sexta-feira, 9 de agosto de 2013

Vinicius Torres Freire

folha de são paulo
A educação de Dilma Rousseff
O que a presidente terá aprendido com o fracasso de suas previsões e análises sobre a economia?
NA PRIMEIRA VEZ em que reuniu seus ministros, 13 dias depois de tomar posse, Dilma Rousseff acreditava que o Brasil cresceria em média 5,9% ao ano, um ritmo 50% mais rápido que o dos anos Lula. Os economistas do governo diziam, com a anuência da presidente, que o crescimento seria de 5% em 2011, 5,5% em 2012 e 6,5% em cada ano do biênio final do mandato.
A inflação cairia até chegar a 4,5% em 2012. Não haveria mais "ajuste fiscal" (redução do deficit das contas do governo), mas "consolidação fiscal", pois o "ajuste clássico" provocaria desemprego e baixa dos investimentos. Haveria "racionalização das despesas e aumento da eficiência do gasto público".
Em setembro, com o caldo daquele ano de 2011 entornado, a presidente e seus economistas não mais previam, mas se davam a meta de fazer o país crescer 4% ao ano. O governo pouparia o equivalente a 3,1% do PIB das suas receitas.
O país cresceu 2,7% em 2011, 0,9% em 2012 e deve crescer algo entre 1,8% e 2,7% neste 2013. O deficit aumentou, a inflação foi maior.
Não importa o "erro de previsão" nem o fracasso em acertar o alvo. Interessam as ideias que embasavam prognósticos e diagnósticos, além das subsequentes decisões tomadas a princípio para "corrigir rumos" e, a seguir, para salvar a todo custo e desesperadamente a face política.
O governo assumiu com a ideia de que o Brasil estava pronto para crescer no ritmo mais rápido de sua história. Eram desnecessárias mudanças institucionais (leis, rearranjos do Estado, da intervenção na economia etc.), entre outras.
Quando se frustrou o crescimento previsto, aumentou-se cada vez mais o gasto público direto e indireto (com a estatização parcial do crédito bancário, via endividamento para a capitalização de bancos públicos).
Ansioso, depois desesperado, o governo atacou com estímulos desordenados ao consumo, como um time de futebol fraco e pueril que parte em massa para o ataque a fim de virar o jogo, levando goleada infame.
Nova frustração do "estímulo ao crescimento" suscitou a desconversa derrotada de que o importante mesmo é o desemprego em recorde de baixa e o povo satisfeito.
De mãos quase atadas, pois não tem como manejar o gasto público e os juros sobem, dada a inflação persistente, o governo agora limita o diálogo público a queixas sobre o pessimismo de seus críticos ou inimigos.
O que terá aprendido Dilma Rousseff?
Não revê o seu curso apenas porque está emparedada pela eleição próxima, a qual poderia perder se mexesse a fundo na economia? Sua mudez e isolamento são apenas uma estratégia de evitar conversas perigosas para sua reeleição? Ou teimosa e iludida acredita que foi vítima dos azares de um mundo conturbando e do pessimismo de adversários?
Candidata, vai ainda tentar manter as aparências e evitar qualquer conversa racional sobre mudanças para o país?
Se eleita, enfim vai apresentar um programa de mudanças, uma conversa adulta e informada sobre as insuficiências da economia, dos problemas da administração pública e dos conflitos políticos que precisam ser resolvidos (com perdas e danos para alguns)?
O que dirá Dilma Rousseff sobre um segundo mandato? O primeiro acabou.

Luiz Carlos Mendonça de Barros

folha de são paulo
É o crescimento da renda, estúpido!
Uma economia que fez a renda média da sociedade dobrar em 17 anos não pode estar à beira do abismo
Embora tenha durado apenas o tempo de uma flor de manacá, a exposição do aumento dos índices de IDHM dos municípios do Brasil na mídia precisa ser recuperada. Talvez tenha sido a notícia mais importante do ano para os analistas que procuram olhar o Brasil sob a ótica das mudanças estruturais de nossa sociedade.
Os números são impressionantes e mostram um país que passa de uma posição vergonhosa no campo de desenvolvimento social para a companhia de sociedades mais justas e ricas. Mas essas informações entram em choque com o clima de que estamos próximos de um desastre e que tomou conta de boa parte dos agentes econômicos --empresários e financistas-- nos últimos meses.
Não é possível que uma economia que fez com que a renda média real da sociedade dobrasse em 17 anos esteja à beira do abismo, mesmo que os resultados nos últimos três anos sejam decepcionantes.
Em 1993, a renda média anual do brasileiro era --a valores reais de 2012-- de R$ 5.016,00, equivalentes ao câmbio também de 2012 a US$ 2.500. Em 2010, 17 anos depois, esse número atingiu R$ 10.884,00, ou seja, próximo de US$ 5.500. Um aumento de mais de 100% no período, o que corresponde a uma taxa anual composta de 4,7%.
Mesmo se tomarmos como base a renda média de 1994, início do período do real, os números chamam a nossa atenção. Nesses 16 anos, entre o início do período de estabilidade de nossa moeda e o fim do ciclo de crescimento em 2010, o aumento real da renda média do brasileiro chegou a 64%, ou seja, cresceu a uma taxa anual de 3,14%.
Todo economista sabe --ou deveria saber-- que o fator mais importante por trás das mudanças sociais é o crescimento econômico por um prazo longo. Importa menos a taxa anual de crescimento e mais a duração do período em que esse crescimento se sustenta.
Uma segunda verdade em que acredito é a que nos diz que o principal --e mais difícil-- fator por trás do crescimento econômico sustentado é o aumento da renda real das famílias. Isso é verdade principalmente em uma sociedade de cigarras como a nossa, em que o consumo representa mais de 2/3 do PIB (Produto Interno Bruto).
Por isso, os dados do Pnud da ONU, publicados recentemente, não surpreenderam a equipe de economistas da Quest Investimentos. Afinal, o quadro inicial das apresentações institucionais aos nossos clientes, desde 2007, apresenta um gráfico da renda real calculada pelo IBGE entre 1978 e 2013 e mostra, por meio de uma linha de tendência, seu comportamento nesse período.
Em 1979, último ano do milagre econômico dos militares, a renda real anual era de R$ 7.464,00. Em 1993, fim do período em que tivemos uma hiperinflação histórica, o brasileiro médio ganhava anualmente apenas R$ 5.016,00. Ou seja, uma queda de mais 30% em 14 anos. Podemos contar essa mesma terrível história dizendo que, nesse período negro, o brasileiro empobreceu em média mais de 2% ao ano.
A mais importante consequência desse longo período de crescimento que tivemos depois do Plano Real pode ser vista --a olho nu-- em uma fotografia da sociedade brasileira dividida em classes de renda. Ela também faz parte, desde 2006, das apresentações da Quest como um de seus pontos centrais.
Para chegar a ela, dividimos os brasileiros em apenas duas classes de renda: na primeira estão aqueles que estão inseridos na economia de mercado, ou seja, têm carteira de trabalho assinada, acesso a crédito bancário e no comércio e estão protegidos por programas sociais como aposentadoria, seguro-desemprego e outros que não o Bolsa Família.
Na outra classe, estão os brasileiros que vivem na informalidade e não têm acesso às instituições do mundo formal.
Em 1993, os brasileiros da classe formal representavam um terço da população, ficando o grupo informal com os outros dois terços. Hoje temos a situação oposta, ou seja, dois terços vivem no mundo formal e o outro terço no informal. Uma mudança extraordinária e muito difícil de ser encontrada na história das nações emergentes como a nossa.
Peço agora ao leitor que volte ao título desta coluna.

Vacina experimental contra malária 'imita' picada de mosquito

folha de são paulo
Teste inicial da imunização, que usa parasitas causadores da doença atenuados com radiação, foi bem-sucedido
Proteção foi maior do que a obtida com outra vacina em fase mais avançada, mas ainda precisa de confirmação
MARCELO LEITE
DE SÃO PAULO
Ouvir o texto

A empresa americana Sanaria ressuscitou a ideia de um casal brasileiro publicada há 44 anos e imunizou 12 pessoas contra malária com uma vacina experimental. Num dos subgrupos do teste, a eficiência alcançou 100%.
O trabalho foi publicado ontem na versão eletrônica da revista "Science". Os líderes do estudo são Stephen Hoffman, da Sanaria, e Robert Seder, do Instituto Nacional de Alergia e Doenças Infecciosas (Niaid) dos EUA.
Trata-se do maior sucesso alcançado, até aqui, na longa e decepcionante luta para prevenir a doença, que em 2010 causou estimadas 660 mil mortes no mundo.
Outra vacina, da empresa GSK, está em fase mais adiantada de teste, mas só conseguiu entre 47% e 55% de proteção. Para crianças, as principais vítimas, teve resultado ainda pior (33% a 37%).
Editoria de Arte/Folhapress
No Brasil, a doença está presente sobretudo na Amazônia, mas o número anual de mortes fica na casa das centenas. Isso porque predomina aqui o parasita Plasmodium vivax, menos perigoso que o P. falciparum, que causa a maior parte das mortes na África.
O produto da Sanaria, apelidado de PfSPZ, emprega o microrganismo inteiro --no seu estágio de vida batizado de esporozoíto-- para desafiar o sistema imune humano. A fim de impedir que essa versão do plasmódio desencadeie a doença, os esporozoítos são "nocauteados" (atenuados) com raios X.
A vacina da GSK (conhecida como RST,S) usa só um pedaço do esporozoíto. Não pode, por isso, causar a doença, e terá vantagens práticas sobre a PfSPZ --se der certo.
Os brasileiros Ruth e Victor Nussenzweig desenvolveram a técnica de atenuação do esporozoíto com raios X a partir de 1965, quando se mudaram para a Universidade de Nova York. Irradiaram milhares de mosquitos e os puseram para picar recrutas americanos voluntários.
Conseguiram imunizar os rapazes contra a malária, mas era só uma "prova de princípio". Não há como vacinar milhões de pessoas assim.
Hoffman partiu daí e criou um procedimento para obter os esporozoítos e injetá-los, dispensando as picadas. É um processo laborioso, que exige abrir as glândulas salivares dos insetos para coletar os microrganismos.
Dois anos atrás, Hoffman e Seder testaram a vacina artesanal em humanos e descobriram que injeções subcutâneas não davam resultado satisfatório. Tentaram então, em julho e outubro de 2012, a imunização com injeção na corrente sanguínea (intravenosa), método impraticável em vacinações de massa.
São esses os resultados relatados agora na "Science". Um grupo de 40 voluntários recebeu injeções em doses e intervalos variados. Dos seis que receberam cinco injeções e dose máxima, todos acabaram imunizados, assim como seis dos nove inoculados quatro vezes com doses altas.
Foi só mais uma prova de princípio. Não faltam obstáculos para a PfSPZ se tornar uma alternativa real para combater a malária.
Primeiro, a Sanaria precisará encontrar uma maneira mais prática de obter os esporozoítos. Depois, provar que o produto funciona com um número maior de pessoas e por mais de um ano.
Em seguida, terá de demonstrar que a PfSPZ é eficaz contra várias cepas do plasmódio. E, por fim, que pode dispensar o nitrogênio líquido para resfriar a vacina e as injeções intravenosas.
A luta por uma vacina contra a malária tem vários anos pela frente.

'Curtidas' em links na internet são contagiosas, mostra estudo

folha de são paulo
Internauta tende a aprovar textos que já tenham agradado outros
DO "NEW YORK TIMES"Um texto publicado na internet e que recebe a aprovação dos leitores tem mais chance de receber uma "curtida" de outras pessoas, segundo uma nova pesquisa.
O estudo foi publicado na "Science" por pesquisadores do MIT (Instituto de Tecnologia de Massachusetts).
A ideia deles era responder a uma antiga pergunta: uma coisa é popular porque é boa ou é boa porque é popular?
Os cientistas então desenharam um experimento no qual poderiam manipular uma seção de comentários.
Eles usaram um site --que não quis divulgar seu nome-- em que os usuários publicam links para textos. Os leitores podem comentar sobre esses artigos e também "curtir" ou "reprovar" cada comentário.
No experimento, que durou cinco meses, cada comentário recebia dos pesquisadores um "curtir" ou "reprovar" de maneira arbitrária. Nos comentários do grupo-controle, nada era feito. Para refletir a tendência dos usuários do site, a maioria das respostas arbitrárias foi positiva.
Como resultado, a primeira pessoa que lia o comentário tinha 32% mais chance de aprová-lo se o texto já tivesse recebido um elogio artificial dos pesquisadores.
Ao longo do tempo, os comentários que tinham uma aprovação "falsa" tiveram notas 25% mais altas do que aqueles do grupo-controle --cada comentário recebeu uma nota calculada pela subtração de comentários negativos dos positivos.
Uma reação negativa, porém, não estimulou os outros a desgostarem do artigo.
Duncan Watts, cientista da Microsoft Research, afirma que o estudo confirma a ideia de que algo que começa já com mais popularidade vai chegar à frente de seus competidores, enquanto que algo que não "pega" rapidamente tende a sumir. "O maior obstáculo para o sucesso é ser notado", diz Watts.

    Eduardo Almeida Reis - Convivência‏

    Não consigo imaginar como podem milhões de pessoas viver nos países nórdicos em regiões que têm 'noites' durando meses 


    Eduardo Almeida Reis

    Estado de Minas: 09/08/2013 

    Houaiss diz que o substantivo edifício vem do latim aedificìum,ìí 'edifício', entrou em nosso idioma no século XIV e tem, entre várias acepções, “obra arquitetônica, de certa importância, destinada a abrigar os diversos tipos de atividades humanas; edificação, casa, prédio, imóvel” como também “prédio de vários pavimentos”.

    Esse prédio de vários pavimentos, mais que as outras edificações, implica negócio chamado “convivência humana” e é aí que a porca torce o rabo, que o zagueiro do time de futebol do doutor Marcus Tullius Cicero (103 – 43 a.C.), encarregado de marcar um Messi, um Neymar, diria em latim de beque: ibidem porcina caudam torquet.

    Ainda que as unidades residenciais num edifício de vários pavimentos sejam separadas por lajes e paredes, há um tipo de convivência inevitável incluindo barulhos, vagas nas garagens, escadas ou elevadores, corredores, portarias, fachadas e falta de educação generalizada.

    É sabido que morar nunca foi sinônimo de luxo: você pode morar muito bem, com todo o conforto, sem mármores, granitos azuis, cristais e outras frescuras inventadas pour épater le bourgeois, que, diz o Google, é uma frase francesa convertida em grito de guerra dos poetas de França no final do século XIX, como Baudelaire e Rimbaud, significando “escandalizar a classe média ou burguesia”.

    Hoje, com a classe média inventada neste país grande e bobo, qualquer piso de R$ 30 o metro quadrado espanta o burguês. Na roça trirriense, um pedreiro fazia pisos lindíssimos de cimento branco, iguais aos que vi na casa de um bilionário paulistano em mil novecentos e muito antigamente.

    Portanto, sem vizinhos em baixo, em cima e do lado, um piso bem feito em cimento branco resulta da melhor supimpitude, desde que você tenha água encanada, rede de esgotos, luz elétrica e segurança. Quando a ONU calculou em 100 mil o número de mortos nos primeiros dois anos de guerra civil na Síria, andei lendo que o número de assassinatos no Brasil andava em 154 por dia. Peguei a calculadora chinesa de nove reais e multipliquei 154 por 365 dias para encontrar 56.210 mortes/ano, ou 112.420 em dois anos, isto é, mais 12.420 que os mortos na guerra civil dos sírios.

    Dia desses, como lhes contei, a internet andou exibindo a fortuna do sultão do Brunei, país asiático de 5.765 km2 e 400 mil habitantes, em que se fala malaio. Renda per capita: US$ 51 mil, a quinta maior do mundo. Morri de pena do sultão ao constatar que seu Boeing, cuja decoração custou mais de 100 milhões de dólares, não tem bidê no banheiro de ouro. Só a decoração, porque o avião custou outros 100 milhões. Brunei tem petróleo e gás para dar e vender, daí a fortuna do sultão Haji Hassanal Bolkiah Mu'izzaddin Waddaulah ibni Al-Marhum Sultan Haji Omar Ali Saifuddien Sa'adul Khairi Waddien, nascido em 1946, educado na Royal Military Academy Sandhurst (RMAS), Inglaterra, que vai entrar na história como homem sem bidê.


    Alegria, alegria!
    Aviso aos navegantes: começou minha temporada de alegria. Todo ano é assim quando os dias começam a espichar depois do solstício de inverno. Alegria que não acaba com o solstício de verão ainda no período quente: detesto frio. Não consigo imaginar como podem milhões de pessoas viver nos países nórdicos em regiões que têm “noites” durando meses. Não deve ser à toa que aquelas regiões continuam com os recordes mundiais de suicídios.

    Alegrias não conjuminam (está dicionarizada!) com assuntos escabrosos. Faz tempo, muito tempo mesmo, que venho evitando falar de certo ministro, pelo seguinte: um texto toma o meu tempo e implica o gasto de tinta e papel com uma figura que não vale um traque. Só no Brasil uma figurinha abjeta, como a do paranaense, chegaria a ministro de Estado. E aí recorro a um e-mail que recebi de amiga residente em Brasília, DF, com o título: LATIM, língua maravilhosa!

    Vejamos: “O vocábulo ‘maestro’ vem do latim ‘magister’ e esse, por sua vez, do advérbio ‘magis’, que significa ‘mais’ ou ‘mais que’. Na antiga Roma o ‘magister’ era o que estava acima dos restantes pelos seus conhecimentos e habilitações.

    Por exemplo, o ‘Magister equitum’ era o ‘Chefe de cavalaria’ e o ‘Magister Militum’ o ‘Chefe Militar’. Já o vocábulo ‘ministro’ vem do latim ‘minister’ e esse, por sua vez, do advérbio ‘minus’ que significa ‘menos’ ou ‘menos que’. Na antiga Roma, o ‘minister’ era o servente ou o subordinado que apenas tinha habilidades ou era jeitoso.

    Como se vê, o latim explica a razão pela qual um imbecil pode ser ministro e não maestro”. Explica, também, a longa permanência do paranaense à frente do ministério. Menos que digno de nota num texto de jornal, aquilo é subnitrato de pó de bosta.


    O mundo é uma bola
    Dia 9 de agosto de 48 a.C., Júlio César derrota Pompeu na Batalha de Farsalo. Pompeu foge para o Egito, onde seria assassinado. Em 1483, inauguração da Capela Cistina. Em 1902, coroação de Eduardo VII, do Reino Unido. Em 1969, Sharon Tate e mais quatro pessoas são mortas pelos bandidos da Família Manson. Charles Milles Manson está preso até hoje dando despesas ao governo dos EUA, quando teria sido muito mais simples sumir com ele.


    Ruminanças

    “Temos as lembranças que merecemos” (Gérard Bauer, 1888-1967).

    Carlos Herculano Lopes-De um fôlego só‏


    Carlos Herculano Lopes

    carloslopes.mg@diariosassociados.com.br


    Estado de Minas: 09/08/2013 


    Se não me falha a memória, quem pela primeira vez me falou sobre o romancista espanhol Javier Cercas, chamando-o de extraordinário, foi a escritora e professora de literatura Maria Esther Maciel, com quem tenho o prazer de dividir este espaço semanal aqui no Estado de Minas. No número 16 da Revista Metáfora, de fevereiro, li uma entrevista concedida por ele, que discorre sobre seu processo criativo e Soldados de Salamina, livro no qual traça, num misto de ficção e realidade, o perfil de Sánchez Mazas, um dos principais ideólogos da Falange, grupo que deu sustentação política a Francisco Franco. Em 1936, esse ditador tomou o poder na Espanha, depois de uma guerra civil com milhares de mortos. Foi a partir daí, com encantamento, que me iniciei em sua obra.

    Até então, tenho de confessar, conhecia muito pouco da literatura espanhola contemporânea, com leituras esparsas de autores como Susana Fortes, Enrique Vila-Matas, Gabi Martínez, Justo Navarro e Rosa Montero. Há alguns anos, por ocasião de uma bienal do livro em São Paulo, tive a oportunidade de entrevistar Rosa em conversa regada a vinho e água mineral, que entrou tarde adentro em um restaurante dos Jardins. Colaboradora do El País, um dos principais jornais espanhóis, ela escreveu, entre outros, os romances A louca da casa e Instruções para salvar o mundo. Desde então, sempre que posso, venho acompanhando seu trabalho.

    Voltando a Javier Cercas, que também é colaborador do El País, aproveitei as férias, que por coincidência terminaram ontem, para ler, de um fôlego só, outro livro seu: Anatomia de um instante (2009), lançado no Brasil pela Editora Globo, com tradução de Ari Roitman e Maria Alzira Brum. Há muitos anos um texto não me prendia tanto, tal foi a maneira engenhosa como o autor narrou como se deram – ou ele imaginou como se deram – os fatos que, já no distante 23 de fevereiro de 1981, fizeram com que um tenente-coronel do Exército espanhol chamado Tejero de Molina invadisse a Câmara dos Deputados, em Madri, onde se discutia a renúncia do então presidente Adolfo Suárez, e tentasse, com a ajuda de um bando de tresloucados seguidores, dar um golpe de Estado.

    Na minha memória a respeito daquele episódio, por meio do qual setores reacionários do Exército espanhol, tendo Molina como instrumento, quiseram abortar a então recente democracia instalada no país logo depois da morte de Franco, em 1975, haviam permanecido, até a leitura de Anatomia de um instante, apenas as cenas chocantes da invasão da Câmara dos Deputados, gravadas pelas redes de televisão e que ficaram para a posteridade. Javier Cercas, escritor extraordinário, como disse Maria Esther Maciel, mostrou-me, no entanto, que um golpe de Estado e as situações que levam às tentativas de golpe, como aquela na Espanha – e como tantas outras que já ocorreram mundo afora, inclusive no Brasil –, são muito mais complexas e envolvem muito mais pessoas e interesses do que conseguimos imaginar. Mesmo que nem sempre, como também ocorre na vida, as coisas saiam como foram previstas, e, às vezes, como neste caso, possam se definir em instantes. 

    Viva dona Alaíde! - Ana Clara Brant‏

    Autora do clássico A bonequinha preta ganha festa no 2º Salão do Livro Infantil e Juvenil de Minas Gerais. Pioneira, ela divulgou a obra de Drummond, Bandeira e Cecília Meireles 


    Ana Clara Brant

    Estado de Minas: 09/08/2013



    Nos anos 1930, a escritora e educadora Alaíde Lisboa introduziu a poesia no currículo escolar


    Depois de literalmente passear nos vagões do metrô, desde segunda-feira, o 2º Salão do Livro Infantil e Juvenil de Minas Gerais desembarca hoje na Serraria Souza Pinto. Durante 10 dias, serão oferecidas 120 atrações culturais, entre lançamentos, palestras, debates, narração de histórias, peças de teatro e filmes. Os autores Pedro Bandeira, Paula Pimenta, Caio Ritter, Elisa Lucinda, João Marcos, Adelsin e Chico dos Bonecos participarão do evento.

    “O melhor livro, por melhor que seja, nada significa se não tiver um leitor. O nosso foco é incentivar e formar público. Fora da programação oficial, cada estande oferecerá várias atividades”, informa Zulmar Wernke, presidente da Câmara Mineira do Livro (CML).

    Momento especial será a homenagem a um clássico da literatura infantil: A bonequinha preta, de Alaíde Lisboa (1904 – 2006), lançado em 1938. O espaço Arena Mundo da Bonequinha Preta oferecerá várias atividades. Quarta-feira, o dia será só dela. A Editora Lê vai lançar o fac-símile da primeira edição. Em capa dura, formato e ilustrações originais, a obra resgata a história que encantou – e praticamente alfabetizou – gerações.

    O lançamento contará com a participação da família da autora, além da curadora do Salão do Livro, Sandra Bittencourt, e do grupo Cantarolê. Às 19h, haverá apresentação de Quando o segredo se espalha, idealizado pelo professor, poeta e contista Chico dos Bonecos. O espetáculo radiofônico homenageia Alaíde Lisboa, também educadora e política. Irmã da poetisa Henriqueta Lisboa, ela foi a primeira mulher a exercer o cargo de vereadora em Minas Gerais.

    Chico dos Bonecos interpreta um repórter de rádio que conversa com a professora Alaíde, papel a cargo da jornalista Nanci Alves. “A gente foca muito na questão da poesia. Ela teve um papel precursor e revolucionário: em 1939, com mais duas educadoras, lançou antologia com os jovens poetas da época, como Carlos Drummond de Andrade, Manuel Bandeira e Cecília Meireles”, destaca Chico. “Admiro dona Alaíde por levar a poesia para as crianças e para as escolas. Ela é a grande arquiteta desse movimento”, frisa. Quinta-feira, Chico dos Bonecos apresentará outro espetáculo, Tudobolô.

    Mutirão


    Outro projeto especial do Salão do Livro é o Trem do Cem, promovido pelo Clube de Editoras Mineiras, que reúne seis empresas de pequeno e médio portes: Aletria, Dubolsinho, Fino Traço, Mazza, RHJ e Uni Duni. O estande conjunto foi decorado como um vagão e quer atrair ludicamente crianças e adolescentes. A agenda prevê o lançamento de 31 livros, tardes de autógrafos, apresentação de espetáculos e oficinas para crianças e educadores.

    Entre os espetáculos estão O ovo amarelinho do vizinho e Meu pai é uma figura (de Rosana Mont’Alverne), com a artista Alessandra Visentin; Lá no fundo do peito e outras histórias do sentimento profundo (Mauro Martins e Marlette Menezes); e O menino que queria virar vento e outros contos de saudade (Luísa Helena Ribeiro), com Ana Sofia; Emengarda, a barata, com o artista Pierre André; Pitulu e outras histórias, com Beatriz Myrrha; e Um menino chamado coelho (Ronaldo Simões Coelho), com Juliana Anselmo, Alessandra Visentin e Matê Natalino.


    PROGRAMAÇÃO

    » Hoje
    8h45 às 13h30 – Narração de histórias com Ana Sofia Paiva. Arena Mundo da Bonequinha Preta
    9h – A poesia nossa de cada dia, com Neusa Sorrenti. Espaço Bartolomeu Campos de Queirós
    10h – Bate-papo com a escritora Elizete Lisboa e com Neylar Fernandes (libras). Auditório Sylvia Orthof
    18h – Orquestras Jovem V&M do Brasil e Infantojuvenil da Escola Estadual Padre João Botelho. Arena Mundo da Bonequinha Preta
    19h30 – Show com a poetisa e atriz Elisa Lucinda. Auditório Sylvia Orthof

    » Amanhã
    11h – Sessão de autógrafos com Paula Pimenta (foto). Arena Mundo da Bonequinha Preta
    11h e 15h30 – Brincadeiras e narração de histórias com Rúbia Mesquita. Auditório Sylvia Orthof
    12h30 e 17h – Máquina de histórias, com o Grupo Aldeia Teatro de Bonecos. Espaço Bartolomeu Campos de Queirós
    14h30 – Oficina A arte de escrever com arte: Tempo, tempus, com Ronald Claver. Espaço Fernando Sabino
    15h – Narração de histórias com Gustavo Gaivota e lançamento de livros de Fabrício Marques. Arena Mundo da Bonequinha Preta
    18h30 – A escolha, com Cia. Grafite Teatro Empresarial e Júlio Margarida. Auditório Sylvia Orthof

    » Domingo
    11h e 13h30 – Bichos de todo jeito, com o narrador de histórias Roberto de Freitas. Arena Mundo da Bonequinha Preta
    14h30 – Oficina Meu livro, uma história, muitas imagens, com Daniela Penna. Espaço Fernando Sabino
    15h30 – Bate-papo e sessão de autógrafos com José Carlos Aragão. Estande da Editora Paulinas
    16h30 – Leitura dramática do livro Orquestra Bichofônica, com o escritor Antônio Barreto (foto). Arena Mundo da Bonequinha Preta

    saiba mais

    Para todas as gerações


    Mariazinha e sua boneca preta são muito amigas. Certo dia, a menina sai com a mãe e não pode levar o brinquedo, mas pede que a companheira se comporte e não chegue à janela. De nada adianta.

    A bonequinha ouve miados, quer saber o que ocorreu lá fora e há um acidente. O livro de Alaíde Lisboa foi lançado em 1938 e ganhou três capas. A primeira edição foi ilustrada por Monsan. A segunda (1981) e a terceira (2001) têm desenhos de Ana Raquel. A reedição histórica da Lê, que chega a público no Salão do Livro, reproduzirá a capa original.

    NA SERRARIA

    100 mil
    pessoas esperadas até dia 18


    200
    escolas atendidas


    30 mil
    alunos aguardados


    100
    autores


    200
    editoras


    120
    atividades culturais

    2º SALÃO DO LIVRO INFANTIL E JUVENIL DE MINAS GERAIS
    Até dia 18. Serraria Souza Pinto, Avenida Assis Chateaubriand, 809, Floresta. De segunda a sexta-feira, das 8h30 às 21h; sábado e domingo, das 10h às 21h. Ingressos: R$ 10 (inteira) e R$ 5 (meia-entrada). Entrada franca para crianças até 10 anos, professores, bibliotecários e profissionais do livro (mediante comprovação). Informações: www.salaodolivro.com.br

    Jovens russos humilham gays e divulgam atos na internet

    Jovens russos humilham gays e divulgam atos na internet
    em PROTESTO
    Stephen Fry pede boicote a Olimpíada russa
    O ator e apresentador britânico Stephen Fry pediu um boicote à realização da Olimpíada de Inverno de 2014, que ocorre em Sochi, na Rússia. Ele afirmou, em carta enviada ao Comitê Olímpico Internacional e a David Cameron, que a perseguição aos gays no país é semelhante à dos judeus por Hitler.

    Neonazistas usam perfil falso em sites de relacionamento para atrair vítimas; eles justificam ataques como forma de combater a pedofilia
    MARCELO ALMEIDADE SÃO PAULOCom o pretexto de combater pedófilos, grupos na Rússia estão promovendo atos de humilhação contra homossexuais e postando vídeos com as agressões na internet.
    Os encontros com as potenciais vítimas são marcados por meio de um perfil falso em sites de relacionamento, em alguns casos oferecendo dinheiro em troca de sexo.
    Ao chegar ao local marcado, as vítimas --a maioria com menos de 25 anos-- são abordadas por um grupo e coagidas a fazer declarações humilhantes para uma câmera, que grava toda a ação.
    Em ao menos dois vídeos divulgados no VKontakte, o principal site de relacionamentos russo, as vítimas são obrigadas a beber urina e a manipular pênis artificiais.
    O movimento, que recebeu o nome de Occupy Pedophilyaj, começou por iniciativa de Maxim Martsinkevich. Ele é ex-líder do grupo Format18, ligado à Sociedade Nacional-Socialista, partido político de orientação neonazista banido pela Justiça russa.
    Como o nome indica, as ações são justificadas como um levante contra a pedofilia --como os agressores associam a homossexualidade à pedofilia, qualquer gay passa a ser um alvo em potencial.
    A organização de direitos humanos Spectrum Human Rights Alliance, que atua no leste da Europa, denunciou a ação dos grupos.
    De acordo com Larry Poltavtsev, fundador da Spectrum, a ONG foi alertada por um ativista que mora em Kamensk-Uralsk, local onde foi filmada a maior parte dos ataques que pararam na internet.
    Ele diz que a polícia toma conhecimento dos casos, mas é conivente. "Há cerca de 500 grupos atuando em toda a Rússia com o objetivo de humilhar e agredir gays para que eles eventualmente cometam suicídio", acusa.
    Ele afirma que os grupos teriam contabilizado cinco suicídios até agora, de acordo com dados dos integrantes.
    Poltavtsev é cético quanto à possibilidade de esses grupos serem punidos. "As vítimas não têm a quem recorrer. A polícia não fará nada. Talvez um dos líderes, como o próprio Maxim Martsinkevich, seja punido, mas apenas de forma leve para constar que algo foi feito", diz.
    Além das ações de grupos extremistas, os homossexuais são alvo de um cerco do próprio governo russo.
    Em junho, Putin sancionou lei que proíbe a divulgação e a propaganda de relações sexuais não heterossexuais (o que, na prática, proíbe manifestações a favor dos direitos civis dos gays).
    Em resposta a essas decisões e a casos de violência, ativistas estão defendendo o boicote aos Jogos Olímpicos de Inverno de 2014, na cidade russa de Sochi, e a marcas famosas de vodca.

      Tv Paga


      Estado de Minas: 09/08/2013 


      Pura fantasia

      Estreia hoje, às 22h, no Telecine Premium, o drama A estranha vida de Timothy Green (foto). O filme conta a historia de um casal que não pode ter filhos. Cindy (Jennifer Garner) e Jim (Joel Edgerton) resolvem então enterrar no quintal uma caixa contando o que gostariam de ter em uma criança. Logo depois, “nasce” um garoto chamado Timothy Green (C. J. Adams), que aparece milagrosamente na casa deles. Além de realizar o grande sonho, os dois vão descobrir o que é o amor de verdade.

      Muitas opções para quem curte cinema
      Atração de quarta-feira na Mostra internacional de cinema, o longa Quatro minutos retorna hoje à programação da Cultura, às 22h, mas agora em versão dublada. No mesmo horário, o assinante tem mais oito alternativas: O gerente, no Canal Brasil; Um bairro distante, no Max; Fúria de titãs 2, no Max Prime; Padre, na HBO; O último samurai, no Telecine Action; Confissões de uma adolescente em crise, no Telecine Fun; Filhos do silêncio, no Telecine Cult; e Dias incríveis, no Universal. E mais: Laranja mecânica, às 21h, no Cinemax; Perdendo a noção, também às 21h, no Boomerang; Sexo sem compromisso, às 22h30, na Fox; e O guru do sexo, às 23h, no TBS.

      Não ignore os riscos da cirurgia plástica
      O Nat Geo também promete algo diferente com sua série Histórias extraordinárias, que vai ao ar às 22h15. O episódio “Cirurgias plásticas” acompanha de perto a história de pacientes que se submetem a intervenções estéticas ou reconstrutoras, explorando suas motivações e experiências, bem como as consequências de tais procedimentos. Como o caso da modelo argentina Solange Magnano, que por causa de uma cirurgia malsucedida morreu quando tinha apenas 38 anos e uma vida pessoal e profissional de muito sucesso.

      History relata casos de discos voadores
      Os casos de registro de objetos voadores não identificados na América Latina aumentam a cada ano e cada vez mais testemunhas asseguram ter visto, e até mesmo gravado, estranhos objetos e luzes no céu. Isso é o que mostra o programa Contato extraterrestre, que vai ao ar hoje, às 22h, no canal History. Mais precisamente, relatos de avistamentos no Chile, México e Colômbia.

      Negra Li se diverte com Zé do Caixão
      Para fechar, música, começando com a banda norte-americana Bon Jovi na série Boombox in concert, às 15h, no Boomerang. Já o Canal Brasil começa com Charles Gavin e o programa O som do vinil, às 21h30, hoje revelando detalhes da produção do álbum Ando só numa multidão de amores, que a cantora Maysa gravou em 1970 e que tinha clássicos como Resposta e Bonita. Na mesma emissora, à meia-noite, José Mojica Marins entrevista a cantora Negra Li em mais uma edição de O estranho mundo de Zé do Caixão.

      Painel - Vera Magalhães

      folha de são paulo
      Línguas diferentes
      Alexandre Padilha deve evitar ao máximo entrar no clima de lançamento de sua candidatura ao governo de São Paulo que o PT fará hoje em Bauru. Enquanto a cúpula petista incentiva militantes a levar faixas e cartazes com dizeres eleitorais, o ministro repetirá no palanque que sua meta é viabilizar o Mais Médicos, e que é cedo para falar em candidatura. Padilha não discutiu o tema com Dilma Rousseff. A presidente quer que, enquanto estiver no cargo, ele foque a agenda da pasta.
      -
      No ar Na véspera do ato no interior paulista, voltou ao Facebook página em defesa da candidatura do ministro da Saúde que o TRE (Tribunal Regional Eleitoral) havia mandado retirar.
      Radar Aécio Neves e Geraldo Alckmin conversaram na segunda-feira sobre as denúncias de formação de cartel no metrô de São Paulo. Disseram que é cedo para calcular o impacto do caso sobre o PSDB e repisaram a tese de que há um vazamento seletivo para atingir só os tucanos.
      Pingos... A ex-ministra Nancy Andrighi encaminhou ontem ofício a todos os ministros do Tribunal Superior Eleitoral para rebater acusação de ser a responsável pela decisão que liberou dados dos eleitores para a Serasa. Ela indiretamente culpa a presidente do tribunal, Cármen Lúcia, pelo episódio.
      ... nos 'is' No texto, Nancy diz que parecer dado por ela, quando na corregedoria-geral, "se limitou a uma estudo quanto à viabilidade legal do pedido'' e que adotá-lo ou não era "atribuição exclusiva da presidência". "Infere-se a existência, no mínimo, de falha de comunicação entre o diretor-geral e a presidente''.
      Tô fora Designada para relatar a denúncia do Ministério Público que pede a cassação de Roseana Sarney (PMDB-MA), a ministra do TSE Luciana Lóssio vai alegar suspeição por já ter atuado como advogada da governadora no próprio tribunal.
      Estica... O terceiro mês seguido de IPCA baixo animou setores do governo que acham que a alta de juros pode afetar o crescimento da economia. Ministros ligados a Dilma acreditam que, com a inflação em queda, o Banco Central poderá "maneirar" nas próximas reuniões do Copom sobre a taxa de juros.
      ... e puxa No entendimento desses auxiliares, se o BC mantiver o ritmo de alta de 0,5 ponto percentual nas próximas reuniões, os juros irão contrair ainda mais a economia e afetar o PIB de 2014, ano eleitoral.
      Acelerador O ministro Gastão Vieira (Turismo) aproveitou evento ontem para anunciar R$ 19 milhões para cidades históricas para cobrar agilidade de prefeituras na execução de verbas.
      Pé no freio Vieira lembrou que sua pasta destinou R$ 53,7 milhões para cidades-sedes Copa do Mundo em junho de 2012 e, até agora, nenhuma obra começou.
      Aposentadoria O secretário do Trabalho paulista, Carlos Ortiz (PDT), pediu para deixar a pasta para se dedicar à presidência do Sindicato Nacional dos Aposentados da Força Sindical.
      Substituição O partido, no entanto, vai continuar no comando da secretaria do governo Alckmin. O novo secretário é Tadeu Morais, que estava na chefia de gabinete e também é ligado a Paulinho da Força, o principal dirigente pedetista em São Paulo.
      Em casa Na reestruturação do Denarc, departamento de investigação do narcotráfico da Polícia Civil paulista, o governo criou uma unidade de contrainteligência que vai se debruçar especificamente sobre o vazamento das operações do grupo.
      com ANDRÉIA SADI e BRUNO BOGHOSSIAN
      -
      TIROTEIO
      "Serra, que sempre cobrou investigações sobre o PT, tem de ser coerente e defender CPI para apurar as acusações aos governos tucanos."
      DO PRESIDENTE DO PT-SP, EDINHO SILVA, sobre afirmação de ex-diretor da Siemens de que Serra sugeriu acordo para não anular concorrência da CPTM.
      -
      CONTRAPONTO
      Sem juízo
      Durante uma sessão da Comissão de Educação da Câmara, em abril, o deputado Anthony Garotinho (PR-RJ) se desmanchava em elogios ao ministro Aloizio Mercadante quando ouviu-se na plateia um grito de "glória, glória, aleluia". Os parlamentares se entreolharam e o manifestante completou:
      --Eu tenho uma notícia boa! Jesus Cristo vai voltar e todos vocês vão para o céu!
      Garotinho brincou:
      --Eu cheguei a achar que ele estava dando "aleluia" por eu ter elogiado o governo!

        Planos de saúde e papa no tendências/debates

        folha de são paulo
        ANDRÉ LONGO
        TENDÊNCIAS/DEBATES
        Em defesa de 48 milhões de brasileiros
        Nenhuma decisão da ANS é tomada sem fundamentação de corpo técnico extremamente qualificado, composto por servidores concursados
        A Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS) encerrou 2012 com a suspensão de 396 planos de 56 operadoras em atividade. De cada 110 denúncias de negativa de cobertura assistencial, 78 foram resolvidas sem abertura de processos.
        Os 48 milhões de brasileiros com planos de assistência médica e os 18 milhões com planos exclusivamente odontológicos já testam no seu dia a dia as transformações desse setor. Rigor, controle e mediação de conflitos são a tônica das medidas adotadas nos últimos anos.
        Quase quatro centenas de planos de grandes, médias e pequenas empresas deixaram de ser comercializados porque descumpriram prazos máximos para consultas, exames e cirurgias estipulados pela ANS.
        O consumidor brasileiro merece mais qualidade no atendimento. Trabalhamos para que usufrua da cobertura a tudo o que contratou.
        O beneficiário hoje encontra mais respaldo a seus direitos. A ANS regula e fiscaliza um mercado que se desenvolveu por mais de 40 anos no Brasil praticamente sem a intervenção do Estado. Engloba 1.438 operadoras registradas, 31.784 planos com assistência médica e mais de 102 mil estabelecimentos de saúde.
        É inegável o perfil cada vez mais fiscalizador da agência. Medidas recentes, como a exigência de justificativa por escrito de cada negativa de cobertura pelas operadoras em até 48 horas, qualificam as ações de controle. Agora, o beneficiário tem direito assegurado a receber por correspondência em casa ou no e-mail a justificativa fundamentada para o serviço ao qual não teve acesso.
        Seja para resolver administrativamente a questão com a ANS, ou mesmo judicialmente, o cidadão recebe os argumentos amparados em regras claras de seu contrato. Caso contrário, a operadora sofre multa e até suspensão do plano.
        O rigor na atuação da ANS é ainda mais evidente quando analisamos números do monitoramento "in loco": 98 operadoras em direção fiscal (ou seja, acompanhados por agente da ANS) somente em junho deste ano. No mesmo mês, 88 operadoras tiveram o registro de funcionamento cancelado, 113 foram comprometidas em planos de recuperação por problemas econômico-financeiros e 77 constaram em liquidação extrajudicial.
        O aprimoramento dos processos internos da ANS beneficia toda a população. Nos últimos dois anos, obtivemos um recorde de ressarcimento ao Sistema Único de Saúde (SUS) pelos serviços prestados na rede pública a beneficiários de planos, que chegou a R$ 166 milhões. É um valor maior do que todo o histórico de cobranças do ressarcimento desde 2000. Nesse período, ainda foram cobrados R$ 510 milhões das operadoras e encaminhados R$ 161 milhões para dívida ativa.
        A ampliação periódica, criteriosa e responsável do rol de serviços obrigatórios é outro exemplo da preocupação com o consumidor. Para aumentar o poder de escolha, a ANS tem entre as prioridades imediatas a ampliação do acesso à informação aos beneficiários, com reformulação do portal de internet.
        Atuar no equilíbrio do setor é a missão da agência. Suas prioridades são públicas e contam com ampla participação da sociedade em câmaras e grupos técnicos, comitês e consultas públicas que subsidiam decisões de sua diretoria colegiada. Nenhuma decisão é tomada sem fundamentação de nosso corpo técnico, extremamente qualificado, composto por servidores concursados.
        Agora estamos prestes a completar mais um ciclo do monitoramento rigoroso ao qual a agência se dedica desde 2011 para conferir ao beneficiário cada vez maior proteção e informação transparente. Esse é um processo de aprimoramento do trabalho em prol da população que não tem volta.
        A ANS continuará atuando cada vez mais com rigor e equilíbrio, de forma integrada ao Ministério da Saúde, visando exclusivamente o interesse público e contribuindo para a construção e o fortalecimento do sistema de saúde brasileiro.
        CHICO ALENCAR
        TENDÊNCIAS/DEBATES
        Francisco e o cisco no olho dos políticos
        Aos que se julgam com o monopólio da representação, vale o recado do papa: "Saiam à rua a armar confusão. Abandonem a comodidade"
        Nas ruas do Brasil, os jovens, sem papas nas línguas e nos cartazes, questionam o poder e suas circunstâncias de escândalos.
        Nas ruas do Rio, o papa Francisco, despojado, reduziu a pompa secular da instituição eclesiástica de tradição monárquica. Ele orientou seu próprio clero a abandonar o comportamento "principesco" e o "apego às riquezas".
        Governantes soberbos e inebriados por mordomias se dizem "tocados" pelo papa e pelos protestos, prometendo humildade.
        A dinâmica política não comporta milagres, mas registra mudanças de postura, ao menos por espírito de sobrevivência. Os dirigentes brasileiros estão submetidos a um curso intensivo de "escutatória".
        Partidos e políticos, no purgatório do descrédito, são chamados a profunda metanoia. Para tanto, Francisco, mais como líder religioso ecumênico que como chefe de um Estado que Cristo nunca cogitou fundar, ofereceu instigante roteiro.
        Aos que degradam nossa atividade política com suas máquinas de comprar votos, o papa opôs "a tarefa de reabilitar a política, que é uma das formas mais altas de caridade", lembrando que "os jovens possuem sensibilidade especial frente às injustiças, mas muitas vezes se desiludem com notícias de corrupção".
        Aos que subordinam a função pública ao jogo bruto dos interesses econômicos, desde as eleições, o papa contrapôs "uma visão humanista da economia e da política, que realize cada vez mais a participação das pessoas, evitando elitismos e erradicando a pobreza, asseguradas a todos dignidade, fraternidade e solidariedade".
        Aos que montam bancadas religiosas e instrumentalizam a fé do povo, o papa lembrou que "a laicidade do Estado, sem assumir como própria qualquer posição confessional, favorece a pacífica convivência entre religiões diversas".
        Para ele, "a religião tem um patrimônio e o põe a serviço do povo, mas, se começa a se misturar com politicagem e impor coisas por baixo do pano, transforma-se em um mau agente de poder".
        Aos de mentalidade doentia que, na direção oposta da prática de Jesus, discriminam e querem "curar" os que, saudáveis, vivenciam sua homoafetividade, o papa incomodou, desconsiderando orientação sexual como elemento de identificação: "Os gays não devem ser discriminados e sim integrados. Quem sou eu para julgá-los?".
        Aos áulicos que vivem de bajular e fazer lobbies, no Vaticano e aqui, o papa alertou: "Gosto quando alguém me diz não estou de acordo'. Esse é um verdadeiro colaborador. O pior problema é o lobby, o dos avaros, dos políticos, dos maçons...".
        Aos que usam e abusam das benesses, exercendo poder não para servir mas para se servir, o papa alertou quanto à "feroz idolatria do dinheiro" e lembrou que "austeridade e simplicidade são necessárias a todos".
        Aos que se julgam com o monopólio da representação e que só deixam os gabinetes para reproduzi-la com propaganda enganosa de tempos em tempos vale o recado de Francisco para a igreja: "Saiam à rua a armar confusão. Abandonem a mundanidade, a comodidade e o clericalismo. Deixemos de estar encerrados em nós mesmos!".
        Assim seja.

        'Puxa-estica' - Marina Silva

        folha de são paulo
        'Puxa-estica'
        Com a denominação nada sutil de "Orçamento impositivo", o PMDB se coloca como sócio majoritário da coligação governista e quer tornar obrigatório, por meio de uma PEC, o atendimento das emendas parlamentares individuais ao Orçamento federal.
        Na maioria dos casos, o argumento é verdadeiro: as emendas servem à chantagem no jogo do "só voto se liberar, só libero se votar". Mas a solução é falsa: submete o planejamento do país ao "puxa-estica" dos interesses particulares, regionais ou corporativos.
        Uma das principais funções do Congresso é aprovar o Orçamento público. É da natureza do processo que sejam apresentadas emendas para alterar a alocação dos recursos. Como fazer com que isso seja parte da regra republicana, e não sua corrosão destrutiva? Boas propostas não faltam, mas ficam sufocadas no jogo de interesses. O deputado Walter Feldman apresentou projeto restringindo o poder das emendas individuais, mas, justamente por isso, não conseguiu de seus colegas as assinaturas necessárias para chegar ao plenário.
        Vivi esse dilema dos dois lados, como senadora por um Estado que necessita de recursos federais e como ministra, procurando combinar as emendas parlamentares com os programas do ministério, para que não fossem projetos isolados de qualquer planejamento. A boa vontade e o diálogo podem melhorar as coisas, mas o problema estrutural permanece.
        Isso diz respeito tanto ao sistema político quanto ao chamado pacto federativo. O sistema tributário extremamente centralizado coloca os municípios em situação de mendicância, pois recebem menos de 20% do que é arrecadado pelo Estado e vivem nos corredores de Brasília de pires na mão. Esse é o principal insumo da fábrica de emendas parlamentares, que transforma congressistas em vereadores federais.
        Há também o faz de conta orçamentário, com as receitas sobrestimadas, para que possam caber todas as demandas de ministérios, Estados, prefeituras, parlamentares, empresas, lobbies de todo tipo. Todos sabem que não será possível realizar todos os gastos, mas o importante é "abrir a janela" para depois negociar. O resultado é a insatisfação de muitos, para a alegria de poucos.
        É necessário mudar as regras, mas, antes de pensar em algo impositivo, seria bom tomar uma pouco de Maracugina, para diminuir a ansiedade que antecede o ano eleitoral.
        A situação no país não permite irresponsabilidades e o governo deve saber que a permissividade com os recursos públicos, se é objeto de desejo para as próximas eleições, já está na mira das novas gerações. Todo mundo está vendo tudo e, no final, quem sabe não trocaremos o impositivo político pelo imperativo ético de regras que sejam mais compatíveis com esse olhar novo, atento, exigente, comprometido.

          Ruy Castro - Notícias da semana

          folha de são paulo
          Notícias da semana
          RIO DE JANEIRO - A ciência, na sua eterna busca do homem artificial, anunciou a criação de uma orelha de laboratório. A fórmula consiste em semear células de cartilagem de vacas e carneiros sobre tecidos vivos, ricos em colágeno, dos ditos carneiros e vacas, para que elas cresçam ao redor de um fio de titânio em forma de orelha humana. Com o que, quem sabe, teremos o fim das orelhas de abano. Só falta testar o grau de arrepio da orelha por algo soprado ao seu pé pelo namorado de sua portadora.
          Isso foi em Massachusetts, nos EUA. Em Maastricht, na Holanda, um "pool" de cientistas comemorou a invenção do "frankenburger" --um hambúrguer também artificial, de 140 gramas, feito de 20 mil células-tronco extraídas de uma vaca indefesa, convertidas em fibras e cultivadas por três meses. Levado ao fogo, o hambúrguer androide revelou-se tão incomível quanto um hambúrguer comum, com o que os cientistas se sentiram vitoriosos.
          Parabéns. Só discordo da denominação de "frankenburger". Se se refere ao Frankenstein, para que criar um hambúrguer sintético? Todos os hambúrgueres da praça são como ele, compostos de um coletivo de cadáveres. No caso, de vacas.
          E, em San Francisco (EUA), pesquisadores decretaram a morte do mouse e do teclado. Em breve, quando nos sentarmos a um computador, seus sensores de visão, audição, tato, paladar e olfato nos radiografarão, ouvirão e cheirarão de alto a baixo, e entenderão o que queremos. O que liberará nossas mãos para fins mais nobres, como descascar uma banana, roer as unhas ou coçar as axilas.
          Diante disso, o que me empolgou mesmo foi outra notícia --sobre os primeiros voluntários a se inscrever para uma viagem sem volta a Marte, em 2022. Grande ideia. Talvez em Marte a turma seja mais devagar, sem essa obsessão por mudar o mundo de 15 em 15 minutos.

            Eliane Cantanhêde

            folha de são paulo
            Os ventos
            BRASÍLIA - A onda está mudando? Dilma está saindo do sufoco?
            É cedo para certezas, mas há forte empenho nessa direção e os ventos, que sempre interferem nas ondas, parecem mais favoráveis a ela.
            Desde que sua popularidade começou a cair por causa da economia --e depois despencou, com os protestos--, a presidente não sai da TV, do rádio, dos jornais, da internet, ocupando todos os espaços que a oposição não tem como disputar.
            As guerras da presidente parecem bem marqueteiras: são polêmicas e geram reações, mas têm ressonância na maioria da população --ou do eleitorado--, que aprova um plebiscito, a reforma política, os royalties para a educação e a queda de braço com os médicos para que mais municípios sejam atendidos. Boas causas.
            Dilma também passou a conversar (dizem que está até aprendendo a ouvir) com o PMDB e os partidos aliados. Essa é sua prioridade, já que o PT vem por gravidade. Sua alternativa é apoiar Dilma ou apoiar Dilma.
            Ela até liberou uma bolada para os parlamentares e, como é melhor ceder do que ser derrotada, negocia ajustes no projeto do Orçamento impositivo, pelo qual os deputados e senadores estabelecem suas emendas e o governo tem de cumprir.
            Ao mesmo tempo, começa a ser interrompida a sequência, que parecia interminável, de notícias ruins na economia. Em vez de "o pior em duas décadas" e o "mais baixo em tantos anos", há índices mais tranquilizadores. O IPCA (um dos indicadores de inflação) ficou perto de zero em junho, o preço da cesta básica também caiu por todo lado e a produção industrial subiu em 10 das 14 capitais pesquisadas.
            Para completar, os protestos das ruas refluíram de um lado e a rede da internet recrudesceu de outro, querendo arrancar o sangue dos tucanos no escândalo da Siemens.
            Não se sabe o que acontecerá com os ventos e com Dilma nas próximas pesquisas, mas a mudança de clima na política já dá para sentir.

              Helio Schwartsman

              folha de são paulo
              Adesão envergonhada
              SÃO PAULO - A USP decidiu participar do Exame Nacional de Desempenho de Estudantes (Enade), o teste do MEC usado para avaliar instituições de ensino superior. É uma boa notícia, já que a USP era a última universidade brasileira que se recusava a submeter-se à prova.
              A adesão é meio envergonhada. Os alunos da universidade paulista não serão obrigados a fazer o exame, ao contrário dos de outras instituições, e os resultados obtidos permanecerão secretos nos primeiros anos. Essa foi, imagino, a fórmula encontrada para vencer as resistências internas, que não eram poucas nem despropositadas.
              De um modo geral, o Inep, o órgão vinculado ao MEC responsável por avaliações e pesquisas educacionais, faz um trabalho de alto nível e conseguiu, desde que foi reformulado em meados dos anos 90, transformar o Brasil de um deserto de estatísticas pedagógicas num país que tem números para tudo. O fato de não sermos capazes de usar essas informações para fazer o sistema funcionar direito é um outro problema.
              Isso dito, é importante frisar as falhas do Enade. A mais grave é que o aluno tem pouco ou nenhum compromisso com a avaliação. Sua obrigação é comparecer ao local da prova, mas não fazê-la com seriedade. Não raro os formandos combinam entre si de boicotar o exame, por razões ideológicas ou para pressionar a direção de suas escolas. Essa dificuldade poderia ser minorada se o desempenho de cada aluno nesse teste fosse gravado em seu diploma.
              Outro problema grave é o caráter trienal da avaliação. Algumas faculdades manipulam o ritmo de aprovação de seus alunos de modo a assegurar que os piores nunca se formem nos anos em que a instituição é avaliada e, assim, não precisem fazer a prova. O remédio aqui seria tornar o exame anual, em que pese triplicar os custos e criar dificuldades logísticas. Como dizia o economista Milton Friedman, não há almoço grátis.

                Delação mais premiada - Editoriais FolhaSP

                folha de são paulo
                Delação mais premiada
                Deputados distritais aprovaram uma lei que estabelece a oferta de prêmio em dinheiro a quem denunciar casos de corrupção no governo do Distrito Federal. Os delatores, que poderão levar 10% do valor que for recuperado, não podem ser autores nem coautores do crime.
                A polêmica medida está agora nas mãos do governador do DF, Agnelo Queiroz (PT), que pode sancioná-la ou vetá-la.
                O diploma entra na categoria das chamadas leis de delação premiada, mas, diferentemente dos dispositivos federais, que beneficiam com diminuição de pena criminosos arrependidos, pretende estimular a denúncia por pessoas que não tiveram participação no delito. Difícil não lembrar do famoso "reward" (recompensa) que encimava os cartazes de "procurado" no velho oeste americano.
                Talvez por ser relativamente nova no Brasil, a filosofia da delação premiada ainda causa incômodo. No que diz respeito às normas que favorecem bandidos penitentes, a origem do desconforto é clara: elas incentivam a traição, conduta tão negativa que provoca repúdio mesmo quando ocorre entre criminosos e em benefício da sociedade.
                A lei brasiliense conta com mecanismo mais sutil. Como o delator não pertenceria à quadrilha, não se pode falar em traição. A ideia, ainda assim, é perturbadora.
                Em tese, qualquer pessoa que tome conhecimento de um crime tem o dever moral de denunciá-lo às autoridades competentes --se se tratar de servidor público, há ainda um dever legal. Ao colocar uma etiqueta de preço num ato que deveria ser automático, a regra de alguma forma rebaixa a cidadania.
                Exercícios teóricos sobre comportamentos éticos, porém, funcionam melhor nos manuais de filosofia do que na prática. No mundo real, delatar um crime envolve riscos. No mínimo, de ser tachado de alcaguete. Na pior das hipóteses, a própria vida é ameaçada.
                Sem estímulos palpáveis, como recompensas em dinheiro ou vantagens processuais, a maioria tende a optar pela mais confortável inércia --ou pela denúncia anônima, expediente com frequência contestado nos tribunais.
                Para combater com mais eficiência os múltiplos e variados esquemas de corrupção e o crime organizado, a sociedade precisa reconhecer que, dentro de certos limites, determinadas medidas pragmáticas constituem um avanço.
                Se bem regulamentada, a recompensa pode representar importante ferramenta --e impulsos morais automáticos não deveriam impedi-la.
                  EDITORIAIS
                  editoriais@uol.com.br
                  Celebração inflacionada
                  Alta de preços em julho é a menor em três anos e Dilma comemora resultado, mas governo está longe de fazer a economia deslanchar
                  Compreende-se que a presidente Dilma Rousseff tenha comemorado o recuo da inflação em julho. Foi, afinal, o primeiro resultado expressivo desde março, quando a taxa acumulada em 12 meses superou o limite de tolerância definido pelo Conselho Monetário Nacional.
                  Para Dilma, houve um "estardalhaço" com a alta dos preços nos meses anteriores, mas a inflação estaria "bastante sob controle", a julgar pelos dados mais recentes.
                  Há certo otimismo nas declarações presidenciais. Sim, a alta do IPCA em julho, de 0,03%, foi a menor variação mensal em três anos. Além disso, é verdade que, considerados os últimos 12 meses, o índice caiu para 6,27% --abaixo, portanto, do teto da meta, de 6,5%.
                  Não se pode ignorar, porém, que para a desaceleração contribuíram fatores episódicos. O congelamento das tarifas de ônibus e metrô teve grande impacto no mês e respondeu por ao menos 0,10% da redução. A queda do preço dos alimentos também ajudou.
                  Permanece, no entanto, o principal fator estrutural de pressão inflacionária: os serviços continuam a subir no ritmo de 8,5% ao ano, em decorrência da indexação de contratos e do mercado de trabalho ainda aquecido.
                  Outros aspectos também merecem consideração. Um deles é a desvalorização cambial. Com a queda do real diante do dólar, produtos importados --ou compostos de peças fabricadas no exterior-- ficarão mais caros. Se a expectativa de recuperação da economia americana ganhar corpo, esse quadro deve se agravar.
                  Tudo somado, pouco mudou, a despeito de julho, no duplo descompasso observado na economia brasileira. Enquanto a alta dos preços convive com um crescimento pífio do PIB, a inflação não se coaduna com o padrão internacional.
                  Por ironia, se há um fator a mitigar o risco inflacionário, é justamente a fraqueza da atividade econômica doméstica. A tênue expectativa de recuperação que vigorou no primeiro semestre foi desfeita pela alta de juros internos e externos, pelo câmbio desvalorizado, pela queda abrupta da confiança das famílias e das empresas e pela lenta elevação do desemprego.
                  Dado o ambiente de incerteza, a estratégia mais prudente do Banco Central, no curto prazo, parece ser manter a alta dos juros, a fim de consolidar a trajetória de queda dos preços, que ora se iniciou. Mas isso pouco adiantará se o governo não der um basta na prática de manipular as contas públicas.
                  Se conseguir recuperar a confiança do setor privado na economia brasileira, a presidente Dilma Rousseff --e todo o país-- terá, de fato, bons motivos para comemorar. Mas essa tarefa, infelizmente, é mais árdua, e a margem de manobra do governo é cada vez menor.

                    A casa do respeitável ET - Paulo Peixoto

                    folha de são paulo

                    Governo investe mais de R$ 1 mi em museu de ET e obra é abandonada


                     
                    PAULO PEIXOTO
                    ENVIADO ESPECIAL A VARGINHA (MG)
                    Ouvir o texto

                    A presidente Dilma disse nesta semana ter "respeito pelo ET de Varginha", mas o extraterrestre que teria aparecido na cidade mineira em 1996 anda sem prestígio por lá, a julgar pelo estado de uma obra em homenagem ao ilustre "visitante".
                    O "Museu do ET" teve investimento de mais de R$ 1 milhão em recursos federais e é hoje apenas o esqueleto de uma nave espacial enferrujada, cercada por mato e que serve de abrigo para nove cachorros.
                    No local, em meio ao entulho da obra, uma placa avisa: "Aqui tem investimento do governo federal".
                    Localizado no alto de um morro com vista para a cidade, o memorial deveria contar toda a saga do suposto ET.
                    Em 2007, o Ministério do Turismo repassou ao município R$ 828,7 mil (R$ 1,1 milhão, em valores atualizados) para a obra, tocada até 2010.

                    Museu do ET de Varginha fica abandonado

                     Ver em tamanho maior »
                    Paulo Peixoto/Folhapress
                    AnteriorPróxima
                    além do museu, políticos da cidade já avaliam a construção de um teleférico ligando o memorial à parte baixa de Varginha
                    A gestão anterior, do PT, afirmou não ter a contrapartida de R$ 165,7 mil e paralisou a construção do museu.
                    O governo atual, do PTB, afirmou ter enviado projeto à Caixa Econômica Federal para saber quanto mais será preciso para concluir a nave.
                    Pelo convênio original, tudo deveria estar pronto até dezembro deste ano, mas apenas 40% está concluído.
                    Moradores de Varginha ouvidos pela Folha defenderam o culto à lenda do ET, mas condenaram o desperdício de dinheiro público. Muitos gostariam que o local fosse transformado em outro atrativo.
                    "Isso não tem lógica, já tem coisa demais do ET na cidade", disse a cozinheira Adriana Barone, 36, em referência à caixa d'água em forma de disco voador, estátuas, pinturas e quinquilharias do ET espalhadas por Varginha.
                    "Tudo bem manter a lenda e a expectativa de vida além da nossa. Mas jogaram dinheiro fora, e, se começaram, têm que acabar", disse o vigilante Eduardo Alves, 37.
                    Mudar o objeto do convênio com o ministério não é possível nem é do interesse da cidade, disse o vice-prefeito, Vérdi Melo (PSDB), que se animou após a presidente Dilma ir à cidade anteontem e pregar "respeito" ao ET.
                    "Tenho muito respeito pelo ET de Varginha. E sei que aqui quem não viu conhece alguém que viu ou tem alguém na família que viu, mas de qualquer jeito esse respeito pelo ET de Varginha está garantido", disse a presidente a rádios locais.
                    Agora, além do museu, políticos da cidade já avaliam a construção de um teleférico ligando o memorial à parte baixa de Varginha. A reportagem não localizou o prefeito anterior, nem representantes do PT local, para informações sobre a interrupção da obra.
                    NOVO CRONOGRAMA
                    O Ministério do Turismo disse que a obra consumiu até agora R$ 304 mil, e que a liberação do restante do dinheiro depende da apresentação de um novo cronograma pela prefeitura.
                    O suposto ET teria sido visto na cidade por três garotas em janeiro de 1996. À época, elas disseram ter avistado a criatura num terreno, em episódio nunca esclarecido.