segunda-feira, 29 de abril de 2013

KLEDIR RAMIL - Música e matemática

Zero Hora - 29/04/2013

Por incrível que possa parecer, Kleiton e eu somos formados em engenharia. Eu sou engenheiro mecânico, e ele, eletrônico. Cantores-engenheiros não são raros na MPB: Ivan Lins, João Bosco e Francis Hime também são. No fim é isso, artistas, engenheiros é tudo a mesma turma.

Para fazer um show, por exemplo, a gente depende de vários profissionais da área. Precisamos de um prédio, um teatro com tratamento acústico e equipamentos elétricos/eletrônicos de última geração. Nossos instrumentos musicais são ferramentas de alta precisão, projetados segundo formas, medidas, resistência dos materiais e até cálculo de engrenagens, como é o caso das chaves usadas para afinar as cordas do violão.

O mundo está cada vez melhor graças aos engenheiros, nossos colegas. Se não fosse o domínio de toda essa tecnologia, nós estaríamos vivendo no meio do mato, cantando e dançando na volta de uma fogueira.

Adoro ciências exatas, tenho uma mente concreta, um pensamento lógico. O problema é que eu era um cara atrapalhado com as questões afetivas e corria o risco de me tornar um sujeito cartesiano. A música me salvou. Encontrei uma atividade absolutamente rigorosa, de precisão matemática, onde posso extravasar as minhas emoções.

Música é pura matemática. O que a gente chama de nota musical é, na verdade, uma frequência determinada. Lá 4 é uma vibração de 440 hertz. Frequências mais altas, notas mais agudas. Mais baixas, notas graves. Além da altura, uma nota musical tem um tempo de duração, curto ou longo.

Uma sequência de notas “constrói” uma melodia. Notas tocadas ao mesmo tempo criam acordes, harmonias. Aí, esse monte de notas com frequências e tempos variados, são executadas em um ritmo, tipo 4/4, 6/8... E com um andamento determinado, como 120 bpm (beats por minuto). Por isso, é necessário um maestro para fazer uma contagem e dirigir a orquestra.

Além de todas essas medidas musicais, na hora de compor uma canção ainda é preciso “encaixar” uma letra. Versos respeitando a métrica (um número certo de vocábulos), a prosódia (a acentuação tônica das palavras coincidindo com a acentuação melódica) e a rima. Aí, no fim, tudo isso tem que fazer algum sentido e ter um mínimo de beleza. Ou seja, é uma loucura, é mais complicado do que construir um edifício. Acho que vou voltar pra engenharia.

Comentário final: Maria Fumaça... só mesmo dois engenheiros malucos para fazerem uma canção de amor em homenagem a uma locomotiva.


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