sábado, 16 de março de 2013

Quadrinhos - Laertevisão

folha de são paulo


LAERTEVISÃO      LAERTE

LAERTE
CHICLETE COM BANANA      ANGELI

ANGELI
PIRATAS DO TIETÊ      LAERTE

LAERTE
DAIQUIRI      CACO GALHARDO

CACO GALHARDO
NÍQUEL NÁUSEA      FERNANDO GONSALES
FERNANDO GONSALES
PRETO NO BRANCO      ALLAN SIEBER

ALLAN SIEBER
QUASE NADA      FÁBIO MOON E GABRIEL BÁ

FÁBIO MOON E GABRIEL BÁ
HAGAR      DIK BROWNE

DIK BROWNE

Saiba como agir em caso de mau atendimento

folha de são paulo

Especialistas dão dicas para problemas com bancos e empresas de serviços
THIAGO SANTOSCOLABORAÇÃO PARA A FOLHABancos e outras instituições financeiras, assim como empresas de serviços essenciais -como telecomunicações e energia-, permanecem entre as companhias que mais recebem reclamações de consumidores, o Procon-SP.
Em relação aos bancos, a principal queixa é a tarifa de cadastro cobrada em financiamentos, que é permitida pelo Banco Central.
Para evitar problemas nesses casos, a recomendação de especialistas é exigir a informação do custo efetivo total do financiamento, com todas as taxas cobradas.
No setor de telecomunicações, entre os problemas mais comuns estão o descumprimento de promoções e a dificuldade de cancelar linhas.
Nesses casos, a reclamação ao órgão regulador surte efeito, afirmam advogados.
No site da Anatel na internet (www.anatel.gov.br), o consumidor pode registrar a queixa.
Veja outros problemas comuns e como evitá-los
folha.com/no1246834

    Entrevista D. Cláudio Hummes

    folha de são paulo

    A igreja não funciona mais, é preciso que seja reformada
    Cardeal brasileiro mais próximo do papa, ele defende uma ampla mudança na estrutura católica, incluindo missas
    FABIANO MAISONNAVEENVIADO ESPECIAL A ROMAApontado como o cardeal brasileiro mais próximo do novo papa, dom Cláudio Hummes, 78, diz que a igreja "não funciona" do jeito que está e pede mudanças em toda sua estrutura.
    Na sua apresentação ao mundo, Francisco convidou dom Cláudio, arcebispo emérito de São Paulo, a ficar do seu lado no balcão da basílica de São Pedro.
    Emocionado com o convite e com a homenagem ao fundador de sua ordem, o franciscano d. Cláudio disse à Folha que a escolha do nome é por si só uma encíclica.
    O ex-bispo de Santo André disse ainda que as acusações de que o novo papa colaborou com a ditadura militar argentina são "grande equívoco, senão uma falsificação".
    Folha O sr. foi convidado pelo papa Francisco a estar ao seu lado na primeira aparição. Como é a relação entre vocês?
    D.Cláudio Hummes - Nós nos conhecemos de tantas oportunidades, porque fui arcebispo de São Paulo, e ele, arcebispo de Buenos Aires. Mas sobretudo foi em Aparecida (SP) onde estivemos mais tempo trabalhando juntos, na 5ª Conferência Latino-Americana, em 2007.
    Existia ali a comissão da redação, a mais importante porque ali que se formulava o documento para depois ser votado. Ele era o presidente, e eu, um dos membros.
    Admirei muito a sua sabedoria, serenidade, santidade divina, espiritualidade. Muito lúcido e muito pastoral, grande zelo missionário, de querer que a igreja seja mais evangelizadora, mais aberta.
    Como foi o convite para estar no balcão?
    Quando se começou a organizar a procissão da Capela Sistina para o balcão na praça, ele chamou o cardeal Vallini, que faz as vezes do bispo de Roma, o vigário da cidade, e me chamou também. Disse: "D.Cláudio, vem você também, fica comigo neste momento".
    Disse até: "Busca o teu barrete [chapéu eclesiástico]", bem informalmente. Fui lá buscar o meu barrete e estava todo feliz....
    Porque não é o costume, quem vai junto são os cerimonários, nunca tem cardeais com o papa, eles estão nos outros balcões.
    E o fato de que ele nos convidou acabou rompendo um monte de rituais. Mas foi realmente, para mim, muito gratificante. E também pelo fato de ele ter escolhido o nome de Francisco.
    Eu sou franciscano, então isso me envolvia muito pessoalmente.
    O papa recusou a limusine, foi pagar a conta do hotel...
    São gestos simples, mas que mostram quem ele é e como ele vê as coisas. A minha maravilha foi que esses gestos foram compreendidos pelo povo simples e pela mídia. A mídia também interpretou esplendidamente, entendeu as mensagens que o papa queria dizer.
    Qual é o significado de ter um papa de fora da Europa depois de mais de mil anos e além disso latino-americano?
    Os outros papas que não foram exatamente europeus vinham da região do Mediterrâneo. Nesse sentido, era a Europa da época, era uma grande realidade geopolítica.
    Mas o fato de que hoje venha um papa de fora da Europa tem um significado muito grande porque mostra o que a igreja sempre tem dito: a igreja é universal, para a humanidade. Não é para a Europa.
    Ter um papa é o sinal maior. É o gesto de dizer: o papa pode vir de qualquer parte do mundo.
    Também acho importante que tenha vindo da periferia ainda pobre, emergente. Isso é uma confirmação para todos os católicos de lá: "Temos um papa que vem daqui".
    São Francisco também é lembrado pela missão de reformar a igreja como um todo. A escolha do nome também tem essa abrangência?
    Certamente, para o papa, o nome é todo esse programa. Hoje, a igreja precisa, de fato, de uma reforma em todas as suas estruturas. Organizar a vida da igreja, a Cúria Romana, de que tanto se falou e que precisa urgente e estruturalmente ser reformada, isso é pacífico entre nós.
    Será uma obra gigantesca. Não porque seja uma estrutura gigantesca, mas por um mundo de dificuldades que há dentro de uma estrutura como essa, que foi crescendo nos últimos séculos.
    Alguém disse já que a escolha do nome Francisco já é uma encíclica [mensagens do papa à igreja], não precisa nem escrever. Isso é muito bonito, é muito promissor.
    Em que sentido a reforma é necessária?
    Não é só da Cúria, são muitas outras coisas: o nosso jeito de fazer missa, de fazer evangelização, essa nova evangelização precisa de novos métodos. O papa falou no encontro com os cardeais sobre novos métodos.
    Mas se falou sobretudo da Cúria Romana, que precisa ser reforçada estruturalmente. É muito grande, mas tudo isso precisa de um estudo, a gente não tem muitas coordenadas.
    Muitos dizem que é grande demais, que foi feito um puxadinho aqui, um puxadinho lá, mais uma sala aqui, mais uma comissão lá, mas essa aqui não tem suficiente prestígio.... Essas coisas todas que acontecem numa estrutura dessas.
    A igreja não funciona mais. Toda essa questão que aconteceu ultimamente mostra como ela não funciona. E depois, uma vez feito esse novo desenho, você tem de procurar as pessoas adaptadas para ocuparem esses cargos, esses serviços.
    Reza a lenda de que o papa Francisco não gosta de vir a Roma, que sua formação foi longe daqui. Isso contribuiu para a sua escolha?
    Não sei se contribui para a sua escolha, mas contribui agora, que ele é papa, a ser mais independente, a ser uma visão mais objetiva. É muito diferente ver um jogo da arquibancada e ver um jogo jogando futebol.

      Em frente a Ipanema

      folha de são paulo

      Pesquisadores mapeiam arquipélago de Cagarras e lançam documentário, livro com 3.000 fotos e guias sobre flora e fauna terrestre e marinha do lugar
      FABIO BRISOLLADO RIOOs frequentadores das praias de Ipanema ou Leblon, no Rio, estão habituados a observar à distância as Cagarras, arquipélago formado por seis ilhas, a 4.500 metros da faixa de areia mais próxima.
      Já um grupo de 12 pesquisadores se dedicou a conhecer de perto a vida terrestre e marinha do lugar, trabalho registrado no documentário "Ilhas Cagarras - Monumento Carioca", que em abril será lançado em DVD e distribuído em bibliotecas, escolas públicas e museus.
      Um livro com 3.000 fotos feitas ao longo do levantamento está sendo editado com o mesmo propósito.
      Desde 2011, os pesquisadores analisam o ecossistema da região. Criado pela ONG Instituto Mar Adentro, o projeto Ilhas do Rio catalogou aproximadamente 200 espécies da vegetação local e mais de 200 espécies de peixes.
      A equipe produziu ainda dois guias de identificação das espécies da fauna e flora terrestre e marinha no perímetro das ilhas, disponíveis para download no sitemaradentro.org.br/ilhasrj.
      "O inventário da flora das ilhas é inédito e identificamos também as espécies de aves marinhas", explica Carlos Rangel, coordenador do projeto e responsável por alguns dos mutirões realizados no arquipélago para retirar lixo.
      "Por serem ilhas próximas da costa do Rio, o dano é maior. Quanto mais perto da área urbana, maior o impacto. Mas ainda existe muita vida por lá", afirma.
      Chama a atenção a população de 5.000 pássaros da espécie Fragata, citada pelo grupo como o segundo maior ninhal da América Latina.
      AVENTUREIROS
      Alguns aventureiros estão habituados a rondar as ilhas.
      Morador de Niterói, o empresário Paulo Junqueira, 50, faz pausas no trabalho quando as condições do mar estão favoráveis para o mergulho.
      "Ligo para a marina e peço para pôr minha lancha na água. Saio da praia de Icaraí (Niterói) e em 20 minutos estou nas Cagarras", diz Junqueira, que pratica pesca submarina fora da área de proteção fixada na legislação.
      A proibição se estende por dez metros ao redor de cada ilha. Também não é permitido o desembarque, a não ser daqueles que têm autorizações especiais, como os técnicos do projeto Ilhas do Rio.
      Aos interessados em conhecer as Cagarras, a opção é alugar embarcações nas agências situadas na Marina da Glória ou recorrer às empresas de mergulho que organizam expedições na região.

        Abuso de álcool por jovens faz médicos mirarem publicidade

        folha de são paulo

        Estudo no Hospital Universitário da USP aponta que 35% dos casos de intoxicação grave envolvem pacientes de 13 a 22 anos
        Pediatras iniciam hoje em SP campanha para exigir mais restrições à veiculação de anúncios de bebidas alcoólicas
        JAIRO MARQUESDE SÃO PAULOA publicitária Cyntia Schiavon, 39, ficou em desespero quando recebeu um telefonema informando que a filha de 16 anos estava passando "muito mal" em uma festa, regada a bebida alcoólica.
        "Ela tinha 13 anos na época e jamais havia bebido vodca nem tinha recebido incentivo em casa para beber. Quando cheguei ao local, ela estava desmaiada e tive de carregá-la no colo até o carro. Minha filha ficou horas no hospital para se reabilitar."
        Casos como o da jovem estão colocando médicos em alerta. Levantamento feito no HU (Hospital Universitário) da USP indica que, de 2002 a 2012, adolescentes e jovens de 13 a 22 anos compuseram a faixa etária que mais procuraram atendimento em decorrência de intoxicação aguda por ingestão de álcool: foram 35% dos 1.370 atendimentos.
        O estudo, divulgado nesta semana, revela ainda que o pico da procura de auxílio médico por causa de bebedeira se dá entre os 19 e 20 anos e que, após os 25 anos, os índices começam a cair.
        "O contato com bebidas alcoólicas tem sido cada vez mais precoce. Há pesquisas indicando que a cada cinco anos aumenta-se a dosagem que eles ingerem e diminui a idade do uso", afirma o médico pediatra João Paulo Becker Lotufo, coordenador do levantamento no HU.
        PROPAGANDA
        Hoje, durante o 13º Congresso Paulista de Pediatria, em São Paulo, a SBP (Sociedade Brasileira de Pediatria) vai aderir a uma campanha, que envolve uma petição pública, que defende mais restrições nas campanhas publicitárias de bebidas alcoólicas.
        "No Brasil, ainda não temos estudos claros sobre a relação entre a publicidade e o consumo de bebidas. Mas artigo recente da [revista] 'Pediatrics ', dos EUA, divulgou pesquisa que acompanhou a rotina de estudantes adolescentes. Os dados mostraram relação íntima entre o que eles consumiam e o que viam em propagandas, sobretudo de cerveja", afirma Eduardo Vaz, presidente da SBP.
        Segundo os médicos, o cérebro dos adolescentes ainda está em formação e o efeito do álcool neles pode ser pior do que em adultos.
        "Cada pileque representa lesão em neurônios em grandes quantidades. Isso vai ocasionar problemas de memória e dificuldade no aprendizado. Quanto mais jovem se bebe, maior o risco de dependência", declara Lotufo.
        A menina de 16 anos do início do texto não foi reprimida por ter ficado bêbada, mas não quis mais ter contato com álcool. "O diálogo sobre bebida entre nós aumentou naturalmente, não a envergonhei pela bebedeira. Não dá para afastar os filhos do debate. As famílias têm de ter responsabilidade", diz a mãe.
        Atualmente, a lei proíbe a comercialização de bebida alcoólica para menores de 18 anos e obriga que haja alerta dos riscos de beber e dirigir.
        Hoje, há restrição à veiculação de propaganda de bebidas na TV. Publicidade de cachaça e uísque (mais de 13 graus GL, unidade que mede volume de álcool) não pode ser veiculada das 6h às 21h.
        Médicos e entidades civis, encabeçados pelo Ministério Público, querem restrição também para a cerveja.

          Walter Ceneviva

          folha de são paulo

          De votos e devotos
          A eleição do papa nada mais é que uma escolha pelo voto, mas não se confunde com outras
          O processo eleitoral que acabou de ser cumprido com a escolha do papa Francisco merece referência jurídica por suas características especiais. Não se confunde com outros, também eleitorais, mas distintos dos procedimentos religiosos.
          Servem de exemplo países em que há eleição indireta do chefe do Executivo. O legislador escolhe entre eleitos pelo povo, candidato ou candidatos para os cargos componentes das funções propriamente governamentais.
          A eleição do papa é nada mais que uma escolha pelo voto, mas não se confunde com nenhuma das outras. Sua principal distinção reside na qualificação dos eleitores, no número restrito, no fato preliminar de que são exclusivamente retirados do grupo de cardeais da religião católica romana, antes da instauração do processo eleitoral.
          O papa reinante nomeia, segundo seu próprio critério, os cardeais, quando se criem novas cátedras cardinalícias ou faleçam os antecedentes ocupantes.
          Não tem semelhança com a escolha em nações, nas quais a mais comum tem sido a da base essencial da linha familiar do soberano. É o caso do trono britânico, cujos componentes não governam, ou dos reinados em países árabes, também por transmissão familiar do soberano que reina e governa.
          A sucessão do papa se distingue de todas as outras pelo número restrito dos eleitores, estranhos à massa do povo, participantes do chamado colégio dos cardeais, no qual, em tese, cada componente é também candidato em potencial.
          Até a gestão de Bento 16 e durante séculos, o novo papa era eleito quando o antecedente falecia. As candidaturas não são preanunciadas, embora se destaquem possibilidades de concorrentes em países de predominância católica. A inscrição cabe somente a titulares do cardinalato católico.
          A circunstância de que o Vaticano é um Estado dentro do Estado italiano não se confunde com o predominante enquadramento religioso da escolha do papa, que não altera a avaliação final do resultado.
          No Estado italiano, é operante o sistema misto; a linha administrativa do Estado não fica aos cuidados do presidente da República, mas do primeiro-ministro.
          A relação entre os votantes e a massa de seus correligionários, embora de segmentos variados do catolicismo, é apenas teórica. Cada cardeal não consulta os fiéis de seu país, para avaliar as preferências.
          Havendo vários cardeais do mesmo país, é aceitável que suas preferências não sejam uniformes nem mesmo próximas. O voto é secreto, decidido na hora da manifestação de cada eleitor.
          No tempo da sucessão por morte, os procedimentos eram mais fáceis. Hoje, temos um papa emérito (Bento 16) e um papa eleito (Francisco). Embora, em tese, aquele não esteja no exercício do papado, será impossível impedi-lo de manter contatos políticos, se o desejar. No futuro, é possível que sejam dois ou mais os papas renunciantes.
          Com a complicação gerada pelas mudanças sociais, técnicas e políticas da vida, a divisão entre funções religiosas e dos negócios gerais da igreja (econômicos, sociais e políticos) aumentarão. O governo do dia a dia do Estado Vaticano e suas ramificações mundiais exigirão aperfeiçoamento alheio à verificação, pelo pontífice. A dinâmica da vida distanciará o voto dos devotos.


          LIVROS JURÍDICOS
          POLÍTICA CRIMINAL E CRIMES ECONÔMICOS
          AUTORES Leandro Sarcedo
          EDITORA Alameda (0/xx/11/3012-2400)
          QUANTO R$ 42 (235 págs.)
          Com o subtítulo "Uma crítica constitucional", Sarcedo publica sua dissertação pela Fadusp. Seu orientador, Sergio Salomão Checaira, destaca que o autor "em nenhum momento afasta-se de sua história de vida". São cinco capítulos, com a estrutura constitucional brasileira e a ordem econômica.
          COLEÇÃO UNIVEM
          AUTORES Vários
          EDITORA Letras Jurídicas (0/xx/11/3107-6501)
          A coleção do Univem-Marília inclui Finanças Públicas e Direito Financeiro, de Mário Coraíni Júnior (R$ 71, 320 págs.), destinado aos iniciantes no estudo da matéria; e duas dissertações de mestrado: Justiça Tributária e Solidariedade Social, de Hélio Daniel de Favare Baptista (R$ 37, 152 págs.), e Bioética e Direito, de Melissa Cabrini Morgato, (R$ 35, 144 págs.).
          DIREITOS HUMANOS
          AUTORA Luciana Genro
          EDITORA LTr (0/xx/11/2167-1100)
          QUANTO R$ 35 (104 págs.)
          Com longa carreira como parlamentar, Luciana deu a este seu livro sugestivo subtítulo: "O Brasil no banco dos réus". Refere a Comissão da Verdade em nosso país, merecendo de Fábio Konder Comparato a nota de que a geração de Luciana poderá "fazer funcionar um novo regime político, fundado no respeito ao sistema universal dos direitos humanos".
          LIBERDADE E ESTADO CONSTITUCIONAL
          AUTOR Leonardo Martins
          EDITORA Atlas (0/xx/11/3357-9144)
          QUANTO R$ 83 (424 págs.)
          O subtítulo define os propósitos do autor: "Leitura jurídico-dogmática de uma completa relação a partir da teoria liberal dos direitos fundamenta-is". Coletânea de artigos publicados ente 2003 e 2011, submetidos a revi-são que o escritor considerou temática e não cronológica, no equilíbrio entre partes inéditas e reedições.
          PASSO A PASSO PARA ELABORAÇÃO DE PETIÇÕES TRABALHISTAS
          AUTOR Marco Antonio Redinz
          EDITORA Saraiva (0/XX/11/3616-3344)
          QUANTO R$ 69 (416 págs.)
          Após as trinta páginas introdutórias, o autor passa às petições e noções sobre cálculos trabalhistas, ampliando a utilidade da obra.
          PRÁTICA TRABALHISTA
          AUTOR Sergio Pinto Martins
          EDITORA Atlas (0/xx/11/3357-9144)
          QUANTO R$ 39 (158 págs.)
          Sergio Pinto Martins enfrentou questões antes da propositura da ação trabalhista e, depois, percorreu todas as alternativas processuais até a execução, inclusive recursos e procedimentos especiais.

            Tv Paga

            Estado de Minas - 16/03/2013

            Shakespeare era uma fraude? Então, quem foi o autor das obras atribuídas a ele? A partir daí, o diretor Roland Emmerich tece a trama de Anônimo, que estreia hoje, às 22h, na HBO. Eward De Vere, o conde de Oxford (1550–1604) é apresentado como o verdadeiro criador de clássicos como Othello, Hamlet e Romeu e Julieta. No elenco, Rhys Ifans (foto), Vanessa Redgrave e David Thewlis.

            Telecine Premium
            aposta em comédia


            Outra estreia de hoje é a comédia American pie: o reencontro, também às 22h, no Telecine Premium. No Megapix, os fãs do cinema de M. Night Shyamalan vão se esbaldar com a exibição em sequência de A vila (19h50), O sexto sentido (22h) e Sinais (0h05). No Universal Channel, dose dupla de romantismo com O melhor amigo da noiva (20h) e Simplesmente amor (21h50). Já o TCM não quer saber de brincadeira e emenda Rambo – Programado para matar (20h) e Rambo 2 – A missão (21h45). E Jack Nicholson alugou a Warner, com nada menos que cinco filmes: As confissões de Schimidt (14h), Melhor é impossível (16h20), Alguém tem que ceder (19h10), Tratamento de choque (22h) e Antes de partir (0h15).

            Cinema nacional
            em alta na telinha


            O cinema brasileiro marca presença nos canais AXN (Eu, tu, eles, às 19h; e Em teu nome, às 21h), Sony (Saneamento básico, às 19h; e Corpos celestes, às 21h) e Spin (De passagem, às 19h), além do Canal Brasil (Se nada mais der certo, às 22h). Na concorrida faixa das 22h, o assinante tem mais seis boas opções: Amor a toda prova, na HBO2; Compramos um zoológico, no Telecine Pipoca; Fúria sobre rodas, no Max HD; Perigo em Bangkok, na MGM; Dia de treinamento, no FX; e Poseidon, na TNT. Outras atrações da programação: Partir, às 21h45, no Studio Universal; O primeiro milhão, às 23h, no ID; e Penelope, às 23h, no Boomerang.

            Canal A&E estreia
            a minissérie Coma


            No Hospital Boston Memorial, o jovem casal de médicos Susan Wheeler e Mark Bellows faz residência. Um dia, uma jovem paciente sofre uma reação inesperada a uma anestesia – um procedimento rotineiro – e entra em coma. Susan começa a prestar atenção, então, a outros acontecimentos, inexplicáveis como esse, que ocorrem no hospital. Sua curiosidade em relação ao que está se passando pode, entretanto, colocá-la em perigo. Essa é a trama da minissérie Coma, produzida pelos irmãos Ridley e Tony Scott (1944–2012), que estreia às 20h, no canal A&E.

            A mulherada é que
            manda na Fox Life


            O canal Fox Life promove hoje mais uma maratona Toque de mulher. A partir das 15h30, serão exibidos seis episódios especiais com Donna Hay dando dicas de culinária e utilidades domésticas: “Clássicos modernos”, “Pratos antigos repaginados”, “Simplesmente verão”, “Circo – Pratos fáceis e deliciosos”, “Menos tempo, mais sabor” e “Pratos básicos de cara nova”.

            Alguém aí já ouviu
            falar de Borobudur?


            No segmento dos documentários, são muitas as alternativas. A começar pelo Discovery Home & Health, com as novas temporadas de duas séries que falam de finanças e controle de gastos: Meninas mimadas, às 19h, e Cupom mania, às 19h30. No NatGeo, a série Access 360° world heritage apresenta o sétimo programa, às 20h, levando o assinante até a Indonésia para visitar Borobudur, antigo templo e patrimônio mundial da Unesco, um local sagrado para os budistas. O mesmo NatGeo estreia a nova temporada de Clínica animal, às 21h30. 

            João Paulo-Vida, coisa pra ser dita ( Leminski )‏

            Estado de Minas 16/03/2013

            Há 50 anos, chegava a Belo Horizonte um jovem curitibano de 18 anos, com físico de judoca e rosto de noviço. Ele desceu do ônibus na rodoviária, depois da viagem longa e cansativa, encapotado para não sentir frio e sem grana no bolso. Vinha participar da Semana Nacional de Poesia de Vanguarda, em 1963, que trouxe à cidade nomes como os irmãos Campos, Décio Pignatari, Luiz Costa Lima, Pedro Xisto, Roberto Pontual e outros poetas e teóricos interessados em fazer a poesia brasileira dar um passo além do modernismo e dialogar com outras referências. O encontro foi organizado pelos poetas Affonso Romano de Sant’Anna e Affonso Ávila e reunia pessoas dispostas a discutir Ezra Pound, fazer poemas, fundar revistas, criar linhagens. Nosso cansado viajante, Paulo Leminski, tornou-se o mascote do grupo. Ele precisou convencer os organizadores a aceitar sua inscrição, pois o dinheiro que trazia era a conta para as despesas com alimentação e birita.

            A precocidade da presença do garoto em meio a nomes experimentados da literatura de vanguarda foi ainda mais impressionante quando se descobriu que o jovem vinha preparado. Leminski havia estudado no Mosteiro de São Bento, em São Paulo, dominava a vanguarda e conhecia os clássicos. Sabia latim, entre outras línguas, ensaiava suas teorias sobre poesia, participaria de todas as discussões e assinaria o documento final do encontro. Tudo teve que ser rápido na vida de Leminski. Em 1989, aos 44 anos, o poeta morria em decorrência de uma cirrose hepática (a mesma idade e a mesma doença de Fernando Pessoa). Deixou obra importante em prosa, poesia, ensaios e tradução, mas que foi aos poucos sendo misturada com a lenda de uma vida intensa e radical.

            A edição da obra poética completa de Paulo Leminski, Toda poesia, que acaba de ser lançada pela Editora Companhia das Letras, é por isso um desafio para o leitor, para a crítica e para a literatura brasileira. Leminski, poeta, foi muito mais que poeta (como ele mesmo antecipou em um poema), foi uma espécie de pedreira, marco, referência para a arte brasileira a partir dos anos 1970. Paulo, samurai malandro, foi caso único, mas que se tornou uma possibilidade: sua poesia é mescla de acaso e invenção, tem a carga da história e a leveza do instante.

            A primeira característica que parece saltar da obra-vida do poeta é sua multiplicidade e incapacidade de ser reduzido a definição única. Leminski era homem culto, sabia muitas línguas e traduziu obras do japonês, latim, inglês e francês. Tudo o que era erudição se revelava para ele como instrumento de trabalho. Era um caçador de poesia e, para isso, valia tanto a herança clássica como as inovações da vanguarda. Além disso, em busca da comunicação e sem preconceito com a cultura de massa, levou adiante a inspiração tropicalista, trazendo elementos da publicidade, da canção, das artes visuais e do comportamento para sua poesia.

            Jogador em meio a referências múltiplas, a obra de Leminski vai criar tenso diálogo com o concretismo, com o tropicalismo, com a poesia japonesa, com as correntes teóricas que brotavam da semiótica e da filosofia de Pierce. Em cada um desses elementos a obra do poeta parecia encontrar pegadas produtivas: a capacidade de invenção gozosa, a conversa com a indústria cultural, a fuga do nacional-popular, a concisão ancorada numa filosofia quase religiosa, a aventura da interpretação sem fim.

            Toda poesia vai fazer chover no piquenique da poesia brasileira. A obra de Leminski é muito mais importante que parecia, a se avaliar apenas pelos registros que ficaram de companheiros de jornada. Ao reunir a produção integral do autor, o livro revela que Paulo Leminski, talvez escondido pelo charme destrutivo de sua vida, é um criador que ainda não foi lido como merece. Em outras palavras, não foi lido como ele mesmo leu seus poetas de eleição. Os ensaios de Paulo Leminski, que cobram também reunião urgente, deram vazão a um método único, feito de paixão, comunicação direta e revelações epifânicas sobre o trabalho de autores como John Lennon, John Fante, James Joyce, Samuel Beckett, Mishima e Bashô, entre outros.

            Rigor sem rigidez A primeira constatação que a poesia de Leminski faz brilhar na mente do leitor é sua junção única entre o fortuito (há sempre um raio de descoberta) e o urdido (o poeta domina seus instrumentos com virtuosismo quase implacável). É tão sério que se torna divertido. É tão engraçado que nos convoca a inteligência de ir além do mero prazer da descoberta. Paulo Leminski não brinca de ser poeta, mas sabe que a poesia é a mais sublime das brincadeiras inventadas pelo homem. Uma atitude de rigor, um descompromisso com a rigidez.

            Além das características internas, há um jogo de referências que dispõe os poemas em meio à cultura. Se a convivência com a herança clássica se revela em suas traduções de Petrônio e sua convivência com as vanguardas deixa marcas em seus dois romances (Catatau e Agora é que são elas), Leminski dá um passo além e se torna o grande mestre de cerimônias da poesia oriental, sobretudo dos hai-kais e da poética de Bashô. Há muitas sendas na poesia japonesa: a singeleza, o coloquialismo, a intuição, o senso de temporalidade, a espacialidade quase teatral, a metafísica do instante. Mas Leminski oferece ao leitor brasileiro o que há de mais original, o sentido religioso, iniciático, como se fazer poesia fosse uma das estradas de acesso ao sublime. Ao se dedicar ao caminho da poesia como arte zen, o poeta de Curitiba nos orientou para sempre.

            A leitura dos poemas de Leminski é um corpo a corpo com a linguagem. E é sempre bom lembrar que em matéria de poesia, durante a vida do poeta, era esperada uma atitude política quase militante. Poesia existia para denunciar, para criar espírito de corpo, para fazer barricada. Com Leminski a política é mais embaixo. Maikoviskiano radical, ele atualiza a afirmação de que não há arte revolucionária sem forma revolucionária. O nosso poeta desafia, de uma vez só, dos conservadores da ética e da estética. De um lado, joga duro contra todas as formas de opressão, até aquelas apaziguadoras da arte que consola, como as canções de protesto e os poemas de circunstância. E responde: “Em la lucha de clases/ Todas las armas son buenas/ Pedras/ noches/ poemas”. De outro, incorpora um à vontade com o mundo que permite a expansão do ideal de militância da ideologia para a vida.

            O próprio poeta, que era bom em títulos, deu a seu livro mais conhecido o nome de Caprichos e relaxos. Uma síntese que é um programa em perpétuo deslocamento. Há que caprichar para poder relaxar; sem relaxo, não há capricho que chegue. Toda poesia precisa agora convocar a reedição da prosa leminiskiana. Além dos artigos, ensaios, crônicas e romances, o poeta deixou quatro biografias de seus heróis mais queridos: Cruz e Sousa, Jesus, Bashô e Trotski. Um poeta negro simbolista, um profeta judeu revolucionário, um rônin autor de hai-kais e um revolucionário profeta. Como o poeta que lhes conta a vida, cada um deles precisou se tornar contemporâneo de si mesmo, inventar um tempo que os merecesse. Nosso ex-estranho Leminski sempre escolheu bem as companhias.


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            ENTREVISTA/ANDREI NETTO » O front da verdade-Nahima Maciel‏

            Prisioneiro do governo Muamar Kadafi por oito dias, o jornalista Andrei Netto lança livro sobre a Líbia. Relato derruba os estereótipos em relação ao país criados pelo Ocidente 


            Nahima Maciel

            Estado de Minas: 16/03/2013 

            Existe um código de ética não escrito entre jornalistas encarregados de cobrir guerras: repórter não é herói. Nem pode, em circunstância alguma, aproveitar a cobertura para se autopromover. Essa “lei” era muito clara para o gaúcho Andrei Netto naquela tarde de 8 de março de 2011, quando dois militares abriram as portas de uma prisão nos arredores de Trípoli, capital da Líbia, para libertá-lo com a condição de que deixasse o país imediatamente.

            O acordo foi cumprido. Mas para Andrei Netto ficou o compromisso de não abandonar a cobertura do conflito e, sobretudo, não transformar em relato aventuresco a sua detenção naqueles violentos porões do governo Muamar Kadafi. Na verdade, o incidente estragara um trabalho planejado com cuidado e dedicação.

            Três dias depois de ser libertado, o correspondente de O Estado de S. Paulo, que mora em Paris, recebeu o convite para escrever um livro. Recusou, pois não seria autor de um relato oportunista. Decidiu lançá-lo apenas depois de cobrir todas as etapas do conflito que derrubou a ditadura de 42 anos imposta por Kadafi à Líbia.

            E é com a morte violenta do ditador, em outubro de 2011, que Netto dá início a O silêncio contra Muamar Kadafi, título que resume a complexa revolução líbia. Pouco a pouco, o ditador passou a perder o apoio da população devido à sucessão de desmandos que protagonizou. Ao usar o terror psicológico e a tortura para reprimir e silenciar a sociedade, o coronel perdeu a sustentação conquistada na década de 1970. A opressão alimentou a sede de liberdade e democracia.

            Diferentemente do que o mundo especulava, a Líbia, que passou anos isolada da comunidade internacional, não era reduto de terroristas e líderes tribais. Netto exibe um país de classe média, com renda per capita maior do que a brasileira. Seus intelectuais se mostravam politizados, preparados tanto para pegar em armas quanto para refletir sobre a construção de uma nação democrática.

            No fim de fevereiro de 2011, o brasileiro ingressou ilegalmente no país em companhia do iraquiano Gaith Abdul-Ahad, correspondente do jornal inglês The Guardian. Eram os primeiros dias do conflito. Netto entrou pelo Oeste, na fronteira com a Tunísia, proeza à qual nenhum jornalista havia se arriscado. O caminho dava acesso à região controlada pelo governo Kadafi, mas com forte mobilização rebelde.

            O plano era chegar a Trípoli por um trajeto perigoso: apesar de várias áreas já dominadas pelos revolucionários, algumas cidades eram fortemente pró-Kadafi. Netto passou por Nalut e Zintan, sempre guiado pelos rebeldes. Fez algumas reportagens sobre o avanço da revolução até alcançar Sabratha, reduto de kadafistas, onde foi preso com um colega iraquiano.

            A operação para libertar Andrei Netto envolveu a Embaixada do Brasil e, principalmente, uma executiva líbia que trabalhava para a Petrobras e tinha contatos na alta cúpula do governo Kadafi. Ele ficou incomunicável por oito dias. Nesta entrevista, o repórter revela detalhes de sua experiência.

            Por que você se recusou a escrever o livro assim que recebeu o convite, logo depois de ser libertado?

            Julgava que escrever um livro sobre os oito dias de minha prisão na Líbia seria oportunista, então optei por escrever um livro no futuro, depois de cobrir toda a revolução. Ela teve todos os desdobramentos que a gente sabe, alguns inacreditáveis, outros chocantes, e estive em boa parte deles. Por isso achei pertinente escrever um livro a respeito, mas minha preocupação era não ser oportunista.

            Escrever em primeira pessoa costuma expor consideravelmente o autor, no caso de um livro-reportagem. Por que você optou por esse recurso?
            Não queria fazer isso. Na verdade, sentia-me mal. Mas essa decisão foi fruto de conversas com colegas estrangeiros. É uma postura de jornalistas brasileiros não aparecer nos livros. No jornalismo americano não é assim, no europeu também não. Nesses casos, o jornalista não tem o temor de ser oportunista ao se colocar na história, ao contá-la na primeira pessoa. Como brasileiro, não queria fazer isso. Até o momento em que me dei conta, já escrevendo o livro, de que era impossível fazê-lo de outra forma. Não conseguia escrever em terceira pessoa, porque me faltavam elementos essenciais. Depois, entendi o raciocínio dos repórteres estrangeiros. Não é problema escrever em primeira pessoa, desde que o autor não seja oportunista em primeira pessoa.

            Pode-se dizer que o Brasil tem correspondentes de guerra? Ou essas coberturas são muito pontuais e esporádicas?
            O jornalismo de guerra brasileiro, embora conte com grandes caras, como o José Hamilton Ribeiro, não tem uma tradição perene. Nosso comportamento é errático. A gente não cobre sistematicamente todos os conflitos. Quando cobre – às vezes –, não o faz com o mesmo grau de profundidade, porque determinado país não tem relação tão estreita com o Brasil e a gente se sente um pouco distante. Ou, então, não cobre por limitações financeiras em momentos de crise. Não conseguimos sistematizar, ao longo de nossa história, uma tradição de cobertura de guerra. Um dos sintomas disso é que também não há tradição de leitura de guerra no Brasil. O país ainda tem um caminho a trilhar até alcançar o Reino Unido, os Estados Unidos e a França, por exemplo. Eles, realmente, estão alguns passos à frente.

            Algum dia vamos ter esse tipo de cobertura?


            Isso já vem ocorrendo. As coberturas da Primavera Árabe tiveram constante presença brasileira, bem intensa. Em determinado momento do conflito na Líbia, havia mais de uma dezena de brasileiros lá. Isso é muito positivo. Americanos, ingleses e franceses se surpreendiam com o fato de brasileiros estarem tão perto. Eles sentiram a chegada e a presença da imprensa brasileira.

            É interessante a sua relação com o repórter do The Guardian. Vocês se tornaram parceiros na empreitada de tentar chegar a Trípoli. Como fica a concorrência durante as coberturas de guerra?

            Diria que as duas coisas acontecem. A competição está lá, viva, e a gente continua querendo dar melhor o material do que o jornal concorrente, sem dúvida. Agora, isso tem peso menor. Por questões de segurança, pela integridade física dos repórteres, essa competição tem de ser amenizada, ser menos radical. Ao trocar informações a respeito de riscos eventuais, a gente está, de alguma forma, amenizando os riscos.

            Diferentemente de outros países da Primavera Árabe, a Líbia pegou em armas e enfrentou guerra civil, assim como a Síria. O que é diferente na Líbia de hoje em relação às outras nações?

            A Líbia é mais moderada. Determinados segmentos da população são até liberais, embora tenham certo preconceito em relação a essa palavra. E não há sectarismos dentro da sociedade líbia. Não há sunitas, xiitas e alauitas dividindo a população. É um povo de islamismo mais moderado e homogêneo. Isso reduz o risco de conflitos internos. Os distúrbios que ocorrem atualmente são criados por militantes e brigadas extremistas jihadistas, mas eles são minoria. Talvez a vantagem da Líbia nessa pós-revolução seja a homogeneidade do país e a moderação da população. Isso faz com que eles tenham grande apego à democracia e à liberdade, querem realmente construir um estado democrático. Se vai ser possível, a gente não sabe, pois há muitas variáveis naquela região. Talvez essa seja a maior diferença. O extremismo é mais forte no Egito e na Síria.

            Você acredita na Primavera Árabe?


            Essa pergunta é muito difícil de responder. Seria fácil ficar em cima do muro. A maioria dos analistas e jornalistas fica em cima do muro ou opta pelo pessimismo. Mas sou otimista, acho que os povos árabes que vivem sob governos autoritários têm o direito de reivindicar liberdade e democracia. Isso, claro, vai ter um custo, o que desestabilizará os países e a região. Serão necessários alguns anos para se retomar a estabilidade. Mas acredito, sim, que a Primavera Árabe pode ser o sopro de democracia que ocorreu nos anos 1990 no Leste europeu, por exemplo. Chegou a hora da democracia no Oriente Médio e no mundo árabe. A maior parte das populações desses países persegue, sim, a liberdade, a democracia e a autonomia.

            Você ficou surpreso com o fato de a revolução líbia ter sido conduzida por intelectuais?

            Sim, mas a surpresa se deve à minha própria ignorância. Nós todos éramos muito ignorantes a respeito da Líbia. O mundo achava que a Líbia era o país fechado onde viviam terroristas. Na realidade, essa imagem é absolutamente falsa e desrespeitosa. Há uma vida intelectual muito grande lá. Trata-se de um país de classe média, que não é miserável, tem renda per capita elevada e gente moderada. Alimentamos estereótipos completamente fora da realidade, gerados por um governo autoritário, radical e terrorista. Tomávamos o governo pelo povo. Este era o erro: o governo não representava o povo. Daí a sua falta de legitimidade.

            O SILÊNCIO CONTRA MUAMAR KADAFI

            . De Andrei Netto
            . Companhia das Letras, 368 páginas, R$ 49,50

            Alexandre Vidal Porto

            folha de são paulo

            O presidente é negro. O premiê é gay
            Não se transacionam direitos humanos em arranjos políticos. É esse o espírito da Constituição
            Violações de direitos humanos ocorrem em todas as partes do planeta. Ninguém está imune. Os abusos acontecem sob qualquer tipo de governo, em qualquer país, sem distinção. A única diferença é o tratamento que se dá às violações.
            Os abusos contra os direitos humanos, no entanto, podem servir para dar ímpeto ao aperfeiçoamento dos regimes de proteção.
            O fenômeno dos "desaparecidos" em ditaduras latino-americanas revelou a necessidade de legislação contra detenções arbitrárias; o horror do Holocausto mostrou a importância de se prevenir a prática do genocídio; e a segregação do apartheid evidenciou a urgência de se promover a igualdade racial.
            Da mesma forma, a escolha de um radical religioso, que vocifera publicamente contra negros e homossexuais, para a presidência da Comissão de Direitos Humanos e Minorias da Câmara dos Deputados deveria servir de lição e ajudar o fortalecimento da promoção e defesa dos direitos humanos no Brasil.
            Como nenhum outro episódio da crônica política recente, a eleição de Marco Feliciano (PSC-SP) deixou clara a luta covarde que as minorias têm de travar para garantir o debate de seus direitos no Congresso.
            Sua escolha alertou, também, para o processo de apropriação do aparelho estatal para fins de proselitismo religioso fundamentalista.
            Sobretudo, mostrou a falta de compromisso dos parlamentares brasileiros com a finalidade última da democracia representativa, que é governar para todos, com justiça e contemplando a felicidade individual de cada um.
            Em sua radicalidade, o descaso da Câmara dos Deputados com o objetivo final da atividade legislativa acabou energizando a militância e a sociedade civil organizada.
            Mais do que isso, estimulou a participação política de centenas de milhares de cidadãos, que expressaram seu descontentamento nas mídias sociais. O recado ao governo é claro: grande parte de nossa população não aceita barganhas políticas às custas de princípios democráticos fundamentais.
            Do mesmo modo que não se atingem as partes baixas dos competidores numa luta de boxe, não se transacionam direitos humanos em arranjos políticos. É esse o espírito de nossa Constituição.
            O que aconteceu na Comissão de Direitos Humanos da Câmara dá a dimensão clara dos problemas que a consolidação dos direitos humanos enfrenta em países de herança político-institucional autoritária, religiosa e paternalista. Ao governo, o episódio deve servir como alerta. Aos cidadãos que querem um Brasil mais inclusivo e justo, deve servir como lição e estímulo.
            Os negros e os homossexuais vilificados no discurso do deputado Feliciano são vítimas. Sofrem discriminação diária no Brasil. Mas suas lutas prosperam em outros países. Enquanto o pastor pregava racismo, o povo norte-americano elegia um presidente negro. Enquanto desqualificava os homossexuais, os belgas escolhiam um primeiro-ministro abertamente gay. E tudo bem. Não aconteceu nada. Ninguém acabou no inferno por causa disso.
            ALEXANDRE VIDAL PORTO é escritor e diplomata. Este artigo reflete apenas as opiniões do autor

              Muito além de Inhotim - Sérgio Rodrigo Reis‏

              Ferreira Gullar critica o excesso de discurso e a ausência de linguagem da arte contemporânea. O poeta avisa: não está nem aí para seus detratores na internet 


              Sérgio Rodrigo Reis

              Estado de Minas: 16/03/2013


              Na década de 1970, quando o poeta e crítico Ferreira Gullar começou a assinar sua coluna semanal em importantes revistas do país, depois de voltar do exílio, ele comprou uma briga histórica – que se estende até hoje. Naquela época, surgiam ícones brasileiros da arte contemporânea, atualmente tão propalada. De imediato, Gullar questionou a novidade, atribuindo “ausência de linguagem” e excesso de discurso àqueles autores.

              “Este é o problema da arte contemporânea: tudo é expressão. Não basta ser expressão para ser arte. Se alguém pisar no meu pé, isso gera uma expressão. Nem por isso é arte”, afirmava o crítico maranhense.

              Ferreira Gullar acaba de retomar essa polêmica com o livro Arte contemporânea brasileira. O volume traz 80 textos publicados na imprensa, considerados por ele importantes para compreender suas reflexões sobre artes plásticas. A maioria dos artigos aborda o legado de artistas cujas trajetórias estão profundamente ligadas a expressões mais tradicionais, como a pintura, o desenho e a escultura, em detrimento de nomes que optaram por propostas mais conceituais. Grupo esse que, ao longo de décadas, tem recebido duras críticas de Gullar.

              “A arte contemporânea foi num crescendo que tomou conta de tudo. Conheço pintoras talentosas da geração por volta dos 50 anos que, simplesmente, não têm vez em nome dessa expressão contemporânea que consideram até hoje novidade. Sinceramente, você acha que ao colocar dois urubus dentro de uma gaiola está se fazendo arte? Pode ser até uma manifestação de rebeldia, mas arte não é”, afirma ele.

              Mesmo com ácidas críticas à expressão contemporânea, Ferreira Gullar ressalta o que considera bom. O livro traz alguns (poucos) textos sobre nomes expressivos do movimento, como Waltércio Caldas e Cildo Meireles. Esse último, aliás, mereceu elogios por causa da instalação Desvio para o vermelho – abrigada no Instituto Inhotim, em Brumadinho, a 60 quilômetros de Belo Horizonte. “Elogiei o trabalho porque achei, apesar da linguagem diferente, que ali existia uma linguagem”, justifica Gullar.

              De acordo com o crítico, para algo ser considerado obra de arte, tem de haver, antes de tudo, o domínio de uma linguagem. O problema, argumenta ele, é que a produção contemporânea derivou para um caminho fácil. “É uma arte para a mídia, para o espectador. Certa vez, fui a uma exposição do Tunga e vi um novelo gigantesco de bronze ocupando todo o espaço da galeria. Achei que ninguém compraria. Ao perguntar ao dono de lá sobre aquilo, ele me disse que o que estava sendo comercializado eram desenhos. Aí entendi. O artista faz algo para chamar a atenção e vende desenhos”, ironiza.

              A não permanência das propostas o incomoda, assim como a relação pessimista dos criadores com quase tudo. “A maioria dos trabalhos é carregada de negatividade. Essa turma não cria algo belo, otimista. É sempre cocô na lata, urubu na gaiola, coisas que o Marcel Duchamp fez em 1937, quando resolveu protestar contra a arte”, afirma.

              Observações assim têm lhe rendido pesados insultos nas redes sociais e, de maneira mais polida, críticas de intelectuais ligados à arte contemporânea. Gullar não se incomoda. “Quem gosta desse tipo de expressão é idiota e de arte não entende nada. Sei que me esculhambam na internet, mas não estou nem aí”, avisa.

              Apaixonado pela pintura, pela escultura e por formas mais tradicionais, Gullar diz não ter a menor pretensão de visitar Inhotim, a meca nacional das linguagens contemporâneas. “Não estou dizendo que tudo lá é ruim. Mas a maioria são coisas sem permanência”, conclui.

              ARTE CONTEMPORÂNEA BRASILEIRA
              • De Ferreira Gullar
              • Editora Lazuli
              • 205 páginas, R$ 46,90

              João Paulo - Na palma da mão ( Elefante, Bartolomeu Campos de Queirós)‏

              Em seu último livro, Elefante, Bartolomeu Campos de Queirós mergulha no mundo dos sonhos em busca do sentido do amor 


              João Paulo

              Estado de Minas: 16/03/2013 

              Para Bartolomeu Campos de Queirós, crianças e adultos partilham o mistério de viver e amar

              Os originais de Elefante foram enviados por Bartolomeu Campos de Queirós à Editora Cosac Naify poucos dias antes da morte do escritor, em 16 de janeiro do ano passado. Por isso o livro parece carregar o peso de obra ao mesmo tempo definitiva e póstuma, uma espécie de testamento em vida. O que Bartolomeu sempre teve de seu, para dispor como uma dádiva, foi a capacidade de encantar e fazer pensar por meio das palavras. Neste sentido, Elefante é parte desse projeto. Mas, como tudo que Bartô criou, a obra não se resume às definições convencionais: o pequeno livro é uma joia brilhante de sentido, que mescla sonho e realidade para ir, de certa forma, além das circunstâncias da vida e da morte.

              O último livro publicado em vida por Bartolomeu Campos de Queirós foi o curto romance Vermelho amargo. De feitura distinta de sua obra, pelo peso da maturidade e melancolia, o livro transmutava o projeto autobiográfico do autor, já ensaiado em outros textos, num trabalho denso, poético, cerrado em metáforas que parecem se dissolver para afirmar a realidade das coisas mesmas. Vermelho amargo criou ainda, para um autor considerado equivocadamente como especialista em livros infantojuvenis, uma tensão com o restante da obra, abrindo um flanco novo de plena realização literária. Com Elefante, ainda que sem o peso memorialístico tão explícito, esse propósito ganha nova angulação.

              A princípio, trata-se de livro destinado ao público jovem, pela singeleza do texto, pelo uso das ilustrações como discurso complementar às palavras, pela exigência de fantasia do leitor para acompanhar uma história composta de momentos maravilhosos. As ilustrações de Bruno Novelli (que assina como 9LI) captam o clima da história e criam uma fluidez que interage como sentido corrente, aquoso e volátil da narrativa, com uso de elementos surreais e modernos, marcados pela manipulação de imagens – como se fossem momentos estáticos de um processo de animação –, pela seleção contida de cores e uso de perspectivas mais lineares.

              O narrador conta um sonho. Mais que isso, procura trazer o leitor para o processo onírico que gera o enredo, com se o tomasse pela mão no mergulho de uma história que ele mesmo parece não entender muito bem. É essa atmosfera de estranhamento que vê surgir, da palma da mão do narrador, um pequeno elefante, que chega sem pedir permissão. E adentra com alta carga poética: “Chegou pequenininho como se fosse o filho da insignificância. Seu andar perdido, pisando dúvidas, parecia transportar o passado em suas costas. Não se desfez da carga do passado. Ele sabia que o futuro é só matéria de fantasia”.

              A narrativa prossegue como um diálogo entre o sonhador e a criatura, com indicações sobre sua origem, seu propósito, sua genealogia (“Sou filho do sonho e neto do sonho”). A lógica do sonho passa a dominar o enredo, com momentos em que o próprio sonhador, como acontece com todos nós, desconfia que está sonhando e não quer perder o domínio de uma situação que pode revelar coisas importantes. “Prendi a respiração para não sufocar tamanha delicadeza”, alerta o narrador. Há sonhos dentro do sonho. O elefantinho é, dessa forma, signo de força e delicadeza, que pode se dispersar e deixar a história sem seu fim. Ao brotar da palma da mão, o pequeno animal parece deixar claro que tem o poder de alterar as linhas do destino desenhadas no corpo e lidas pelos ciganos e outros adivinhos.

              Travessia O que se segue, na convivência do sonhador e seu personagem, é um caminho de iniciação em torno de descobertas essenciais, sendo a mais definitiva delas o amor. Há, como em toda aventura, périplos, perigos e símbolos. Travessia de mares e luas, caminhos exigentes e mistérios. Há ainda o medo de crescer e o risco de se perder. Mas Elefante é uma história de buscas, ainda que deixe entrever, entre outras sombras da jornada, que “o amor tem seus mudos sofrimentos”. O narrador, já cansado, persegue não seu sonho, mas o de seu pequeno elefante.

              Bartolomeu Campos de Queirós já se encaminhava para outros sonhos quando compôs seu derradeiro poema em prosa. Chega um momento em que não somos mais senhores do destino, mas aprendemos com o tempo a nos entregar a seus mistérios e não desejar nada em troca. E assim Bartô encerra seu derradeiro livro, como quem se despede e convida: “Há dias que não quero deixar a cama. A vontade é de puxar os lençóis, mergulhar na espuma branca dos panos e adentrar em mais oceanos”.

              Segredo da simplicidade

              Bartolomeu Campos de Queirós nasceu em 1944, em Pará de Minas, e passou a infância em Papagaios. Com formação em educação e artes, sempre buscou unir os dois universos, separados artificialmente em nosso tempo. Participou de vários projetos nacionais de incentivo à leitura, sendo um dos grandes defensores da valorização da literatura no processo educativo. Estudou pedagogia em Paris, onde escreveu seu primeiro livro, O peixe e o pássaro, publicado em 1971. Foi presidente da Fundação Clóvis Salgado e integrou o Conselho Estadual de Cultura. Recebeu os mais importantes prêmios literários brasileiros e comendas internacionais da França e Cuba.

              Publicou 43 livros, com traduções para o inglês, espanhol e dinamarquês. Sua obra é tema de dissertações de mestrado e teses de doutorado em várias universidades brasileiras. Integrou a Academia Mineira de Letras e morava em Belo Horizonte, no apartamento que foi da poetisa Henriqueta Lisboa. Sobre Bartô, escreveu Henriqueta: “Não é ele somente um educador que sabe distinguir, através de estudos filosóficos, pesquisas estéticas e experiência pessoal no seu campo de atividade, o valor da arte no processo educativo. Ele é também um poeta – aquele que mergulha nas águas profundas da preexistência e da inocência, o que aporta à ilha onde todas as cousas se tornam maravilhosamente possíveis; o que acabou descobrindo o segredo da simplicidade”.

              Entre seus livros se destacam Ciganos, Indez, Ler, escrever e fazer contas de cabeça, Por parte de pai e O olho de vidro do meu avô. Bartolomeu Campos de Queirós morreu em 16 de janeiro de 2012.

              ELEFANTE
              • De Bartolomeu Campos de Queirós
              • Cosac Naify, 32 páginas, R$ 35

              Painel - Vera Magalhães

              folha de são paulo

              Quero ser grande
              Técnicos do governo traçam plano para vitaminar a Secretaria de Assuntos Estratégicos. A ideia em gestação é que a pasta assuma a interlocução entre "o público e privado", um dos gargalos da gestão de Dilma Rousseff. Num dos desenhos debatidos no Planalto, o ministério teria sob seu guarda-chuva as agências reguladoras. Com a vaga aberta após a ida de Moreira Franco para a Aviação Civil, a presidente deve instalar técnico ou político de sua cota pessoal no cargo.
              Xodó Dilma vai deixar Marcelo Neri como interino na SAE. O economista deve acumular a pasta com o Ipea.
              Primeira classe Entre as condições para a troca na Aviação Civil está a permanência do presidente da Infraero, Gustavo do Vale.
              Econômica Wagner Bittencourt aguardava para falar com Dilma quando uma servidora do Planalto brincou, pedindo a ele "carona" em voo oficial. "Hoje estou em avião de carreira", respondeu o futuro ex-ministro.
              Despedida Ao conversar com Mendes Ribeiro (PMDB) e agradecer pelo seu trabalho na Agricultura, Dilma se emocionou. Segundo relatos, ambos chegaram a chorar.
              Então tá Em 15 de fevereiro, o Planalto informou à imprensa que Dilma "não estava preparando reforma ministerial". O texto ainda consta no blog oficial. Na quarta, a presidente repetiu: "Não é meu tema essa semana".
              IDH... O governo orientou ministros e assessores a questionarem em bloco os dados do Pnud, que colocam o Brasil em 85º lugar no ranking de desenvolvimento humano que abrange 187 países.
              ... genérico A ordem no Planalto é usar como referência estudo do Planejamento, lançado em fevereiro, em cujo prefácio representante da ONU reconhece "progressos significativos" na última década quanto ao indicador.
              Prévia O antropólogo e publicitário Renato Pereira, que fez as campanhas de Sérgio Cabral e Eduardo Paes, no Rio, e de Henrique Capriles, na Venezuela, assinará os programas e comerciais de TV do PSDB neste ano. O primeiro vai ao ar em maio. O martelo foi batido ontem em conversa com Aécio Neves.
              Replay O acordo não prevê, por ora, a eventual campanha de Aécio à Presidência. Mas, se a parceria se estender, Pereira repetirá "duelo" com João Santana, que trabalhou para Hugo Chávez em 2012 e pilotará o projeto reeleitoral de Dilma Rousseff.
              Bússola Em flerte com Marina Silva, Eduardo Campos e José Serra, o PPS convocou sua direção executiva nacional para discutir na próxima terça-feira a "conjuntura política e o posicionamento do partido para 2014".
              De leve Sérgio Cabral (RJ) e Renato Casagrande (ES) mudaram de tática e enviaram por meio eletrônico as ações de inconstitucionalidade contra a redistribuição dos royalties. Os governadores quiseram evitar a impressão de que estariam pressionando os ministros do STF.
              SOS... Em reunião da qual participaram Fernando Haddad (São Paulo) e José Fortunati (Porto Alegre), prefeitos das capitais fecharam ontem pauta comum a ser apresentada ao Congresso Nacional. Os principais itens são as dívidas com a União e a desoneração de tarifas de transporte.
              ... prefeituras O documento será entregue pelo presidente da Frente Nacional de Prefeitos, João Coser (Vitória), aos presidentes da Câmara, Henrique Eduardo Alves (PMDB-RN), e do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL) na próxima quarta-feira.
              com FÁBIO ZAMBELI e ANDRÉIA SADI
              TIROTEIO
              "Se a notícia é ruim, o PT prefere descredenciar a fonte. Na surra que o IDH da Líbia deu no do Brasil, a culpa sobrou até para a ONU."
              DO PRESIDENTE DO DEM, JOSÉ AGRIPINO (RN), sobre o governo ver "distorções" nos dados das Nações Unidas que colocam o Brasil em 85º entre 187 países.
              CONTRAPONTO
              Fumaça
              Na sessão em que deputados paulistas elegeram a nova Mesa Diretora da Assembleia Legislativa, ontem, o ex-presidente Barros Munhoz (PSDB) se incomodou com o rito da votação, imposto pelo regimento interno.
              -A burocracia é tão grande que, mesmo havendo um candidato apenas, é preciso que haja votação nominal. É mais complicado que conclave...
              Um parlamentar completou, lembrando do acordo PT-PSDB para instalar Samuel Moreira na presidência:
              -Só mesmo com intercessão do Espírito Santo para petista votar em tucano, como estamos vendo aqui.

                Orgulho nacional-Carlos Herculano Lopes‏

                Livro do jornalista Guilherme Aragão e do fotógrafo Cesar Duarte destaca a importância do conjunto de nove sítios brasileiros reconhecido como patrimônio cultural da humanidade 


                Carlos Herculano Lopes

                Estado de Minas: 16/03/2013 


                Centro Histórico de Ouro Preto: tesouro da arquitetura colonial


                O fato de ter atuado por 15 anos como repórter do Estado de Minas, período em que acompanhou de perto a situação do patrimônio histórico do estado – um dos mais importantes do país –, contribuiu decisivamente para que Guilherme Aragão resolvesse desenvolver o projeto do livro Patrimônio material – Centros históricos, conjunto arquitetônico, santuários e ruínas em parceria com o fotógrafo Cesar Duarte.

                O trabalho, que será lançado hoje em BH, pode servir como ótima fonte de pesquisa para estudiosos. Os autores traçam minucioso panorama de nove bens registrados como patrimônio da humanidade pela Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco): Ouro Preto (1980), em Minas Gerais; Olinda (1982), em Pernambuco; Ruínas de São Miguel (1983), no Rio Grande do Sul; Salvador (1985), na Bahia; Santuário de Bom Jesus de Matosinhos (1985), em Congonhas, Minas Gerais; Brasília (1987), no Distrito Federal; São Luís (1997), no Maranhão; Diamantina (1999), em Minas Gerais; e Goiás Velho (2001), em Goiás. O material fotográfico, enriquecido pelos textos, está impecável.

                Guilherme Aragão visitou todos os sítios abordados. O objetivo do jornalista e do fotógrafo é oferecer ao leitor um recorte singular do patrimônio da humanidade guardado no Brasil. Entretanto, Guilherme explica que a adoção desse critério não significa que outros espaços históricos brasileiros sejam menos importantes.

                “Como a decisão da Unesco é política e culturalmente importante, compartilhamos nossa visão com esse órgão. Nesse sentido, o panorama do patrimônio brasileiro oferecido no livro é único. Há obras isoladas sobre cada um desses espaços e há obras acadêmicas sobre o patrimônio, mas procuramos traçar uma contextualização única sobre a herança brasileira para a humanidade”, afirma.

                Relatórios

                Mineiro de Belo Horizonte e autor do livro Frutas – Os sabores do Brasil, Guilherme Aragão começou a escrever seu novo trabalho no fim do ano passado. Uma de suas referências de pesquisa foi o ensaio História, arte e sonho na formação de Minas, lançado pelo jornalista Mauro Werkema. Guilherme teve acesso a relatórios originais da Unesco sobre as cidades abordadas e visitou várias vezes o Arquivo Público do Distrito Federal, em Brasília, onde encontrou informações valiosas.

                “Tive longas conversas com especialistas, como o coordenador de jardins públicos do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan) em Goiás, o arquiteto José Leme Galvão Júnior; o professor da Unicamp Pedro Paulo Funari, especialista em religiões; e a superintendente do Iphan no Rio Grande do Sul, Ana Lúcia Goelzeer Meira.

                Na opinião do repórter mineiro, o tombamento representou um ótimo negócio para as cidades visitadas por ele, aumentando a autoestima dos moradores. “Vi isso em Diamantina, em Olinda e em Goiás Velho. As pessoas têm orgulho de viver em um lugar especial, que pertence à humanidade”, diz.

                O tombamento garante a preservação de bens e não há outro instrumento capaz de proteger esses espaços, ressalta Guilherme Aragão. Entretanto, ele cita aspectos que merecem cuidados em Ouro Preto e Congonhas.

                A ocupação desordenada da antiga capital de Minas Gerais, iniciada nas décadas de 1980 e 1990, tem sido agravada pelo trânsito pesado no Centro Histórico. Em Congonhas, o Santuário de Bom Jesus de Matosinhos está em condições aceitáveis e recebeu investimentos razoavelmente estáveis ao longo das últimas décadas.

                “No entanto, o Centro Histórico de Congonhas foi descaracterizado e os empreendimentos em mineração e indústria na região exigem cuidados. Mas nada como se observa em Salvador e São Luís, que enfrentam problemas muito mais graves”, conclui Guilherme Aragão.

                PATRIMÔNIO MATERIAL
                Centros históricos, conjunto arquitetônico, santuários e ruínas

                De Cesar Duarte e Guilherme Aragão
                M4 Marketing, 180 páginas, R$ 72

                Balanço revela mudança de comportamento no país, com artistas e galerias atuando juntos

                Balanço revela mudança de comportamento no país, com artistas e galerias atuando juntos 


                Sérgio Rodrigo Reis

                Estado de MInas: 16/03/2013 

                O que determina o valor de uma obra de arte? Como funciona o mercado? Qual o papel dos atravessadores? Como a arte contemporânea se posiciona no mundo globalizado? Essas e outras perguntas foram respondidas esta semana por especialistas ligados à ArtRio, uma das maiores feiras brasileiras do segmento, que estiveram em Belo Horizonte, na Celma Albuquerque Galeria de Arte, com um único objetivo: difundir e desmistificar algumas das mais recorrentes questões da área.

                A ação faz parte de estratégia da ArtRio de tentar ampliar o mercado nacional da arte. Segundo os organizadores, a situação está boa, mas, nem de longe, próxima do potencial do país. “As perspectivas são gigantes. Somos um bebê neste mercado. Vai melhorar e muito”, avalia a carioca Brenda Valansi, uma das fundadoras da feira. Ela tem na ponta da língua os números que comprovam a teoria: neste ano, a terceira edição do evento atraiu mais de 70 mil pessoas. Houve a participação de 120 galerias, das quais 40% vieram de outros países. Mesmo sem revelar os valores por trás das negociações, garante que todos ficaram satisfeitos.

                O que tem garantido a boa repercussão da feira em pouco tempo de atividade, para ela, são os critérios aplicados. Para participar, as galerias são submetidas a uma comissão. Só entra quem tiver currículo e comprovar trabalho sério. Depois de escolhido, cada participante tem direito a espaços que variam entre 20 metros quadrados (no caso das jovens galerias), a estandes entre 40 e 120m2, para quem tem carreira consolidada. “É um mercado cada vez mais interessante, porque o Brasil está indo bem e, cada vez mais, sobra tempo para as pessoas pensarem em arte. É necessário um primeiro contato.” O tema, além de seus fascínios, pode representar boas oportunidades de negócios.

                 A perspectiva, de acordo com a especialista, sinaliza para crescimento, sobretudo, na fotografia. “O mercado englobou a foto como arte.” Mesmo com bons negócios à vista, ela não acha que as pessoas devem iniciar suas coleções só pensando na valorização. Mas sim pelo que gostam. “Depois, procuro ver o valor da obra. Se for baixo: ok! Agora, se for mais caro, tento entender o que está por trás do valor.” E o que determina o preço de um trabalho artístico? “Primeiro é a trajetória do artista, o que vem fazendo e a sua credibilidade. Não adianta nada comprar algo caro de um jovem artista em início de carreira, que, daqui a pouco, pode virar um dentista.” Há outros dilemas. “A pessoa que não é muito rica acha que arte é para os muito ricos. Já os milionários, que nunca tiveram contato, acham que é para intelectuais. Arte é para todos. Basta se interessar. E não precisa ser intelectual para isso.”

                Brenda Valansi analisa o mercado brasileiro de arte como um segmento em franca evolução e em busca de profissionalização. “Desde que entrei, há 10 anos, só vejo as pessoas querendo fazer as coisas direito. Vejo os artistas querendo vender por meio de suas galerias e não diretamente para os clientes e, por outro lado, as galerias focadas em suas obrigações empresariais, como a emissão de notas fiscais.” Para quem acompanha o segmento há alguns anos, as palavras da especialista soam boa mudança de paradigmas do segmento. 

                É possível controlar a inflação sem subir os juros? [Tendências/debates]

                folha de são paulo


                MÁRIO RAMOS RIBEIRO
                TENDÊNCIAS/DEBATES
                É possível controlar a inflação sem subir os juros?
                SIM
                A política fiscal e a credibilidade do Banco Central
                Reacendeu-se a faísca da desconfiança dos investidores sobre a independência do Banco Central. A política fiscal vem dominando a instituição, que perde assim a sua principal virtude: a fidúcia. Transforma-se em um leão desdentado.
                A perda de confiança na capacidade operacional e técnica do BC é hoje bem medida pelo nervosismo que sacode a Bolsa de Valores e o mercado financeiro. As sucessivas intervenções no mercado cambial e, principalmente, a volatilidade do Produto Interno Bruto (PIB) entre 2008 e 2012 só pioram o cenário.
                Nesses cinco anos, as taxas de crescimento do PIB, medidas em termos anuais, foram 5,18% (2008); -0,2% (2009); 7,5% (2010); 2,7% (2011) e 0,9% (2012).
                A altíssima volatilidade coloca no paredão a eficiência da política monetária do BC. Em um regime de metas de inflação -do qual já estamos nos afastando-, a diferença entre o produto potencial e o efetivo é uma das duas informações relevantes que fazem com que a taxa de juros nominal de curto prazo seja alterada.
                É evidente que a política monetária não conseguiu diminuir os desvios entre o PIB potencial e o efetivo. Com isso, o BC se arrisca a perder a meta da inflação e ameaça punir com a elevação da taxa de juros nominal.
                A segunda informação relevante é o risco de se ampliar o hiato entre a meta de inflação e a taxa efetiva de inflação. Aqui a situação também não é confortável. A inflação de fundo -ou inflação núcleo- também oscilou.
                O professor Samuel Pessôa mostrou, em sua coluna na Folha, em fevereiro, que, em meados 2004, a inflação de fundo anual era de 7% e, em meados de 2007, ela caiu para 4%. Desde então, a inflação núcleo vem subindo até atingir os 6% no final de 2012.
                A sensação é tamanha que o Comitê de Política Monetária (Copom) não consegue mais esconder o receio de que a inflação tenha mudado de patamar. Na ata da sua última reunião, fala em "desconforto" e "resistência" da inflação e sinaliza disposição para elevar as taxas de juros ao informar que irá acompanhar a "evolução do cenário".
                As regras de política monetária usadas no regime de metas de inflação explícitas ou implícitas são procedimentos reativos. Elas descrevem como as taxas de juros devem reagir diante de variáveis como o PIB real e a taxa de inflação. Para serem ótimas, devem descrever o comportamento dos "banqueiros centrais" e, assim, imputar-lhes alguma reputação.
                Mas esse esforço é inútil em um ambiente sem credibilidade. Variações erráticas do PIB e do hiato de inflação inabilitam a taxa de juros para exercer a função de controlar a inflação. Para retomar a confiança e ser eficiente no combate à inflação, o Tesouro Federal tem de colaborar, deixando de "lutar contra a crise internacional" (sic) e parar de combater moinhos.
                É fundamental a criação de uma regra fiscal, a exemplo do que foi feito no Chile no governo de Michelle Bachelet (2006-2010). Na versão brasileira, seria interessante que o que excedesse o superavit primário fosse poupado em uma verdadeira política anticíclica. O superavit aumentaria nos períodos de expansão, formando uma provisão para os tempos de adversidade, e diminuiria em momentos de dificuldade.
                O problema com essa regra é que ela exige maturidade política. Há consenso quanto ao que fazer nos tempos de recessão: gastar! Mas, infelizmente, na hora em que tudo está bem -e que o superavit deveria aumentar e a ordem do dia seria aumentar a poupança pública- a razão técnica se choca com a razão política. Por que perder popularidade com medidas austeras na hora da fartura?
                Uma regra fiscal assim diminuiria a volatilidade do PIB. No dia em que começarmos a entender que poupar é fundamental, teremos uma regra fiscal. Talvez aí a taxa de juro volte a ser um instrumento de política monetária.


                FABIO KANCZUK
                TENDÊNCIAS/DEBATES
                É possível controlar a inflação sem subir os juros?
                NÃO
                A maquiagem dos impostos
                Desonerações tributárias têm efeito provisório sobre o nível de preços. Somente com a elevação dos juros é possível controlar a inflação.
                Antes de elaborar, deixe-me apresentar alguns "caveats" teóricos. Depois analisarei impactos econômicos e quantificarei minha conclusão.
                Mas, antecipando, obtenho que a folga fiscal do governo é tão grande que é possível postergar a elevação de juros para após as eleições sem deixar a inflação furar o teto da banda, de 6,5%.
                Ao responder a pergunta da Folha, decidi assumir que ela se refere ao momento em que vivemos, com as políticas econômica e monetária atualmente presentes no Brasil. Se estivéssemos sob um regime de câmbio fixo, em que os juros flutuam livremente, o controle inflacionário se daria pelo câmbio.
                Mesmo no regime de metas inflacionárias atualmente em operação, é possível fazer alguns truques monetários para substituir a alta nos juros. Por exemplo, elevações nos compulsórios bancários, controles sobre prazos e modalidades de crédito ou outras formas de indiretamente controlar a inflação. Mas, na prática, elas causam uma elevação nos juros ao tomador de empréstimo, ainda que a Selic fique parada.
                Mas considerei que essas possibilidades não são formas válidas ou pelo menos não as que interessam na atualidade.
                A verdadeira questão é se o governo pode controlar a inflação por meio das desonerações. Como um corte de impostos afeta a inflação?
                O primeiro impacto de uma desoneração é relativamente óbvio. É pontual, rápido e reduz a inflação. Com menos impostos sobre o produtor, o custo de um bem ou serviço fica menor. Parte disso é repassado ao consumidor. É claro que os produtores gostariam de usar o evento para simplesmente aumentar suas margens de lucro. Mas a competição no mercado e a própria demanda dos consumidores fazem com que boa parte de uma desoneração seja passada para os preços finais.
                O segundo efeito de uma desoneração vai em sentido oposto. Atua a longo prazo e eleva a inflação. Equivale a uma expansão fiscal, causada pela redução de impostos. Quando o governo gasta mais ou, alternativamente, reduz a quantidade de recursos que está tirando do setor privado, ele está estimulando a economia por meio de um impulso fiscal. O impacto disso é bem conhecido: a demanda aumenta e os preços sobem. O difícil é mensurar esse impacto, saber quando ele ocorre e em quanto ele eleva a inflação.
                Uma particularidade desse segundo efeito é que ele é permanente, isto é, ele continua elevando a inflação para sempre. A razão é um pouco técnica. A piora no superavit primário ocorre só uma vez, mas há um efeito sobre a dívida e os juros que persiste com o tempo. O governo continua transferindo recursos para o setor privado, pois paga cada vez mais juros.
                Embora pouco intuitivo, esse efeito é quantitativamente relevante mesmo no Brasil, em que somente uma minoria dos consumidores detém dívida pública.
                Para quantificar os efeitos de uma desoneração, utilizei um modelo computacional que simula as atitudes de famílias e firmas que reagem inteligentemente a choques.
                Por meio de uma desoneração típica, o governo pode gerar uma redução instantânea de 0,5% na inflação, mas piora o resultado fiscal em 0,5% do PIB. Aos poucos, o efeito desinflacionário desaparece e o governo tem de recorrer a outra desoneração. Contudo, eu obtive que isso só é necessário depois de alguns trimestres.
                Dessa forma, recorrendo repetidamente a esse truque, é possível manter tanto a inflação como a dívida pública controladas, ao menos até a próxima eleição. Depois disso, a elevação dos juros ficaria mesmo inevitável.

                  A casa do Modernismo - Flávia Ayer‏

                  Imóvel na Pampulha que foi residência de JK e depois de casal de amigos do presidente será aberto ao público no fim do ano. Projetada por Niemeyer, edificação teve mobília restaurada


                  Flávia Ayer

                  Estado de Minas: 16/03/2013

                  Telhado borboleta e jardins de Burle Marx, que estão sendo restaurados, são características marcantes do imóvel às margens da lagoa


                  As doces memórias de uma casa de avós, às margens da Lagoa da Pampulha, se misturam à história de Belo Horizonte e a ícones da arquitetura e do design. O recanto onde Joubert Guerra e Juracy Brasiliense Guerra recebiam os netos nos almoços de domingo era a antiga residência de descanso do presidente Juscelino Kubitschek, erguida em 1943. Amigos de JK, ainda nos anos 1950, os Guerra compraram o imóvel projetado por Oscar Niemeyer e preservaram não somente joias como o jardim de Burle Marx e um painel de Alberto Volpi, na varanda. O interior da casa de dois andares guarda relíquias do mobiliário modernista que, além de peças cobiçadas, são documentos de uma época.

                  Comprado em 2006 pela prefeitura, esse tesouro finalmente vai sair da esfera particular e se revelar a visitantes, com a criação do museu Casa Kubitschek. Depois de oito anos fechado por causa de impasses envolvendo seu restauro e destinação, o espaço – tombado pelo patrimônio nacional, estadual e municipal – será inaugurado no fim do ano e não se limitará à história do presidente. “Aqui funcionará o museu da habitação moderna e da cultura modernista. O mobiliário vai ser a base para dialogar com a literatura, música e artes plásticas”, explica o gestor da casa, André Mascarenhas. “Vamos recuperar a história da cidade a partir desse contexto”, completa.

                  Móveis que durante o período de indefinição sobre o destino da edificação ficaram num dos cômodos voltam a brilhar com a restauração e darão suporte para recontar a história da época. O Estado de Minas acompanhou os resultados desse trabalho, que será concluído em maio. O modernismo é fio condutor das cerca de 150 peças, entre elas poltronas, armários, mesas e camas, a maioria comprado de JK e conservado por dona Juracy.

                  A mobília compõe com elegância a casa de arquitetura orgânica de Niemeyer, que recebeu telhado no formato borboleta e a primeira piscina numa residência em BH. Quem lembra dos detalhes é um dos netos, o publicitário Marcos Guerra, de 49 anos. “Na sala especial, um alto pé-direito foi por muito tempo considerado o maior vão livre da América Latina, não sei se só de residências”, conta. A casa é ainda um festival de móveis de “pés palito”, formas simples e madeiras nobres.

                  Como numa viagem no tempo, o restaurador e designer João Caixeta vai levantando os panos que protegem a mobília. Assinada pelo designer Carlo Hauner, a mesa redonda de centro com tampo de vidro e pé palito data de 1950, mas se mantém atual para qualquer casa contemporânea. Bom-gosto é atemporal e isso a Casa Kubitschek tem de sobra: a mesa de jantar para oito ou 10 cadeiras tem trabalho de marchetaria – ornamentação de superfícies planas com madeira e outros materiais.

                  Simplicidade Ao subir as escadas com degraus fixos à parede, já no segundo andar da casa de três quartos e 680m², o visitante se depara com um console, móvel usado para guardar vitrola, televisão e os discos. Ao lado, há uma mesa de telefone reta, em madeira, acoplada a um banco, também da década de 1950. A peça da italiana Lina Bo Bardi é uma das preciosidades descobertas durante o restauro, mas, para Caixeta, o mais especial da mobília do futuro museu é o que seu conjunto representa. “Apesar da modificação do próprio uso, dona Juracy cultivou o real sentido da preservação. É um acervo único de um recorte de uma época que buscou toda a inspiração numa nova nação e no progresso e se revela pela simplicidade das linhas e a pureza do desenho”, diz.

                  Continuando o percurso pelo imóvel, mais surpresas. No quarto do casal, primeiramente de JK e dona Sara, e, depois de Joubert e Juracy, a cama, a penteadeira, armários e mesas de cabeceira, apesar dos pés palito, trazem vestígios de um desenho colonial, característica da transição de estilos. A sala da lareira – sim, fazia frio na Pampulha na década de 1940 – conta com mesa de bilhar de JK em estilo art déco. Para contrastar, bem em frente, um barzinho de tecido sintético verde e fórmica estampada vermelha, novidade na época, mostra que o artificial também pode ser belo.

                  A antiga sala de jogos tem poltronas de tecido coco ralado, uma delas revestida com detalhes de chitão especialmente personalizada pelas mãos delicadas de dona Juracy. “O mais sensacional disso é que a Casa Kubitschek dá acesso à vida privada, à história que se passou por aqui. Por isso, não nos interessa trocar tecido e tirar marcas do tempo, mas preservar essas peças, que são, na verdade, documentos”, diz o restaurador.


                  "É um acervo único de um recorte de uma época que buscou toda a inspiração numa nova nação e no progresso e se revela pela simplicidade das linhas e a pureza do desenho" - João Caixeta, designer e restaurador de móveis da casa na Pampulha

                  Sete décadas de histórias

                  Uma casa não é feita apenas de decoração, mas sobretudo da vida que ali habita. Se, por um lado, o imóvel na orla da Pampulha é reconhecido por ter sido o retiro de descanso particular do presidente Juscelino Kubitschek quando ele ainda era prefeito da capital, quem de fato viveu e cuidou de tudo foi o conterrâneo de JK Joubert Guerra, que foi prefeito de Diamantina e presidente do Tribunal de Contas, e sua esposa, Juracy Brasiliense Guerra.

                  “Mesmo depois da venda, Juscelino continuou frequentando a casa e chegava mesmo sem avisar”, conta o publicitário Marcos de Souza Guerra, de 49 anos, neto de Joubert e Juracy. “Sei que minha avó guardava relíquias no closet, entre as quais cartas pessoais de Juscelino, padrinho de casamento de meus pais”, revela. O casal ia à Pampulha nos fins de semana, onde recebia a família para os tradicionais almoços de domingo.

                  “Íamos todo fim de semana e minha avó, muito espontânea, contava das visitas de estrangeiros e excursões que sempre paravam na porta da casa sem avisar. Ela sempre abria as portas”, lembra. Pouco depois da morte de Joubert, em 1977, um ano depois de JK, Juracy se mudou definitivamente para o imóvel, onde viveu seus últimos dias. Ela morreu em 2004, aos 95 anos.

                  Ao longo desse tempo, Juracy se dedicou a preservar a obra de arte na qual morava. Com saudade na fala, a escritora Cris Guerra, de 42 anos, neta do casal, conta que a avó “morreu catando folhas”. Uma de suas paixões era o jardim projetado por Burle Marx. “Minha avó era uma mulher moderna, um poço de conhecimento e cultura. Apreciava a decoração e sempre fez de tudo para manter esse ambiente. Não havia por que mudar as coisas”, conta.

                  Para quem cresceu nesse espaço e aprendeu a valorizar tantas preciosidades, a expectativa é de que o museu cumpra de fato sua função. “Quando fomos desapropriados do imóvel nem chegamos a questionar. Temos uma paixão enorme pela casa e era uma alegria saber que ia ser preservada”, afirma Cris. Marcos Guerra completa: “Resta a nós e aos cidadãos brasileiros vermos entregue o que o poder público projetou como grande presente: O 'museu JK'.” E nesse J que é de Juscelino, certamente Juracy e Joubert têm seu lugar.