segunda-feira, 29 de abril de 2013

Livro retoma histórias de festival lendário 'Uma Noite em 67' - André Barcinski

folha de são paulo

'Uma Noite em 67' é desdobramento de documentário sobre evento da TV Record que reuniu nata da MPB da época
Canções hoje clássicas, como 'Roda Viva' e 'Alegria, Alegria', foram apresentadas lá pela primeira vez
ANDRÉ BARCINSKICRÍTICO DA FOLHAO documentário "Uma Noite em 67", de Renato Terra e Ricardo Calil (crítico de cinema da Folha), trouxe inúmeros depoimentos de artistas e produtores sobre o 3º Festival de Música Brasileira da TV Record, evento que reuniu canções hoje clássicas da MPB, como "Domingo no Parque" (Gilberto Gil), "Roda Viva" (Chico Buarque), "Alegria, Alegria" (Caetano Veloso) e "Ponteio" (Edu Lobo).
Terra e Calil resolveram publicar, em livro, a íntegra dos depoimentos colhidos para o filme. E o resultado, "Uma Noite em 67" (Editora Planeta), é um documento importante não apenas sobre o festival, mas sobre a história da MPB.
O livro traz 16 entrevistas com personagens fundamentais do festival. De Zuza Homem de Mello e Paulinho Machado de Carvalho, que ajudaram a produzir o evento, a Chico de Assis, jornalista que cobriu o festival, passando pelos principais concorrentes: Chico Buarque, Caetano, Gil, Sérgio Ricardo, Edu Lobo, Capinan e outros.
A leitura da íntegra das entrevistas revela histórias curiosas do festival e das carreiras dos entrevistados.
CHICO DE PILEQUE
É divertido ler Chico Buarque contando que estava de pileque durante as reuniões em que Caetano e Gil anunciaram o surgimento da Tropicália: "Se eu estava lá, provavelmente não me lembro".
Em outro trecho, Chico diz ter sido tachado de "velho" por parte do público e da imprensa, no fim dos anos 1960.
"Fui um pouco escolhido para ser representante do que seria uma música conservadora, uma atitude conservadora, uma postura conservadora, um cara velho [...] e ninguém quer ser chamado de velho. Ainda mais com 23 anos", afirma no livro.
É recomendável ler as entrevistas na ordem em que aparecem no livro, já que os autores frequentemente pedem a um entrevistado para opinar sobre um fato citado por outro. O resultado é um efeito "Rashomon", o filme de Akira Kurosawa em que diversos personagens dão suas versões para o mesmo fato e chegam a conclusões diferentes.
Algumas entrevistas são marcantes: Nana Caymmi lembrando a rixa com Elis Regina, Sérgio Ricardo falando da influência do cinema em sua música, Edu Lobo filosofando sobre a dúvida em relação à carreira de músico: "Quando é que vai acabar esse negócio de fazer música? Quanto tempo será que vou durar?".
PERSONAGENS
Outra qualidade do livro é resgatar personagens importantes da época que hoje são pouco lembrados, como a cantora Marília Medalha e o poeta e compositor Capinan.
A entrevista com Capinan é especialmente bonita e levou o poeta às lágrimas quando lembrou a vitória de "Ponteio", canção que escreveu em parceria com Edu Lobo e que ganhou o festival.
Quando os autores perguntam a Capinan por que chorou ao falar da música, ele responde: "O inconsciente é soberano, às vezes. Isso eu nunca consegui dominar. É aí que está a fonte da verdade".

    Nenhum comentário:

    Postar um comentário