domingo, 22 de setembro de 2013

Papo de homem - Gero Camilo

O Globo - 22/09/2013

Joias raras- Artur Xexéo

O Globo - 22/09/2013

Nesta altura do campeonato, elogiar a produção de “Joia rara” é chover no molhado. Desde que foram ao ar as primeiras chamadas da nova novela das seis, os espectadores sabiam que estavam diante de uma produção deslumbrante. Quando, enfim, o primeiro capítulo foi exibido, o público apenas constatou o cuidado com que a novela está sendo feita. Como acontece com as produções de época da Globo, figurinos, cenários, iluminação... é tudo impecavelmente realizado.

Um dos cenários da novela é um cabaré, um pequeno teatro de revistas. Ali, no primeiro capítulo, já pode ser visto um musical interpretado por uma das vedetes da trama vivida por Letícia Spiller. Ela entra em cena e canta... “Copacabana”, sucesso de Barry Manilow de 1978!

A crítica já percebeu as referências cinematográficas de “Joia rara”. As cenas gravadas no Nepal lembram “O pequeno Buda”, de Bernardo Bertolucci. A iluminação das cenas internas, propositalmente escuras (talvez escuras demais), seguem a linha de “Tiros na Broadway”, de Woody Allen. Talvez, a “Copacabana” do primeiro capítulo seja uma referência a “Moulin Rouge”, um musical que narrava uma história passada no comecinho do século XX com canções pop contemporâneas. A partir de “Moulin Rouge” tudo passou a ser permitido na trilha sonora de filmes de época.

Figurinos e cenários são sempre reproduzidos com esmero nas novelas de época. Infelizmente, o mesmo cuidado nunca chega à trilha sonora. Imagino que canções de outros tempos, fora de moda, dificultem a criação de climas exigidos pelos folhetins. Mas “Joia rara” seria uma ótima oportunidade de se abrir uma exceção. Afinal, a trama se passa nos anos 30 do século passado, a época de ouro da música brasileira, um período em que as canções eram lançadas justamente no teatro de revista, o cenário onde brilha a vedete de Letícia Spiller. Por que não recuperar estas canções e fazer a plateia de hoje conhecê-las?

Pelo que entendi, “Joia rara” começa em 1934 ou 1935 e vai ter uma passagem de tempo que leva a trama para os anos 40. É nesta época que alguns dos melhores compositores brasileiros viveram seu auge, como Ary Barroso, Lamartine Babo, José Maria de Abreu, Benedito Lacerda, Herivelto Martins, João de Barro, Mário Lago, Custódio Mesquita, Ataulfo Alves, Pixinguinha e muitos outros. É deste tempo um repertório que inclui “Foi ela”, “Grau dez”, “Rasguei a minha fantasia”, “Canta Brasil”, “Serra da Boa Esperança”, “Curare”, “Nada além”, “Carinhoso”, “Lábios que beijei” e uma infinidade de clássicos.

Imagino que tenha sido irresistível escolher “Copacabana” como o primeiro número da vedete de Letícia. Afinal, a canção fala de Lola, uma corista que trabalha numa boate chamada Copacabana, e Lola é justamente o nome do personagem de Letícia. Tomara que tenha sido só por isso. Tomara que o cabaré da novela mergulhe no repertório daqueles tempos. Tomara que, entre muitas outras joias raras, a gente possa ouvir a Lola de Letícia Sppiller cantando “Cadê Mimi? Cadê Mimi? Mimi que partiu pra Xangai...”

Dono da praça pública - Débora Diniz

O Estado de S. Paulo - 22/09/2013

Erro de local e hora não foi das garotas hostilizadas por Feliciano, mas do pastor que se apropriou da rua como se seu templo fosse

Um pastor com poderes de governante de um Estado laico. Foi a isso que assistimos no último curto- circuito entre religião e democracia protagonizado pelo deputado federal Marco Feliciano (PSC-SP). “Aquelas duas meninas têm que sair daqui algemadas!”, esbravejou o pastor-deputado. Seu mal-estar era um beijo lésbico entre duas jovens. O espaço não era um templo,mas uma festa na praça principal de São Sebastião, uma cidade do interior de São Paulo, cujo maior financiador foi a prefeitura do município. Uma festa ao ar livre,com dinheiro público, auto intitulada “semana socio cultural”, porém tendo um pastor como soberano do Estado. As ordens de Feliciano não bradaram apenas no microfone, mas na força policial que arrastou as garotas para a delegacia.

Poderia ter sido pior. Os números dizem que 350 mil pessoas passaram pela praça para se divertir ou louvar. Os gritos de ordem de Feliciano foram acompanhados por um coro de fiéis também ávidos por vingança. Não sei o que sentiam enquanto gritavam – se nojo das mulheres ou lealdade ao pastor.
As duas mulheres viveram momentos de pânico, e as marcas do corpo são algumas das cicatrizes da violência. Talvez porque a multidão fosse pacífica ou porque também se intimidou com a força policial, não houve um massacre animado pelos gritos do pastor ao microfone. A multidão se aglomerou como abutres em torno das duas garotas – uma apanhava enquanto resistia e gritava, a outra era arrastada.A imagem das duas garotas provoca compaixão pela juventude e pelos corpos miúdos :indefesas na carne, porém convencidas do direito de existir como desejam.

Erra quem resume o evento a um abuso da força policial. Essa é uma das peças mal postas na história, mas há outras que a antecedem. A primeira é o Estado brasileiro financiar eventos que se descrevem como culturais, mas cujas estrelas os assumem publicamente como religiosos.A segunda é o uso do espaço público para fins privados e segregacionistas – a  praça é um templo do mundo que recusa proprietários.A rua não é um templo religioso, e a Guarda Municipal não é a encarnação detorquemadas medievais;
seu papel é defender o patrimônio do município. Por fim, mas nãomenos importante, o Estado não reprime com força policial beijos entre duas mulheres. A verdade é que o Estado nem discrimina nem algema lésbicas por estarem no mundo.

O quadro é triste. Se a festa cultural financiada com dinheiro público era “um culto”,como descreveu Feliciano,é urgente uma investigação sobre a moralidade do financiamento. Se era uma festa cultural, nela todas as expressões da diversidade deveriam ser bem-vindas – alguns estavam lá para ouvir as pregações do pastor, outros para se divertir, outros poucos para protestar. O direito à liberdade de expressão é fundamental em nossa ordem política, e as duas moças, além de se beijarem, protestavam.Se há crenças religiosas que consideram o beijo de duas mulheres um ato de vilipendiação ou de baderna – palavras do pastor Feliciano –, essa é um liberdade de pensamento com limites claros de expressão pública. Jamais as duas moças poderiam ser reprimidas com a força policial por suas preferências existenciais. Jamais poderiam ter sido objeto de perseguição por um microfone financiado com recursos públicos.

Feliciano descreveu a praça como um“ ambiente religioso”. Seu argumento para perseguir as moças, convocar a polícia e expulsá-las da vida pública foi o de inadequação espacial: as moças estariam no lugar errado, na hora errada, fazendo algo muito errado. Ora, se há algo equivocado nessa história é que a praça não é um espaço religioso; portanto,o erro de geografia não foi das garotas,mas de quem se apropriou da rua comose fosse um templo. Mas a discussão sobre pessoas certas nos lugares certos é realmente interessante quando proposta pelo pastor, que se crê representante da democracia e é o principal líder dos interesses das minorias n Câmara dos Deputados. Se há mesmo pessoas certas para lugares certos, como entender que ele lidere a Comissão de Direitos Humanos na Câmara dos Deputados?

Feliciano pediu que as lésbicas,os gays ou os transexuais o esquecessem. “Eles estão me fortalecendo. Deviam ter um pouquinho de juízo e me esquecer”, disse o deputado- pastor imediatamente após as garotas serem algemadas em uma viatura policial. Se quer mesmo ser esquecido pelos grupos que não suporta que estejam na praça, Feliciano deve esquecer as próprias pretensões políticas, pois não sabe conviver com o espírito democrático. Seu papel como líder da Comissão de Direitos Humanos é conviver com os fora da norma religiosa.

Ao contrário do que o deputado-pastor imagina, a sociedade brasileira não é um evento gospel que o reconhece como soberano, nem as meninas são como “cachorrinhos latindo”, a metáfora que escolheu para descrevê-las enquanto eram arrastadas pela polícia. Não são latidos o que ouvimos nos últimos dias sobre o incidente, mas vozes de resistência à discriminação.
Vivemos em uma democracia em que lésbicas têm o pleno direito de viver na praça, de beijar-se em eventos culturais e de não temer a força das algemas como repressão religiosa.


DEBORA DINIZ É ANTROPÓLOGA, PROFESSORA DA
UNIVERSIDADE DE BRASÍLIA E PESQUISADORA
DA ANIS – INSTITUTO DE BIOÉTICA, DIREITOS
HUMANOS E GÊNERO

AFFONSO ROMANO DE SANT'ANNA » Primeiro sorriso de Minas‏

Estado de Minas: 22/09/2013 



Dizem que Juiz de Fora é a cidade carioca mais perto de Minas. Quando passa por lá um ônibus que vai do Rio para Belo Horizonte, o juiz-forano pergunta, puxando o xis: “Vai para Minasx?”.

Mais ainda: quando a estrada União Indústria foi corrigida, e, em vez de cinco horas, o Rio ficou a duas horas de viagem, o pessoal de Juiz de Fora começou a reclamar da maresia… E criaram a linha Parque Halfeld-Leblon.

Vou me lembrando dessas coisas amenas ao ler o que Jorge Sanglard (perpétuo secretário de Cultura daquela cidade) me envia sobre a violência crescente e a quantidade de mortes na Manchester Mineira.

Quando vivi lá, no Grupo Escolar Fernando Lobo e no Granbery cantávamos o hino da cidade: “Viva a Princesa de Minas, viva bela Juiz de Fora/ que caminha na vanguarda/ do progresso estrada afora”. Rachel Jardim cantava esse hino. Fernando Gabeira cantava esse hino. Querem mais? José Rubem Fonseca, Pedro Nava, Murilo Mendes e, claro, os Arcuris, responsáveis pelos prédios preciosos da cidade, o poeta Belmiro Braga, o historiador Dormevelly Nóbrega e as abastadas famílias Hargreaves e Penido cantavam assim.

Até minha mãe, que em Juiz de Fora nasceu, cantava orgulhosamente essa letra. Ela, seus irmãos e meu avô Affonso Romano, que veio da Itália no final do século 19. Morava lá na Tapera, mas cantava o mesmo hino. As fábricas de Juiz de Fora eram famosas. Minha mãe e suas irmãs trabalharam como operárias na Bernardo Mascarenhas. Os colégios religiosos de Juiz de Fora eram famosos, acolhiam jovens de todo o país. O Granbery teria sido a primeira universidade brasileira, não fossem as querelas religiosas.

Diante da notícia de que só este ano mais de 100 pessoas foram assassinadas ali, torna-se difícil cantar “Demos palmas, demos flores/ Aos encantos da princesa!/ Ela é rica de primores/ Da poesia e da beleza”. Não sei se o pintor Carlos Bracher e sua família ainda cantam assim. Os diretores do Pró-Música – a família Sousa Santos faz anualmente aquele inigualável festival de música colonial – entoam essa música. Não garanto que Itamar Franco (que tirou este país do buraco inflacionário) poderia cantar isso no outro mundo.

Quando de Juiz de Fora saí, em 1957, a cidade tinha algo em torno de 150 mil habitantes. Havia árvores e bondes na Avenida Rio Branco. Queria ser baleiro do Cine Central, tentava arrebatar as almas do “lamaçal do pecado” para o reino dos céus, pregando na Cachoeirinha e na Serrinha. Morria-se quase nada naquele tempo. As notícias policiais que o José Carlos Lery Guimarães apregova no seu Ronda policial eram muito ingênuas perto do que se ouve hoje. Não acontecia muita coisa. Os mais ousados iam ao Rio assistir às comédias eróticas de Walter Pinto. Eu queria ser locutor da PRB-3. Com cinco colegas criamos um grupo de poesia que foi notícia até no Rio: Pentágono 56. A coisa era tão pacífica que um desses poetas era investigador de polícia. Imaginem poesia e criminalidade juntas. Foi então que comecei a trabalhar na Gazeta Comercial e no Diário Mercantil. Frequentávamos o lindo Museu Mariano Procópio, remávamos em seu lago e comíamos jabuticaba na árvore.

A cidade tem hoje uma bela universidade, oferece misses para concursos de beleza e seus moradores ainda se sentem felizes de morar sob o Morro do Imperador. Mas queriam que houvesse menos mortes, menos violência.

Lembro-me da emoção provinciana no dia em que descobri que Manuel Bandeira havia escrito uns versos citando Juiz de Fora. Chama-se “Declaração de amor?”. Diz assim o poema: “Juiz de Fora! Juiz de Fora!/ Guardo entre as minhas recordações/ Mais amoráveis, mais repousantes/ Tuas manhãs! Um fundo de chácara na Rua Direita/ Coberto de trapoerabas./ Uma velha jabuticabeira cansada de doçura./ Tuas três horas da tarde.../ Tuas noites de cineminha namorisqueiro.../ Teu lindo parque senhorial mais Segundo Reinado/ do que a própria Quinta da Boa Vista.../ Teus bondes sem pressa dando voltas vadias... / Juiz de Fora! Juiz de Fora!/ Tu tão de dentro deste Brasil!/ Tão docemente provinciana.../ Primeiro sorriso de Minas Gerais!”.

Choro para o mundo - Eduardo Tristão Girão

O pianista italiano Stefano Bollani e o bandolinista brasileiro Hamilton de Holanda lançam CD pelo prestigiado selo ECM, com registro ao vivo de temas instrumentais dos dois países



Eduardo Tristão Girão


Estado de Minas: 22/09/2013 


Stefano Bollani e Hamilton de Holanda criaram sintonia que tem agradado ao público nos dois lados do Atlântico   (Tom Cabral/Divulgação  )
Stefano Bollani e Hamilton de Holanda criaram sintonia que tem agradado ao público nos dois lados do Atlântico

Já consagrado no Brasil como maior bandolinista da atualidade, o carioca Hamilton de Holanda parte, agora, para a conquista definitiva do prestígio internacional. As viagens para participar de festivais mundo afora já fazem parte de seu cotidiano, mas dois dos três discos que esse artista em plena forma lançou este ano sinalizam mais claramente essa direção. A começar por O que será, gravado com o pianista italiano Stefano Bollani e lançado pela gravadora alemã ECM, ainda hoje referência mundial em música instrumental.

Em apresentações feitas para lançar o disco – no Brasil o duo estreou em Olinda (PE), no começo do mês – o repertório foi essencialmente música brasileira: de Chico Buarque (Beatriz) a Egberto Gismonti (Lôro), passando por Pixinguinha (1x0, Segura ele e Rosa), Cartola (a inspiradíssima versão de As rosas não falam) e Baden Powell com Vinicius de Moraes (Canto de Ossanha). Essa é a essência do disco O que será, que conta também com duas boas peças autorais, Il barbone de Siviglia (do italiano) e Caprichos de Espanha (do brasileiro). A desenvoltura do artista no bandolim de 10 cordas é impressionante.

Bollani, que Hamilton conheceu há cinco anos num festival italiano, faz graça o tempo todo (além de tocar muito bem). Brinca na hora de ajustar a altura de sua banqueta, ao esticar partitura quilométrica sobre o piano e ao fazer fundo musical sentimental enquanto o bandolinista confessa se sentir feliz por tocar na terra de seus pais. Por meio dele, que já tem discos lançados pela ECM, surgiu a oportunidade de lançar o registro do show que fizeram ano passado na Bélgica pela gravadora, que tem sobretudo discos de estúdio em seu catálogo.

“Ele é um cara muito bem-humorado, praticamente um humorista. Quando morei na França, ganhei um disco dele no qual canta Trem das onze. Virei fã. Pelo ritmo que ele tem, você pensa que é um brasileiro tocando, é impressionante. Ele gosta muito de MPB e choro. Tem a mente aberta, em primeiro lugar. Tem técnica e harmonia do nível dos norte-americanos considerados top do jazz. E tem esse humor, que deixa as coisas leves. Mas com profundidade, como demonstra em Oblivión, peça de Piazzolla que gravamos, cheia de sentimento”, elogia.

Boa companhia Pouco depois do primeiro show que fizeram, em 2008, o empresário do italiano logo marcou série de apresentações pela Europa. A performance captada em O que será foi das últimas, na Antuérpia (Bélgica), em agosto do ano passado. Bollani resolveu mostrar o material para Manfred Eicher, fundador e produtor de todos os discos da ECM, que não quis lapidar a parceria dos dois músicos em estúdio, mas lançar do jeito que a conheceu, ou seja, ao vivo. Tudo aconteceu tão rápido que Hamilton nem sequer conheceu pessoalmente Eicher.

“Sinto ter chegado a uma gravadora de que gosto muito, de artistas de que gosto demais. Sei o Köln Concert, do Keith Jarrett, de cor. E estou nessa gravadora tocando música brasileira, que é o que me deixa mais feliz. Não estou inventando nada para tocar lá. O que toco aqui e lá é a mesma coisa”, comemora o bandolinista. O repertório dos dois não para de crescer e não são descartadas as possibilidades de novos shows, discos e até um DVD. “E sou eu que fico insistindo para incluirmos músicas italianas”, revela Hamilton.


Música para Portinari

Publicação: 22/09/2013 04:00
Paralelamente, o bandolinista se desdobra entre muitos outros projetos. Dias antes de estrear com Bollani em Olinda, esteve em Belo Horizonte para lançar outro disco, Mundo de Pixinguinha, no qual revisita a obra do mestre do choro em duos com convidados de diferentes origens, como o trompetista norte-americano Wynton Marsalis, os pianistas cubanos Chucho Valdés e Omar Sosa, o acordeonista francês Richard Galliano, o pianista português Mario Laginha e o próprio Stefano Bollani, além de André Mehmari (piano), Carlos Malta (sax tenor) e Odette Ernest Dias (flauta), esses três últimos residentes no Brasil.

Sosa provavelmente voltará a se reunir com Hamilton, como revela o bandolinista: “Vamos fazer algo juntos, como uma turnê pelos Estados Unidos. Em algum momento vai rolar algo mais profundo com ele, pois me liguei muito a ele. É um cara mais da direção, que sabe dos elementos todos que a música tem e pode ter, e viaja naquilo, pensando em arranjo, enxergando de fora. Sem falar no desenvolvimento rítmico, que te deixa sem chão”.

Também em desenvolvimento está a colaboração com Milton Nascimento, que deverá gravar com o quinteto de Hamilton, formado por Daniel Santiago (violão), Gabriel Grossi (gaita), André Vasconcellos (baixo acústico) e Márcio Bahia (bateria). A aproximação entre os dois começou quando Bituca o convidou para compor temas inspirados nos painéis de Candido Portinari, que compõem a mostra Guerra e paz, de Portinari – que será trazida para Belo Horizonte em breve, marcando a reinauguração do Cine Brasil.

Hamilton quer manter a média de, pelo menos, dois álbuns lançados por ano. Sem descuidar da qualidade em detrimento da quantidade, o artista vem mantendo alto o nível de seus trabalhos e, em relação a isso, relembra com prazer a reclamação (bem-humorada) que ouviu recentemente de um fã: “Não tenho tempo nem dinheiro para comprar todos os seus discos”.



No ritmo dos orixás


O pianista cubano Omar Sosa está à vontade entre os músicos brasileiros   (Beto Figueroa/Divulgação  )
O pianista cubano Omar Sosa está à vontade entre os músicos brasileiros


Mundo de Pixinguinha, disco de Hamilton de Holanda do qual Omar Sosa participa, não é o único namoro do pianista cubano com a música brasileira. Ele também esteve em Olinda este mês para tocar no festival Mimo e lá conheceu os músicos do terreiro Xambá, com quem imediatamente decidiu gravar um disco ano que vem, já batizado de Dos manos. Será baseado na fusão de elementos da santería cubana com os da música dos pernambucanos.

Sosa justifica seu entusiasmo: “Temos os mesmo orixás e os ritmos acabam sendo similares, apesar de os instrumentos serem diferentes. Não é nada novo para mim. Sou santeiro, religioso e é como se estivesse na minha casa de santo, que aqui se chama terreiro. Era como se estivesse no bairro de minha família, em Camaguey. Escutei algo novo em termos melódicos, mas o mesmo em essência. Me impressionei em ver meninos de 8, 9 anos tocando incrivelmente como profissionais, certos de que essa é a verdade, o caminho, a luz”.

Fora isso, o pianista, que mora em Barcelona, na Espanha, viajará ainda este ano para a China, onde gravará com Wu Tong, músico local que toca sheng (instrumento de sopro). É apenas parte dos trabalhos para conceber Águas transparentes, disco que terá também convidados do Mali e representantes das tradições afro-cubana e afro-venezuelana – também é estudada a participação de cantoras, como a norte-americana Cassandra Wilson.

O disco mais recente de Sosa, Eggun, foi a base do repertório de sua apresentação em Olinda. O trabalho é um tributo ao lendário álbum Kind of blue, do trompetista Miles Davis – mas sem releitura de uma música sequer. “Colhi fragmentos de solos de Miles, Cannonball Adderley e John Coltrane para criar as melodias. Todas são novas, mas não são, pois foram criadas a partir de notas que eles já tocaram. Criei harmonias respeitando a essência do disco e também o tempo dos temas, pois é uma música contemplativa”, explica Sosa.

Encontro marcado

O humorístico Pé na cova vai mudar para as noites de terça-feira, na RedeGlobo. Volta do seriado à programação será dia 1º de outubro, logo após Tapas & beijos



Estado de Minas: 22/09/2013 


A turma de Pé na cova se reuniu no Projac, no Rio de Janeiro, para a apresentação da segunda temporada. E com algumas caras novas (Rede Globo/Divulgação-4/9/13 )
A turma de Pé na cova se reuniu no Projac, no Rio de Janeiro, para a apresentação da segunda temporada. E com algumas caras novas

Em um ambiente decorado com coroas de flores, caixões e algumas caveiras divertidamente vestidas como os personagens da trama, o elenco da série global Pé na cova se reuniu com a imprensa no Projac, no Rio de Janeiro, para apresentar a segunda temporada do seriado, que estreia dia 1º de outubro. Agora, o programa protagonizado por Miguel Falabella será exibido às terças-feiras, logo depois de Tapas & beijos. As histórias da turma da funerária do Irajá, subúrbio carioca, chegam para dar um gostinho de “quero mais”, pois a terceira temporada já está praticamente garantida na programação 2014.

Dono de um humor ácido, o autor (e ator) Miguel Falabella comemora a aceitação do público. “Estou feliz. Acho que a emissora entendeu a proposta. O programa causou uma estranheza quando chegou, porque eu propus uma linguagem nova, diferente do que vinha fazendo ao longo desses anos na televisão. Quis mostrar um Brasil mais profundo, os esquecidos, aqueles de quem ninguém lembra, mas que, infelizmente, são a grande maioria no nosso país”, comenta o artista multimídia, que na trama dá vida ao personagem Gedivan Pereira, conhecido como Ruço.

“SOU POPULAR” Falabella deixa claro que ele não faz televisão para as classes mais altas e que Pé na cova é voltado para o “povão”. “Eu sou popular e o povão entende a crítica. O Ruço, na verdade, é um homem chocado como mundo que o rodeia. Ele não acha bonito o filho ser um político corrupto nem a filha tirar a roupa na internet. Ele não acha bom a Darlene (Marília Pêra) ser uma ignorante.”

Na segunda temporada, a maioria dos personagens continua tocando sua vida sem muitas novidades. No entanto, Darlene está com problemas. A atual mulher de Ruço, Abigail (Lorena Comparato), não permite que ela a ajude a cuidar do filho do casal. Além disso, a maquiadora oficial dos defuntos da F. U. I. (Funerária Unidos do Irajá) acaba não podendo ficar no emprego público que seu filho, Alessanderson (Daniel Torres), arruma para ela porque não tem diploma. “A personagem tem dimensão dramática, mas também tem muito humor”, diz Marília Pêra. “O Miguel (Falabella) permite esse passeio pelo drama e pelo humor. É uma alegria enorme estar nesta segunda temporada e já ouvindo falar que vai ter uma terceira,”

Entre as caras novas que vão aparecer no humorístico está o pequeno Gabriel Lima, que vai interpretar Sermancino, um menino adotado por Tamanco (Mart’nália) e Odete Roitman (Luma Costa). O garoto, aliás, vem consolidar a união homossexual das duas e acaba trazendo mais doçura ao dia a dia da filha de Ruço, que vai impedir o menino de ver seu trabalho – Odete Roitman faz streaptease na frente de uma webcam e se exibe mundo afora pela internet. Para esconder o jogo do filho, ela continuará alugando seu antigo quarto na casa do pai, como se fosse um escritório. “A Odete sempre foi uma personagem muito imperativa. Ela é muito mandona, principalmente com o Tamanco. Com o pai, sempre agiu como aquela pessoa que gosta de confusão. Já com o filho, a personagem mostra um outro lado, mais maternal e que nem ela mesma sabia que tinha. Com ele, Odete é mais mansa. Claro que ela não perde seu jeito meio escrachado, mas tem um carinho especial ao falar com o filho”, explica Luma Costa.

Além de Sermancino, Clécio (Magno Bandarz) entra na história. Ele surge como um jovem que rouba um pão no trailer de lanches das irmãs Soninja (Karin Hils) e Giussandra (Karina Marthin). Ruço salvará o rapaz de ser linchado e o coloca para trabalhar na oficina. O que o dono da funerária não imagina é que o novato vai acabar se apaixonando por sua mulher, Abigail, e tudo leva a crer que os amantes vão acabar fugindo no final desta temporada.

“Eu sou popular e o povão entende a crítica” - Miguel Falabella





Entrevista - Miguel Falabella
"Vou morrer escrevendo"

Publicação: 22/09/2013 04:00


Polêmico, crítico, dono de um humor ácido, Miguel Falabella coleciona adjetivos, mas o que mais se encaixa no perfil do ator e autor é ser popular. Ele afirma que costuma dar trela para todo mundo que se aproxima para uma conversinha. E é nesses bate-papos que ele se inspira para criar personagens e falas para Pé na cova.

 Como você vê a recepção do público a Pé na cova? Como é seu contato com o público nas ruas? As pessoas sempre o reconhecem?
Da maneira deles, sim. Outro dia, aconteceu uma coisa muito engraçada e essas coisas me mostram que eu estou no caminho certo. Saí da academia, aí veio um homem e me disse assim: “Você é grande, Lulu Santos”. E ele me deu um abraço. Eu pensei: “isso é Pé na cova”. Os caras não sabem absolutamente nada. Vejo isso também na minha casa, com as minhas secretárias. Quando estão falando de novela, não sabem nada. Não sei como elas acompanham. Estão contando o capítulo uma para a outra, no dia seguinte, e até entendem a história, mas confundem os atores todos. Eu pergunto se elas estão loucas.

As pessoas trocam o seu nome sempre?
Eu sou tudo: Sabatella, Antonelli, Dolabella... Ontem, gravamos uma cena que mostra bem isso. Meu personagem (o Ruço) diz: “Eu tive um problema na ‘rótula’ (próstata). Inclusive, todo homem, depois de uma certa idade, tem que fazer um exame de ‘rótula’. Aí, alguém me corrige. “Não é ‘rótula’”. É ‘prótese’”. Essa indigência, que nós vemos hoje em dia, é aterradora. As pessoas escrevem de uma forma que eu acho que não fizeram sequer o primário. É um país que abandonou a educação, literalmente. Pé na cova mostra essa fatia da população que é relegada à marginalidade total como cidadãos. Só que é visto pela ótica do humor.

Você acha que as classes mais altas reconhecem essa falta de cidadania do povo que é retratada no programa?
Eu não faço para a classe alta. Nunca fiz nada para ela. Faço televisão para o povão. E vou dizer mais: o povão entende a crítica. Eles se veem, entendendo que não deve ser assim. O Ruço, na verdade, que é o fiel da balança na história, é um observador e é um homem chocado com o mundo que o rodeia. Ele não acha bonito o filho ser um político corrupto, não acha bonito a filha tirar a roupa na internet, ele não acha bom a Darlene (Marília Pêra) ser uma ignorante.

O que a segunda temporada traz de diferente da primeira?
Acho que é a mesma coisa. Temos um cuidado, cada vez maior, com a trilha sonora. Essa coisa de resgatar pérolas que estão no inconsciente coletivo. Quando você escuta uma música que faz parte da sua vida, isso o toca.

Há um tempo, você tinha dito que ia parar de escrever, certo?
Não. Eu disse que ia parar de atuar e vou, só que ainda não consegui, mas de escrever não. Vou morrer escrevendo. Vou morrer, inclusive, sentado no computador escrevendo. Vou enjoar e dizer “fui” (risos).

Caras & Bocas Simone Castro

Estado de Minas: 22/09/2013 



 ( Raphael Dias/TV Globo  )


Lá vai a noiva

O casamento de Paloma (Paolla Oliveira) e Bruno (Malvino Salvador) deve movimentar os próximos capítulos de Amor à vida (Globo). De família rica, a médica, em comum acordo com o noivo, opta por uma cerimônia simples. Mas nem por isso menos elegante. O mesmo vale para a festa, que dispensa o luxo da família Khoury para ganhar ares de uma recepção modesta, oferecida pelo noivo. Além disso, por causa do clima de desavença entre seus pais, Paloma sente que não há clima para uma grande confraternização. Mas do que ela não abre mão de jeito nenhum é de um belo vestido de noiva. A médica escolhe um look que valoriza seu estilo: natural, delicado, sutil e refinado, sem ser rebuscado nem suntuoso (foto). Uma renda suave contorna a pele de Paloma, que fica à mostra. O tule ajuda a compor uma silhueta romântica e leve. Mas, claro, sem deixar de lado a sensualidade, que tem a medida certa por ser um modelo cuja forma é justa ao corpo e deixa os ombros descobertos. O arranjo do cabelo é uma malha de renda delicada de metal, feita de fios de cobre. O acessório resgata o estilo “hippie chic” que Paloma sempre usa em detalhes de seu guarda-roupa.

VIAÇÃO CIPÓ CONTINUA LEMBRANDO OS 10 ANOS


Passagem por Curvelo, as paisagens de Itaguara e a bela cidade de Luminárias são alguns dos destaques da Viação Cipó, hoje, às 10h, na Alterosa. É mais uma edição comemorativa dos 10 anos do programa. Desta vez são relembrados os destinos que foram ao ar em 2009. Confira ainda uma receita inédita e a música de Hugo & Nando.

BAIRROS BOÊMIOS NA ROTA DO BEM CULTURAL

O terceiro episódio da série “Da boemia à Liberdade” continua a trajetória pela Rua da Bahia que sai da área central da cidade e atravessa os bairros de Lourdes e Santo Antônio, em seu trecho final. Ao se aproximar da Praça da Liberdade, a rua fica menos agitada e irreverente e se torna mais institucional e familiar. E o telespectador percebe que, por entre modernos edifícios residenciais, restam alguns casarões preservados, como o da sede da Academia Mineira de Letras. É no Bem cultural deste domingo, às 19h, na Rede Minas.

UMA BRASILEIRA ESTRELA  NOVELA EM PORTUGAL

Estreia, hoje, em Portugal, pela TVI, a novela Belmonte, gravada em parte no Brasil e estrelada pela brasileira Graziella Schimitt, estrela de produções como  Amor e revolução, do SBT/Alterosa, e Malhação, da Globo. Uitas das primeiras cenas da novela foram feitas no Pantanal, mostrando a trajetória da protagonista Paula. Ela deixa o país e vai para a Europa atrás da herança deixada pelo pai. Mas terá que enfrentar muitos inimigos.

JOÃO NETO & FREDERICO  FAZEM SHOW NA REDETV!


O programa Ritmo Brasil, hoje, às 18h, na RedeTV!, registra os bastidores do show de lançamento do CD Indecifrável, de João Neto & Frederico. Depois do sucesso do CD Ao vivo em Palmas, a dupla apresentou em São Paulo as canções do disco, que marca os sete anos de carreira dos irmãos. Durante a entrevista, os sertanejos falaram sobre a principal mensagem do novo álbum, a escolha do repertório, a participação de Jorge & Mateus na música Clichê e o quanto a parceria representa para eles.

APRESENTADOR ASSUME ATRAÇÃO INTERNACIONAL

Pedro Andrade, que compõe a bancada do Manhattan connection, da Globo News (TV paga), vai apresentar um programa diário em novo canal da rede americana ABC. Batizada de The morning show, a atração irá ao ar ao vivo, no ABC Fusion. “Acredito que há uma carência de cobertura brasileira na capital latino-americana dos Estados Unidos. Tenho certeza de que essa empreitada me proporcionará uma plataforma para desempenhar meu trabalho com mais exposição e infraestrutura em todos os sentidos”, disse Pedro, que vai se mudar para Miami, onde está sediada a nova emissora, que tem como público alvo latinos, asiáticos e imigrantes que vivem nos Estados Unidos.

ELKE MARAVILHA FICA DE FRENTE COM GABI

 (Carol Soares/SBT)

Marília Gabriela recebe Elke Maravilha (foto) neste domingo, à meia noite, no De frente com Gabi, no SBT/Alterosa. Aos 68 anos, a convidada relembra sua trajetória, que já soma quatro décadas na TV brasileira. E conta histórias da vida pessoal. Nascida na Rússia, mas naturalizada alemã, a modelo e atriz foi casada oito vezes. Um dos maridos, segundo ela, era psicopata e, por isso, a união durou apenas dois meses. “Eu acordava de madrugada e ele estava no sofá, vestido de Elke, com uma faca na mão”, contou. Atualmente, Elke está solteira e garante não sentir mais necessidade de fazer sexo. Ela admite ter problemas com o corpo: “Não gosto de ficar nua nem para mim. Fico constrangida comigo mesma”. Já sobre a idade, não tem papas na língua. “Já estou fazendo hora extra. Daqui a pouco vou morrer”, afirma. Em tempo: também hoje, às 22h, no GNT (TV paga), o Marília Gabriela entrevista recebe a atriz Débora Falabella, que fala da carreira, do relacionamento com Murilo Benício, filhos, planos e muito mais.

Eduardo Almeida Reis - Alzheimer‏

Escolheria a mais interessante das especialidades médicas, a psiquiatria, que até pode diagnosticar e controlar o maluco, mas não cura


Eduardo Almeida Reis

Estado de Minas: 22/09/2013 





Fiquei tão assustado com a matéria “Os sinais inglórios da demência”, de Bruna Sensève, publicada em nossa edição de 20 de agosto, informando que os cientistas acham que adultos com dificuldade para reconhecer famosos têm mais riscos de desenvolver problemas neurodegenerativos.

Não tive coragem de passar das primeiras linhas, porque sou adulto e só raramente reconheço um famoso. Pior que isso: conheço poucos famosos. Dou-lhes exemplo recente, quando um amigo, dizendo-se primo de Nanda Costa, recomendou-me a compra de uma edição de Playboy em que sua priminha aparece na capa fumando um Cohiba.

Influenciável que sou, fiz a besteira de investir R$ 12,90 na compra da revista para ver dezenas de fotos de Nanda, com sua bela juba pubiana, em diversos ambientes paupérrimos de Havana, Cuba. Barbearias, botequins, desvãos caindo aos pedaços e a moça lá, nua em pelo exibindo a mata atlântica pubiana para cubanos perplexos. Nada tenho contra pilosodades axilares ou pubianas, só detesto tatuagens, mas achei que a prima do mineiro rico exagerou nos ouros em colares, pulseiras e enfeites corporais. Razão tinha aquele presidente que vocês elegeram: “Quanto menas joia, melhor”. Não entendi o bizu do ensaio fotográfico naquela ambientação deprimente e agora tenho um problema para resolver: como descartar a revista? Ninguém vai entender o gasto de R$ 12,90 de um sujeito sério, quase idoso, que não nada em ouro.

Só posso dizer uma coisa: ainda hoje, caminhado em anos, tenho apalpado, em carne e osso, cidadãs mil vezes melhores que a prima do homem. Falei mil vezes? Esquece. Bote um milhão de vezes e pode acreditar no seu philosopho.

Vídeo


Circula por aí um vídeo BBC One What a wonderful world, que dura exatos dois minutos e é uma beleza. É o tipo do vídeo ideal para começar o dia, sobretudo e principalmente numa sexta-feira em que você acorda, manhã linda, sem uma nuvem no céu muito azul, e se surpreende no banheiro segurando a voz para não assustar o edifício com uma ária do Rigoletto. Pouco depois, na cozinha, você leva um susto ao descobrir que toma o seu café cantarolando animadíssimo: “Pirulito que bate-bate, pirulito que já bateu, quem gosta de mim é ela, quem gosta dela sou eu.”

É por isso que vivo lamentando o fato de não ter estudado medicina. Escolheria a mais interessante das especialidades médicas, a psiquiatria, que até pode diagnosticar e controlar o maluco, mas não cura. Basta dizer que o imbecil, que cantava na cozinha o pirulito que bate-bate, era o mesmo que urrava no banheiro: “Solo, difforme, povero/ Per compassion mi amò/ Moria le zolle coprano/ Lievi quel capo amato/ Sola or tu resti al misero/ o Dio, sii ringraziato!”.

Se o barítono solta a voz no ringraziato acorda o bairro inteiro. Tudo bem, meu registro é de baixo cantante, mas posso me arriscar no registro abaritonado quando não há ninguém por perto. Mais adiante, quando Gilda pergunta se o pai tem pátria, parentes, amigos, Rigoletto responde: “Culto, famiglia, patria/ Il mio universo è in te!”.

Vou abrir o vidro da janela, que são 8 horas em ponto e o dia está cada vez mais bonito. Compete ao psiquiatra Arnaldo Madruga analisar o que vai contado nesse belo suelto para confirmar que o philosopho seu amigo é um caso perdido.

Antes mesmo de publicar essas linhas, acho que matei a charada num processo de autoanálise. Solo, povero, vecchio – por compaixão o sujeito pode ser amado por uma princesa de que até dos deuses duvidam. Quanto ao pirulito que bate-bate e, sobretudo, o pirulito que já bateu, admitamos que esse negócio de voltar à infância é coisa de quase idoso.

O mundo é uma bola

22 de setembro de 490 a.C. – Dario, rei dos Persas, é derrotado pelo Exército grego na Batalha de Maratona. Em 66, o imperador Nero apresenta a Legião I Italica. Em 1762, casamento de Catarina, a Grande, aliás Sophie Friederike Auguste von Anhalt-Zerbst (1729–1796), que assumiria o poder depois do complô que depôs seu marido, o czar Pedro III. Mulher que depõe marido não merece nossa atenção, sempre voltada para as mulheres que amam e respeitam seus maridos e senhores.

Em 1862, Abraham Lincoln liberta os escravos dos Estados Confederados da América. Em 1866, na Guerra do Paraguai, Batalha de Currupaiti. Resultado: com 47 mortos, vitória do Paraguai. Brasileiros e argentinos tiveram 1.395 mortos.

Em 1957, o médico François Duvalier, o Papa Doc, de confissão religiosa vodu, é eleito presidente do Haiti, governando o país até morrer, em 1971, quando foi substituído por seu filho Jean-Claude Duvalier, o Baby Doc, também médico, parece que vivo, forte e rico até hoje morando na Europa. Papa Doc reescreveu a Constituição e se tornou presidente vitalício. Baby Doc fugiu para o exílio na França em 1985. O mundo inteiro achava que o Haiti melhoraria; piorou.

Em 1975, Gerald Ford, presidente dos EUA, escapa de ser morto por Sara Jane More, que tinha problemas psicológicos e foi condenada à prisão perpétua, mas está em liberdade condicional desde 2007.

Hoje é o Dia Mundial sem Carro e o Dia do Sorvete.

Ruminanças

“Quem está para morrer sempre sói falar verdades.” (Cervantes, 1547-1616)

Especialistas esclarecem mitos e verdades sobre a terapia de reposição hormonal‏

Mulher de fases 

Especialistas esclarecem mitos e verdades sobre a terapia de reposição hormonal, ainda rodeada de dúvidas e especulações. Colégio americano atualiza três recomendações 


Lilian Monteiro

Estado de Minas: 22/09/2013


 (istockphoto)

 
Colégio Americano de Ginecologia e Obstetrícia (Acog, na sigla em inglês) divulgou recentemente três normativas relacionadas à terapia hormonal. São informações atualizadas internacionalmente sobre o momento da vida da mulher conhecido como climatério: entre os 45 e 55 anos, período de transição ao sair da fase reprodutiva para a não reprodutiva, da falência dos ovários com a interrupção da produção dos hormônios, estrogênio e progesterona. Essa etapa é considerada controversa, já que para algumas mulheres não traz grandes desconfortos, mas para outras é uma batalha diária contra sintomas intensos – como altas ondas de calor –, que comprometem a qualidade de vida e o bem-estar.

O ginecologista e professor da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp) Ivaldo Silva explica que o primeiro ponto das normativas é que, depois de mais de 10 anos do estudo Women’s Health Initiative (WHI), “viu-se que o uso da dose mais baixa na terapia hormonal (TH) é eficaz. O que significa, numa analogia com o anticoncepcional, que a cada ano, mesmo em menor dose, ainda evita filhos.” O estudo foi divulgado no Journal of the American Medical Association,  contou com a participação de 27 mil voluntárias norte-americanas com o objetivo de examinar os benefícios e os riscos do tratamento de reposição hormonal e teve detalhada análise da sociedade médica internacional.


Silva acompanhou a vinda do especialista norte-americano e professor do Departamento de Ginecologia e Obstetrícia e Ginecologia da escola de medicina da Universidade de Nova York, nos Estados Unidos, Frederick Naftolin, ao Brasil.
O ginecologista reforça ainda que constatou-se que “as mulheres que faziam a TH estavam mais protegidas do que as que não usavam, tinham melhor qualidade de vida”. Por outro lado, ele chama a atenção ao enfatizar que “qualquer medicamento causa efeito colateral. O importante é escolher a melhor terapia para o paciente, que é sempre individualizado, e também por ter aqueles que talvez não precisem.”


 Outra constatação importante do colégio americano, segundo Ivaldo Silva, é que “não existe mais parar o tratamento de TH depois de cinco ou sete anos. A recomendação é suspender só depois de uma avaliação do médico com o paciente. Antes cinco anos eram um tempo prestabelecido, mas foram constatados benefícios para as mulheres que fazem o uso contínuo da terapia. Se têm necessidade não tem por que parar. Se há resultado, é importante manter. A análise individualizada do paciente, que é fundamental, com um conjunto de fatores, vai determinar a continuidade ou não. Enquanto o benefício for maior que o risco, use. É a normativa.”

VIDA ATIVA A ginecologista e diretora da Associação de Ginecologistas e Obstetras de Minas Gerais (Sogimig) Cláudia Teixeira da Costa Lodi reconhece que essa fase aflige as mulheres, principalmente, porque “cada vez mais ativas profissionalmente e com o aumento da expectativa de vida, elas vão passar um terço da vida no período da pós-menopausa com ausência da produção de hormônios esteroides (ovarianos). Consequentemente, começam a ter sinais e sintomas como os fogachos (calores, que tendem a desaparecer aproximadamente dentro de dois a três anos pós-menopausa), que interferem no dia a dia, assim como a irritabilidade e a insônia”.


Cláudia explica que, para tornar a fase ainda mais complicada,  com o passar dos anos a vagina fica menos lubrificada, podendo levar a dificuldade na relação sexual. “Há ainda uma diminuição da libido, do desejo da relação”. Num terceiro estágio, no climatério mais tardio, a ginecologista enfatiza que “pode haver osteoporose e  doenças cardiovasculares”, essas se tornam mais frequentes porque, antes do encerramento da produção de hormônios, eles atuavam como protetores. “Depois da menopausa, a incidência de doenças cardiovasculares passa a ser maior nas mulheres, igualando-se à em homens.”


Por causa desses fatores foi que começou a terapia hormonal, que propicia melhor qualidade de vida nessa fase, com proteção para as doenças. “Para usar a TH é importantíssimo que a mulher faça avaliação prévia com um ginecologista para ver se tem condições de usar, já que o ideal é que essa reposição se inicie o mais precocemente possível para ter maiores benefícios. Parou de menstruar, começa a repor.”


Cláudia avisa que a avaliação é fundamental porque existem fatores contraindicados para a terapêutica. Ela enumera cinco principais: “Histórico familiar de câncer de mama (mãe, irmã ou filha com câncer), doenças tromboembólicas (trombose) recente, insuficiência renal e hepática grave, tabagismo e infarto agudo do miocárdio recente, além de outras que devem ser avaliadas com exames previamente.”


A médica enfatiza que é imprescindível que a mulher que estiver fazendo a reposição mantenha controle ginecológico periódico e esteja sempre em dia com exames como mamografia, prevenção do câncer do colo do útero, sanguíneos e avaliação do perfil lipídico (colesterol e triglicérides). Ela defende ainda que uma terapêutica hormonal “deve ser individualizada”. Ou seja, cada paciente é única e precisa ser tratada como tal. É importante observar caso a caso, já que as necessidades e características mudam para cada mulher. “E devem também ser discutidos entre médico e paciente os fatores de riscos e os benefícios. Hoje, há no mercado vários medicamentos e formas de administração.”
 
OUTROS RECURSOS Quanto à famosa pesquisa Women’s Health Initiative, que concluiu que o tratamento com hormônios potencializava os riscos de surgimento de doenças como câncer de mama, infarto e derrame, ela é contestada por  Cláudia Lodi. “O estudo foi feito com mulheres mais velhas, com doenças cardiovasculares preestabelecidas, fumantes e sem critério adequado de seleção. Por isso, não é um estudo que possa direcionar nossa conduta. A verdade é que todo tratamento tem riscos e benefícios.” A especialista explica que as pacientes com contraindicação absoluta ao uso de THs vão lançar mão de outros recursos, que são importantes serem adotados por quem faz a reposição. “As medidas são mudança de hábito de vida, atividade física frequente e suplementação de cálcio se necessário. No caso da osteoporose vale destacar que há outros tratamentos que não a reposição.”



z Mitos e
verdades
 
Mitos
TH não causa câncer
Não existe risco de gravidez
Não aumenta o peso, não há ganho de peso

 
Verdades
Melhora a qualidade de vida das mulheres, como o controle dos calores e da insônia
Protege contra a osteoporose
Melhora a libido e a resposta sexual



Leia amanhã: Homem também faz reposição hormonal 

Entre carrascos e quadrilheiros - Suzana Singer [folha ombudsman]

Na quinta-feira de Cinzas que baixou na mídia depois que alguns condenados do mensalão ganharam o direito a mais uma defesa, a Folha destoou do bloco dos indignados.
No editorial "Não é pizza", o jornal aprova o voto do ministro Celso de Mello e defende a tese de que, apesar da frustração pelo "processo longuíssimo", é melhor isso que o arbítrio. "Seria mais simples se a Justiça se dividisse entre linchadores e comparsas, entre carrascos e quadrilheiros. Felizmente, as instituições republicanas e o Estado democrático não se resumem a tal esquema -por mais alto que seja o preço a pagar, em tempo, tolerância e paciência, em função disso."
Ao recusar a tese de que dar mais uma chance aos réus é uma afronta à democracia, a Folha ficou praticamente sozinha. A manchete do "Globo" era um lamento: "A Justiça tarda: STF mantém impunidade de mensaleiros até 2014".
O "Agora", jornal popular editado pela mesma empresa que a Folha, publicou uma grande foto de Mello rindo ao lado do título "Quadrilha do mensalão tem nova chance". Seu principal concorrente, o "Diário de S. Paulo", desejou "Feliz Natal, mensaleiros!", já que as prisões devem ficar para 2014.
O "Correio Braziliense" foi de "Aos vencedores, a pizza". No site da "Veja", "Mello não evoluiu: mensaleiros terão novo julgamento".
O "Estado" fez uma cobertura neutra, mas afirmou, em editorial, que, caso aceitasse os embargos infringentes, o Supremo Tribunal Federal se tornaria "objeto de profundo descrédito", o que acarretaria "grave risco (...) de enfraquecimento institucional da democracia".
O jornal não foi o único a lançar sobre os ombros do ministro a responsabilidade sobre o futuro da nação. "Eis o homem", dizia a capa da "Veja" do domingo passado, sobre uma foto de Celso de Mello e com um aviso de que ele "corre o risco de ser crucificado".
Há muito não se via tamanha pressão sobre uma figura pública. Boa parte da imprensa rasgou a fantasia, deixou de lado a preocupação com a neutralidade, em nome de um objetivo maior: impedir que o julgamento continuasse, porque equivaleria a celebrar a impunidade de corruptos.
A Folha não entrou nessa dança, mas exerceu sua cota de pressão com a pesquisa sobre o julgamento, divulgada na quarta-feira, o "dia D". O levantamento mostrou que, em São Paulo, só 50% sabiam que o STF decidiria sobre os embargos -19% estavam bem informados.
A análise escrita pelos diretores do Datafolha alertava para o alto grau de desconhecimento do processo entre os entrevistados, mas o jornal destacou apenas que a maioria (55%) era contra prolongar o julgamento. O número não combinava com os 79% que defenderam a prisão imediata dos réus, mostrando que a barafunda jurídica não foi bem digerida pela população.
Apenas na elite, entre os mais escolarizados, havia uma maioria clara (72%) torcendo para que Celso de Mello não desse uma nova oportunidade aos condenados.
O tal "clamor popular", citado pelo próprio ministro e evocado por tantos porta-vozes da "opinião pública", não existiu. Tanto que as ruas ficaram vazias, salvo o protesto de 30 entregadores de pizza no STF e o luto de cinco atrizes globais.
Por outro lado, não é correto dizer que a população acha que o julgamento foi um processo político, como argumentam os petistas. Praticamente todo o mundo acredita que o mensalão foi um caso de corrupção e não de caixa 2 (90%).
A verdade não está nem com os "carrascos" nem com os "quadrilheiros", como definiu o editorial da Folha, mas em algum lugar no meio do caminho, como costuma ser.
A PEGADINHA DO CHIQUINHO
O playboy Chiquinho Scarpa pregou uma peça na imprensa. Nas redes sociais, avisou que enterraria seu carro predileto, um Bentley avaliado em R$ 1,5 milhão. Divulgou uma foto em que aparece ao lado de uma cova, no jardim de sua casa, com o carro ao fundo.
Os jornalistas morderam a isca. A Folha deu a notícia na quarta-feira, com Scarpa dizendo que seguia a "tradição dos faraós do Egito" de enterrar "seu maior tesouro para esperá-lo na outra vida".
Dezenas de jornalistas foram ao funeral automotivo. O carro começou a ser colocado no buraco até que Scarpa parou tudo e revelou que ele queria apenas promover uma campanha de
doação de órgãos. Era uma forma de mostrar que algo precioso não tem valor embaixo da terra.
Além de divulgar a sua causa, Chiquinho escancarou como são frágeis os filtros da imprensa.
Suzana Singer
Suzana Singer é a ombudsman da Folha desde 24 de abril de 2010. No jornal desde 1987, foi Secretária de Redação na área de edição, diretora de Revistas e editora de "Cotidiano". Escreve aos domingos na versão impressa.

Caos organizado - Tostão


1


PUBLICADO EM O TEMPO 22/09/13  

Enfim, foi aprovada pelo Senado a proibição de dirigentes esportivos se reelegerem mais de uma vez, além da exigência de transparência nas entidades. Tem de entrar também a CBF. Ela é particular, mas de interesse público. O ótimo trabalho de ex-atletas, como Raí e Ana Mozer, e as críticas, durante anos, de vários colunistas e jornalistas esportivos não seriam suficientes para pressionar os políticos, se não fossem as manifestações de rua. Muitas outras coisas precisam mudar.

CONTINUE LENDO ...

Mensagem cósmica - Marcelo Gleiser

Neste mês, pela primeira vez na história, uma sonda construída por seres humanos deixou os confins do Sistema Solar e penetrou o espaço interestelar. A sonda, Voyager 1, foi lançada pela NASA 36 anos atrás, em setembro de 1977, durante o governo de Jimmy Carter, quando pessoas ainda usavam calça boca-de-sino. A era das viagens interestelares, coisa que até aqui era mais ficção do que realidade, começou.
O Sol, como toda estrela, emite quantidades enormes de partículas eletricamente carregadas (principalmente prótons e elétrons, constituintes do "vento solar") que ficam confinadas numa bolha chamada de heliosfera. O limite desta bolha, a heliopausa, marca a região onde a influência do sol no meio interestelar passa a ser desprezível. A transição entre o sistema solar e o espaço interestelar se deu quando a sonda Voyager I atravessou a heliopausa, localizada cerca de 100 vezes a distância entre a Terra e o Sol. Mesmo a luz demora em torno de 14 horas para chegar de lá até aqui.
O feito serve de metáfora tanto para a missão da ciência quanto para o espírito humano. Ciência, enquanto criação nossa, representa um esforço marcadamente humano de superar fronteiras, no caso, as fronteiras do conhecimento. A cada descoberta, aprendemos mais sobre o mundo e sobre nosso lugar nele. Existe um lado heróico nessa empreitada, que tem valor tanto na prática-à medida que as descobertas científicas são usadas pela sociedade de diversas formas-quanto numa dimensão mais mitológica, onde buscamos, juntos como espécie, responder às questões tão antigas quanto nossa existência neste planeta. Superar fronteiras, portanto, significa aprender mais sobre quem somos, como espécie e como indivíduos.
Como disse o poeta americano T. S. Eliot, "apenas aqueles que se arriscam a ir mais longe sabem quão longe podem ir."
Este é o espírito da ciência e, a meu ver ao menos, deveria ser também a mola propulsora de cada um de nós em nossas vidas. Existe aqui uma visão anticonformista, de lutar contra a mesmice que marca nosso dia-a-dia. Na pesquisa científica, o novo é imperativo: temos de inventar um pouco mais do mundo todos os dias, por assim dizer, dado que não sabemos o que existe além do que sabemos.
Claro, cientistas não têm a liberdade do poeta ou do pintor, visto que o mundo que "inventam" é uma descrição do mundo que existe, ao menos do modo como o percebemos através de nossas observações. Afinal, nosso objetivo é entender a natureza: a última palavra é sempre dela, mesmo que sejamos forçados-e com frequência-a descartar ideias que têm grande apelo e beleza.
São nessas outras estrelas, ou melhor, nos planetas à sua volta, que podem existir outros seres vivos, talvez mesmo outros seres pensantes. A sonda Voyager 1 leva consigo uma placa revestida em ouro, repleta de sons e informações sobre a Terra, sua posição, os seres que nela vivem, nossas obras culturais, línguas etc. O projeto foi obra de Carl Sagan, que queria usar esta oportunidade para, quem sabe, anunciar aos nossos vizinhos que não estão sozinhos no espaço.
Apesar da sonda ter pouquíssima chance de ser encontrada por outra civilização (são mais de 50 mil anos até a estrela mais próxima), o gesto é essencialmente simbólico: reflete nossa esperança de que não estamos sozinhos no Cosmo, de que outros seres pensantes existem, de preferência amantes da vida e da criatividade.
Marcelo Gleiser
Marcelo Gleiser é professor de física e astronomia do Dartmouth College, em Hanover (EUA). É vencedor de dois prêmios Jabuti e autor, mais recentemente, de "Criação Imperfeita". Escreve aos domingos na versão impressa de "Ciência".
http://www1.folha.uol.com.br/colunas/marcelogleiser/2013/09/1345440-mensagem-cosmica.shtml

Ciência enredada - Marcelo Leite

A amostra de usuários das redes sociais pode ser enviesada e não muito representativa da sociedade
A PESSOA percebe que está ficando velha quando descobre que existe um periódico científico chamado "Cyberpsychology, Behavior, and Social Networking" (ciberpsicologia, comportamento e socialização em rede). Mais ainda, quando se dá conta de que a tal publicação já conta 15 anos de vida.
É verdade que a própria internet facilitou a vida de editores de periódicos científicos, os chamados "journals", que hoje são dezenas de milhares. Só os de elite --como aqueles monitorados por organizações como a Web of Science (da empresa Thomson Reuters)-- são mais de 12 mil, e cerca de 200 são aceitos nesse clube dos "indexados" a cada ano que passa.
O "CBSN" (para encurtar) faz parte desse grupo. Ostenta um fator de impacto 1,842, o que significa que cada estudo nele publicado obtém, em média, quase duas citações em outros artigos (o indicador mais aceito do grau de repercussão de um trabalho científico). De fato há pesquisadores que se dão ao trabalho de ler o que ali se publica.
É evidente que ainda se trata de um gueto dentro da ciência social. Mas não são poucos os atrativos das redes sociais para quem precisa ganhar a vida (e verbas de pesquisa) publicando artigos, a começar por sua popularidade fora do universo acadêmico. Qualquer estudo sobre o Facebook tende a virar notícia.
Há razões práticas para se dedicar à investigação profissional das redes, também. Cada uma das manifestações e interações nelas ocorridas --milhões, bilhões-- deixa um rastro digital. Com alguma habilidade informática, torna-se possível vasculhar esse acervo sem nem mesmo sair da frente do computador.
Como diz o editorial de Scott Golder e Michael Macy, da Universidade Cornell (EUA), na última edição do "CBSN": "Mais e mais pesquisadores se voltam para o registro de comportamento social em blogs e páginas de redes sociais por causa da disponibilidade, da escala e da granulação temporal dos dados".
Estar na moda não implica fazer época, contudo. A ciência das redes pode ganhar milhares de seguidores e nem por isso produzir um Thomas Malthus, um Karl Marx ou um Max Weber. Talvez seja apenas efeito da vista cansada, mas o temário do "CBSN" não entusiasma ninguém quanto a esse potencial.
No último número, um dos artigos destacados se debruça sobre o "suicídio de identidade virtual". Em miúdos: o estudo liderado por Stefan Stieger, da Universidade de Viena (Áustria), aborda 310 casos de pessoas que retiraram seus perfis da rede social, recrutados entre 34 mil que aderiram à página Quit Facebook Day (dia de sair do Facebook). Stieger faz uma comparação com 321 usuários que permaneciam na rede social e clicaram no link do questionário da pesquisa anunciado em várias páginas da internet.
Verificou que os desertores tendiam ser pessoas mais velhas e preocupadas com privacidade. Ou seja, o óbvio. Esse resultado também indica que a amostra composta pelos usuários das redes pode ser enviesada e não muito representativa do tecido social.
Não se deve esquecer, porém, que o fortalecimento dos Estados nacionais e a necessidade dos governos centrais de manter registros administrativos propiciou o florescimento da demografia, que acabou por revolucionar a ciência social.
Com tanta gente curtindo as redes, é bom não perdê-las de vista.

    Antonio Prata

    Impressões digitais
    Sob os cantos da unha havia tinta, seda, poeira de botecos sórdidos, uma ou outra jovem assistente, fossilizada
    Isso não é um dedão do pé, é uma declaração de princípios, pensei, assim que o pintor sentou na cadeira de praia, ao meu lado. Da primeira falange, brotava meia dúzia de pelos mal-ajambrados, feito capim que tivesse nascido numa rachadura da calçada, secado ao sol e sido descabelado pelo vento. A unha não devia ser cortada havia uns três meses --ou, pelo menos, não inteiramente cortada, pois a frente, que na maioria dos dedões é uma reta ou uma meia-lua, era quase um S, como se ele houvesse dado uma dentada com o Trim, dito "Ah, que se dane..." e resolvido ir pintar um quadro, beber conhaque ou cair nos braços de uma de suas assistentes --sempre lindas, sempre jovens, sempre apaixonadas pelo grande artista.
    Sob os dois cantos da unha havia aglomerações escuras, em que uma escavação arqueológica certamente encontraria: tinta óleo, aquarela, fixador; seda para cigarros, cashmere, pelos de pincel; poeira de botecos sórdidos do centro do Rio, poeira de restaurantes chiques de Nova York, certa poeira oriunda da Amazônia colombiana; uma ou outra assistente linda, jovem e fossilizada.
    O conjunto da obra formava uma instalação, uma metonímia do artista, onde se lia seu desprezo pelas coisas chãs: nosso asséptico "zeitgeist", nossa crença na manutenção do corpo e no reinado do Photoshop. Afirmava-se, ali, a prevalência das pulsões sobre a razão e vislumbrava-se a aceitação da morte. Um dedão romântico. Um dedão beatnik. Um anacrônico dedão.
    Correndo pela praia, veio o jovem colecionador do mercado financeiro, dono da casa em que o pintor estava hospedado. Sentou, deu um gole num isotônico, tirou o tênis, e a paisagem mudou da água pro vinho --ou, mais precisamente, do vinho pra água. Não seria absurdo se alguém afirmasse que ele tinha corrido até o fim da praia, parado num podólogo e voltado. Aquele dedão também não era apenas um dedão, mas sim uma declaração de princípios. Se você chegasse bem perto, veria, onde o artista cultivava o anárquico tufo de capim, apenas uns furinhos --o jovem colecionador do mercado financeiro arrancava os pelos com pinça, um a um, a cada 15 dias. A unha era um retângulo perfeito, pequena tela brilhante capaz de refletir as nuvens do céu em full HD. Os cantos estavam impecavelmente limpos: uma escavação arqueológica sairia de mãos vazias, dando apenas, talvez, com um leve odor de Pato Purific.
    O conjunto da obra era uma metonímia do jovem colecionador do mercado financeiro. Uma ode ao controle, ao planejamento, um pequeno totem anal-retentivo, em homenagem ao mundo administrado. Aquele dedão comemorava o triunfo da razão sobre os instintos, a vitória do homem sobre a natureza, cria-se imbatível, imortal, dava um pontapé na passagem do tempo. Um dedão de alta performance. Um dedão ISO 9000. Um atualíssimo dedão.
    Os dois se levantaram e foram em direção ao mar, discutir, com água pelas canelas, quanto custaria para a visão de mundo de um ir parar em cima da lareira do outro.
    Eu fiquei ali, sozinho com meus dedões.

      O que sobra ainda para Walter White fazer?

      CRÍTICA SERIAL
      LUCIANA COELHO - coelho.l@uol.com.br
      O embate entre o médico e o monstro no protagonista de 'Breaking Bad' agora não vai além de palavras
      O fim está próximo, e quem acompanha "Breaking Bad" só não está mais desconsolado porque o episódio da semana passada foi uma obra-prima digna de qualquer lista de melhores coisas feitas para a TV.
      Mas, nesta noite, quando for ao ar nos EUA o penúltimo capítulo da história do professor de química convertido em traficante de metanfetamina, faltarão apenas 75 minutos para sabermos o destino de Walter White, Jesse Pinkman e Skyler White. E aí, o vazio.
      Se você não está entre aqueles encarando o relógio com um híbrido de ansiedade e negação, desista da coluna hoje para evitar saber do episódio passado.
      Se você está, o consolo: os capítulos de hoje e o derradeiro, semana que vem, serão mais longos que o habitual, anunciou o canal AMC, que produz a série.
      A derrocada moral de Walt/Heisenberg entrou em sua espiral final. E não foi com a morte de seu cunhado Hank (Dean Norris, sensacional), executado pelo líder de uma gangue de traficantes neonazistas ao ter a identidade de agente antidrogas descoberta.
      Essa cena --um dos assassinatos mais doídos da TV, talvez ao lado do de Teri Bauer em "24 Horas"-- serviu só para lembrar que o embate entre o médico e o monstro do químico vivido por Bryan Cranston, tão legítimo no início, não vai muito além de palavras.
      Assim como a decisão do tio Jack (a série tem obsessão com tios?) estava selada, como disse Hank, a de Walt também estava.
      Tampouco degringolou no telefonema para sua mulher e cúmplice Skyler. Com o protagonista presumivelmente ciente de que a polícia ouvia, apesar da raiva, a ligação serviu para eximi-la em um futuro processo.
      Se doeu para uns, serviu de expurgo para os odiadores da personagem (Anna Gunn, que vive Skyler, disse em artigo no New York Times', ter recebido ameaças de morte).
      A espiral final não foi desencadeada nem com a ordem para matar Jesse, seu pupilo-antagonista. Não. O fundo do poço, o que assustou até quem sabe que Walter White não tem redenção, veio com o sinal verde para a gangue neonazi torturar o ex-aluno como (e para o que) bem entendesse.
      "Ozymandias", o episódio que leva o nome do poema sombrio de Percy Shelley (1792-1822) lido no trailer desta temporada, é o fim de tudo. Depois dele, fica difícil imaginar o que resta.
      Mike "reviverá" para ajudar Jesse? Saul ainda tem truques para seu cliente mais exigente? Skyler se vingará? E Marie? Lydia dirá a que veio? Walt pagará da forma convencional --à Justiça-- por seus crimes? Sobretudo, e depois de tudo, como será o embate final entre Jesse Pinkman e Walter White?

      Mauricio Stycer

      O duplo papel de Edir Macedo
      Em sua biografia, o bispo reconhece usar a Record para combater inimigos religiosos
      No duplo papel de empresário e líder espiritual de uma igreja, Edir Macedo é um estranho no ninho no mundo da comunicação. O segundo volume de sua biografia, recém-lançada, ainda que projetada a apresentá-lo como uma vítima de inimigos ferozes, joga alguma luz sobre o lugar ambíguo que a Record, sob seu comando, ocupa hoje no mercado.
      Escrito em parceria com o vice-presidente de jornalismo da emissora, Douglas Tavolaro, "Nada a Perder" está dividido em três volumes. No primeiro, lançado em 2012, Macedo descreve com autopiedade a sua formação religiosa, até "o encontro" com Deus.
      Nas páginas que antecedem esse relato longo e cansativo, o autor dedica-se a delinear, com contundência, o grande inimigo: "O clero romano mandava e desmandava no Brasil". Sobre a sua prisão, em 1992, sob acusação de charlatanismo, curandeirismo e estelionato, escreve: "Nunca aceitei a ideia de que a Justiça brasileira seria influenciada pelas vontades do Vaticano ou pela pressão da imprensa manipulada por eles".
      A conexão entre o que parecem ser as duas missões de Macedo --levar a voz de Deus aos fieis e combater os que querem calá-lo-- fica mais clara no segundo volume. Apesar da evocação algo mística estampada na capa, "Meus Desafios Diante do Impossível", o subtítulo faz alusão à compra da Record, por US$ 45 milhões, em 1989.
      Ainda que descreva o negócio como "uma provação", vencida depois de percorrer um "doloroso caminho", Macedo desce a alguns pormenores menos edificantes, como o reconhecimento de que usou um testa de ferro na primeira etapa das negociações.
      Por que comprar a Record? "Era um projeto idealizado para conquistar almas", escreve. Em outro trecho, falando da sua briga com representantes do espiritismo, Macedo é explícito ao afirmar que entende a TV comercial como uma ferramenta de luta e conversão de almas. "A Rede Record ainda não era nossa para denunciar tamanha depravação."
      Como se sabe, depois de adquirida, a emissora foi usada um sem-número de vezes como arma para ataques, travestidos de programas jornalísticos, a grupos religiosos rivais e a jornalistas que questionaram práticas da Igreja Universal.
      Se no primeiro volume a mídia era apenas um instrumento do Vaticano, neste segundo ela alcança alguma autonomia no combate a Macedo. "A compra da Record atingiu em cheio os barões da mídia, intocáveis e superpoderosos, acostumados a uma ascendência promíscua em distintas esferas do poder."
      Aparentemente sem se dar conta da contradição, Macedo revela que ofereceu o apoio da Record a Fernando Collor em troca do direito de fazer uma oração na posse do presidente, em 1990. A aproximação não prosperou, segundo ele, porque Collor "ignorou" o pedido.
      Macedo não trata da sua ascendência junto ao governo Lula e não inclui, entre as dezenas de fotos do livro, a imagem que o mostra no beija-mão da presidente Dilma no dia da posse, em 2011.
      O autor também evita, infelizmente, um tema delicado. Como reuniu, 12 anos depois de fundar a Igreja Universal, o capital necessário para a compra da Record? "Até hoje não sei como conseguimos. Não foi por caminhos semelhantes ao de qualquer negócio comum. Não houve cálculos detalhados nem estudos financeiros. Simplesmente, agi pela fé."

        Porque a vida não basta - Ferreira Gullar

        Porque a vida não basta
        A arte contemporânea acabou com a crítica; isso é expressão da crise por que passam as artes plásticas
        Embora tenha frequentemente criticado o que se chama de arte contemporânea, devo deixar claro que não pretendo negá-la como fato cultural. Seria, sem dúvida, infundado vê-la como fruto da irresponsabilidade de alguns pseudoartistas, que visam apenas chocar o público.
        Há isso também, é claro. Mas não justificaria reduzir a tais exemplos um fenômeno que já se estende por muitas décadas e encontra seguidores em quase todos os países.
        Por isso, se com frequência escrevo sobre esse fenômeno cultural, faço-o porque estou sempre refletindo sobre ele. Devo admitir que ninguém me convenceria de que pôr urubus numa gaiola é fazer arte, não obstante, me pergunto por que alguém se dá ao trabalho de pensar e realizar semelhante coisa e, mais ainda, por que há instituições que a acolhem e consequentemente a avalizam.
        O fato de negar o caráter estético de tais expressões obriga-me, por isso mesmo, a tentar explicar o fenômeno, a meu ver tão contrário a tudo o que, até bem pouco, era considerado obra de arte. Não resta dúvida de que alguma razão há para que esse tipo de manifestação antiarte (como a designava Marcel Duchamp, seu criador) se mantenha durante tantos anos.
        Não vou aqui repetir as explicações que tenho dado a tais manifestações, as quais, em última análise, negam essencialmente o que se entende por arte. Devo admitir, porém, que a sobrevivência de tal tendência, durante tanto tempo, indica que alguma razão existe para que isso aconteça, e deve ser buscada, creio eu, em certas características da sociedade midiática de hoje. O fato de instituições de grande prestígio, como museus de arte e mostras internacionais de arte, acolherem tais manifestações é mais uma razão para que discutamos o assunto.
        Uma observação que me ocorre com frequência, quando reflito sobre isso, é o fato de que obra de arte, ao longo de 20 mil anos, sempre foi produto do fazer humano, o resultado de uma aventura em que o acaso se torna necessidade graças à criatividade do artista e seu domínio sobre a linguagem da arte.
        Das paredes das cavernas, no Paleolítico, aos afrescos dos conventos e igrejas medievais, às primeiras pinturas a óleo na Renascença e, atravessando cinco séculos, até a implosão cubista, no começo do século 20, todas as obras realizadas pelos artistas o foram graças à elaboração, invenção e reinvenção de uma linguagem que ganhou o apelido de pintura.
        Isso não significa que toda beleza é produto do trabalho humano. Eu, por exemplo, tenho na minha estante uma pedra --um seixo rolado-- que achei numa praia de Lima, no Peru, em 1973, que é linda, mas não foi feita por nenhum artista. É linda, mas não é obra de arte, já que obra de arte é produto do trabalho humano.
        Pense então: se esse seixo rolado, belo como é, não pode ser considerado obra de arte, imagine um casal de urubus postos numa gaiola, que de belo não tem nada nem mantém qualquer relação com o que, ao longo de milênios, é tido como arte. Não se trata, portanto, de que a coisa tenha ou não tenha qualidades estéticas --pois o seixo as tem-- e, sim, que arte é um produto do trabalho e da criatividade humana. Se é boa arte ou não, cabe à crítica avaliar.
        E toca-se aqui em outro problema surgido com essa nova atitude em face da arte. É que, assim como o que não é fruto do trabalho humano não é arte, também não é possível exercer-se a crítica de arte acerca de uma coisa que ninguém fez.
        O que pode o crítico dizer a respeito dos urubus mandados à Bienal de São Paulo? A respeito de um quadro, poderia ele dizer que está bem mal-executado, que a composição é pobre ou as cores inexpressivas, mas a respeito dos urubus, que diria ele? Que não seriam suficientemente negros ou que melhor seria três em vez de dois? Não o diria, pois nada disso teria cabimento. Não diria isso nem diria nada, porque não é possível exercer a crítica de arte sobre o que ninguém fez.
        Desse modo --e inevitavelmente--, a chamada arte contemporânea acabou também com a crítica de arte. Isso tudo é, sem dúvida, a expressão da crise grave por que passam hoje as artes plásticas.
        Costumo dizer que a arte existe porque a vida não basta. Negar a arte é como dizer que a vida se basta, não precisa de arte. Uma pobreza!