quinta-feira, 18 de julho de 2013

O problema é o crescimento - Marcelo Miterhof

folha de são paulo

Perseguir a meta central de inflação neste momento de perda de ritmo econômico significa provocar recessão
A pressão política em torno da inflação está se saindo vitoriosa. O Banco Central tem subido os juros desde abril e um novo aperto fiscal está sendo aprontado, ainda que a relação dívida pública/PIB esteja em modestos 35% pelo conceito líquido e 60% pelo indicador bruto, além de o deficit fiscal nominal ter sido, em 2012, de 2,5% do PIB, baixo para o padrão internacional.
Algo mudou em relação a agosto de 2011, quando o BC reduziu a taxa de juros, contrariando a expectativa do mercado, que, mesmo com a estagnação externa batendo à porta, apostava numa elevação em razão da "inflação preocupante".
Muitos dizem que o problema é a inflação "resistentemente alta". No entanto, a estimativa do IPCA para 2013, segundo a mediana dos "top 5" do boletim Focus do dia 12, é de 5,73%. Em 5 de abril, antes de o BC começar a subir os juros, tal estimativa era ligeiramente superior, 5,77%.
A inflação esperada para 2013 e o IPCA do ano passado (5,84%) estão dentro do padrão que vigora desde 1999, quando o câmbio passou a flutuar: em 15 anos, só em três (2006, 2007 e 2009) a inflação foi menor que tais valores; em 2005, o IPCA de 5,7% foi bem próximo deles.
A diferença é que nos últimos anos o crescimento real do PIB --2,73% em 2011, 0,87% em 2012 e a estimativa do Focus de 2,31% para este ano-- são os menores nos dez anos desde a retomada do crescimento sustentado, em 2004, com exceção de 2009 (-0,33%), quando a crise internacional atingiu o Brasil em cheio.
Portanto, diferentemente do que diz o senso comum, o problema atual não é a inflação, que estaria corroendo a renda real (descontada a inflação) da população. Mas, sim, o crescimento econômico fraco, que ameaça a trajetória de ganhos reais dos salários e o pleno emprego herdados do período anterior.
O país tem crescido pouco porque houve recrudescimento da crise externa em 2011 e a política fiscal não atuou suficientemente para fazer a demanda doméstica compensá-la. Houve um certo afrouxamento fiscal, mas em boa medida ligado às desonerações tributárias, que não têm impacto direto sobre a demanda.
Com câmbio menos valorizado e reservas internacionais elevadas, o Brasil nem precisa temer problemas de balanço de pagamentos: um aumento do gasto público seria capaz de propiciar a retomada do crescimento sustentado baseado no mercado interno, alavancando investimentos e ganhos de produtividade.
Isso exige romper com a receita convencional, que prega aperto fiscal, mesmo com as contas públicas ajustadas, e elevação de juros, evocando critérios artificiais ou fora de contexto, como o superavit primário e o regime de metas de inflação.
Uma boa questão é por que essa receita prevalece se o crescimento beneficia não só aos assalariados mas a todos, incluindo banqueiros e empresários, que aumentam seus lucros. Claro, há divergências no entendimento da economia. Porém uma resposta mais pragmática talvez venha da constatação de que o ciclo de crescimento de 2004 a 2010 levou o país ao pleno emprego.
O economista polonês Michael Kalecki trata dessa questão em um texto clássico de 1944, chamado "Aspectos políticos do pleno emprego", em que aponta três razões para que as elites capitalistas se oponham ao uso da política fiscal visando a manter um pleno emprego continuado.
Primeiro, sob um modelo liberal, o nível de emprego depende sobremaneira do investimento privado, o que dá grande poder aos empresários, obrigando o governo a evitar iniciativas que abalem a confiança e as expectativas do mercado.
Segundo, os capitalistas desejam manter a atuação do governo restrita a atividades --como educação e saúde-- que não concorram com os negócios privados. Porém, uma política ativa de gasto público pode exigir entrar em novas esferas de investimento. Por exemplo, criar estatais é tido como ruim por definição.
Por fim, um pleno emprego prolongado causa mudanças políticas e sociais que grande parte da elite não deseja: por exemplo, mesmo com lucros maiores, crescerá a tensão em torno das negociações salariais. Uma renda mais bem distribuída afeta a hierarquia social vigente. O incômodo com os novos direitos das domésticas ou com a movimentação nos aeroportos lembra alguma coisa?
A perseguição da meta central de inflação neste momento de perda de ritmo econômico significa provocar recessão e desemprego...

Barbie é 'expulsa' de casas de boneca e Mattel perde receita

folha de são paulo
FOCO
DO "FINANCIAL TIMES"
A Barbie está mostrando a idade: as vendas da boneca da Mattel caíram 12% no trimestre passado, enquanto as meninas voltam a atenção para figuras mais radicais.
Foi o quarto trimestre consecutivo de queda para a Barbie. A Mattel, maior fabricante mundial de brinquedos pelo critério de faturamento, anunciou faturamento e lucro inferiores às expectativas no segundo trimestre, em boa parte por causa da boneca.
Com o resultado, as ações da Mattel caíram 6,8%.
Bryan Stockton, presidente-executivo da companhia, disse que as vendas da Barbie foram prejudicadas em parte por outros produtos da Mattel, especialmente a linha popular de bonecas Monster High, que retrata alunas góticas e horripilantes e de uma escola de segundo grau.
Mas a Mattel não vai abandonar suas operações da Barbie, iniciadas 54 anos atrás.
Stockton disse que a boneca "ainda se enquadra bem aos modelos de aspiração que meninas gostam de seguir" e que a companhia lançará produtos eletrônicos relacionados à Barbie no fim deste ano.
No Brasil, as vendas da boneca cresceram --a empresa não divulgou números.
"Parece que começa um declínio cíclico da Barbie", afirmou Gerrick Johnson, analista da BMO Capital Markets. Ele diz ter ouvido falar de meninas que expulsaram Barbies de suas casas de bonecas para abrir espaço à linha Monster High.
Segundo Johnson, as vendas da linha Barbie nos EUA caíram 50% desde 2000, declínio que deve muito ao lançamento das bonecas Bratz, da MGA Entertainment.
O produto rival causou uma batalha de direitos de propriedade intelectual entre as duas empresas, que a Mattel perdeu.

Painel - Vera Magalhães

folha de são paulo
Serviço indiscreto
A superexposição da Abin (Agência Brasileira de Inteligência) anteontem, ao divulgar sua preocupação com a segurança do papa Francisco no Brasil, contrariou o Palácio do Planalto. A agência abriu os alertas de risco sem ordem da presidente Dilma Rousseff. A falta de controle sobre a agência fez com que fosse retomado um desenho da reforma ministerial, que pode ocorrer em janeiro, em que a Abin deixaria o Planalto e ficaria sob comando do Ministério da Defesa.
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Pra galera Emissários do governo tentaram demover o papa da ideia de circular em papamóveis sem blindagem. Não tiveram sucesso.
Aleluia Na gravação de boas-vindas de Dilma aos peregrinos, que vai ao ar semana que vem, ela diz que a Jornada Mundial da Juventude é o encontro da "energia" das ruas do Brasil com a mensagem da fraternidade católica.
Clínico geral Aloizio Mercadante, que não estava entre os oradores anunciados previamente na reunião do Conselhão, resolveu fazer uma apresentação. O tema: saúde. Exibiu todos os gráficos que Alexandre Padilha iria usar logo em seguida.
Sem palavras Na sua vez de falar, Padilha brincou: "Eu ia fazer uma apresentação aqui, mas meu colega Mercadante já falou quase tudo no quesito saúde".
Estratégia Líderes do PT de São Paulo vão conversar com o ex-presidente Lula sobre os cenários para a eleição do ano que vem. O encontro aconteceria esta semana, mas precisou ser cancelado.
Habitué Em sua passagem por Brasília, José Serra pediu para participar do próximo jantar mensal dos independentes'', grupo suprapartidário de 14 senadores.
Tempo Em encontro com dois aliados do PSDB, Serra se mostrou disposto a esperar até o limite do prazo para decidir se trocará o partido pelo PPS. Apostou que a imagem de Dilma pode se deteriorar mais com protestos na visita do papa e no 7 de Setembro.
Enquanto isso O ex-governador dará palestra para jovens empreendedores hoje, às 18h30, no Ciesp (Centro das Indústrias do Estado de São Paulo) de Bauru.
Via... Geraldo Alckmin (PSDB) decidiu implantar um sistema de RDC (Regime Diferenciado de Contratação) para acelerar as obras do governo paulista. O tucano cobrou de secretários e dirigentes de empresas públicas a aplicação do modelo, que flexibiliza prazos e reduz exigências nos processos de licitação.
...rápida O governo formou um grupo de trabalho para redigir decretos, editais e contratos que permitam a aplicação do modelo no Estado, a exemplo do que faz o governo federal com obras do PAC e da Copa do Mundo.
Sem parar A lentidão de investimentos do governo volta a irritar Alckmin. Ele reclama que os secretários captam empréstimos para obras mas não tocam os projetos. Enquanto isso, o dinheiro fica parado e acumula juros.
Boletim Todas as noites, os secretários de Alckmin precisam enviar à Casa Civil uma lista de entrevistas concedidas e outras aparições na mídia. O governador cobra dos auxiliares maior divulgação das ações de sua gestão.
Supersimples Em época de campanha pela redução de cargos, o governo federal criou mais um: contratou um "diretor do Departamento de Racionalização das Exigências Estatais da Secretaria de Racionalização e Simplificação da Secretaria da Micro e Pequena Empresa da Presidência da República".
Sem brecha Passou ontem, em comissão especial do Senado, regra do novo Código de Processo Civil que impede que escritórios em que trabalham parentes de juízes assumam causas nos tribunais em que esses magistrados atuam. Hoje, só o advogado ligado à família do magistrado não pode assumir o processo depois de iniciado.
com ANDRÉIA SADI e BRUNO BOGHOSSIAN
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TIROTEIO
"Já que estamos falando tanto em médicos, está na hora de trocar a equipe que cuida da economia, pois o paciente só piora a cada dia."
DO LÍDER DO PSB NA CÂMARA, BETO ALBUQUERQUE (RS), sobre os números da economia e a pressão pela mudança no comando do Ministério da Fazenda.
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CONTRAPONTO
Fora do baralho
"Na saída da reunião do Conselhão, ontem, o pré-candidato ao governo de São Paulo e presidente da Fiesp, Paulo Skaf (PMDB), foi cumprimentado pelo ministro da Saúde, Alexandre Padilha, também cotado para a disputa.
--Meu governador! --disse o ministro.
Diante da surpresa de Skaf, o petista emendou:
--O senhor é meu governador, agora que estou preocupado em contratar mais médicos.

    Protestos não serão contra igreja, afirma porta-voz do Vaticano - FABIANO MAISONNAVE

    folha de são paulo

    ENVIADO ESPECIAL A ROMAO porta-voz do Vaticano,Federico Lombardi, disse ontem que, caso ocorram protestos durante a agenda do papa Francisco na Jornada Mundial da Juventude, no Rio, eles "não serão contra o papa nem contra a igreja".
    Ele previu uma "visita belíssima" e afirmou que o pontífice irá ao Rio com "serenidade" e "confiança.
    O porta-voz informou ainda que o papa não alterará sua agenda durante a Jornada e dispensará o papamóvel blindado. As informações foram dadas em encontro com jornalistas para apresentar a visita de seis dias ao Brasil.
    O porta-voz confirmou que o encontro oficial com a presidente Dilma Rousseff, na segunda-feira, será no Palácio Guanabara, e não na Base Aérea do Galeão, como tem sido cogitado pelos órgãos de segurança responsáveis pela proteção ao papa no Brasil.
    Segundo ele, Dilma estará no aeroporto apenas para recepcioná-lo. No palácio, os dois devem discursar e depois se reunir em reservado.
    Lombardi sugeriu, porém, que a palavra final da agenda caberá à organização local. "Eles saberão tomar as medidas oportunas para que tudo ocorra da melhor forma."
    Policiais e militares avaliam que o Palácio Guanabara, alvo de vários protestos recentes, não é seguro. Outra preocupação é de que o papa fique preso no trânsito devido a manifestações. Eles não descartam o cancelamento de alguns compromissos ou mudanças de local para reduzir o deslocamento terrestre.
    Sobre outro ponto controvertido, os gastos com o evento, estimados em até R$ 350 milhões, Lombardi evitou falar em valores, mas disse que a maior parte do dinheiro vai para trabalhadores e que a maioria da população apoia o evento por ser católica.
    O porta-voz disse que o único evento fora da Jornada Mundial da Juventude será a visita a Aparecida (SP) na quarta-feira, devido à "devoção pessoal do papa" a Nossa Senhora.
      FRANCISCANAS
      Entre hermanos
      A presidente da Argentina, Cristina Kirchner, foi a primeira a aceitar o convite da presidente Dilma Rousseff para ir ao Rio acompanhar o último dia da visita do papa Francisco. Havia dúvidas sobre a ida de Cristina por causa das eleições marcadas para outubro. A ideia era evitar especulações sobre o envolvimento político do papa argentino, que foi cardeal de Buenos Aires.
      Pero no mucho
      Já no Paraguai, o convite para a última missa de Francisco no Brasil foi feito ao presidente eleito Horacio Cartes, e não ao atual mandatário, Federico Franco. O gesto é visto como descortesia no meio diplomático. O Brasil cortou relações com o Paraguai desde o impeachment de Fernando Lugo, em junho de 2012.
      Deus tá vendo
      A professora mexicana Angel de María Soto, de 23 anos, foi presa por suspeita de tráfico de drogas enquanto viajava para o Brasil, onde pretendia participar da Jornada Mundial da Juventude. Após ela ter o passaporte extraviado em uma escala no Peru, autoridades disseram ter encontrado 10 kg de cocaína na bagagem da professora. Os advogados dela dizem que as acusações são falsas.
        Manifestação contra Cabral acaba em confronto
        DO RIOApós um início pacífico e sem tumultos, a dispersão de manifestação contrária ao governador do Rio, Sérgio Cabral, terminou ontem em confrontos entre um dos grupos que protestavam em frente ao prédio onde mora o político, no Leblon, zona sul do Rio, e a Polícia Militar.
        Lojas e agências bancárias das imediações foram depredadas e lixeiras, incendiadas.
        O enfrentamento começou entre grupo que mantinha o rosto coberto e policiais, que dispararam balas de borracha, bombas de gás lacrimogêneo e spray de pimenta. Manifestantes lançaram artefatos explosivos de fabricação caseira. Cinco policiais ficaram feridos até a conclusão desta edição, segundo a PM.
        Iniciada por volta das 17h30, a manifestação contava, no pico, com 500 pessoas. Quando começou a dispersão, por volta das 22h30, havia 200 manifestantes.
        Com a chegada dos manifestantes, que se espalharam pelas ruas do Leblon, comerciantes começaram a fechar as portas e clientes de bares e restaurantes com mesas correram, acuados, para dentro dos estabelecimentos.
        Um grupo depredou lojas e agências bancárias, quebrando vidros e saqueando roupas, sapatos e outros objetos. Um prédio da TV Globo foi atingido e teve vidros quebrados.
        Cerca de 60 policiais permaneciam no início da madrugada de hoje no entorno do prédio do governador, que chegou a atribuir o protesto a "adversários políticos".
        Outros agentes do Batalhão de Choque tentavam dispersar os manifestantes, que, após o tumulto, deixaram, em sua maioria, o local.

          'É business', diz pastor Malafaia sobre feira evangélica da Globo

          folha de são paulo
          FOCO
          ANNA VIRGINIA BALLOUSSIERDE SÃO PAULO"Para nos adaptar pro padrão Globo vai ser difícil... Igual a Dilma com o padrão Fifa", diz Jabes Alencar, líder da Assembleia de Deus Bom Retiro e presidente do Conselho de Pastores de São Paulo.
          "Plim-plim!", alguém imita o bordão da rede, numa plateia só de pastores, no Expo Center Norte, em São Paulo. Começava a FIC (Feira Internacional Cristã), a primeira feira de negócios evangélica produzida pelas Organizações Globo, por meio da empresa Geo Eventos.
          A expectativa é reunir 100 mil visitantes até sábado.
          "Aqui não tem negócio de amiguinho, é business, um mercado de 50 milhões de pessoas. Eles são uma empresa, estão de olho nisso", diz à Folha o pastor Silas Malafaia.
          Ele comentou a visita de evangélicas como a bispa Sônia Hernandes (Renascer) e Mara Maravilha (Universal) ao Planalto, para encontro com Dilma: "A gente só não ora pelo diabo porque não tem conserto pra ele".
          Malafaia e Alencar são alguns dos líderes a quem a Globo recorreu para fazer a ponte com o segmento gospel --o bispo Robson Rodovalho (Sara Nossa Terra) e o apóstolo Estevam Hernandes (Renascer) estão nessa lista.
          A FIC traz cardápio bem servido de produtos --de "saias cristãs" a corretoras de investimento (Rico.com.vc).
          Na editora Mundo Cristão, um livro dedicado a Marina Silva e "As 25 Leis Bíblicas do Sucesso" --com prefácio de Eike Batista ensinando como obter "sucesso profissional".

            Tendências/debates

            folha de são paulo
            ALDO PEREIRA
            Nação versus Estado
            Greves em transporte, escolas e centros de saúde se inspiram na tática terrorista de ameaçar reféns inocentes. Como esperar simpatia?
            Chame de Junho o primeiro surto de manifestações; chame de Julho o segundo. Junho exibiu, na cacofonia de cartazes desfilados, sinceridade, espontaneidade, vibração juvenil --e muita ingenuidade. Julho tirou da naftalina mofadas bandeiras e slogans para tentar, com histórica truculência e intimidação, reclamar as ruas para si.
            Sem foco nem liderança, Junho pareceu inconscientemente anarquista. Contrastante, Julho exibiu relíquias que ainda inspiram fé nos órfãos do comunismo. Junho manifestou descontentamentos pontuais, gemidos sintomáticos de dorzinhas agudas e pediu paliativos como reversão de aumento de tarifas.
            Julho também ficou em queixas pontuais, que no conjunto correspondem a explícita carência, a serem tratadas com mais dinheiro menos trabalho para assalariados. Surpreendeu-se em não achar adesão comparável à de Junho. A decepção talvez o leve a ponderar certa medida de evolução sociológica no Brasil: não apenas a proporção de assalariados tende a diminuir, como também o antagonismo de classes.
            Em greve de operários contra os donos duma fábrica, o conflito de interesses se dá entre partes mutuamente dependentes. Mas gestores de sindicatos fósseis tomem nota: greves em transporte, escolas e centros de saúde se inspiram na tática terrorista de ameaçar com as consequências reféns inocentes. Como esperar simpatia dessas vítimas?
            Junho e Julho, contudo, configuram juntos o descontentamento da nação com seu Estado patrimonialista. Nação? Estado? Patrimonialismo? Para ganhar foco e eficácia, os dois movimentos carecem de melhor percepção da estrutura e da conjuntura política do Brasil. Reabrir cartilhas para atualizar conceitos como os referidos, afora os de soberania (que a classe política nos usurpa), ação direta e também iniciativa.
            Sem visão e organização política, a nação se expõe a ser engabelada com paliativos e engodos diversionistas. Plebiscito de cima para baixo é drible para reter a bola. Em jogos assim, ganhará sempre quem ditar as regras. A tal constituinte específica que o governo chegou a cogitar para reforma política não daria a você, por exemplo, chance alguma de propor extinção do Senado. (Essa lânguida tertúlia desperdiçará neste ano uns R$ 3,5 bilhões, com os quais se poderia, digamos, dobrar o orçamento de proteção do ambiente: pense em rios e esgotos, sufocação urbana, desmatamento etc. Noutras palavras, a múmia institucional do Senado polui em mais de um sentido.)
            O governo não perguntará tampouco se você concorda em barrar acesso de corruptos a cargos públicos mediante voto negativo, nem de se desfazer deles por recall (cassação de mandato por iniciativa do eleitorado). Não consultará você quanto a reformas que confiram ao Judiciário mais probidade e eficiência, nem aos impostos mais racionalidade e justiça.
            Sopra a favor dos reformistas sinceros o vento novo da internet, poderoso instrumento de arregimentação. Para o bem ou para o mal, ela dinamiza a mobilização das massas no mundo informatizado.
            Incerto prever até que ponto as redes sociais poderiam contribuir para consultas e decisões políticas. Mas se pela internet o Estado apura a vida contábil de milhões de contribuintes para tosquiá-los com admirável eficiência, por que não admitir essa tecnologia para exercício de outros deveres e direitos de cidadania?
            aldopereira.argumento@uol.com.br
              MARCUS VINICIUS FURTADO
              Um projeto de reforma política
              O anteprojeto Eleições Limpas propõe voto transparente em dois turnos, financiamento democrático e liberdade de expressão na internet
              A mobilização que se iniciou nas ruas não cessou na Ordem dos Advogados do Brasil, em suas 27 seccionais e em mais de 900 subseções espalhadas pelo país. Queremos uma reforma política que apague de uma vez por todas o atual modelo, já exaurido, e estamos em fase avançada de coleta de assinaturas para transformar em realidade o anteprojeto de iniciativa popular denominado Eleições Limpas.
              Isso exige mais de 1,5 milhão de assinaturas, ou seja, um número próximo daquele que vimos nas ruas exigindo muito mais do que a simples redução nas tarifas dos transportes públicos.
              No passado, quisemos o fim do arbítrio, mas isso não bastou. O desafio atual está em enfrentar a desintegração de valores, restaurar a esperança de um futuro melhor e repor a confiança nas instituições.
              Por isso, não podemos continuar vivendo uma simples "situação democrática", por mais eleições que possam ocorrer. Queremos uma democracia como valor universal, que se traduza em participação, ética e responsabilidade.
              O anteprojeto Eleições Limpas tem três focos: o voto transparente em dois turnos, o financiamento democrático das campanhas e a liberdade de expressão na internet. A OAB defende um sistema em que as eleições se façam em torno de projetos e não de indivíduos.
              Assim, no primeiro turno, o eleitor vota no partido e na sua lista de candidatos, definindo o número de parlamentares. No segundo, escolhe o candidato de sua preferência. O primeiro turno garantiria a opção em torno de um determinado projeto, enquanto no segundo seria escolhido aquele em quem o eleitor confia para executá-lo.
              Igualmente importante é o fim do financiamento de campanhas por empresas privadas, em que está cravada a raiz da corrupção. Não podemos admitir o poder econômico influenciando o processo político e privilegiando candidatos que representam interesses de uma minoria.
              O financiamento democrático visa baratear as campanhas, de tal modo que o atual recurso utilizado para o financiamento de partidos no Fundo Partidário seja utilizado nas campanhas eleitorais.
              Entendemos que as empresas não podem ter carimbos de partidos políticos. O conceito de povo constante na Constituição Federal não admite que ele seja integrado por empresas. Povo é constituído pelas pessoas que compõem o país, de modo que somente as pessoas podem contribuir para as campanhas eleitorais, nunca as empresas.
              A verdade é que alcançamos o Estado democrático de Direito carregando vícios e práticas antigas, deixando prevalecer os pontos de vista dos poderosos sobre os da grande massa de cidadãos. Daí negócios de Estado se confundirem com negócios pessoais, fazendo da corrupção uma instituição igual às outras, ou imiscuindo-se sorrateiramente nelas. Esse ciclo deve acabar.
              Por fim, precisamos garantir a liberdade de expressão na internet --vale dizer liberdade com responsabilidade. As ordens estabelecidas estão sujeitas a questionamentos surpreendentes e rápidos, levados por uma coesão de palavras e ideias que ultrapassam fronteiras. Nunca o individual foi tão poderoso como agora, justamente por concentrar na palavra transmitida em tempo real a aspiração coletiva.
              Eleições Limpas é um projeto alternativo da sociedade, apresentado de baixo para cima e pensado por lideranças sociais, dentre as quais a OAB. Assim como a lei contra a compra de votos (9.840/99) e a Lei da Ficha Limpa (135/10), o que se busca é atender à expectativa da população.
              A adesão será feita pelo endereço http://eleicoeslimpas.org.br/. Com um um gesto simples, se promoverá uma mudança que nos permite acreditar em um país dirigido por mulheres e homens de elevado espírito público, capazes de nos conduzir ao destino de uma grande e próspera nação.

              Orangotangos - Kenneth Maxwell

              folha de são paulo
              Orangotangos
              Roberto Calderoli, vice- presidente do Senado da Itália e membro da Liga Norte, sediada em Milão e inimiga da imigração, falando sobre Cecile Kyenge, ministra da Integração no governo italiano, declarou o seguinte: "Amo os animais --ursos e lobos, como todo mundo sabe--, mas, quando vejo fotos de Kyenge, não consigo deixar de pensar --e não estou dizendo que ela o seja-- nas feições de um orangotango".
              Cecile Kyenge nasceu em Katanga, na República Democrática do Congo. Ela vive na Itália desde 1983. Estudou medicina e cirurgia em Roma e leciona oftalmologia na Universidade de Modena. Em fevereiro, foi eleita para o Legislativo italiano representando a região da Emilia Romagna pelo Partido Democrata, de centro-esquerda.
              Em abril, depois que os democratas formaram um governo de coalizão sob o primeiro-ministro Enrico Letta, ela se tornou a primeira pessoa negra a ocupar um ministério no governo italiano. Calderoli disse que seu sucesso encorajaria a imigração ilegal na Itália. Ela recomenda que os filhos de imigrantes nascidos no território italiano recebam a cidadania do país.
              Calderoli não é a primeira pessoa a chamar a atenção para os orangotangos. Thomas Jefferson também o fez. Ao discutir raça em seu "Notes on the State of Virginia", publicado em 1787, ele escreveu: "Não seria [a diferença de cor] a fundação de uma proporção maior ou menor de beleza nas duas raças? (...) Acrescente-se a isso (...) seu próprio julgamento em favor dos brancos, por conta de sua preferência por eles, tão uniforme quanto é a preferência dos orangotangos por mulheres negras a fêmeas de sua espécie".
              Jefferson queria que os escravos afro-americanos fossem devolvidos à África (teoricamente, porque ele tinha 45 escravos em Monticello e outros 142 em seis propriedades na Virgínia). Isso não o impediu, é claro, de viver por muitos anos com Sally Hemings, uma de suas escravas, com quem teve filhos.
              O professor Bruno Carvalho, da Universidade Princeton, escreveu um maravilhoso estudo comparando Jefferson a Cláudio Manuel da Costa (dono de pelo menos 29 escravos) e sua escrava Francisca Archangelo de Souza, com quem ele viveu e teve filhos.
              Ao contrário de Jefferson, que mantinha Hemings escondida em Monticello, Cláudio escreveu um belo soneto para Francisca em 1768: "Mais formosa de Eulina/ Respirava a beleza/ De ouro a madeixa rica, e peregrina/ Dos corações faz presa".
              Como aponta o professor Carvalho, há mais de 25 livros sobre Sally Hemings nos Estados Unidos. Mas Francisca Archangelo de Souza mal é mencionada no Brasil.

                Marina Colasanti - A dor passa, a tinta fica‏


                Estado de Minas: 18/07/2013 


                O elevador desce, o casal que entra é jovem, ela de vestido florido, ele coberto de tatuagens. Conheço desde menino esse rapaz que agora porta namorada. “Você está mais estampado do que ela”, brinco. Ela ri, ele olha os braços desenhados. Eu penso que à noite ela pode tirar o vestido e ficar nua, ele não. Penso, mas não digo.

                Mesmo elevador, mesmo rapaz, outro dia, meu marido sobe com ele. Comenta as tatuagens, são bonitas, pergunta quanto demora, se doeu – todo mundo pergunta sobre dor, mesmo quem não tem a menor intenção de se tatuar. Depois pergunta se ele não tem medo de se arrepender, tatuagem nessa proporção é indelével. “Tenho não, eu gosto”. “Gosta agora, mas e com 40 anos? ”. “Com 40, não sei. Não tenho 40 anos”. “Pois é, as pessoas mudam”. “Por isso mesmo fiz agora.”

                Teria eu tatuado um dragão bafejando-me a nuca aos 20 anos? Ou aos 40? Aos 20, teria ficado tentada, não mais do que tentada, se não fosse moda mas gesto único, exótico, oriental. Seria salva pela presunção da juventude, por considerar que a única coisa indelével em mim haveria de ser eu mesma.

                Aos 40, certamente não. A vida já havia começado a imprimir em mim suas tatuagens, marcas, vincos, cicatrizes. O discurso do tempo e da batalha ia sendo escrito na pele e pedia campo livre.

                A moça que trabalha para uma das minhas filhas tem mais de 40 anos. Há tempos fez-se loura, de lisos cabelos. Gosta de moda, de marca, de tudo o que reluz. Não podia passar sem uma tatuagem. Mas, como se tatuar fosse rito de passagem para outro andar, ou outra categoria social, não enfrentou sozinha a cerimônia. Convenceu a família e, dia marcado, foram todos juntos à loja do tatuador. Certamente, planejaram em conjunto o que cada qual desenharia no corpo, e onde. Estudaram possibilidades, os pais proibiram a caveira que o filho havia escolhido, a filha quis uma frase, a mãe ficou com rosas a espalhar ombro acima. Agora, ela vai ao trabalho levando a tatuagem sob a roupa com o mesmo orgulho com que carregaria uma bolsa Vuitton.

                Na Praça Djemaa el Fna, em Marrakesh, fiz um desenho de henna na mão. Que renda delicada traça o corante vermelho avançando sobre os dedos. Pode ser na palma, e é mais secreta. Pode ser no dorso, e a fala é aberta. Arabescos, joias feitas de traço naquela cor que sendo terra é sangue. Depois, ao longo dos dias, desbota, e se vai. E é bonito esse desmaiar progressivo que nos livra da perenidade e do tédio. As noivas desenham as mãos inteiras no dia das bodas, para fazer com elas as primeiras carícias do amor. Os bordados estarão desaparecendo quando as carícias se fizerem mais espertas.

                Os olhos de M. – ela até gostaria que escrevesse o seu nome, eu é que não quero lhe dar divulgação – não vão desbotar. O branco dos seus olhos, que foi recém- tatuado de escarlate, nunca mais voltará a ser branco. Como ela mesma diz: “Doeu bastante. Mas a dor é rápida e a tinta fica para sempre”. M. tem 21 anos. Não sabe se vai se arrepender aos 40 ou antes disso, se vai chorar na tentativa de desgastar o escarlate. Sabe, isso sim, que no próximo fim de semana será realizada em São Paulo a Tatoo Week, e que ela quer fazer muito, muito sucesso com seus angustiantes olhos de morta-viva. 

                Tv Paga


                Estado de Minas: 18/07/2013 04:00



                Verdade ou mentira?

                Estreia hoje, às 21h, no Discovery Science, a série Penn e Teller: Nem tudo é verdade, que combina ciência e humor, jogando com fatos e mitos. E ninguém melhor para conduzir esta brincadeira que a dupla formada por Penn Jillete e Teller , comediantes e ilusionistas que fazem sucesso nos Estados Unidos. E que tem admiradores também por aqui, por suas participações em programas de TV. É possível levantar um carro com um fio de cabelo? Uma faca com manteiga pode deter uma bala? Essas são algumas das questões que eles levantam.

                Home & Health também  tem lá as suas novidades


                No Discovery Home & Health, às 22h, estreia Irmãos à obra. A produção é comandada pelos gêmeos Drew e Jonathan Scott, que se propõem a ajudar compradores a encontrar e reformar imóveis antigos, transformados em casas perfeitas para seus clientes. Drew é responsável por decifrar o mercado imobiliário e achar as melhores oportunidades, enquanto Jonathan lidera os projetos de reforma. Ainda hoje, o canal estreia, às 21h30, a segunda temporada de Ao estilo de Candice, com a decoradora Candice Olsen.

                Série dos negociadores de leilões emplaca quarto ano


                No canal A&E, a série Quem dá mais? também emplacou nova temporada (a quarta), que estreia às 22h com uma maratona que emenda três episódios. Dan & Laura, Darrell, Jarrod & Brandi, Darrell, Dave e Barry voltam a competir pelos despojos de leilões de depósitos de armazenamento, um negócio que pode render uma boa quantia para os especialistas no assunto, embora nem sempre seja tão fácil ganhar dinheiro com isso, muitas vezes dependendo mesmo é da sorte.

                Nat Geo investiga missões secretas durante a guerra


                No Nat Geo, às 20h30, vai ao ar “Missões perigosas”, episódio inédito da série Os segredos do Terceiro Reich. A produção revela detalhes de episódios ocorridos durante a 2ª Guerra Mundial, como a missão Gran Sasso, de 1943, para libertar Benito Mussolini; o sequestro de um comandante alemão em Creta pelas forças especiais britânicas; o assassinato de Reinhard Heydrich em Praga; e o assassinato a sangue-frio do prefeito de Aachen, nos últimos meses do conflito.

                Moska canta em parceria  com o amigo Nico Rezende


                No pacote musical, um dos destaques é o programa Zoombido, às 21h30, no Canal Brasil, com Paulinho Moska recebendo o cantor Nico Rezende, responsável por diversos arranjos para Cazuza e Lulu Santos e que fala sobre a influência do rock progressivo e suas parcerias, além de cantar Perigo e Esquece e vem. De tarde, às 17h, o canal Bio apresenta um especial sobre a banda inglesa Black Sabbath, que virá ao Brasil em outubro.

                Drama, ação e comédia na programação de cinema


                Para quem procura um bom filme, uma dica é a Cultura, que exibe, às 22h, o clássico O rei e eu, de Walter Lang, com Deborah Kerr e Yul Brynner. O assinante tem mais oito opções na concorrida faixa das 22h: Proibido proibir, no Prime Box Brasil; Um segredo entre nós, no Glitz; Pegar e largar, no AXN; Bird, no Max; Perigo por encomenda, na HBO HD; Sequestro no espaço, na HBO 2; Como agarrar meu ex-namorado, no Telecine Premium; e Crepúsculo dos deuses, no Telecine Cult. Outras atrações da programação: Zona verde, às 20h, no Universal; Superbad – É hoje, às 21h, no Sony; De passagem, às 21h30, no Curta!; 88 minutos, às 21h30, no Space; e Maridos e esposas, às 22h30, no Comedy Central.

                CLUBE DA ESQUINA » Bom de prosa-Eduardo Tristão Girão‏

                Chico Amaral lança livro sobre a obra de Milton Nascimento, destacando a importância do compositor para a música popular brasileira. Bituca abriu o coração para o parceiro 


                Eduardo Tristão Girão

                Estado de Minas: 18/07/2013 


                Que biografias são indispensáveis para o mergulho na vida e na obra de um artista isso não se discute. O passo além é que demonstra a relevância de cada um, como fica claro em A música de Milton Nascimento, do compositor belo-horizontino Chico Amaral. O autor se dedicou exclusivamente ao exame minucioso das canções que fizeram Bituca ganhar o mundo. O lançamento será no dia 30, no Museu Histórico Abílio Barreto, na capital mineira.

                Chico fez cerca de sete entrevistas com Milton, cada uma com cerca de três horas de duração, e optou por não transformar a montanha de informações em texto corrido. Adotou o formato pergunta e resposta, preservou a espontaneidade do registro e teve a boa ideia de inserir na conversa trechos de outras entrevistas (com Wagner Tiso, Eumir Deodato e Wilson Lopes, entre outros músicos). Pelas histórias, bastidores e detalhes (e pelo fato de ele próprio ser músico talentoso), o livro é imperdível.

                A motivação para escrevê-lo partiu de um incômodo: “Vi problema no modo como a história da MPB é contada. Costuma-se dizer que, depois da bossa nova, o movimento mais importante foi o tropicalismo, mas a coisa mais inovadora que surgiu depois disso foi o Milton Nascimento. E não apenas em relação a diferenças, mas à evolução”. O trabalho de Chico é uma forma de esclarecer origem e influências da música de Bituca.

                Com prefácio do crítico Tárik de Souza, o volume traz dois ensaios escritos por Chico, além de discografia comentada e entrevistas centradas em Milton feitas por ele com Wagner Tiso, Nivaldo Ornelas, Nelson Ângelo, Tavinho Moura e Amilton Godoy. Os músicos terão interesse especial pela seleção de partituras acompanhada por comentários do autor, que evidencia intenções e sutilezas impressionantes.

                MEMÓRIA INVEJÁVEL
                Sabidamente tímido e reservado, Milton Nascimento recebeu Chico Amaral em sua casa, no Rio de Janeiro. “Surpreendentemente, ele falou bastante. Impressionei-me com a soltura dele”, conta o autor. Chico está longe de ser apenas entrevistador: além de compositor bem-sucedido (suas parcerias com o Skank são as mais conhecidas) e conhecedor da obra “miltoniana”, escreveu duas canções com ele, Pietá e Boa noite. Assim, Chico conseguiu se aprofundar em aspectos diversos da carreira de Bituca, dono de memória invejável. Chega a se lembrar de conversas rápidas, sensações e passagens aparentemente sem grande importância vividas cinco décadas atrás. Isso esclarece muita coisa, como sua complicada relação com Tom Jobim. O livro traz DVD de 25 minutos, incluindo o depoimento de Milton.


                A MÚSICA DE MILTON NASCIMENTO

                De Chico Amaral

                Editora Gomes, 96 páginas, R$ 40
                Depois do dia 30, o livro estará à venda em livrarias de BH e na produtora cultural Via Social
                Informações: (31) 3342-1692

                O papa ouviu as ruas - Paula Cesarino Costa

                folha de são paulo
                O papa ouviu as ruas
                RIO DE JANEIRO - Os gritos dos jovens manifestantes que ocuparam as ruas de muitas cidades brasileiras chegaram ao Vaticano e foram ouvidos pelo papa Francisco.
                Os discursos que fará aqui na semana que vem, durante a Jornada Mundial da Juventude, foram reformulados. E devem ir "ao encontro do que pedem os manifestantes", afirma Frei Betto, amigo há 15 anos do cardeal d. Cláudio Hummes, um dos principais articuladores da eleição de Francisco e o brasileiro mais próximo do novo pontífice na estrutura de poder do Vaticano.
                O papa já mostrou que é contra luxos e privilégios e deu sinal de que fará reformas éticas em Roma. Mas só aqui ele vai se revelar ao mundo e dizer a que veio, avalia Frei Betto. "Será a semana inaugural de seu papado", diz o dominicano, autor do recém-lançado "O Que a Vida me Ensinou".
                Os protestos esperados deixam em alerta máximo os responsáveis pela segurança papal. Mas não será surpresa se os gestos de Francisco forem de simpatia e aproximação com os manifestantes, por mais que se preveja que nem todos lhe serão favoráveis.
                Temas como legalização do aborto e ampliação de direitos dos homossexuais devem ser objetos de protesto. Pode ser uma oportunidade para o papa começar a tratar de questões complicadas como o uso de preservativos e o celibato clerical.
                Em clima de pré-Jornada, jovens peregrinos dormem no aeroporto, circulam pela cidade, tiram fotos dos preparativos. No alto dos andaimes de ferro em Copacabana, homens de amarelo, azul e laranja correm contra o tempo. São católicos, evangélicos, católicos não praticantes, "meio evangélicos" e sem-religião, que não demonstram emoção ao construir o palco principal da festa nada franciscana que se arma no Rio.
                O desinteresse do homem comum sobre a igreja e a desvinculação da igreja da vida do homem comum são alguns dos desafios de Francisco.

                  Fé na arte - Ailton Magioli‏

                  Exposição de obras-primas de mestres italianos e intensa programação musical esperam pelos fiéis que forem ao Rio de Janeiro ver o papa Francisco. Fafá de Belém e coral vão cantar para ele 


                  Ailton Magioli

                  Estado de Minas: 18/07/2013 

                  Única artista popular convidada pelo Vaticano para cantar (pela terceira vez consecutiva) para um papa no Brasil, Fafá de Belém será a atração principal do show do dia 25, na Praia do Leme, no Rio de Janeiro. Acompanhada pela Orquestra Sinfônica do Rio de Janeiro, banda e coral de 150 vozes, sob a direção de Guto Graça Mello, a paraense vai interpretar Eu sou de lá, composta pelo padre Fábio de Mello, o principal nome da música católica no país.

                  “Pensei em Gracias a la vida, de Violeta Parra, e Romaria, de Renato Teixeira, mas eles escolheram a canção que o padre Fábio fez especialmente para eu gravar”, comemora Fafá, confessando que em apresentações assim costuma se sentir “meio fora do ar” diante de tanta emoção e energia. “Vou cantar pelo meu povo, pela minha Amazônia”, lembra a devota de Nossa Senhora. Em 1977, ela se apresentou para João Paulo II, no Rio de Janeiro; em 2006, para Bento XVI, na Espanha. Desta vez, estará acompanhada pela cantora Nazaré Araújo, da Comunidade Católica Sharom, do Ceará.

                  O auge da programação se dará nos dias 27 e 28, em Guaratiba. No segundo dia, a missa terá a presença do papa Francisco. Vão se apresentar os cantores argentinos Soledad e Axel, o mexicano Martin Valverde, os padres brasileiros Fábio de Mello, Marcelo Rossi, Antônio Maria e Reginaldo Manzotti. Também subirão ao palco os artistas Anjos de Resgate, Celina Borges, Dunga, Eliana Ribeiro e a banda Rosa de Saron. A orquestra sinfônica fluminense será regida pelo maestro Mateus Araújo.

                  Herança
                  Principal atração cultural da Jornada Mundial da Juventude 2013, a mostra A herança do sagrado: obras-primas do Vaticano e de museus italianos ganhou contraponto perfeito, na opinião de especialistas, com a exibição simultânea, no Museu Nacional de Belas Artes (MNBA) carioca, da exposição Oratórios – Relíquias do barroco brasileiro, preparada pelo Museu do Oratório de Ouro Preto.

                  “Fizemos um recorte privilegiando os oratórios de sabor bem brasileiro que mostrassem a fartura popular de nossa arte sacra, que traz influência europeia”, informa a colecionadora Angela Gutierrez, gestora da instituição.

                  Mônica Xexéo, diretora do MNBA, diz que A herança do sagrado... será um marco na trajetória da instituição. “Trata-se de preciosa narrativa do período compreendido entre o Renascimento e o barroco italianos, com ênfase do século 15 ao 18, com direito à passagem pelo século 3”, explica. A América do Sul jamais recebeu mostra assim, ressalta Mônica, destacando obras dos mestres Ticiano, Leonardo da Vinci, Michelangelo, Caravaggio, Pinturicchio, Perugino, Sassoferrato, Bernini, Correggio, Annibale Carracci, Guido Reni e Beato Angelico, entre outros.

                  Com curadoria do professor Giovanni Morello, que trabalhou mais de 30 anos na Biblioteca Apostólica Vaticana, a exposição retrata a vida de Jesus Cristo, dos apóstolos Pedro e Paulo, da Virgem Maria e dos santos em 105 obras. Desenhos, gravuras, pinturas, joias e relíquias estão distribuídos em oito salas. Bem ao lado de A herança do sagrado... está a coleção mineira, com 55 oratórios e 60 peças.

                  Ângela Gutierrez diz que um dos oratórios pode até “conhecer” o segundo papa. “Quando João Paulo II esteve no Rio, em 1997, recebi ligação de dom Eugênio Salles pedindo um exemplar para o quarto dele. Enviei um oratório bem mineirão, que agora integra a mostra itinerante de nosso museu”, revela. Oficialmente, não está prevista a visita de Francisco ao MNBA, mas a fé, como se sabe, remove montanhas – e o sumo pontífice adora quebrar o protocolo. A expectativa de Mônica Xexéo é receber 3 mil visitantes diariamente durante a Jornada Mundial da Juventude e 600 mil pessoas até 13 de outubro. Os oratórios ficarão expostos até 18 de agosto.

                  As peças de A herança do sagrado... vieram do Museu do Vaticano, Fábrica São Pedro e Biblioteca Apostólica Vaticana, além da Galeria Borghese. “Tão cedo não vamos conseguir reunir acervo como esse em um único espaço”, avisa a presidente do MNBA.

                  Palavra de especialista


                  Josimar Azevedo
                  Professor de cultura religiosa da PUC Minas

                  O belo e o mundo

                  Arte e religião, o belo e o mistério não são meros acessórios culturais, estão na base de nossa humanidade. O belo colore o mundo, arrebata nosso corpo e acende nossa alma. O mistério é a nossa própria condição, pois nele está nossa origem e os possíveis sentidos de nossa existência. O belo e o mistério nos escapam sempre! Não temos sua posse; ao contrário, somos sempre tomados de surpresa por sua presença. Quão misterioso, inefável, é o belo e quão belo é o mistério insondável. Arte e religião constituem dois patrimônios antropológicos de base. Como atividade humana, linguagem estética, expressão privilegiada do espírito criativo humano, a arte sempre esteve presente nas expressões históricas e materiais da religião. Por sua vez, a religião, por conta de sua proximidade com os sentidos mais profundos de nossa humanidade, sempre inspirou artistas e grandes obras que marcaram nossa história. As religiões nos legaram patrimônio inestimável de arte religiosa e arte sacra. No Ocidente, o cristianismo representou sua fé em expressões artísticas que constituem riqueza material e imaterial incalculável e estão na base de nossa diversidade e identidade cultural.

                  MUSEU NACIONAL DE BELAS ARTES
                  Avenida Rio Branco, 199, Cinelândia, Rio de Janeiro. De terça-feira a domingo, das 9h às 21h. Mostras: A herança do sagrado: obras-primas do Vaticano e de museus italianos, até 13 de outubro. Oratórios – Relíquias do barroco brasileiro, até 18 de agosto. Entrada franca. Informações: (21) 2219-8474.

                  Jornada vai deixar lição 


                  Ailton Magioli

                  Autor do hino oficial da Jornada Mundial da Juventude (Esperança do amanhecer), que já ganhou versão em 25 línguas, o padre José Cândido, da Paróquia de São Sebastião, no Barro Preto, em Belo Horizonte, atribui à estrutura melódica da composição, inspirada no canto gregoriano Veni creator spiritus, a facilidade de a canção ser vertida para outros idiomas.

                  “Isso acabou dando liberdade para pequenas modificações melódicas, sem trair o original”, diz o padre, admitindo já ter ouvido versões de sua composição bem melhores do que a brasileira. Originalmente gravado em português no CD No coração da jornada – Músicas das celebrações da JMJ Rio 2013 (MZA Music), Esperança do amanhecer tem melodia inspirada em hino tradicional de vocação ao Divino Espírito Santo, enquanto a letra usa como fonte o Cristo Redentor.

                  “Cristo nos convida/ Sejam meus amigos/ Cristo nos envia/ Sejam missionários” diz o refrão. Os versos ganharam versões em português lusitano, espanhol, alemão, italiano, mandarim, coreano, japonês, francês, polonês e inglês, entre outros idiomas.

                  Marco Mazzola, produtor da MZA, diz que o principal legado da Jornada Mundial da Juventude é transformar as formas como o católico faz música para o segmento religioso. “Precisamos ser mais ousados”, prega ele, advertindo que os evangélicos se dão melhor no mercado fonográfico.

                  “No Brasil, a música evangélica está muito mais adiantada que a católica”, diz Mazzola, responsável pela produção do CD No coração da jornada – Músicas das celebrações da JMJ Rio 2013. Durante a missa papal, orquestra sinfônica carioca, regida pelo maestro Mateus Araújo, vai executar o hino oficial da jornada em oito idiomas. “O refrão será em português, mas com versos cantados em oito línguas por 110 vocalistas”, conclui Marco Mazzola, produtor de destaque no mercado fonográfico brasileiro
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                  Eliane Cantanhêde

                  folha de são paulo
                  'Ambiente de pessimismo'
                  BRASÍLIA - Enquanto a presidente Dilma Rousseff insistia no natimorto plebiscito para a reforma política, o presidente da Câmara, Henrique Eduardo Alves, dava entrevista a Fernando Rodrigues, da Folha, defendendo o fim de 14 ministérios.
                  Parece briga de marido e mulher, mas é disputa entre Poderes e entre partidos aliados, com troca de provocações cada vez mais escancaradas.
                  Dilma e o ministro Gilberto Carvalho insistem "teimosamente" na estratégia marqueteira de dizer que o governo quer dar voz ao povo, mas o Congresso, esse malvado, não deixa.
                  Henrique Alves dá o troco. Vocaliza a pressão geral e o pedido formal do PMDB por uma reforma ministerial drástica, em nome da "redução de custos e da austeridade". A presidente, teimosa, e o governo, esse fraco, é que não têm coragem de fazer.
                  Convenhamos: nem Dilma está tão desesperada pelo plebiscito nem o nosso PMDB cansado de guerra (e cheio de cargos) parece tão preocupado com a moralidade pública e o corte de ministérios. Ambos apenas dizem o que a população quer ouvir e se esforçam em jogar a culpa um no outro por não dar certo.
                  O que se vê é Dilma e o Congresso testando forças, num momento de enorme fragilidade mútua e com o PT nitidamente dividido: um PT apoia o governo, o outro PT se alia ao PMDB contra o governo.
                  Dilma despenca nas pesquisas, fazendo um esforço enorme para mostrar que tudo está ótimo e atribuindo as críticas (à economia e à gestão) a quem quer criar um "ambiente de pessimismo". Já Henrique deixa claro o grau de compromisso e de lealdade ao Planalto e ao projeto Dilma: entre o governo e o Congresso, ele fica com o Congresso (e com o futuro).
                  O clima, portanto, é de guerra, mas de uma guerra interna no próprio governo e nos partidos governistas. E quem criou e alimenta o pessimismo não foram e não são os adversários. Foram e são a própria Dilma, o seu governo, a sucessão de erros e sua balofa base (não tão) aliada.

                    Mercador do apocalipse

                    folha de são paulo
                    ALAN GRIPP
                    SÃO PAULO - O prefeito Fernando Haddad (PT) tem usado o termo "insolvente" para definir a situação financeira de São Paulo.
                    Ontem, ele reuniu o conselho recheado de celebridades criado para assessorá-lo na tarefa de governar e pintou um horizonte financeiro nebuloso para a cidade, a depender de algumas variáveis em jogo.
                    Em conversas reservadas, as tintas ainda são mais dramáticas. Juntando a gigantesca dívida paulistana, na casa dos R$ 60 bilhões, a um possível novo revés, a prefeitura terminaria o ano "quebrada".
                    A maior preocupação são os famigerados precatórios, dívidas com contribuintes que a Justiça já mandou pagar e que formam uma fila maior do que a de carros na avenida Rebouças sexta-feira à tarde.
                    Esse buraco é, hoje,de R$ 16,9 bilhões, quatro vezes mais que o valor devido por todos os demais 5.564 municípios do país. Juntos.
                    A bola está com o STF (Supremo Tribunal Federal), que dirá, em breve, exatamente como a fatura deve ser honrada. Se a corte decidir que o pagamento deve ser feito imediatamente, diz o discurso catastrofista, é melhor passar a chave na prefeitura e atirar pelo viaduto do Chá.
                    O prefeito está na dele. O jogo de pressões é legítimo, especialmente em tempos de protesto. Mas o discurso do caos deve ser relativizado.
                    Vem aí, até o fim do ano, uma enxurrada de dinheiro federal. Ao menos R$ 6 bilhões desembocarão em São Paulo, dizem os mais bem informados das coisas federais.
                    Nem poderia ser diferente. Mesmo com a economia claudicante, Dilma Rousseff terá de mostrar algo em seu principal palanque, se quiser continuar a comandar o país.
                    Sobre os precatórios, poucos acreditam que o STF vai querer arcar com o ônus de empurrar a maior cidade do país precipício abaixo.
                    Trocando em miúdos, Haddad comporta-se como mercador do apocalipse, mas está de olho no título de salvador da pátria.

                      Eduardo Almeida Reis - Cemhomens.com‏

                      Acendo a luz, é certo, mas há relógios nos quais, mesmo de óculos e com as luzes acesas, o sujeito não consegue ver que horas são


                      Eduardo Almeida Reis


                      Estado de Minas: 18/07/2013



                      Jornalista, blogueira, 33 anos, gorducha, Nádia Lapa tem duas tatuagens, uma delas no braço direito misturando vagina com tulipa, erva bulbosa da família das liliáceas. Seu livro Cem homens em um ano vem fazendo sucesso, como sempre fez seu blog, mas ela diz que não passaram de 35, que não é sensual e só adora transar. É aquela conversa de trocar sucos vitais, de que já falava Laurita Mourão, senhora muito avançada para os anos 60.

                      O sobrenome da Nádia é mais que sugestivo, a começar pelo bairro carioca: “A Lapa está voltando a ser a Lapa, a Lapa confirmando a tradição, a Lapa é o pedaço melhor do mapa do Distrito Federal, salve a Lapa!” cantávamos no Rio antes da invenção de Brasília.

                      Em Montes Claros, norte de Minas, havia a Fazenda Lapa Grande, onde um rio se metia por baixo de imensa rocha formando recinto muito procurado para estripulias sexuais. Pelo Decreto 44.204, de janeiro de 2004, uma área de 7.000 hectares foi transformada em Parque Estadual da Lapa Grande com o objetivo de proteger e conservar o complexo de grutas e abrigos da região em que ficam os mananciais que abastecem os montes-clarenses.

                      Havia por lá bela fazenda sempre invadida pelos casais afinzões de trocar sucos vitais, obrigando o fazendeiro a invadir a lapa montado a cavalo, revólver em punho, para expulsar os intrusos que cortavam suas cercas e deixavam tudo cheio de lixo. Certa feita, o fazendeiro encontrou três jovens pares, as moças de calcinha e sutiã, os rapazes em cuecas, que se assustaram com o revólver: “Nós somos geólogos!”, e o pecuarista, do alto de seu manga-larga: “Que mané geólogo, cês tão é de meteção!”.

                      O sobrenome da jornalista e blogueira, sinônimo de furna e gruta, já é meio caminho andado, se bem que uma centena de homens em um ano me pareça muito homem, mas foram somente 35. A partir daí entram no livro, que ainda não li, considerações técnicas, científicas, calistênicas, teatrais e as mais que o leitor do Estado de Minas possa imaginar, em que o teatro é o cenário do sofá da sala, o canto da mesa de refeições etc. e a calistenia – espécie de ginástica rítmica, sem uso de aparelhos, para dar beleza, força e vigor ao corpo – faz parte da procura do prazer pela moça, que diz: “Eu não sou sensual”.

                      Nádia nasceu em Manaus e mora em São Paulo: “Já faço sexo casual há muito tempo. Os olhares tortos fazem parte do meu cotidiano. Não vou me justificar explicando por qual razão eu faço isso ou aquilo. A maior e melhor justificativa é uma só: eu quero. Incontestável. Eu quero. Eu desejo”.

                      Com todo esse entusiasmo e somente 33 aninhos, a manauara andou às voltas com um tipo de menopausa precoce e perdeu a libido, que felizmente recuperou com a corda toda. Deixo a análise do palpitante caso por conta do pessoal da área psi. Entendo alguma coisa de produção de leite e Nádia informa que não deseja ter filhos. Portanto, não carece de leite.


                      Normalidade
                      Que é normal? É conforme a norma, a regra, regular, usual, comum, natural. Diz-se da pessoa cujo comportamento é considerado aceitável. Sem defeitos ou problemas físicos ou mentais, as pessoas são consideradas normais.

                      Toco no delicado assunto porque padeço de anormalidade que muito me preocupa. Obcecado pelo cumprimento dos horários, chegando sempre na hora marcada ou um pouco antes, não tenho a menor vontade de comprar relógio caro.

                      Vejo os anúncios de páginas inteiras dos Rolex, dos Hublot, dos Breitling e outras marcas famosas, sei que é normal desejar um deles, até porque tenho amigos normais que não os dispensam – e nunca tive a menor vontade de comprar ou ganhar um dos produtos anunciados. Basta-me o Festina de 250 reais, quartz, que funciona perfeitamente e tem a sublime virtude de ser visível sem óculos, à noite, quando vou ao banheiro.

                      Acendo a luz, é certo, mas há relógios nos quais, mesmo de óculos e com as luzes acesas, o sujeito não consegue ver que horas são.


                      O mundo é uma bola
                      18 de julho de 64: um grande incêndio destrói grande parte de Roma. Acusa-se o imperador Nero de ter visto o incêndio de longe, tocando sua lira, que era instrumento de cordas dedilháveis ou tocadas com plectro, vulgo palheta. Mais maluco do que sempre foi, seria Nero fantasiado de bombeiro fingindo apagar o grande incêndio, a exemplo daquele político gaúcho.

                      Em 1824, desembarcam em Porto Alegre os primeiros 39 colonos alemães para trabalhar no Rio Grande do Sul. Seus descendentes sofreram com muitos desgovernos gaúchos, nomeadamente com o doutor Tarso Fernando Herz Genro.

                      Em 1841, dom Pedro II é coroado imperador do Brasil. Tinha o gravíssimo defeito de ser honesto e alfabetizado, motivos pelos quais foi deposto. Em 1925, Adolf Hitler publica Mein Kampf, que parece ter seguido à risca.

                      Hoje é o Dia do Trovador.

                      Protestar não é pecado - Bandido ao quadrado - Editoriais FolhaSP

                      folha de são paulo
                      Protestar não é pecado
                      Desde que sem violência, manifestações durante a visita do papa precisam ser tratadas como um fenômeno que faz parte da democracia
                      Menos mal que seja assim. Entre as possíveis fontes de ameaça à visita do papa Francisco ao Brasil na próxima semana, somente a ação de "grupos de pressão" mereceu alerta vermelho da Agência Brasileira de Inteligência (Abin).
                      Questões por certo mais graves, como o crime organizado ou a hipotética atuação de grupos terroristas, não chegam a preocupar tanto a Abin quanto o risco de confrontos durante a passagem do pontífice pelo Rio, onde participará da Jornada Mundial da Juventude.
                      O que deveria provocar certo alívio, porém, converteu-se em motivo de preocupação para as autoridades nacionais, ainda desconcertadas diante da recente predisposição dos brasileiros para o protesto.
                      Responsáveis pela segurança do papa no Brasil, a Abin, o Exército e a Polícia Federal conversam com a equipe do Vaticano acerca de alterações que poderiam ser feitas na agenda oficial a fim de aumentar a proteção oferecida ao pontífice e a sua comitiva.
                      Estão em estudo a suspensão de compromissos e até mudanças, feitas de última hora, nos locais de alguns encontros.
                      A principal modificação diria respeito à recepção do papa Francisco, no dia 22. A solenidade, com a presença do governador e do prefeito do Rio, está marcada para o Palácio Guanabara, sede do governo fluminense. Para policiais, o local --que tem sido alvo de agressivos protestos-- não é seguro.
                      Até aqui, entretanto, o chefe da Igreja Católica não deu sinais de ter se sensibilizado com os temores brasileiros. Dois dias atrás, o Vaticano pediu para a Polícia Federal dispensar o uso de fuzis pelos agentes que acompanharão Francisco em Copacabana --haverá apenas policiais com pistolas.
                      Ontem, o porta-voz do Vaticano, Federico Lombardi, afirmou que o pontífice manterá a programação original e acrescentou que as manifestações nada têm de específico contra o papa ou a igreja.
                      O argumento não é preciso. Pelo menos um ato contra os gastos públicos no megaevento católico já foi convocado pela internet, e há muito tempo militantes da causa gay ou feminista, por exemplo, têm seus motivos para protestar.
                      Parece prevalecer na declaração e nas atitudes do Vaticano, ainda assim, a percepção de que manifestantes, no exercício pacífico de seu direito, não representam ameaça nem podem ser confundidos com criminosos.
                      Essa é uma lição que as autoridades brasileiras, perdidas entre o abuso da força contra protestos não violentos e a omissão diante de atos de vandalismo, ainda precisam assimilar.
                        EDITORIAIS
                        editoriais@uol.com.br
                        Bandido ao quadrado
                        Depois de uma operação para prender delegados e investigadores da Polícia Civil, acusados de envolvimento com o tráfico de drogas, o secretário da Segurança Pública de São Paulo, Fernando Grella, anunciou que o Denarc (Departamento Estadual de Repressão ao Narcotráfico) passará por uma reestruturação. Já não era sem tempo.
                        É conhecida a capacidade do narcotráfico de corromper agentes da lei. Policiais que trabalham no combate direto a esse tipo de crime são alvos permanentes de tentativas de suborno --muitas vezes bem-sucedidas.
                        Não são raros, também, os casos em que a ocasião --confirmando o dito popular-- faz o ladrão. O desvio de drogas apreendidas é uma prática ilícita verificada em polícias de várias partes do mundo.
                        No caso do Denarc, vêm de longe os sinais de que parte da corporação deixou-se capturar pelo crime organizado. Apenas neste ano, nos meses de fevereiro e março, a Polícia Federal prendeu sete policiais ligados ao departamento, sob acusação de desviar entorpecentes.
                        Os problemas, na realidade, se estendem de maneira preocupante a outras áreas da Polícia Civil. Não é demais lembrar que desde 2009 pelo menos 800 dos cerca de 3.300 delegados paulistas passaram ou ainda passam por investigações da corregedoria.
                        O governador Geraldo Alckmin apoiou com vigor a investigação de corrupção no Denarc. Prometeu "tolerância zero" com desvios, lançou a fórmula "polícia aliado de bandido é bandido ao quadrado" e anunciou o tratamento aos infratores: "Xadrez neles".
                        Ainda que se possa ver um aspecto propagandístico no pronunciamento, constitui sinalização inequívoca de apoio a um processo de "limpeza" da polícia. Identificar corruptos e puni-los é, sem dúvida, o caminho a seguir --embora a experiência sugira que se trata de um típico caso em que falar é muito mais fácil do que fazer.
                        Além de combater maus policiais, o governo precisa impor novas rotinas. No que tange à investigação, é sobretudo a logística do tráfico que precisa ser visada e golpeada, com a identificação das rotas, dos locais de entrega, dos esquemas de distribuição e dos caminhos da lavagem do dinheiro.
                        É necessário também, como ocorre em outros países, que policiais destacados para enfrentar o narcotráfico sejam objeto de permanente supervisão e periódica checagem de sinais de riqueza incompatível com os rendimentos.
                        A prometida reforma do Denarc é uma chance para o governador mostrar que a disposição de melhorar a segurança pública vai além da retórica e de ações pontuais.

                          Pasquale Cipro Neto

                          De plebiscitos e referendos
                          Qualquer semelhança com a trapalhada jurídica em que se meteu o governo federal não é mera coincidência
                          É claro que o cidadão minimamente antenado sabe que o governo federal quer (ou quis) submeter a um plebiscito a reforma política, que, no Brasil, como se sabe, é assunto quase tão velho quanto a corrupção.
                          Faz tempo que quero meter o meu pitaco nessa história, mas, semana vai, semana vem, acabo achando que muita gente já falou a respeito e que talvez eu não tivesse nada a acrescentar. O fato é que, salvo deslize meu, ainda não vi nenhuma referência ao memorável conto "Plebiscito", do notável escritor ludovicense Arthur Azevedo (1855-1908).
                          Antes que alguém pergunte, "ludovicense" é um dos adjetivos pátrios relativos à bela e maltratada São Luís, capital do Maranhão. O termo "ludovicense" vem de "Ludovico", que, por sua vez, é da mesma família etimológica de "Louis" (do francês), "Luigi" (do italiano) e "Luís" (do português).
                          Pois bem. O belo conto de Arthur Azevedo começa assim: "A cena passa-se em 1890. A família está toda reunida na sala de jantar. O senhor Rodrigues palita os dentes, repimpado numa cadeira de balanço...". Bem, infelizmente é preciso encurtar a história (cuja íntegra está na internet). O filho de Rodrigues levanta a cabeça e pergunta: "Papai, que é plebiscito?". E Rodrigues retruca: "Ora essa, rapaz! Então tu vais fazer 12 anos e não sabes ainda o que é plebiscito?". E o menino: "Se soubesse, não perguntava".
                          A mulher de Rodrigues intervém, diz que o marido é isso e aquilo, que, se soubesse, responderia de imediato etc. Exasperado, Rodrigues vai para o quarto, em que havia "o que ele mais precisava naquela ocasião: algumas gotas de água de flor de laranja e um dicionário...". Pacificadora, Bernardina vai ao quarto e convida o marido para voltar à sala. Rodrigues sai do quarto e diz: "Eu! Eu ignorar a significação da palavra plebiscito! Eu!". Em seguida, "recita" o que viu no dicionário ("Plebiscito é uma lei decretada pelo povo romano, estabelecido em comícios") e faz este esdrúxulo comentário: "Uma lei romana, percebem? E querem introduzi-la no Brasil! É mais um estrangeirismo!...".
                          Pelo que se vê, o inabalável senhor Rodrigues conseguiu piorar as coisas ao demonstrar que misturou alhos com bugalhos...
                          Qualquer semelhança com a trapalhada jurídica em que se meteu o governo federal não é mera coincidência. A julgar pelo que se ouviu e leu de renomados juristas, o senhor Rodrigues, digo, o governo federal... Bem, não preciso concluir, certo?
                          O fato é que, depois da preterição do plebiscito, agora se fala em fazer um referendo. Se o senhor Rodrigues, digo, o governo federal resolvesse evitar o vexame, ou seja, se resolvesse consultar um dicionário antes de falar do assunto, poderia dar-se mal, visto que alguns deles dão "plebiscito" e "referendo" como sinônimos.
                          O fato é que, na tradição da língua e na linguagem jurídica, "plebiscito" e "referendo" são coisas distintas. Com o referendo, consulta-se o povo para que ele diga se aprova ou não aprova uma medida que foi proposta ou aprovada pelo Poder Legislativo. Com o "plebiscito", pergunta-se ao povo algo como "sim" ou "não" antes da elaboração de uma lei.
                          É claro que é fundamental lembrar que "plebiscito" é da mesma família de "plebe" e "plebeu", palavras latinas que remetem ao povo... Novamente, qualquer semelhança com o fato de as manifestações de junho terem feito os governos (municipais, estaduais e federal) se lembrarem da existência do povo e de seus problemas não parece ser mera coincidência.
                          Deixo para o leitor a reflexão sobre a insistência do governo no plebiscito e a relação dessa palavra com "plebe", digo, "povo"... É isso.

                          Obras de arte com cadáveres detonam debate ético sobre uso do corpo para fins estéticos

                          folha de são paulo
                          Silas Martí

                          "Vai causar a maior comoção", escreveu Travis Runnels. "Quando despertamos essas emoções nas pessoas, surge a maior polêmica. Mas é isso que queremos, não é?"
                          Essa mensagem ao artista dinamarquês Martin Martensen-Larsen foi escrita num presídio de segurança máxima no Texas, um dos Estados norte-americanos que ainda mantêm a pena de morte.
                          Seu autor, condenado por roubo e assassinato, deve ser executado por injeção letal e comenta, no texto, a reação à obra de arte que já causa escândalo antes de sua criação.

                          Obras de arte com cadáveres

                           Ver em tamanho maior »
                          André Morin-Le-Jeune © Damien Hirst and Science Ltd.
                          AnteriorPróxima
                          O artista britânico Damien Hirst com cabeça de cadáver em fotografia de 1991
                          Runnels é uma peça-chave do trabalho de Martensen-Larsen. No que chama de trilogia da morte, o artista já expôs uma ampulheta com cinzas de um corpo cremado, vendeu ingressos para a execução do detento --cinco pessoas já pagaram R$ 27 mil no total para ver o espetáculo ainda sem data-- e planeja agora o ato final da obra.
                          Ele quer expor o corpo de Runnels como se fosse uma escultura, na mesma posição de Abraham Lincoln em sua famosa estátua de Washington, só que pintado de ouro.
                          "Essa é minha forma de mostrar o valor de um condenado. Uma pessoa no corredor da morte se torna muito valiosa para o Estado, já que essas execuções sublinham o valor da vida na América", diz Martensen-Larsen, em entrevista à Folha. "Não quero incitar o ódio dos americanos, só levantar questões."
                          Mas seu projeto também é ameaçado por questões legais de todo tipo. Mesmo dizendo que duas galerias, uma no Texas e outra em Washington, já toparam expor seu trabalho, Martensen-Larsen discute a letra miúda legal com advogados e especialistas.
                          "Esse corpo já terá sido destruído pelo Estado", diz o artista. "Se eu mostrar isso, não mostro nada além do que o Estado já fez com a pessoa."
                          Numa correspondência que já dura três anos, Runnels dá total liberdade ao artista para fazer o que quiser com seu corpo e pede que o dinheiro pago por aqueles que verão sua execução seja doado a um asilo de animais.
                          Mesmo não havendo regras sobre a legalidade da exposição de cadáveres como arte, a ideia do artista dinamarquês esbarra numa série de questões éticas.
                          ESPETÁCULO DA MORTE
                          "Não é proibido fazer esse tipo de obra, mas isso levanta um debate ético", diz Paolo Zanotto, especialista em bioética da USP. "Da mesma forma que existe o respeito pela pessoa viva, o respeito ao cadáver é importante."
                          Especialistas também questionam se um condenado à morte teria juízo claro para decidir doar seu corpo.
                          "Fico me imaginando no corredor da morte e não acho que teria o equilíbrio para isso", diz Fabio Bessa Lima, do Instituto de Ciências Biomédicas da USP. "Não sei se o condenado pode autorizar que se faça do corpo dele uma obra de arte. Tenho resistência a usar a morte e a execução como um espetáculo."
                          Menos espetacular, outro projeto do artista americano John Baldessari também travou no limbo jurídico desde que foi concebido em 1970.
                          Baldessari queria expor o corpo de uma pessoa na mesma posição do Cristo morto retratado por Andrea Mantegna. Mas a cena só seria vista pelo buraco de uma fechadura, para que o espectador tivesse a mesma perspectiva do quadro do renascentista italiano -ou seja, seu contato com o cadáver seria mínimo.
                          No texto em que explica o trabalho, o próprio autor já tacha de "possivelmente impossível" sua obra, mas nos últimos anos o curador suíço Hans Ulrich Obrist vem tentando tirar a peça do papel.
                          "Seria uma natureza-morta literal na galeria, só que alguém teria de concordar com isso tudo antes de morrer, o que torna a ideia quase impossível", diz Ulrich Obrist. "Mas só a correspondência com especialistas em torno desse trabalho é fascinante. É quase uma conversa filosófica sobre a vida e a morte."
                          Sem um corpo para exibir, Ulrich Obrist e Baldessari acabaram expondo essas cartas trocadas com médicos, psicólogos e possíveis voluntários em vias de morrer nas três versões que já fizeram dessa mostra, a mais recente no início do ano em Sydney.
                          Pollyanna Clayton-Stamm, produtora da mostra australiana, lembra a estranheza de sair à caça de gente que sabia que ia morrer e estivesse disposta a doar o corpo. "Era mesmo um jogo de espera. Sei que parece brutal."
                          Brutal é também a forma como o médico Paolo Zanotto define essas duas ideias artísticas. "A indústria cultural enfia pessoas destroçadas, enterradas vivas, explodidas na casa das pessoas todo dia. Só não matam gente de verdade porque gastariam muito com advogados", provoca. "Não sei se isso é mais ou menos brutal que um 'Dexter'", completa, fazendo referência ao serial killer que é herói de uma série de TV popular.