e acrobacias. Preste atenção ao cenário cinematográfico de "32 Rue Vandenbranden".
Completando o programa internacional, destaca-se a eslovena Maribor Ballet, que apresenta sua versão moderna do clássico "Romeu e Julieta". O espetáculo "Radio and Juliet" é embalado inteiramente com músicas da banda inglesa Radiohead, principalmente dos álbuns "Kid A", "Amnesiac" e "Hail to the Thief".
O coreógrafo Edward Clug conta que se baseou apenas na essência do clássico de Shakespeare. "Escolhi levar a história para um ambiente diferente, em que o espectador tem a possibilidade de refletir sobre o que já conhece", conta.
As projeções e a técnica dos bailarinos se fundem em uma versão forte e enxuta, com movimentos bastante precisos. Segundo Clug, as imagens projetadas contribuem para completar a "paisagem emocional" da peça.
Nesta primeira edição do festival, a Quasar mostra "No Singular", reflexão sobre o nosso dia a dia conectado em busca de informações. A elogiada Mimulus apresenta "Por um Fio", inspirado na obra do artista Arthur Bispo do Rosário.
O Grupo de Rua de Bruno Beltrão traz "H3", com seu hip hop que já conquistou mais de 26 países. Desde 2005, a companhia é financiada por teatros internacionais. "Nosso grupo é fruto de resistência", diz Beltrão.
APOIO
O projeto pretende investir de R$ 10 milhões a R$ 15 milhões por ano no setor nos próximos cinco anos, com parte dos recursos captados via leis de incentivo.
Além de manter o festival principal, o dinheiro envolvido no projeto será empregado em outros já existentes -como o de Joinville e o Festival Internacional VivaDança- e para apoiar algumas companhias.
Neste ano, as mineiras Mimulus e 1º Ato recebem apoio, e a partir de 2014 outros grupos poderão enviar seus projetos já aprovados para captação.

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