segunda-feira, 29 de abril de 2013

Manuscritos perdidos ganham 1ª edição

folha de são paulo

'Artinha de Leitura' e 'Terra Gaúcha', de João Simões Lopes Neto, estavam em espólio de autor e em biblioteca
Livros escolares nunca foram publicados por terem formato pouco usual para a época ou por conta da ortografia
RODOLFO LUCENADE SÃO PAULOFoi uma viagem no tempo. "Terra Gaúcha" e "Artinha de Leitura", dois manuscritos produzidos por João Simões Lopes Neto, ícone da literatura do Rio Grande do Sul, passaram mais de cem anos esquecidos em caixas empoeiradas, rolando por sebos e perdidos em bibliotecas particulares.
Enfim chegam agora a público, em edição anotada e comentada.
"Quando escreveu esses dois livros, ele estava em decadência social e sem perspectiva de nada, nem mesmo de escrever a obra madura, Contos Gauchescos' e Lendas do Sul'", diz o escritor e professor da Universidade Federal do Rio Grande do Sul Luís Augusto Fischer, responsável pela edição dos livros.
"Foram dois livros escritos para ingressar no mercado escolar", completa.
Por razões diversas, os dois projetos goraram. "Terra Gaúcha" foi escrito na primeira década do século passado. Livro escolar, tinha formato pouco usual na época: é narrado por um menino, que conta o dia a dia de seu aprendizado.
COSTUMES GAÚCHOS
Há textos sobre história, costumes gaúchos, aulas de civismo e até de ética: o respeito ao próximo e aos diferentes, como os canhotos.
Também à frente de sua época, "Artinha de Leitura" é uma cartilha por Simões Lopes Neto --a nova edição reproduz página por página o caderno original manuscrito-- em que ele antecipa a nova ortografia, que estava para ser aprovada no Brasil.
Por isso mesmo, acabou rejeitada para uso no mercado escolar, impugnada por não respeitar as regras ainda vigentes naquele ano de 1907.
"Terra Gaúcha" foi encontrado em uma das caixas do espólio de Lopes Neto. Por cerca de 50 anos, esteve em poder de um advogado pelotense, Mozart Victor Russomano, que ganhara da viúva do escritor um conjunto de materiais pertencentes a ele.
O lote foi comprado pelo bibliófilo Fausto Domingues, que descobriu no espólio os dois cadernos com o manuscrito e acabou por convidar Fischer para a edição --a trajetória dos arquivos de Lopes Neto é contada em detalhes por Domingues em um dos textos que compõem o volume.
PERDIDO
Já do percurso de "Artinha de Leitura" não são conhecidos detalhes. Há uns cinco anos, quando fazia um balanço de sua biblioteca, que pretendia doar para uma faculdade, a veterana professora de história Helga Piccolo encontrou a caderneta manuscrita, "dentro de um livrão antigo que ela havia comprado em um sebo quando era estudante ainda", diz Fischer.
A caderneta foi doada à Universidade Federal de Pelotas, e os originais digitalizados foram colocados na internet. Agora o texto chega em formato de livro, tal e qual sonhara o autor.

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