sexta-feira, 11 de janeiro de 2013

Biblioteca Nacional anula prêmio para obra de Drummond

folha de são paulo


RAQUEL COZER

COLUNISTA DA FOLHA
A Fundação Biblioteca Nacional voltou atrás na decisão de agraciar a obra "Poesia 1930-62" (Cosac Naify), de Carlos Drummond de Andrade (1902-87), organizada por Júlio Castañon Guimarães, no Prêmio de Poesia Alphonsus de Guimaraens. O novo vencedor ainda não foi anunciado.
O resultado, divulgado em 21 de dezembro, foi questionado por recurso enviado pelo poeta Marcus Fabiano, que concorria ao prêmio. Uma petição on-line pela anulação do resultado reuniu, nos últimos dias, 250 assinaturas.
O argumento principal para a anulação era o de que, segundo o edital, a inscrição só poderia ser feita pelo autor ou pela editora mediante autorização por escrito do autor --que, no caso, morreu há 25 anos. Na lista divulgada pela FBN, Bernardo Ajzenberg, diretor executivo da Cosac Naify, aparecia como vencedor por ser "detentor de direitos autorais".
O recurso apresentado à instituição também questionava a possibilidade de a obra ter sido julgada como edição crítica. "O certame não poderia avaliar ensaios ou textos desse teor, mas apenas poesia propriamente dita", dizia o texto.
Na semana passada, os jurados --os poetas Carlito Azevedo, Francisco Orban e Leila Míccolis-- se reuniram na Biblioteca Nacional, no Rio, mas não conseguiram chegar a um consenso sobre o novo livro a ser premiado, motivo pelo qual a instituição não anunciou a decisão no início desta semana.
Foram então indicadas três obras para que o Departamento de Economia do Livro escolha a vencedora. Segundo a FBN, o resultado deve ser conhecido entre hoje e o início da semana que vem.

Guerras secretas - Rasheed Abou-Alsamh

O GLOBO - 11/01/2013


Com Johnn Brennan chefiando a CIA, vamos assistir à multiplicação dos assassinatos por controle remoto



Os Estados Unidos estão conduzindo uma guerra escondida contra militantes islâmicos usando aviões armados de pequeno porte, teleguiados e sem pilotos, chamado de drones em inglês, para matar pessoas que eles suspeitam de conspirar contra os EUA.

Adotada pela administração de George W. Bush em 2004, após os ataques da al-Qaeda de 11 de setembro de 2001, em Nova York, a frota cresceu rapidamente em numero depois que Barack Obama foi eleito presidente em 2008. Esse programa de assassinatos planejados não foi publicamente reconhecido, e é controlado pela Central de Inteligência Americana, a CIA.

Por ser controlado por um dos braços clandestinos do governo americano, esse programa de assassinatos à longa distancia nunca teve muita publicidade, e tem se desenrolado num clima de sigilo e muita fumaça. Por isso, a tarefa de seguir o numero de ataques de drones pelos EUA no Afeganistão, no Iêmen e na Somália, e os números de vitimas, ficou a cargo de jornalistas independentes nos EUA e Inglaterra.

Conforme o site americano The Long War Journal, de 2002 até 2012 foram lançados 57 ataques aéreos contra alvos no Iêmen, matando 299 militantes e 82 civis. Mas o campeão em números absolutos foi o Paquistão, por causa da ocupação do vizinho Afeganistão por tropas americanas e europeias desde 2002, que viu 331 ataques aéreos americanos de 2004 ate o dia 9 de janeiro 2013.

As mortes no Paquistão também foram surpreendentes: 2.474 militantes do Talibã ou al-Qaeda e 153 civis, de 2006 até janeiro de 2013, segundo estima o Long War Journal. Na maioria das vezes, nos ataques contra alvos no Paquistão, os americanos defenderam suas ações como preventivas, alegando que esses militantes estavam planejando ataques contra tropas americanas no Afeganistão.

No Iêmen os ataques americanos foram dirigidos contra membros da al-Qaeda da Península Árabe, sediada naquele país, e que tem planejado ataques contra alvos americanos, como o do nigeriano Umar Farouk Abdulmutallab, que ia explodir um voo para Detroit, nos EUA, no Natal de 2009, e um complô de mandar bombas para os EUA escondidas em pacotes em 2010.

O problema é que nenhum dos acusados tem a chance de se defender, como poderia fazer num tribunal de justiça. Ha também o fato de inocentes serem mortos. O mísseis são lançados, deve-se notar, por operadores americanos a milhares de quilômetros de distância, vendo o alvo do ataque por câmeras fixadas nos drones, que mandam de volta imagens nem sempre nítidas.

O site britânico Bureau of Investigative Journalism e o jornal “Sunday Times” fizeram uma reportagem conjunta em 2012 em que concluíram que a CIA estava deliberadamente alvejando equipes de resgate e funerais de vítimas de ataques prévios americanos, com novos mísseis lançados por drones no Paquistão. Relataram que entre 282 e 535 civis foram mortos por drones nos primeiros três anos do primeiro mandato de Obama, incluindo mais de 60 crianças. Depois de uma investigação de três meses, também concluíram que pelo menos 50 civis foram mortos quando ajudavam vítimas de um ataque.

No Iêmen, Obama enfrentou críticas duras depois de autorizar um ataque de drone em setembro 2011 que matou o cidadão americano Anwar al-Awlaki considerado terrorista da al-Qaeda. Foi a primeira vez que um presidente americano admitiu publicamente que tinha autorizado o assassinato de outro cidadão americano, sem dar a ele a chance de se defender num tribunal.

Duas semanas depois, o filho de 16 anos de Anwar, Abdulrahman, também um cidadão americano, foi morto por um míssil americano no Iêmen. Em dezembro 2012, Christiane Amanpour, da rede CNN, entrevistou o avô do garoto, Nasser al-Awlaki, que perguntou: “Por que mataram meu neto, um garoto inocente que somente estava procurando seu pai?”

No Paquistão, os ataques dos drones têm gerado muita raiva contra os EUA entre a população em geral e dirigentes do governo, que sentem que sua soberania está sendo violada. Não surpreendente, uma sondagem de opinião pública no Paquistão revelou que 83% dos paquistaneses não gostam dos EUA. Nos EUA, outra sondagem revelou que mais de 80% dos americanos apoiam os ataques de drones.

A causa desse apoio popular americano se deve em parte a John Brennan, o atual candidato de Obama para chefiar a CIA, e o idealizador do aumento de uso de drones na guerra contra o terror desde o inicio do primeiro mandato de Obama. Até o ano passado, segundo o Bureau of Investigative Journalism, Brennan insistia que não havia nenhuma morte de civis inocentes em ataques de drones. Isso se devia ao fato que o governo americano considera como combatente inimigo qualquer homem de idade apta para o servico militar (15 a 60 anos) que esteja numa zona de ataque — e assim um alvo legítimo. Lógica arrogante e falsa.

O apoio doméstico a esse programa de assassinato à distância é talvez compreensível tendo em conta o choque que americanos sentiram depois dos ataques de 11 de setembro. Mas será que eles realmente apoiariam esses assassinatos se soubessem dos inocentes civis mortos, considerados como “danos colaterais”? O Conselho de Direitos Humanos da ONU pensa diferente, e já disse que vai investigar a morte de civis por drones americanos.

Os EUA continuam sendo um superpoder que acha que pode ir atrás de terroristas em qualquer lugar do mundo, mesmo fora de campos de batalha, e matá-los. O problema com isso é que tira o direito de um acusado se defender, e mata inocentes. Isso pode dar satisfação momentânea aos americanos, mas no longo prazo vai gerar mais ódio contra os Estados Unidos. Lamentavelmente, com Brennan chefiando a CIA, vamos ver ainda muito mais mortes por drones americanos.

Entrevista:Kleber Mendonça Filho (O som ao redor) - Marcelo Miranda

Diretor de O som ao redor fala sobre a boa receptividade do filme 

Marcelo Miranda 
Estado de Minas: 11/01/2013 
“Os personagens não baixam a cabeça”

Depois de atrair mais de 11 mil espectadores no primeiro fim de semana em cartaz em apenas três capitais brasileiras onde estreou, O som ao redor mais do que triplica sua presença no mercado a partir de hoje. O primeiro e festejado longa de ficção do pernambucano Kleber Mendonça Filho vai se manter em São Paulo, Rio e Recife, onde é exibido desde o dia 4, e se espalhar por mais sete cidades do país. Em Belo Horizonte, o filme entra em duas salas: uma do Belas Artes e outra do Cinemark BH Shopping, furando a fila das estreias já programadas. Façanha rara para trabalho independente brasileiro, que está só na segunda semana de circulação. Nos últimos dias, comentários sobre O som ao redor se tornaram coqueluche nas redes sociais, incluindo cobranças para que o trabalho fosse logo exibido em determinadas cidades. O boca a boca já tem funcionado como publicidade espontânea nos mais de 40 festivais mundo afora pelos quais o filme viajou. Reforçaram o coro de expectativas os diversos prêmios importantes que ganhou e o espaço conquistado nas listas de melhores do ano do jornal The New York Times e da revista britânica Sight and sound. A excelente receptividade de público e crítica no Brasil tornou o filme um fenômeno singular no cenário audiovisual recente. Leia, a seguir, conversa com o diretor e roteirista Kleber Mendonça Filho. 


Qual foi a gênese de O som ao redor?
Comentei com alguns amigos que tinha vontade de fazer num filme a transposição de um engenho de cana-de-açúcar, algo muito forte no Brasil, mais ainda em Pernambuco, para uma rua de cidade moderna, no caso, o Recife de hoje. Claro que não contaria isso para o espectador, mas, se mostrasse direitinho, ia aparecer aquele engenho, com as casas dos vassalos, a casa grande (representada por um apartamento de cobertura habitado por um autêntico senhor de engenho), os empregados, os subalternos, os capatazes e os jagunços. Também me animei a contrabandear elementos de western para dentro do filme. Quando estreamos no Festival de Roterdã (em janeiro de 2012), já apareceu uma crítica percebendo a relação com o faroeste.

Retratar um novo tipo de classe média e encontrar um olhar ao mesmo tempo irônico e afetuoso para a atual pirâmide social brasileira, elementos muito significativos no filme, já eram parte da ideia? 
Tenho 44 anos e lembro muito bem do Brasil de duas décadas atrás. Sempre tivemos líderes do mesmo molde: todos brancos, vindos do Sul-Sudeste, ou originários de dinastias políticas conhecidas e estabelecidas, e que passaram por universidades estrangeiras. Todos sempre da elite política do país, e quase sempre muito ruins. Então veio Lula, com perfil completamente diferente, da classe trabalhadora, sem a educação associada à elite, e sendo um cara do Nordeste. Sem entrar em questões políticas aqui, é inegável que o Lula trouxe uma cara nova à ideia de poder no Brasil, algo muito forte especialmente para as classes mais baixas. Muita coisa mudou nos últimos 12 anos em relação ao comportamento dos mais pobres diante dos ricos e poderosos. Não só em relação ao poder aquisitivo, já que tem mais gente ativa na sociedade capitalista, mas também na autoestima e no comportamento. Tudo isso está em O som ao redor, em personagens que, vindos das classes mais baixas, nunca baixam a cabeça.

Apesar do baixo orçamento (R$ 1,8 milhão), essa foi a maior produção da sua carreira e teve cenas na rua e no apartamento onde você mora. Como foi a experiência? 
A logística, claro, é complicada. Tivemos a sorte de conseguir 70% do que eu queria das locações no bairro mesmo (Setúbal), e os outros 30% procuramos em outros lugares. Em geral as pessoas receberam muito bem todo aquele movimento na rua. O que não é fácil, já que você coloca 120 pessoas na rua, quatro caminhões, isola a área com fita, põe a polícia, liga câmeras. Via aqueles caminhões de equipamento chegando e coçava a cabeça, achava coisa demais, sempre fui acostumado a trabalhar com muito menos gente e estrutura. Mas quando se faz um filme assim, tudo é mais complicado.

Há na narrativa uma atmosfera de grande estranhamento e apreensão sobre o que pode acontecer a qualquer momento, mas nunca sabemos como nem o que seria. Como você buscou atingir essa sensação?
Filmes e livros narrativos têm sempre que ser baseados em tensão e elementos díspares se enfrentando o tempo todo. No caso de O som ao redor, as situações são normais e mundanas, mas os enquadramentos e o tratamento do material não são. Filmar algo naturalista, como um personagem caminhando até a praia, dentro de uma concepção de cinema, seja lá o que for isso, é outra coisa. Não existe um manual de instruções para o que eu chamo “filme de cinema”, então seguia meus instintos. O medo faz parte da vida da gente e é muito cinematográfico. E o filme risca uma linha no chão em relação ao fantástico e não a ultrapassa. Costumo brincar que poderia pousar uma espaçonave no chão da rua, o Clodoaldo (personagem de Irandhir Santos) entrar nela e ir embora. Mas, nesse filme, isso não acontece. 

Como o título entrega, houve cuidado especial com o som do filme, algo muito importante também em outros trabalhos seus. Que tipo de relação sonora você buscou agora?

Tivemos uma equipe de som gravando o filme inteiro, o que deu um total de 50 horas. O pessoal que trabalha com som é muito “viajado”, eles gravam tudo mesmo depois que o trabalho no set acaba. No período de montagem, todo dia eu ficava ao menos meia hora ouvindo aquele material, fazendo anotação e marcações. Diferentemente de muita gente que conheço, que monta os filmes seguindo narrativamente a imagem, era importante para mim atentar para os efeitos sonoros. Tivemos, ao todo, nove pessoas na equipe de som em mais de um ano de montagem. Numa determinada cena, por exemplo, vemos a dona de casa (Maeve Jinkings) no quarto, sozinha, olhando o espelho, e ao mesmo tempo podemos escutar uma discussão feia ao telefone entre uma garota e um provável namorado. Quisemos transmitir a ideia de que as coisas aconteciam no primeiro plano do filme, mas outras pessoas, outras situações estavam presentes ali perto. Buscamos esse efeito pelo som: ele é uma prova de vida, e é um elemento mal-educado, que entra pela janela e o incomoda. Viajo há 11 meses com o filme e é curioso perceber que quando ele está com o som muito bom durante a exibição, as pessoas adoram; quando está mais ou menos, a reação tende a ser negativa. 
 
A experiência de 12 anos como crítico de cinema serviu para a feitura de O som ao redor em alguma medida? 
Alguém muito cinéfilo poderia ter usado algumas precauções que usei no filme. A ideia que mais me movia era a de que queria fazer algo que eu mesmo gostaria de ver. E por quê? Porque esse tipo de abordagem não tem sido muito feito, não só no Brasil, mas no mundo: um filme sobre uma rua, com sotaque local. Assistir a muita coisa e ter uma consciência de cinema – de conhecer, de identificar a linguagem, de saber o que já foi feito antes de mim – me levou a fazer O som ao redor sem estar às cegas. 

Você esperava receptividade mundial tão boa quanto a que tem colhido dentro e fora do Brasil desde quando o filme começou a circular? 
Essa é a grande surpresa com O som ao redor. A gente foi para Roterdã (primeiro evento por onde o longa passou) pensando como ia se sair um filme sobre a minha rua. E ele foi dando cambalhotas no ar. Um texto curatorial do Festival de Copenhague chamava atenção para o fato de que o filme fala do medo da sociedade ocidental, que teme a si própria. E é isso, percebi que não era uma coisa só do Recife. O medo do outro é universal. Claro que, quando estreamos no Brasil (na competição do Festival de Gramado, em agosto de 2012), o filme se desmembrou em outra camada, porque estávamos aqui no país e alguns elementos são mais bem decodificados pelos brasileiros. Mas o grosso, os detalhes, as pessoas captam em qualquer lugar, assim como a gente capta as coisas em filmes iranianos ou dinamarqueses. O trabalho precisa ser forte o suficiente para se sustentar, e essa é a melhor publicidade que ele pode ter.

Vacina contra HPV passa a ser indicada para câncer anal

FOLHA DE SÃO PAULO

Imunização já disponível para evitar câncer do colo do útero tem nova recomendação para homens e mulheres
Apesar de raro, tumor tem se tornado mais frequente em ambos os sexos; maioria dos casos é ligada ao vírus
MARIANA VERSOLATODE SÃO PAULOJOHANNA NUBLATDE BRASÍLIAA Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária) aprovou uma nova indicação para a vacina contra o HPV (papilomavírus humano).
Agora, além de indicada para prevenir câncer do colo do útero em mulheres e verrugas genitais em homens, a mesma vacina passa a valer no combate ao câncer anal, para ambos os sexos.
A idade em que a imunização deve ser feita continua a mesma -de 9 a 26 anos-, para que a prevenção seja feita antes do contato com o vírus.
Por enquanto, a vacina contra HPV não faz parte do programa nacional de imunização e está disponível em clínicas particulares. Municípios como Taboão da Serra (SP) e Campos (RJ) já anunciaram a oferta da vacina.
A aprovação da nova indicação foi baseada em um estudo publicado no "New England Journal of Medicine", que mostrou que a vacina diminuiu em 77% as lesões causadas pelos tipos de HPV cobertos na vacina quadrivalente (6, 11, 16 e 18) e em 55% as lesões associadas a outros 14 tipos de HPV.
Os 602 voluntários do estudo eram homens mais suscetíveis a desenvolver o câncer anal por praticarem sexo com outros homens.
Mas, segundo a pesquisadora Luisa Villa Lina, professora da Faculdade de Ciências Médicas da Santa Casa de São Paulo e uma das maiores especialistas em HPV no país, a ampliação da indicação para homens e mulheres em geral foi feita porque entende-se que o benefício pode ser extrapolado.
"A frequência de câncer anal é maior em mulheres e em homens que fazem sexo com homens, mas a doença também acomete héteros e quem nunca fez sexo anal."
Isso porque o HPV é altamente transmissível e pode ser transferido na relação sexual com a mulher ou pela manipulação com os dedos.
Grupos de maior risco, porém, poderão ter a indicação reforçada por seus médicos, como pacientes com HIV.
Fabio Atui, médico responsável pelo ambulatório de proctologia e DST/Aids do Hospital das Clínicas da USP, diz acreditar que a vacina poderá diminuir a incidência do câncer anal no futuro e ser uma arma a mais para a prevenção, principalmente quando o tabu ou o desconhecimento impedem que as pessoas de alto risco façam o diagnóstico precoce das lesões causadas pelo HPV.
RARO
O câncer de ânus é raro (1,5 caso em 100 mil pessoas), mas, nos últimos anos, a incidência do tumor cresceu 1,5 vez entre os homens e triplicou entre as mulheres, segundo artigo da "Revista Femina", da Febrasgo (Federação Brasileira das Associações de Ginecologia e Obstetrícia).
Uma explicação é o fato de mulheres com infecção cervical pelo HPV terem um risco três vezes maior de infecção anal simultânea, segundo estudo feito no Havaí.
Cerca de 80% da população sexualmente ativa já teve contato com o HPV. Nem todos, porém, desenvolverão verrugas genitais ou câncer.

    CIÊNCIA » Precisão atômica - Roberta Machado‏

    Cientistas criam relógio que mede o tempo a partir da vibração de um único átomo de césio, feito inédito na física 

    Roberta Machado
    Estado de Minas: 11/01/2013 

    Brasília – Durante um longo período, o movimento dos astros era suficiente para marcar a passagem dos meses e dos anos. O desenvolvimento da sociedade trouxe consigo dias mais cheios, repletos de compromissos que pediam horários cada vez mais exatos. Dessa forma, a noção de tempo deixou de ser representada pela sombra marcada no chão pelo sol e ganhou referências cada vez mais elaboradas: o correr da areia na ampulheta, o balançar do pêndulo e a vibração do quartzo, que hoje cronometra cada segundo dos relógios digitais de pulso.

    Mas o horário oficial existe num sistema chamado elementar, representado num aparelho de precisão máxima. Os relógios atômicos marcam, há mais de 60 anos, o horário exato baseado na vibração de partículas que seguem um ritmo milhões de vezes mais fugaz que o segundo. Com a ajuda desse princípio, um grupo de físicos da Universidade da Califórnia, nos Estados Unidos, construiu um novo relógio que não somente marca o tempo melhor que qualquer mecanismo suíço, como também pode revolucionar o conceito que a humanidade tem do peso. É o conceito do relógio que mede a massa, tema da revista especializada Science.

    Para entender a conquista desses visionários, é preciso lembrar a teoria da relatividade de Albert Einstein, segundo a qual a matéria pode ser tanto uma partícula quanto uma onda. Seguindo essa premissa, é possível medir a massa de algo tão minúsculo quanto um átomo, desde que seja colocada na equação a energia que esse corpo representa. A relação pode parecer complicada, mas já é conhecida na ciência há muito tempo. A complicação está  em traduzir a energia em números, já que a frequência de uma onda dessas pode ser 10 bilhões de vezes maior que a da luz visível.

    O grupo liderado pelo físico alemão Holger Müller conseguiu construir um poderoso relógio atômico que controla toda essa energia e torna possível sua medição. Partindo da ideia de que um corpo em movimento “envelhece” mais devagar do que um imóvel, ele usou um interferômetro para comparar as oscilações de um átomo de césio parado com a frequência que ele tinha ao se mover. A diferença entre as duas oscilações é relativamente pequena e pôde ser medida e colocada na equação para o cálculo da massa da partícula.

    “No passado, o tempo sempre foi medido observando-se o movimento de sistemas de partículas. Se essa é a única forma de fazê-lo, então o tempo não faz sentido se você tem apenas uma partícula”, ilustra Müller. “Queríamos descobrir se o tempo pode ser medido usando uma única partícula, e construímos um relógio que faz isso”, esclarece. Bem maior que um relógio de pulso, a máquina ocupa duas salas com cabos e fibras ópticas e levou dois anos para ser construída.

    Chamado relógio Compton, o aparato ainda não tem a mesma precisão dos melhores marcadores, e calcula-se que ele varie um segundo a cada oito anos. Mas a equipe ainda planeja melhorar o desempenho da máquina, o que pode revolucionar o conceito do segundo. Depois de dois anos de estudos, o pesquisador já aponta a intenção de investir num relógio antimatéria, que usaria positrons como referência.
    Relógios atômicos são o padrão de excelência na medida do tempo desde 1967, quando o segundo foi definido como um conjunto de mais de 9 bilhões de oscilações de um átomo de césio. A medida é tão exata que sua variação é estimada em apenas um segundo a cada 100 milhões de anos. Até então, o período era calculado de acordo com os movimentos da Terra. “O básico para construir um relógio é ter um pêndulo confiável, pois é ele que define uma frequência característica de oscilação. Quanto mais estável é a fonte que gera essa frequência, mais preciso será o relógio”, explica Dimiter Hadjimichef, físico de partículas e professor da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS).

    A fonte da frequência, no caso, é a radiação eletromagnética emitida pelo átomo quando ele passa por uma transição eletrônica. A diferença entre o modelo antigo e o proposto pela equipe de Müller é que o relógio de Compton não precisa criar uma interação entre vários átomos para gerar a frequência desejada – ele reduz o sistema a um átomo apenas, o que resulta numa precisão maior. “Como a frequência é periódica, é fácil usá-la para definir o tempo. É como um relógio de pulso, em que um quartzo fica vibrando numa frequência de milhares de vezes por segundo”, exemplifica Ênio Frota da Silveira, físico da PUC Rio.

    Peso Mesmo na fase de testes e ainda sem alcançar a precisão desejada, o relógio da Universidade da Califórnia já criou um debate entre os especialistas em física quântica e pode levar a uma mudança radical na referência de gramas e quilos usada hoje. Há quase um século, cada quilo medido, seja na balança da farmácia ou do supermercado, compara o peso dos objetos à massa do quilo original: uma peça de platina pertencente à Conferência Geral de Pesos e Medidas e guardada a sete chaves na França. Para Müller, relacionar o peso a um átomo em vez de depender de um objeto em particular pode significar não somente praticidade, como também uma precisão incomparável.

    O novo padrão sugerido pelo alemão é composto de um cristal de silício fabricado com um número definido de átomos, uma peça apelidada de esfera de Avogadro. “Todas as outras unidades são definidas por propriedades físicas, e seria ótimo fazer o mesmo com a massa. Quanto menor um sistema for, mais difícil será perturbá-lo. Átomos são atualmente a melhor referência que temos”, compara Müller. Calculando-se a massa de cada partícula com a ajuda do relógio de Compton, seria possível saber o peso exato do objeto, independentemente da temperatura ambiente ou de qualquer outro fator que possa influenciar na medida.

    Inflamação fora de controle - Paloma Oliveto‏

    Quando fica crônico, esse mecanismo de defesa humano ataca tecidos e causa doenças graves, como o câncer e o diabetes. Série de artigos publicado na Science mostra que entender essa reação danosa ainda é um desafio para os cientistas 

    Paloma Oliveto
    Estado de Minas: 11/01/2013 

    Dói, incomoda e pode deixar cicatriz. Mesmo assim, a inflamação é um processo benéfico; sinal de que o corpo está lutando para restabelecer a ordem que, por algum motivo, foi alterada. Pode ser a resposta a um corte infeccionado ou a uma forte pancada. Normalmente, os sintomas conhecidos, como inchaço e febre, passam depois de horas ou de poucos dias. Mas há um outro lado desse mecanismo de defesa e proteção. Por motivos ainda não completamente desvendados, a inflamação torna-se crônica e destrói os tecidos, contribuindo para uma série de doenças graves, como artrite reumatoide, câncer, diabetes e males neurológicos.

    Na edição de hoje, a revista Science traz um especial sobre a inflamação crônica, indicando que ainda é preciso muita pesquisa para se alcançar estratégias de tratamento realmente eficazes. O arsenal disponível ainda não é capaz de combatê-la, muitas vezes porque não se sabe exatamente o que estimula o processo nos casos de doenças graves. “Já se descobriu que, por trás de um grande número de males devastadores, como Alzheimer e diabetes, há um importante componente inflamatório. Mas a identidade do fator que o deflagra costuma ser desconhecida”, admite Ira Tabas, vice-diretor do Departamento de Medicina da Universidade de Columbia e autor de um dos artigos publicados na Science.

    O mecanismo básico da inflamação aguda não é um mistério. Quando há um ferimento ou um trauma, o corpo precisa reagir. Ao sinal de uma lesão, o organismo se mobiliza tanto para expulsar os agentes patógenos, no caso de infecções, como para recuperar e proteger os tecidos atingidos. Em questão de segundos, as veias se dilatam e o fluxo sanguíneo aumenta, irrigando a região machucada. Os capilares tornam-se mais permeáveis para permitir que o plasma e as células de defesa e coagulação cheguem até o local. Elementos como plaquetas, neutrófilos e macrófagos começam a trabalhar para restaurar os tecidos lesionados e expulsar os corpos estranhos. Assim que o objetivo é atingido, a tendência é que tudo volte ao normal. 

    Quando a inflamação é crônica, porém, a situação é bastante diferente: a mobilização das células não cessa jamais e, em vez de recuperar a lesão, as estruturas de proteção acabam destruindo os tecidos. Alguns fatores externos estão relacionados ao processo, como ingestão frequente de alimentos gordurosos e inalação das substâncias tóxicas do cigarro, que são substâncias irritantes. Muitas, vezes, porém, não se sabe o porquê de a mobilização das células perdurar, e não se conhece sequer o motivo pelo qual elas foram acionadas. Para complicar ainda mais, dentro do próprio quadro crônico, o processo inflamatório pode ser completamente diverso, dificultando as tentativas de ter um remédio que não só alivie os sintomas, mas, de fato, signifique a cura. 
    Nas doenças autoimunes, por exemplo, sabe-se que o organismo trava uma luta interna por identificar como viram agentes estranhos substâncias que o corpo produz. Em outras situações, a inflamação pode ser causada por um defeito na regulação desse mecanismo, geralmente devido a um erro genético. Há, ainda, uma terceira classe de doenças crônicas que não se devem nem ao processo autoimune nem a um problema regulatório. E existem outras que estão associadas ao envelhecimento, como o Alzheimer, e ainda constituem um mistério para a medicina. “Se não sabemos o que estimula a inflamação, não temos como eliminá-la. Precisamos conhecer com profundidade os padrões da inflamação crônica. É o que fornecerá a esperança de encontrar novas opções terapêuticas que superem os desafios associados a esse problema”, acredita Christopher K. Glass, pesquisador da Universidade da Califórnia em San Diego e coautor de um dos artigos da Science. 

    De acordo com Ira Tabas, há avanços promissores em alguns casos, como o das síndromes periódicas associadas à cioprina, grupo de doenças inflamatórias causadas por uma mutação genética já identificada. Para alguns males autoimunes, incluindo a artrite reumatoide, existem remédios que podem aliviar os sintomas dos pacientes, especialmente a dor. “Ainda assim, os tratamentos disponíveis atualmente não são ideais. A resposta benéfica é variável, particularmente quando a terapia anti-inflamatória começa depois de a doença se estabilizar. Longos períodos de remissão não são comuns e os efeitos adversos podem ser substanciais”, diz Tabas. Ele explica que esses problemas são ainda mais pronunciados quando a inflamação não está associada à autoimunidade. 

    Ao se descobrir uma droga potencialmente promissora, as dúvidas dos cientistas são muitas. “Será que esses avanços poderão ser aplicados para todos os tipos de doenças crônicas nas quais a inflamação é uma importante força impulsora?”, questiona Christopher K. Glass. Além disso, ele lembra que esse mecanismo é orquestrado por muitas moléculas, e focar apenas uma pode não ser o suficiente. 

    Efeitos também  no coração

    O pesquisador do Centro de Sistemas Biológicos do Hospital Geral de Massachusetts e professor da Universidade de Harvard Filip K. Swirski concorda que as terapias-alvo que visam os diversos tipos de inflamação crônica demandam muito tempo de pesquisa pela frente. Mas ele acredita que a ciência está no caminho certo, com descobertas importantes nas últimas décadas que, para ele, poderão se traduzir em ganhos clínicos no futuro. Autor de um dos artigos do especial da Science, o médico destaca uma pesquisa da qual participou recentemente em que foi feita a associação entre inflamação crônica e o risco de ataque cardíaco.

    Swirski explica que um dos principais componentes dos problemas cardíacos é a arterosclerose, um processo inflamatório crônico que provoca lesões na parede das artérias e pode culminar em infarto do miocárdio. Como em um efeito cascata, a ocorrência de um primeiro ataque cardíaco aumenta o risco de um segundo episódio que, muitas vezes, é letal. “A resposta imunológica ao infarto pode acelerar a trajetória da doença cardíaca, aumentando o tamanho e o grau de inflamação das placas arteroscleróticas”, diz.
     
    Para o cientista, primeiro é preciso entender completamente como o sistema de defesa do organismo está envolvido no processo de inflamação cardíaca. Uma pesquisa conduzida por ele no ano passado mostrou que os leucócitos — células brancas do sangue — agem com os lipídios (gordura) na formação de lesões coronarianas. “Ainda não existem drogas que tratem as doenças cardiovasculares tendo os leucócitos como alvo porque a biologia dessa célula ainda é um tanto enigmática, mas essa é uma abordagem possível no futuro”, afirma. (PO)

    Ação da insulina

    Doença autoimune com um forte componente inflamatório, o diabetes está relacionado com a fabricação ou o funcionamento da insulina, um hormônio sintetizado no pâncreas. Ainda não há cura para o mal, que é apenas controlado. Um estudo publicado na revista Nature, contudo, traz a esperança de que os tratamentos se tornem mais eficazes. Com um acelerador de partículas, os pesquisadores conseguiram obter um modelo do hormônio no momento em que se fixa ao seu receptor. De acordo com eles, o trabalho vai ajudar a conhecer melhor o funcionamento da insulina, substância que retém o açúcar do sangue para metabolizá-lo e transformá-lo em energia. 

    “Mostramos que a insulina e seu receptor se modificam graças a uma interação. Um fragmento da insulina se desloca e as partes fundamentais do receptor vão ao encontro do hormônio. Isso pode ser chamado de ‘um aperto de mãos molecular’”, afirmou Mike Lawrence, professor do Instituto Walter and Eliza Hall de Melbourne, na Austrália. 
    Somente o tipo 2 da doença afeta 300 milhões de pessoas em todo o mundo, o que faz com que seja considerada uma epidemia. “Nós ainda não temos um tratamento para o diabetes, mas descobertas como a da fixação da insulina nos dão esperança de estarmos mais próximos disso”, comemorou Nicola Stokes, integrante do Conselho Australiano de Diabetes.

    TV PAGA

    Estado de Minas: 11/01/2013

    Divina gula

    Para assistir a alguns programas é preciso ter estômago forte. É o caso de Eat Street, mas não é por uma suposta baixa qualidade da produção, e sim pelo cardápio servido pelo apresentador James Cunningham (foto). No episódio desta noite, às 20h15, na Fox Life, ele vai de uma costa a outra dos Estados Unidos e estica até o Canadá e a Inglaterra para provar todo tipo de petiscos. Por exemplo, em Portland, no Oregon, ele faz uma parada na lanchonete móvel Cackalacks Hot Chicken Shack para experimentar o jalopy, sanduíche coberto com bacon e jalapeño, com um distinto sabor doce e apimentado. Em Londres, o teste é feito com burritos com carne de frango, suína e bovina.

    Paulo Tiefenthaler vai
    encarar Zé do Caixão


    Outro que adora uma cozinha mais hardcore é Paulo Tiefenthaler, do programa Larica total, do Canal Brasil, que vai hoje ao programa O estranho mundo de Zé do Caixão, à meia-noite, para falar de espiritualidade e misticismo. Mais cedo, ainda no Canal Brasil, o maluco Edy Star dá as caras em O som do vinil, às 21h30, contando as histórias do álbum Sweet Edy, que ele gravou em 1974 e foi relançado em 2010 pela gravadora Joia Moderna.

    Canal History segue os 
    passos de Jesus Cristo


    Jesus foi preso numa quinta-feira à noite, julgado, flagelado e crucificado na sexta-feira. No final do dia seguinte, sábado judaico, foi enterrado, e no domingo ressuscitou ao amanhecer. O que aconteceu a partir daí é narrado no especial Jesus: os 40 dias perdidos, que o canal History exibe hoje, às 17h30. Depois de ressuscitar, Jesus passou mais 40 dias entre os homens antes de conduzir os apóstolos até o Monte das Oliveiras, onde lhes deu as últimas instruções, e então ascendeu aos céus.

    Matthew Broderick faz 
    e acontece no Telecine


    O Telecine Premium costuma guardar surpresas para as noites de sexta-feira, e hoje não será diferente, com a estreia de Pequenos espiões 4, às 22h. No elenco estão Jessica Alba, Jeremy Piven e Joel McHale e a direção é de Robert Rodriguez. No Telecine Cult, a seleção Novos clássicos em dose dupla emenda dois filmes estrelados por Matthew Broderick: O feitiço de Áquila, às 19h50; e Curtindo a vida adoidado, às 22h.

    Muitas alternativas na 
    programação de filmes


    Na Cultura, o drama Leite, do turco Semih Kaplanoglu, exibido quarta-feira, será reprisado, agora em versão legendada, às 22h. No mesmo horário, o assinante tem mais oito opções: Burlesque, na HBO; Uma noite no museu 2, no Megapix; O guia do mochileiro das galáxias, no Telecine Fun; Sexo sem compromisso, no Telecine Touch; Eu e as mulheres, no Glitz; Homem de Ferro 2, no FX; Constantine, na TNT; e Nosferatu – O vampiro da noite, no Futura. Na faixa das 21h, mais quatro alternativas: Larry Crowne – O amor está de volta, no Max HD; Uma chance para viver, no AXN; Os últimos rebeldes, no Boomerang; e Mestre do disfarce, no Comedy Central. Outras atrações da programação: À procura da felicidade, às 19h30, no A&E; Contágio, às 22h10, na HBO2; e Encontro marcado, às 22h30, no Universal Channel.

    Barbara Gancia

    FOLHA DE SÃO PAULO

    Príncipe Harry por um dia
    Pelo meu Instagram, fica a impressão de que acabamos na casa do Tyson com a turma de 'Se Beber Não Case'
    AO MENOS uma coisa posso dizer que aprendi em 2012: nunca verificar o Instagram quan­do estiver de cama com febre.
    Os chatos que possuem aquele outro smartphone talvez ainda não saibam, mas Instagram é o aplicati­vo de fotos originalmente criado para o iPhone e iPad que é usado por 100 milhões de pessoas e foi comprado pelo Zucker-coiso, do Facebook, no ano passado. É uma ferramenta que conta aos amigos (neste caso, "seguidores") o que vo­cê está fazendo usando fotos em vez de palavras. E todo mundo só mostra o que faz de bom. Fim de semana, então, é uma esbórnia.
    Sigo no Instagram, por dever de ofício, mas também porque são meus amigos, muita celebridade, gente bem-sucedida com acesso ao bom e ao melhor. Um pessoal que chega a humilhar o seguidor comum e jornalistinhas de fim de feira como eu. Ficar de cama ou não viajar num fim de se­mana prolongado e resolver se dis­trair com as fotos do Instagram do (por exemplo) Tutinha da Jovem Pan é um convite ao suicídio.
    Enquanto você está indo até a far­mácia da rua João Cachoeira, o cara já fotografou uma batata frita com trufas em Aspen, deu um pulo em Dubai (com direito a detalhes do assento da primeira classe do avião da Qatar Airways e toda a família sorrindo atrás da tigela de caviar). Você ainda está no Extra do Itaim procurando inalador, e ele já pos­tou as fotos do jantar, hambúrguer no 21 de Nova York, junto com a Sa­brina Sato, que deu uma passadi­nha depois de visitar a família em Penápolis e assistir à final do UFC em Hong Kong com a Alicinha Ca­valcanti.
    Fui a Las Vegas no fim do ano, que já foi considerada a capital do peca­do, "Sin City", e hoje é chamada de "the cesspool of the world", o esgo­to do mundo. De fato, a cidade ema­na cheiro de enxofre. Antes de embarcar, pessoa estável e serena que sou, não encanei que a Al Qaeda escolheria aquele inferno como seu próximo alvo justamente no Réveillon, pois ali não estaria a escória do mundo. Claro que não. Que sentido teria um pensamento desses?
    Como isso não ocorreu, descobri outra conspiração e liguei para mi­nha melhor metade, que havia fica­do para trás em solo pátrio: "Já sei onde vão parar todos os sanduíches que os americanos devoram, o sub­solo de Las Vegas tem um cheiro impressionante!". Uma brasileira arrastando uma mala com rodi­nhas passou por mim enquanto eu falava e sorriu: "Cheiro impressio­nante!", reiterou e saiu rindo.
    À noite fomos ao stand up de Jerry Seinfeld. Só agora entendi porque é considerado gênio. Cada piada é tratada como ciência. O jei­to que analisa a sociedade america­na, critica seus costumes, encara o homem moderno, se distancia dele para poder cindi-lo, mas, também, a maneira como conseguiu manter contato com o americano comum, a despeito das barreiras que fama e grana devem lhe impor, fazem do material apresentado um dos monólogos humorísticos mais impressionantes que já vi. Di­fícil alguma coisa ainda ter o frescor de novidade no humor. Seinfeld é quase heroico.
    Abriu destruindo a "experiência Las Vegas": falou mal das calçadas, da comida, dos engarrafamentos e das filas. Disse que a melhor parte de estar em LV é ligar aos amigos e dizer: "Sabe onde estou? Em Vegas!".
    Pensando bem, no meu Instagram (@bgancia) não há congestionamento ou mau cheiro. A impressão que se tem é de que o príncipe Harry foi meu compa­nheiro de viagem e que acabamos na casa do Mike Tyson com a turma do "Se Beber Não Case".
    O que me faz concluir que talvez o Tutinha tenha perdido as malas no voo de volta ou que a bata­ta frita de Aspen seja um tanto gor­durosa. E que eu posso ficar de cama em 2013 sem lamentar qualquer fim de semana desperdiçado. Feliz Ano-Novo para nós!

    Painel - Fabio Zambeli [interino]

    FOLHA DE SÃO PAULO

    Terceiro tempo
    Debruçados sobre os elementos que consideram frágeis nos votos dos ministros, advogados de personagens do mensalão finalizam os extensos embargos que protocolarão no STF tão logo seja publicado o acórdão do julgamento, o que deve ocorrer em fevereiro. A defesa de José Genoino questionará as razões pelas quais o deputado petista foi condenado seis vezes por corrupção ativa, enquanto, segundo alega, a acusação sustentou apenas quatro vezes o crime continuado.
    -
    Eu avisei Durante o julgamento, o defensor do petista, Luiz Fernando Pacheco, fez a ressalva em memorial endereçado à ministra Rosa Weber, que levantou o tema. O plenário, contudo, consolidou a condenação que ele espera rever, diminuindo a pena, estipulada em seis anos.
    Prova dos nove A apreciação dos embargos de declaração e infringentes será o primeiro teste para Teori Zavascki, que não votou no julgamento, e para o substituto de Ayres Britto, a ser indicado por Dilma Rousseff.
    Petit comité O presidente do Senado, José Sarney (PMDB-AP), ofereceu anteontem almoço ao ex-ministro José Dirceu. O encontro, que ocorreu na casa do peemedebista, foi reservado.
    Daqui... Após sua condenação consumada, João Paulo Cunha (PT-SP) usou em dezembro R$ 10 mil de sua verba de gabinete para contratar empresa especializada em marketing nas redes sociais.
    ... não saio A contratação da MPI Digital, que já havia sido usada nos meses que antecederam o julgamento do mensalão, está registrada sob a rubrica "divulgação da atividade parlamentar''.
    Pé na porta Do candidato à presidência da Câmara Júlio Delgado (PSB-MG), sobre a eleição de Ana Arraes, mãe de Eduardo Campos, para o TCU em 2011: "Henrique Alves diz que ajudou a elegê-la, mas o PMDB rifou a candidatura de Átila Lins para despejar votos em Aldo Rebelo".
    Sacolinha Roberto Cláudio (PSB) irá hoje ao MEC. O novo prefeito de Fortaleza apelará a Aloizio Mercadante na tentativa de reaver R$ 10 milhões em repasses federais que o município perdeu por falha na prestação de contas.
    PowerPoint Dilma deve iniciar na próxima semana rodada de reuniões interministeriais. Cobrará o cumprimento das metas de execução dos programas por pasta. Como ala expressiva da Esplanada estava em férias, ministros anteciparam retorno e correm contra o tempo para preparar os relatórios.
    Oremos Ex-secretário de Gilberto Kassab, Marcos Cintra deixou o PSD. O economista, entusiasta do Imposto Único, acertou ontem ingresso no PRB. Assumirá a presidência paulista do partido ligado à Igreja Universal.
    Quem paga... Presidentes dos comitês estadual e municipal da Copa, o secretário Júlio Semeghini (Planejamento) e a vice-prefeita Nádia Campeão sentam hoje à mesa pela primeira vez para tratar da agenda conjunta de São Paulo para o Mundial.
    ... a conta? Além de dissecar os preparativos para a inspeção da Fifa, prevista para o dia 25, os auxiliares de Geraldo Alckmin e Fernando Haddad discutirão as responsabilidades do governo paulista e da prefeitura sobre o chamado "overlay" (estrutura temporária) do evento, que consumiria R$ 50 milhões.
    #tamojunto Dirigentes do Instituto Lula querem negociar com sem-teto que invadiram área no centro paulistano doada para a construção do Memorial da Cidadania. A ideia é contemplar os movimentos sociais de moradia em seção do novo espaço.
    com ANDRÉIA SADI e DANIELA LIMA
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    TIROTEIO
    "A possibilidade da perda de uma vida fulmina a resolução do governo proibindo socorro às vítimas por parte de policiais."
    DO DEPUTADO CAMPOS MACHADO (PTB), sobre a determinação da Secretaria de Segurança de São Paulo proibindo a PM de socorrer feridos.
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    CONTRAPONTO
    Apagão verbal
    Em meio à crise no setor energético, jornalistas aguardavam com ansiedade o pronunciamento do ministro Edison Lobão (Minas e Energia), anteontem, após reunião com representantes do setor em Brasília.
    Foi quando a assessoria da pasta decidiu que seriam feitas apenas oito perguntas a Lobão na entrevista coletiva. E resolveu ainda que a escolha seria feita por sorteio. Houve reclamação generalizada. Um dos presentes disse:
    - Já foi decretado o racionamento, gente!
    Ante a perplexidade de todos, concluiu:
    - Calma, por ora, racionamento apenas de perguntas.

      Índios criticam falta de médicos no Xingu (MT)

      FOLHA DE SÃO PAULO

      DE SÃO PAULOÍndios que vivem no norte do Parque Nacional do Xingu (MT) denunciam que estão sem médicos na região desde 2010. Eles afirmam que o atendimento no Alto Xingu fica a cargo de enfermeiros e técnicos. O governo federal é responsável pelo atendimento à saúde em áreas indígenas.
      "Não tem médico, só enfermeira e outro atendente", disse o índio Mataryua, 47.
      As reclamações cresceram após o cacique Aritana Yawalapiti ter um derrame no dia 6. Ele, que conviveu com os irmãos Orlando e Cláudio Villas-Bôas, responsáveis pela criação do parque, em 1961, preside o Conselho da Liderança do Xingu.
      Familiares dizem que a pressão do cacique subiu, mas ele não tinha nem remédios nem médicos.
      Como o tratamento espiritual com o pajé não surtiu efeito, eles decidiram transferi-lo para Brasília. Um avião contratado pelo governo federal o levou à Canarana, cidade próxima à reserva, dois dias após o derrame.
      O Ministério da Saúde informou que só poderia levá-lo a Brasília no dia seguinte, por causa do mau tempo. Segundo a pasta, a avaliação médica constatou que a demora não traria risco à saúde de Aritana.
      O filho do cacique, Tapi, 36, disse que a situação do pai se agravou e um amigo fretou outra aeronave para levá-los a Brasília. Aritana está internado no hospital da Universidade de Brasília e apresenta melhoras.
      O Ministério da Saúde disse que o atendimento é feito por 420 profissionais em quatro postos na área indígena e em unidades próximas e que as equipes se revezam para cobrir todos os 2,6 milhões de hectares do parque.

        Funai reconhece terra guarani-caiová
        Encomendado a antropólogos, documento identificou que área de 415 km2 em MS pertence à etnia de índios
        Texto é primeira etapa para que local vire terra indígena; região hoje é ocupada por 46 propriedades rurais
        Eduardo Knapp - 31.out.2012/Folhapress
        Índia Marilene Romeiro, 22, na área onde foi escrita carta polêmica dos guaranis-caiovás
        Índia Marilene Romeiro, 22, na área onde foi escrita carta polêmica dos guaranis-caiovás
        DANIEL CARVALHODE SÃO PAULOApós quatro anos e meio de espera, a Funai (Fundação Nacional do Índio) divulgou nesta semana o resumo do primeiro de seis estudos voltados a identificar terras da etnia guarani-caiová em Mato Grosso do Sul.
        Encomendado a antropólogos, o levantamento iniciado em 2008 reconheceu uma área de 415 km2 no município de Iguatemi -equivalente a pouco menos de um terço da cidade de São Paulo- como sendo a Terra Indígena Iguatemipeguá 1.
        No local está situado o tekohá (terra sagrada) Pyelito Kue, que no ano passado ganhou atenção mundial a partir de uma carta escrita pelos índios e interpretada por ativistas como anúncio de suicídio coletivo do grupo de 170 acampados na fazenda Cambará.
        O estudo mostra que 1.793 índios da segunda maior etnia do país vivem na área.
        As terras hoje são ocupadas por 46 propriedades rurais. O estudo não calculou o número de famílias na área.
        Produtores adquiriram terras do governo federal desde o fim da Guerra do Paraguai (1864-70), quando o Império começou a colonizar a região.
        Os 43 mil guaranis-caiovás vivem hoje confinados em reservas ou em acampamentos improvisados em fazendas e às margens de rodovias. A situação foi mostrada pelaFolha em novembro passado.
        A publicação do resumo do estudo no "Diário Oficial" é a primeira etapa para que Iguatemipeguá 1 seja convertida em terra indígena.
        Ainda é preciso que o estudo seja analisado pelo Ministério da Justiça e pela presidente Dilma Rousseff, que pode homologar ou não a área. Além disso, uma batalha judicial deve ser travada entre produtores e Funai.
        Os 46 ruralistas têm 90 dias para se manifestar individualmente a respeito do estudo. O prazo é considerado "exíguo" por Carlo Codibelli, assessor jurídico da Famasul, federação que representa os produtores rurais.
        "As propriedades são tituladas e têm regularidade fundiária reconhecida pelo governo. Não é uma situação de mera ocupação", diz Coldibelli, que afirma temer um outro problema social, com o eventual despejo das famílias que vivem nas fazendas.