domingo, 29 de setembro de 2013

A sala de espera do analista - Martha Medeiros

Zero Hora - 29/09/2013


Sempre que saio da minha consulta no analista, há uma senhora na sala de espera aguardando sua vez. Antes, eu cruzava por ela e fazia um aceno educado com a cabeça. Com o tempo, passei a sorrir e dizer tudo bem?. Em breve, me sentirei tão à vontade que perguntarei : E aí, qual é a sua encrenca? Dificuldade de desapegar, síndrome do pânico, bipolaridade?

E tudo terminará num bistrô, entre boas risadas.

Obviamente, meu comportamento demonstra um desajuste. Não é por acaso que preciso frequentar um profissional que aperte meus parafusos frouxos.

Já quando sou eu que estou na sala de espera aguardando, a situação se inverte. O paciente anterior sai e nem olha para os lados. Cruza por mim como se eu fosse uma cadeira vazia. Nem uma espichada de olhos, nem um esgar, nem um grunhido. Não existo. Ele passa reto. Sou uma cadeira.

Eu poderia ficar com a autoestima abalada, ele não sabe o risco que está causando. Ou talvez saiba, mas não se importa com o que sinto. Será que ele não se importa com o que sinto? Acho que estou desenvolvendo um complexo de inferioridade. Mais essa agora. Desse jeito, minha alta não virá nunca.

Sempre que entro em uma pequena sala de espera, qualquer que seja, cumprimento quem ali está. Não saio distribuindo beijinhos, mas demonstro educadamente que percebi a presença de outros no recinto. Logo, é natural que eu faça o mesmo numa sala de espera que frequento toda semana à mesma hora, e onde eventualmente vejo as mesmas pessoas saindo ou entrando. Compartilhamos uma rotina, ora.



Só que não é simples assim. Ninguém fica com vergonha de ir ao dermatologista, ao oftalmo ou ao otorrino, mas consultar um analista ainda é algo extremamente íntimo. Os pacientes sentem-se constrangidos ao serem vistos num ambiente onde costumam confessar seus traumas e fraquezas. 


Talvez não acreditem na eficiência do revestimento acústico das paredes, desconfiam de que aquela criatura ali na sala de espera escutou os detalhes de suas compulsões sexuais e de suas neuroses cabeludas. Era para ter ficado tudo em segredo, era para ter sido um momento privado, inviolável, confidencial – e é! – porém, em poucos minutos, aquele estranho sentará na mesma poltrona (ou deitará no mesmo divã) e privará dos cuidados do mesmo profissional, imediatamente depois de termos estado ali, e a sensação é de promiscuidade.

Queremos acreditar que o terapeuta é só nosso.

Mas não é: o paciente sentado na sala de espera revela que somos apenas mais um, que nossos problemas não são o centro da atenção de quem nos analisa e de que é provável que as paranoias dele sejam mais interessantes do que nossos questionamentos banais. Intolerável. Melhor mesmo fazer de conta que ali fora está apenas mais uma cadeira vazia.

Pelo Haroldo! - Luis Fernando Verissimo

O Estado de S.Paulo - 29/09/2013

Homem e mulher na cama.

– Foi bom? – Foi. – Muito bom ou só bom?

– Francamente, eu...– Está bem, está bem. Me dá uma nota. De zero a 10, que nota você me dá?

– Sete. – Sete?!

–Você quer que eu minta, Haroldo? Estou sendo franca. Você me pediu uma...

– Peraí. Que foi que você disse?

– Eu disse que estava sendo franca.

–Não, antes. Você disse: “Você quer que eu minta, Haroldo”.

– É. – O meu nome não é Haroldo!

–Não é? – Grande. Você me confundiu com outro. –Se você não é o Haroldo, então quem é?

– E eu vou dizer? Com nota sete, eu vou dizer quem eu sou?

– Mas...–Vamos de novo. Apaga a luz. Pelo Haroldo!

Disfarça, Disfarça

Dois homens tramando um assalto.

– Valeu, mermão? Tu traz o berro que nóis vamo rendê o caixa bonitinho. Engrossou, enche o cara de chumbo. Pra arejá.

– Podes crê. Servicinho manero. É só entrá e pegá.

– Tá com a máquina aí? – Tá na mão.

Aparece um guarda.

– Ih, sujou. Disfarça, disfarça... O guarda se aproxima deles.

– Discordo terminantemente. O imperativo categórico de Hegel chega a Marx diluído pela fenomenologia de Feurbach.

– Pelo amor de Deus! Isso é o mesmo que dizer que Kierkegaard não passa de um Kant com algumas sílabas a mais. Ou que os iluministas do século dezoito...

O guarda se afasta. – O berro, tá recheado? – Tá. – Então vamlá!

Para o maridinho

– Meu bem...Você está deslumbrante!

– Tudo para você, querido.

– Esse penteado...

– Fui a cabelereiro e pedi um corte novo para o meu maridinho me achar desejável. Fui ao maquiador e pedi que me deixasse sexy para atrair meu maridinho. Comprei esta camisola provocante para enlouquecer você.

– E conseguiu, meu amor. Você está...

– Não me toca senão estraga tudo!

Cada coisa

Rubenval tinha um lema: confidência em salão de beleza é sagrado. Segredos ditos a um cabeleireiro eram mais invioláveis do que os segredos do confessionário. Os ouvidos de um padre eram apenas os receptores de Deus, para quem os fiéis se confessavam diretamente. Trair uma confidência de confessionário seria como grampear o telefone de Deus. Rubenval não sabia exatamente com que entidade superior a pessoa falava quando falava com seu cabeleireiro, só sabia que merecia o mesmo respeito. E olha que ele ouvia cada coisa...

– Que coisas, Ru? Conta. – Jamais!

Mas Rubenval começou a ficar nervoso depois que seu salão virou, como ele diz, unisexi. Rubenval não sabia o que era confidência escandalosa até começar a fazer cabelo de homem também. Eram inimagináveis, as coisas que ouvia fazendo “boufands” em políticos e mechas em líderes empresariais. Os homens, muito mais do que as mulheres, pareciam perder toda a discrição depois de um xampu. Rubenval não se sente a vontade, com tanta informação acumulada e está até com um problema na pele, de tanta tensão.

– O que eles dizem, Ru? Dá uma amostra.

– O quê? Eu, derrubar a República?

AFFONSO ROMANO DE SANT'ANNA » Onde estavas em 1973?‏

Estado de Minas: 29/09/2013 



As pessoas se divertem perguntando: “Onde estava você em 1964, quando ocorreu a derrubada de Jango?”. (Estava em Belo Horizonte, atônito, na redação do Correio de Minas, dirigido por Fernando Gabeira.)

Outros, em reuniões sociais, se põem a lembrar: “O que você fazia quando os terroristas derrubaram o World Trade Center em 2001?”. (Estava num avião indo fazer uma palestra para jovens vestibulandos no Mato Grosso.)

Pessoas mais velhas se indagam: “Onde estava você quando mataram John Kennedy ou John Lennon? Uma vez, no romance A maçã no escuro, de Clarice, encontrei uma declaração surpreendente: um personagem diz que o dia mais importante de sua vida foi quando as tropas de Napoleão entraram em Paris. Como o personagem não havia nascido naquela época, é de se crer que a gente não precisa estar vivo para determinada data ter importância ou ter modificado a vida da gente. Por exemplo: eu não estava lá quando alguém inventou a roda ou Gutenberg a imprensa. E no entanto…

Vinha pensando nisso e no fato de que 1973 foi um ano muito significativo para mim e algumas pessoas. Vejam só: havia a guerrilha no Araguaia, Allende foi derrubado no Chile, a famigerada guerra do Vietnã chegou ao fim com a derrota americana, o World Trade Center foi erguido, fizeram conexão por um celular e foi aí que inventaram a ethernet (que eu nem sei o que é).

Para mim, foi o ano em que trouxe Michel Foucault para conferências na PUC, o ano das Expoesias (em várias cidades) e da publicação do Jornal de Poesia no Jornal do Brasil. Mas volta e meia, conversando com motoristas que me levam daqui para ali, me dou conta que eles nem existiam em 1973 ou quando coisas importantes aconteceram na história do Brasil. Por exemplo, me divirto contando aos motoristas de Brasília que eu estava ali em 1960, em Brasília, participando da festa da inauguração da cidade. O chofer, de cabelos brancos, me olha desconfiado…

Outro dia, porque havia visto esse filme sobre a vida de Elizabeth Bishop e Lota Macedo (Flores raras ), comecei a conversar com um motorista sobre a construção do Aterro do Flamengo (coisa da Lota) e sobre Carlos Lacerda. Ele não tinha a menor noção de quem era Carlos Lacerda. E, no entanto, Lacerda infernizou a nossa juventude e o país.

O fato é que num dia qualquer dos anos 1960 ia subindo a Rua Tupis, em Belo Horizonte, e vi estampado e aberto um exemplar da revista Life em espanhol. Havia uma reportagem sobre a Ilíada e a Odisseia de Homero. Uma espécie de súmula do que ocorria na epopeia e uma frase ficou cravada em mim para sempre. E era em espanhol: “Al pie de las hogueras acesas, mientras comiamos pan dulce y bebiamos vino no preguntávamos: que edad tenías tu mi querido amigo cuando vinieram los persas?”.

Outro dia (não sei por que, ou será que sei?), comecei uma conferência comemorativa dos 50 anos do histórico Congresso de Crítica e História Literária em Assis, São Paulo, com essa pergunta de Homero. E juntei outras questões pertinentes, como aquela canção dos anos 60 que indagava: “Where have all the flowers gone?”(Para onde foram aquelas flores ?). E, claro, a frase daquela canção dos negros americanos: “Onde estava você quando crucificaram my Lord?”.

Vocês estão vendo que uma pergunta leva à outra. E isto é uma sucessão de abismos. E, a propósito, dessa crucificação de Cristo, lembro-me que um pregador contava algo patético: um missionário, depois de ter convertido ao cristianismo o chefe de uma tribo africana, ouviu esta reprimenda: “Então esse Cristo morreu há 2 mil anos e só agora o senhor vem me contar?”.

Falei de 1973. Mas poderia falar de 1963 ou antes. Outro dia, disse a uns adolescentes que tinha 110 anos e eles acreditaram. E, para finalizar, lhes digo: me encontrei com as escritoras Vilma Areas e Elvira Vigna num seminário em Curitiba. E como elas falassem de suas idades, lembrei um fato verdadeiro: um amigo de 86 anos encontrou-se com outro de 96 e conversaram longamente. Ao final, o que tinha 96 disse: “Ah, que bom foi te encontrar! Até que enfim pude conversar com alguém sobre a década de 30…”.

Tereza Cruvinel - Água corrente‏

Dilma recupera popularidade e intenção de votos, ajudada por iniciativas como o Mais Médicos e a reação à espionagem



Tereza Cruvinel

Estado de Minas: 29/09/2013 



A virada setembro-outubro, com o fim do prazo de filiações partidárias, vem trazendo definições importantes para a disputa eleitoral do ano que vem, especialmente para a sucessão presidencial. Depois da ruptura de Eduardo Campos e seu PSB com o governo e o PT, saberemos esta semana se Marina Silva viabilizará a Rede, e, em caso negativo, se será ou não candidata por outra sigla. Mas foi para a presidente Dilma que vieram mudanças alvissareiras, tanto na economia quanto na aprovação do seu governo e no desempenho eleitoral. E para completar, conforme se pode ler na entrevista que o Estado de Minas publica hoje, ela terá o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva no papel de "grande eleitor", engajado em sua campanha, em plena forma física e política. Se não estivesse com a autoconfiança elevada, Dilma não teria voltado a tuitar nem estaria abrindo página no Facebook.

Segundo a pesquisa Ibope/Estadão, Dilma teve um crescimento eleitoral de 30% em julho para 38%, ao passo que sua principal concorrente, Marina Silva, caiu de 22% para 16% no mesmo intervalo de tempo. Talvez a queda de Marina seja reflexo dos problemas que vem enfrentando para viabilizar a Rede. Seja qual for a causa da queda, ela ainda é dona do segundo maior quinhão de votos, o que aumenta a importância da decisão que tomará se, para concorrer, tiver que rever o que disse e adotar um plano B, filiando-se a outra legenda. Se não for candidata, para onde vão seus votos? Ainda segundo a pesquisa, Aécio Neves, do PSDB, oscilou negativamente de 13% para 11%, assim como Eduardo Campos, de 5% para 4%. Dilma cresceu oito pontos enquanto os outros, juntos, perderam nove, o que sugere ter havido movimentações dentro do campo de eleitores que mudaram de posição no auge das manifestações de junho. Se for assim, Dilma estará recuperando eleitores perdidos, restando ainda a mesma massa de indefinidos, que só pensará em eleição mais adiante. Em todos os cenários, haveria segundo turno e ela ganharia.

O vento soprou a favor dela também na aprovação a seu governo, segundo a pesquisa CNI/Ibope. Num claro paralelismo com a pesquisa eleitoral, esta outra mostrou um crescimento de seis pontos na aprovação ao governo, que passou de 31% em julho para 37% agora. Nas avaliações do Planalto, o índice já estaria na casa dos 40% e a expectativa é de que Dilma vire o ano mais próxima dos 50%. Ela tinha 55% de aprovação quando eclodiram os protestos de junho, que derrubaram o indicador para 31%. No quesito confiança, ela ultrapassou a barreira dos 50%. Entretanto, o governo tem alta reprovação nas áreas de educação (65%), saúde (77%) e segurança (74%), exatamente as que foram criticadas pelos manifestantes de junho.

Tuitando na sexta-feira, Dilma rebateu a revista The Economist, dizendo que a inflação recuou, o dólar se estabilizou e o Brasil vive rara situação de pleno emprego. De fato, os sinais melhoram também na economia, embora na pesquisa CNI/Ibope a avaliação das política econômica tenha sido baixa: 68% desaprovam o combate à inflação. A Pnad 2012, divulgada na sexta-feira, trouxe notícias boas, como o crescimento da renda do trabalho em 5,8%, e outras ruins, como uma freada na redução da desigualdade e na queda do analfabetismo. Mas o nível de emprego é o que mais segura ou derruba o prestígio de um governo, e segue estável, com aumento em alguns setores, como a construção civil.

No mais, Dilma faturou com a reação madura mas enérgica à espionagem americana e com o Programa Mais Médicos. Segue, entretanto, deixando a política eleitoral e, especialmente, a costura das alianças em segundo plano. E, daqui para a frente, depois dos alinhamentos partidários definitivos agora ocorridos, o assunto entra para valer na pauta pré-eleitoral. Eduardo Campos teve perdas com sua decisão e agora correrá atrás de aliados. Como já faz Aécio, reatando o noivado com o DEM.


O grande eleitor

Lula diz que vai "ajudar como puder" na campanha de Dilma, mas o que ela, ou pelo menos seus auxiliares, espera dele é muito mais que uma "mãozinha". A presidente, lembra um de seus ministros, vai ter que governar. Por força da lei, só poderá fazer campanha fora do expediente. Ou seja, à noite ou nos fins de semana. E quem cruzará o país, fazendo comícios em série, às vezes mais de um por dia? Ora, o Lula, diz ele.

Para os adversários, que dele esperavam atuação mais discreta, a notícia não é boa. Dilma precisará menos de Lula em 2014 do que precisou em 2010, quando era completamente verde em matéria de campanha e absolutamente desconhecida do Brasil grande e profundo. Mas, por isso mesmo, o jogo será pesado, reunindo o que ela tem de capital eleitoral próprio com toda a força mítica do ex-presidente.


Arrumar o governo

Este ano, salvo imprevistos, a presidente Dilma só mudará o ministro Fernando Bezerra, por conta do desembarque do governador Eduardo Campos e seu PSB. Fará média com o PMDB, entregando a pasta ao senador Vital do Rêgo. Mas, para começar o ano, ela antecipará a saída dos ministros que vão disputar mandatos e teriam de sair em abril. Poderá trocar de 13 a 15 ministros.

Um caso especial, o do ministro da Educação, Aloizio Mercadante, que tem hoje dois destinos à sua espera. Ou vai para a Casa Civil, substituir Gleisi Hoffmann, que será candidata a governadora do Paraná, ou coordenará a campanha de Dilma. Deve ser substituído pelo dinâmico secretário executivo Henrique Paim.

Tv Paga

Estado de Minas: 29/09/2013 



 (Nat Geo/Divulgação%u2018)


Além da imaginação Um grupo de cientistas está decidido a empreender uma aventura a 780 milhões de quilômetros da Terra. É o que mostra o documentário Viagem à lua de Júpiter (foto), que o Nat Geo apresenta esta noite, às 18h30.        O destino é Europa, um satélite do planeta gigante, onde acredita-se haver vida em um oceano sob a crosta de gelo da superfície.

Genocídio no Camboja Outro documentário programado para hoje é S21 – A máquina de morte do Khmer Vermelho, às 23h30, na Cultura. Entre 1975 e 1979, o Khmer Vermelho promoveu um genocídio no Camboja, causando a  morte de 1,7 milhões de homens, mulheres e crianças por fome    ou assassinados quando a população urbana foi obrigada a ir para  o campo para realizar o sonho de uma utopia agrária. 


Enlatados
Mariana Peixoto - mariana.peixoto@uai.com.br
Publicação: 29/09/2013 04:00
Entre a cruz e a espada

Hostages entra no ar amanhã, às 22h25, no Warner Channel, uma semana depois de estrear nos Estados Unidos. Toni Collette e Dylan McDermott estrelam a trama ambientada em Washignton. Ela é uma cirurgiã incumbida de operar o presidente norte-americano. Com um detalhe: depois da cirurgia, deve matá-lo. Logicamente ela é forçada a isso depois de ser sequestrada com o marido e filhos. A primeira temporada terá 15 episódios. Se a recepção continuar boa, como ocorreu com o episódio piloto, a série tem fôlego para mais dois anos.

Lista negra – Terça-feira, às 21h, estreia no Sony The blacklist. A série policial estrelada por James Spader acompanha os passos do ex-agente do governo norte-americano Raymond “Red” Reddington , que figura na lista dos fugitivos mais procurados pelo FBI. Red intermediava transações suspeitas para criminosos, mas misteriosamente se entrega ao FBI e faz uma proposta bombástica: ajudará a agência a capturar um terrorista que muitos imaginavam estar morto há tempos. A única condição é se remeter a Elizabeth Keen (Megan Boone), uma inexperiente elaboradora de perfis criminais.

Microfone –Enquanto o The voice Brasil retorna à grade da Globo quinta-feira, o Sony estreia hoje, às 23h, a quinta temporada da edição original
do reality show. Adam Levine e Blake Shelton continuam como treinadores dos cantores. Completando o time, Christina Aguilera e Cee Lo Green.

Duelo – Para os que acompanham
as séries pelo calendário dos Estados Unidos, a noite deste domingo será imperdível, com a final de Breaking bad e a estreia da terceira temporada de Homeland.

Ponte – No ar aos domingos, às 23h, no FX, a série The bridge teve confirmada sua segunda temporada, para 2014. A trama conta a história de dois detetives que investigam os rastros de um serial killer que aterroriza a fronteira dos EUA com o México.

O som ao redor estreia no canal MAX em 12 de outubro, às 21h‏

De olho no Oscar 


Estado de Minas: 29/09/2013


  O som ao redor, candidato a candidato ao Oscar, será exibido pelo canal Max     (Vitrine Filmes/Divulgação)

 O som ao redor, candidato a candidato ao Oscar, será exibido pelo canal Max


Anote na agenda: o filme brasileiro que está na lista dos melhores de 2012 do jornal New York Times (assinada pelo crítico A. O. Scott ) estreia no canal MAX em 12 de outubro, às 21h. O som ao redor, longa de estreia do cineasta pernambucano Kléber Mendonça, é o candidato a candidato a uma vaga para concorrer ao Oscar 2014 de Melhor Filme em Língua Estrangeira (a seleção será definida pela Academia de Hollywood).

Ambientado no Recife, O som ao redor mostra as inúmeras contradições sociais do Brasil. Quando a milícia se instala em uma rua de classe média na Zona Sul da cidade, alguns moradores comemoram a segurança dada pelos policiais, enquanto outros passam por diversos conflitos. A chegada desses homens leva a comunidade amedrontada a um rumo inesperado.

O longa de Kléber Mendonça ganhou 10 prêmios em festivais nacionais, entre eles o de Melhor Filme pelo júri popular e pela crítica, Melhor Diretor e Melhor Som no Festival de Gramado. Também levou estatuetas nos festivais do Rio (Melhor Filme e Roteiro) e na 36ª Mostra Internacional de Cinema de São Paulo (Melhor Filme), além de festivais internacionais como Copenhagem (Dinamarca) e Roterdã (Holanda). Fora do Brasil, participou de 70 festivais.

A distribuidora do longa, a Vitrine Filmes, informa que a película foi lançada em 11 países. No Brasil, entrou em cartaz em 4 de janeiro e foi vista por quase 100 mil pessoas.

PERFIL/ BRUNO SAFADI/CINEASTA » Cinema com assinatura

PERFIL/ BRUNO SAFADI/CINEASTA » Cinema com assinatura
Diretor carioca investe na produção autoral e conquista espaço 

Ailton Magioli

Estado de Minas: 29/09/2013


 (Leandro Couri/EM/D. A. PRESS)


A máxima glauberiana de “uma câmera na mão e uma ideia na cabeça” permanece, porém, a nova geração acrescenta à ideia sessentista item indispensável para fazer cinema no Brasil, atualmente: “Um grupo de amigos”. A constatação é de Bruno Safadi, de 33 anos, carioca do Leblon radicado há um ano no Bairro Serra, em Belo Horizonte.

 “Para nós, o cinema não é evento, mas trabalho cotidiano”, afirma o jovem diretor, que está realizando quatro longas. Além de O uivo da gaita, que dirigiu e está sendo lançado no Festival Rio 2013, estão na lista Éden, com o qual vem percorrendo vários festivais; um filme ainda sem título, em fase de montagem; e Lilith, cujo roteiro será desenvolvido na Holanda. Bruno embarca amanhã para Amsterdã, onde trabalhará no conceituado Binger Filmlab, auxiliado por orientadores. Único latino-americano a ter projeto selecionado para o laboratório, durante cinco meses ele se dedicará à história do mito da primeira mulher da Terra.

 Acompanhado da esposa, Luiza Horta, e do filho, Inácio, de sete meses, Bruno desembarca na Holanda fiel à forte ligação que mantém com o cinema autoral. Adepto da ideia de fazer um “cinema vida”, ele participará da 43ª edição do Festival Internacional de Roterdã, também na Holanda, de 22 de janeiro a 2 de fevereiro de 2014. Tanto Éden quanto O uivo da gaita serão exibidos na mostra Spectrum. “Trata-se do principal encontro de produção internacional de cinema do mundo”, festeja o diretor carioca.

Bruno Safadi vem chamando a atenção também pela chamada Operação Sonia Silk, projeto que o uniu ao diretor Ricardo Pretti e às atrizes Leandra Leal e Mariana Ximenes. Eles criaram, em duas semanas, três longas: as ficções O uivo da gaita, de Bruno, e O Rio nos pertence, de Ricardo, além do documentário Meta mancia, ainda em processo de finalização.

O projeto se inspira no imaginário dos filmes realizados nos anos1970 pela produtora Belair, dos diretores Júlio Bressane e Rogério Sganzerla, que fizeram seis longas em seis meses, um dos quais Copacabana mon amour, de Sganzerla, em que a prostituta Sonia Silk (Helena Ignez) circula pelo famoso bairro carioca enquanto sonha ser cantora da Rádio Nacional.

Experimentação


A proposta é fazer do projeto uma cooperativa criativa de cinema, com liberdade para realizar investigações de linguagem e experimentar o diálogo com diferentes gêneros. “Nossa fonte de inspiração é Sganzerla, para quem ‘a amizade é a matéria-prima de qualquer cinema de envergadura’”, diz o carioca.

A ligação de Bruno com Minas começou por Tiradentes, onde ele passava férias na casa da família Pitta. Paralelamente, começou a participar da Mostra de Cinema de Tiradentes. Depois, ganhou o Prêmio Cine-BH de coprodução internacional, com o projeto do longa Éden, de 2011.

Assistente de direção de seis filmes de Júlio Bressane, em 2009, ele dirigiu com Noa Bressane o longa Belair, que, depois de passar pelo Festival de Roterdã, foi vendido para a emissora de TV italiana RAI, gerando retrospectivas de cinema brasileiro em Portugal, Chile e Argentina. No mesmo período, trabalhou com Nelson Pereira dos Santos (Brasília 18º) e Ivan Cardoso (O sarcófago macabro).

Laços estreitos com a música


Qualquer decisão artística tem consequência direta no orçamento de um filme e vice-versa, constata Bruno Safadi, para quem a questão financeira (orçamento) é matéria sensível no cinema. “Como diretor é necessário centrar esforços, já que nunca há dinheiro para tudo”, prega ele, que se identifica com o cinema feito atualmente em Minas por Thiago Mata Machado, Sérgio Borges, Clarissa Campolina, Helvécio Marins Júnior e Afonso Uchoa. As cinematografias pernambucana, carioca e cearense também vêm chamando a atenção de Bruno, que acaba de atuar em Educação sentimental, do mestre Júlio Bressane, no qual se torna protagonista, na última meia hora.

Depois de dirigir um show de Mariana de Moraes e videoclipes da cantora Lila, Bruno Safadi filmou uma série de espetáculos (de Tulipa Ruiz, Céu, Cidadão Instigado etc.) para Leandra Leal, então diretora de programação do Teatro Rival, cujo destino ainda não está definido. Para ter uma ideia da ligação do diretor com a música, basta lembrar que em O uivo da gaita há apenas dois diálogos além da canção (concreta, contemporânea) de Guilherme Vaz. Mais recentemente, o diretor registrou, ao lado do parceiro de produtora Ricardo Pretti, o show Toninho Horta & as cores do Clube, que ele pretende transformar em DVD.

FALA, BRUNO!
» DIRETOR
“Júlio Bressane. Ele é o cineasta mais jovem em atividade no país. Com mais de 30 longas, mantém-se fiel a seus princípios e nunca fez concessões, além de receber pouco apoio oficial.”

» FILME
“Sem essa, Aranha, de Rogério Sganzerla. É um filme da Belair, superpopular e, ao mesmo tempo, muito sofisticado. Um dos maiores exemplos de dualidades colocadas em campos opostos. No filme, elas se convergem em arte e popularidade.”

» ATOR
“Charles Chaplin. Trata-se de um inventor do cinema, tanto mudo quanto falado. Ele revolucionou o cinema e as formas de atuar e dirigir.”

» ATRIZ
“Helena Ignez. Para mim, ela foi a grande atriz do cinema brasileiro novo e marginal, no qual permanece até hoje. Helena, que foi mulher de Glauber e Sganzerla, continua jovem.”

» FESTIVAL
“Roterdã, na Holanda. É a meca mundial do cinema de autor.”

Eduardo Almeida Reis - Cultura internética‏

Nos tempos antigos, estranhos apertavam-se as mãos para mostrar que estavam desarmados


Eduardo Almeida Reis

Estado de Minas: 29/09/2013 






O vidro demora 1 milhão de anos para se decompor, o que significa que nunca se desgasta e pode ser reciclado um número infinito de vezes. O ouro é o único metal que não enferruja, mesmo enterrado por milhares de anos. A língua é o único músculo do corpo que está ligado a uma extremidade apenas. Se você parar de ficar com sede precisa beber mais água. Quando o corpo humano está desidratado, o mecanismo de sede é desligado. A cada ano, 2 milhões de fumantes param de fumar ou morrem de doenças relacionadas com o tabaco. Nota do philosopho: morre muito mais gente de morte morrida ou matada sem a menor relação com o tabaco. Zero é o único número que não pode ser representado em algarismos romanos. Pipas foram utilizadas para entregar cartas e jornais durante a Guerra Civil Americana. A canção Auld lang syne é cantada à meia-noite em quase todos os países de língua inglesa para celebrar o Ano-novo. Brasil, Portugal, França, Espanha, Grécia, Polônia e Alemanha, di-lo a cultura internética, preferem uma canção de despedida: Adeus amor eu vou partir...

Beber água depois de comer reduz 61% do ácido na boca. O óleo de amendoim é usado nas cozinhas dos submarinos porque não solta fumaça, a menos que seja aquecido acima de 232oc. O barulho que ouvimos quando botamos uma concha junto ao nosso ouvido não é o do oceano, mas do sangue correndo nas veias da orelha. Nove em cada 10 seres vivem nos oceanos. A bananeira não se reproduz sozinha: depende da mão do homem. Aeroportos em altitudes elevadas requerem pistas mais longas por causa da menor densidade do ar. A Universidade do Alasca abrange quatro fusos horários. O dente é a única parte do corpo humano que não se pode curar ou regenerar. Na Grécia Antiga, jogar maçã para uma mulher era proposta de casamento. Pegá-la significava aceitação. As pessoas inteligentes têm mais zinco e cobre em seus cabelos. A cauda de um cometa aponta sempre para longe do Sol. Em 1976, a vacina contra a gripe suína causou mais mortes e doenças do que a gripe que pretendia evitar. A cafeína aumenta o poder da aspirina e de outros analgésicos; por isso é encontrada em alguns medicamentos.

A saudação militar é um gesto que evoluiu desde os tempos medievais, quando os cavaleiros levantavam as máscaras das armaduras para revelar suas identidades. Se você estiver no fundo de um poço ou de uma chaminé alta e olhar para cima verá as estrelas, mesmo ao meio-dia. Nos tempos antigos, estranhos apertavam-se as mãos para mostrar que estavam desarmados. Morangos são os únicos frutos cujas sementes crescem na parte exterior. Abacates têm mais calorias do que os demais frutos: 167 por 100 gramas. A Lua se afasta da Terra cerca de dois centímetros por ano, e a Terra aumenta de peso 100 toneladas por dia com a queda de poeira espacial. A gravidade da Terra impede que as montanhas tenham mais que 15 mil metros de altura. Na Itália, o Mickey Mouse é conhecido como Topolino. Soldados em formação não podem marchar quando atravessam pontes, porque poderiam criar vibração suficiente para derrubar a ponte. Tudo – até sua mulher – pesa menos 1% no equador. Nos voos espaciais, cada quilo adicional exige acréscimo de 539 quilos de combustível na decolagem. A letra J não aparece em qualquer lugar da Tabela Periódica de Elementos.

Brasileiros

Imbecis escritos, falados, televisados, investidos ou não de mandatos parlamentares, ocupando ou não altos cargos na administração federal – afetaram indignar-se com a detenção, em Londres, do “brasileiro” David Miranda, portador, como se sabe, da altíssima credencial de namorado de um jornalista norte-americano, que com ele reside no Rio de Janeiro. Ora, bolas: sou brasileiro há mais tempo que o senhor Miranda, creio ter feito mais que ele&ela por este país grande e bobo, e acho que a polícia britânica obrou muitíssimo bem. Precisamos acabar com essa hipocrisia de perder tempo com brasileiros presos ou mortos no exterior, quando há milhões e milhões de patrícios bons, honestos e trabalhadores, em território pátrio, vivendo sem escolas, energia elétrica, estradas, hospitais, proteção contra a violência, água encanada e esgotos tratados. O senhor Miranda não merece uma só palavra em sua defesa. Peço desculpas pelas 139 que escrevi até aqui.

O mundo é uma bola

Em 29 de setembro de 522 a.C. Dario I mata Guamâta, usurpador magiar, sem trocadilho infame, tornando-se o número um do Império Persa. Em 61 a.C., Cnaeus Pompeius Magnus festeja seu terceiro triunfo sobre os piratas e pelo fim das Guerras Mitridáticas, na celebração de seu aniversário de 45 anos. Em 41 a.C., Cnaeus Pompeius Magnus é assassinado ao chegar ao Egito no dia do seu aniversário de 65 anos. Em 1978, o papa João Paulo I anuncia a remoção dos clérigos da Cúria suspeitos de corrupção no Banco do Vaticano. Foi morto na véspera, dia 28 de setembro. Compete ao leitor investigar o fenômeno.

Ruminanças
“O papa é um ídolo a quem se atam as mãos e se beijam os pés” (Voltaire, 1694–1778).

ENTREVISTA/LUIZ INÁCIO LULA DA SILVA » O eleitor de 58 milhões de votos

Lula conta como foi 'desencarnar' da Presidência e diz que percorrerá o Brasil por Dilma


Tereza Cruvinel, Leonardo Cavalcanti


Estado de Minas: 29/09/2013 


'(Sair da Presidência) foi como se me desligassem de uma tomada. O general disse: 'Olha, daqui a três dias os celulares serão desligados e os carros, recolhidos'. Mas levaram apenas três minutos para me desconectarem' (Luludi/Esp.CB. Brasil)
"(Sair da Presidência) foi como se me desligassem de uma tomada. O general disse: 'Olha, daqui a três dias os celulares serão desligados e os carros, recolhidos'. Mas levaram apenas três minutos para me desconectarem"








São Paulo – A casa discreta no tradicional Bairro do Ipiranga em nada lembra os palácios de Brasília, mas seu principal inquilino ali trabalha cerca de 10 horas por dia, com a mesma disposição com que, nos oito anos em que governou o Brasil, extenuava auxiliares – hoje reduzidos a uma pequena equipe.

O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva levanta-se em São Bernardo do Campo às 6h, faz duas horas de exercícios físicos, toma café e chega ao instituto que leva seu nome por volta das 9h, raramente saindo antes das 20h. Recebe políticos, empresários, sindicalistas, intelectuais, agentes sociais e personalidades em busca de seu apoio a uma causa ou projeto. Quase três anos após deixar a Presidência e depois da vitória contra o câncer, Lula declara que está completamente “desencarnado” do cargo e com a saúde restaurada, o que a voz, agora limpa das sequelas do tratamento, confirma.

Por telefone, ele é alcançado também por interlocutores de diferentes países, com convites para viagens e palestras no Brasil e no exterior. No ano que vem, o ritmo vai cair, pois ele vai ajudar, “como puder”, na campanha da sucessora, Dilma, pela reeleição. “Se ela não puder ir para o comício num determinado dia, eu vou no lugar dela. Se ela for para o Sul, eu vou para o Norte. Se ela for para o Nordeste, eu vou para o Sudeste”, disse o ex-presidente.

Nas instalações simples da casa no Ipiranga, o que denuncia o inquilino são as fotografias nas paredes, de momentos especiais da Presidência, selecionadas pelo fotógrafo Ricardo Stuckert, que continua a seu lado, assim como os assessores Clara Ant, Luiz Dulci e Paulo Okamoto. Na sala de trabalho, em vez das cigarrilhas, chicletes sabor canela. Foi lá que, na quinta-feira, Lula recebeu os Diários Associados para a sua primeira grande entrevista depois de deixar o governo. Em duas horas ele falou de tudo: da vida no poder e fora dele, da disputa eleitoral do ano que vem, passando por espionagem, Mais Médicos, mensalão e novos partidos. 


 (Luludi/esp. cb/d.a press)

Lula também falou, pela primeira vez, sobre a Operação Porto Seguro, a investigação da Polícia Federal que revelou um esquema de favorecimentos em altos cargos do governo federal e provocou a demissão de Rosemary Noronha, a ex-chefe do gabinete da Presidência da República em São Paulo. E disse ter saudades de Brasília: “O nascer e o pôr do sol no Alvorada são inesquecíveis”.

Considerado um eleitor de 58 milhões de votos por conta do total de apoios conquistados na última eleição que disputou, em 2006, Lula confessou, sem dissimulação, que deixar o poder foi “como se me tivessem desligado da tomada”. E que não é fácil aprender a ser ex-presidente. Para evitar a tentação de dar palpites sobre o novo governo, disse que decidiu visitar 32 países nos 10 primeiros meses de 2011, até que o câncer foi descoberto, no dia de seu aniversário, 27 de outubro.

Vencido o calvário do tratamento, ele voltou à rotina no instituto, vacinou-se contra o “volta, Lula”, antecipando o lançamento da candidatura Dilma, e agora se prepara para mais uma campanha eleitoral. Ele acha que a presidente será reeleita, lamenta o desenlace da aliança com Eduardo Campos (PSB), embora reconheça as qualidades do governador de Pernambuco para a disputa, evita especular sobre o destino dos votos de Marina Silva, caso ela saia da corrida, e parece revelar preferência por José Serra como adversário tucano, ao dizer que o PSDB terá mais trabalho para tornar Aécio Neves conhecido. Uma contradição com o que ele mesmo fez, ao lançar uma também desconhecida Dilma como candidata em 2010. Uma coisa é certa: “desencarnado” e em plena forma, Lula será um “grande eleitor” em 2014.




Deixar de ser presidente trouxe alívio ou pesar?
Não é fácil falar sobre isso. Eu achava que seria simples deixar a Presidência. O (João) Figueiredo, que saiu pela porta dos fundos, até pediu para ser esquecido. Quando a pessoa não sai bem, quer esquecer mesmo. Mas eu saí no momento mais auspicioso da vida de um governante. Eu brincava com o Franklin (Martins): se eu ficar mais alguns meses, vou ultrapassar os 100% de aprovação. Foi como se me desligassem de uma tomada. Num dia você é rei, no outro dia não é nada. Depois de entregar o cargo, cheguei a São Bernardo e havia um comício, organizado por amigos e pessoas do sindicato. O Sarney me acompanhou. Antes, visitei o Zé Alencar, choramos juntos. Eu fiquei danado da vida porque achava que ele devia ter ido à posse e subido a rampa de maca, mas os médicos não deixaram. Participei do comício e quando deram 11h da noite eu subi para o apartamento. Ao me despedir dos que trabalharam comigo na segurança e voltariam a Brasília, o general me disse: “Olha, presidente, daqui a três dias os celulares da Presidência serão desligados e os carros serão recolhidos”. Mas levaram apenas três minutos para me desconectarem. Este é o lado hilário da coisa. Mas ser ex-presidente é um aprendizado sobre como se comportar, evitando interferir no novo governo. Quem sai precisa limpar a cabeça, assimilar que não é mais presidente. Mas é difícil sair de um dia a dia alucinante, acordar de manhã e perguntar: e agora?

Mas como conseguiu resolver o “desligamento”?
Entre março de 2011 e a descoberta do meu câncer, em outubro, eu fiz 36 viagens internacionais, visitei dezenas de países africanos e latino-americanos. Eu queria ficar fora do Brasil para vencer a tentação de ficar dando palpites. Decidi voltar para o instituto, que eu já tinha, e comecei a trabalhar aqui. No dia do meu aniversario fui levar a Marisa para fazer um exame mas acabaram descobrindo o câncer em mim. E aí foi um ano de tortura. Nunca pensei que fosse tão difícil fazer quimioterapia e radioterapia. A doença, a internação, o fato de não poder falar ajudaram no desligamento. Fui desencarnando e hoje isso está bem resolvido na minha cabeça. Este ano, no evento dos 10 anos de governos do PT, quando eu disse que a Dilma era minha candidata, eu queria tirar de vez da minha cabeça a história de voltar a ser candidato. Antes que os outros insistissem, antes que o PT viesse com gracinhas, antes que os adversários da Dilma viessem para o meu lado, eu resolvi dar um basta e fim de papo.

Mesmo com eventuais “volta, Lula”, com manifestações, crises?
Mesmo. Hoje há pessoas defendendo o fim da reeleição. Eu sempre fui contra a reeleição, mas hoje posso dizer que ela é um beneficio, uma das poucas coisas boas que copiamos dos americanos. Em quatro anos, você não consegue realizar uma única obra estruturante no país. Depois, o eleitor pode julgar o governante no meio do período. Bush pai não se reelegeu, Carter não se reelegeu. Mas foi bom para os Estados Unidos o Clinton ter governado oito anos.

O senhor não ficou tentado a buscar o terceiro mandato, quando o deputado Devanir apresentou aquela emenda?
Eu fui contra. Chamei o partido e disse: ‘Não quero brincar com a democracia. Se eu conseguir o terceiro, amanhã virá alguém querendo o quarto, o quinto’. Sou amplamente favorável à alternância no poder, de pessoas e de segmentos sociais. Comigo, pela primeira vez um operário chegou à Presidência. Com a Dilma, a primeira mulher. Quer mais mudança do que isso? Quero que o povo continue mudando. Para errar ou acertar, não importa.

Deixar o poder traz mais liberdade?
Eu nunca tive liberdade, nem antes nem depois. Fiquei oito anos em Brasília sem ir a um restaurante, a um aniversário, a um casamento, porque tinha medo daquele mundo futriqueiro de Brasília. Mesmo hoje, prefiro passar o fim de semana em casa, de bermudas.

O que considera como mudanças importantes deixadas por seu governo?
As coisas que foram feitas, se em algum momento foram negadas, a verdade foi mais forte que a versão. A ONU acaba de reconhecer, com dados irrefutáveis, que o Brasil foi o país que mais combateu e reduziu a pobreza nos últimos 10 anos. Eu queria provar que, quando o Estado assume a responsabilidade de cuidar dos pobres, isso tem efeitos. Tenho muito orgulho de ter sido um presidente que, sem ter diploma universitário, foi o que mais criou universidades no Brasil, o que mais fez escolas técnicas, o que colocou mais pobres na universidade... Já houve presidentes da República que tinham diplomas e mais diplomas, fizeram muito pouco pela educação. A outra coisa de que muito me orgulho é de ter sido o primeiro presidente que fez com que o povo se sentisse na Presidência.

E o que o senhor considera o maior erro de seu governo?
Certamente cometi muitos erros. Os adversários devem se lembrar mais deles do que eu. Mas fiz as coisas que achava que poderia fazer. Há quem me pergunte se não me arrependo de ter indicado tais pessoas para a Suprema Corte. Eu não me arrependo de nada. Se eu tivesse que indicar hoje, com as informações que eu tinha na época, indicaria novamente.

E com as informações atuais?
Eu teria mais critério. Um presidente recebe listas e mais listas com nomes, indicados por governadores, deputados, senadores, advogados, ministros de tribunais. E é preciso ter quem ajude a pesquisar e avaliar as pessoas indicadas. Eu tinha o Márcio Thomaz Bastos no Ministério da Justiça, o (Dias) Toffoli na Casa Civil... Uma coisa que lamento é não ter aprovado a reforma tributária, e tentei duas vezes. Hoje estou convencido de que não poderá ser feita como pacote, mas fatiada, tema por tema. Eu mandava um projeto com apoio de todo mundo, mas as forças ocultas de que falava o Jânio se apresentavam nas comissões do Congresso e paravam tudo. Eu receava também que segundo mandato fosse repetitivo, com ministros não querendo trabalhar. Foi aí que tivemos a ideia do PAC. Mas acho que poucos conseguirão repetir o que fizemos entre 2007 e 2010. Era o time do Barcelona jogando. Tudo fluiu bem. Posso ter errado, mas não tenho arrependimentos. Tenho frustração de não ter feito mais.

Voltando à indicação dos ministros do STF. Hoje, se o senhor pudesse voltar no tempo...
Nem podemos pensar nisso. Eu não sou mais presidente, eles já estão indicados e vão se aposentar lá.

O senhor continua fazendo palestras?
Tenho feito, mas vou reduzir. No ano que vem vou me dedicar um pouco à campanha. Vocês sabem que um ex-presidente da Republica não tem aposentadoria. Não tendo aposentadoria de outra origem, terá que ser mantido pelo partido dele ou terá que se virar. Mas você só é convidado para fazer palestras se tiver tido êxito no governo. O Fernando Henrique inovou e passou a fazer palestras. O PT ofereceu-me um salário e eu agradeci. Eu mesmo ia tratar da minha sobrevivência.

O que acha das críticas de que existiria conflito de interesses quando as empresas têm contratos com o governo?
Acho uma cretinice. Primeiro porque não faço nada além do que eu fazia como presidente. Eu tinha orgulho de chegar a qualquer país e falar da soja, do etanol, da carne, da fruta, da engenharia, dos aviões da Embraer... Eu vendia isso com o maior prazer do mundo. Com orgulho. Eu achava que isso era papel do presidente da República. Se eu puder vender as empresas brasileiras na Nigéria, no Catar, na Líbia, no Iraque, na África, eu vou vender. Estas críticas também refletem o complexo de vira-lata. É não compreender o sentido disso. Tenho orgulho de saber que quando cheguei à Presidência não havia uma só fábrica brasileira na Colômbia e hoje existem 44. Havia duas no Peru e hoje são 66. De termos ampliado nossa presença na Argentina ou na África. Se não formos nós, serão os chineses, os ingleses, os franceses. Todas as empresas, inclusive as de jornais e de televisão, têm lobistas em Brasília. Mas são chamados de diretores corporativos ou institucionais. Agora, se alguém faz pelo país, é lobista. Faz parte da pequenez brasileira. Veja o caso da Copa do Mundo. Todo país quer sediar uma Copa do Mundo. O Brasil não pode. Ah, porque temos problemas de saúde e moradia! Todos os países têm problemas, e por isso não pode ter Copa do Mundo e Olimpíada? E o quanto uma nação ganha com isso, do ponto de vista cultural, do ponto de vista do desenvolvimento? Qual é a denúncia contra as obras?

Nos protestos, a crítica era ao custo das obras…
Ora, se em 1950 o Brasil pôde fazer um estádio para a Copa do Mundo, em 2013 não podemos fazer outros? Pergunto: qual é a denuncia? Eu deixei dois decretos, um sobre a Copa e outro sobre a Olimpíada, que estão no site da CGU. Perguntem ao Jorge Hage onde tem corrupção na Copa. O TCU designou um ministro, o Valmir Campelo, encarregado de fiscalizar especificamente os gastos com a Copa. Perguntem a ele onde há corrupção. A Copa está marcada e tem que ser feita com a maior grandeza. Se alguém praticar corrupção, que seja posto na cadeia. 







A prorrogação do julgamento do mensalão, levando as prisões de petistas para o próximo ano, em plena campanha, pode atrapalhar os candidatos do PT e a própria Dilma?
Eu não acredito, não. As pessoas têm o hábito de menosprezar a inteligência do povo. A história não é contada no dia seguinte, a história é contata 50 anos depois. E eu acho que a história vai mostrar que, mais do que um julgamento, o que nós tivemos foi um linchamento, por uma parte da imprensa brasileira, no julgamento. Eu tenho me recusado a falar disso porque sou ex-presidente, indiquei os ministros. Vou falar quando o julgamento terminar. Uma coisa eu não posso deixar de criticar. Se pegar o último julgamento agora (dos embargos infringentes), o que a imprensa fez com o Celso de Mello foi uma coisa desrespeitosa à instituição da Suprema Corte, que é o último voto. Ou seja, depois dela, ninguém mais pode falar. Eu fiquei irritado certa vez, quando eu era presidente, o (Sepúlveda) Pertence tomou uma decisão e alguém escreveu que José Dirceu tinha ganho no tapetão, sem nenhum respeito a uma figura como o Pertence. Veja a arrogância e a petulância de algumas pessoas. Elas amanhã poderão ser julgadas e vão querer o direito de defesa. A sociedade brasileira já aprendeu a separar o joio do trigo, inclusive pelo que tentaram fazer comigo em 2006, na campanha. Ninguém poderia ter sido mais violento comigo do que foi o (Geraldo) Alckmin. Todo mundo sabe o que aconteceu na véspera da eleição, quando o delegado da Polícia Federal mentiu que tinham roubado a fita (na realidade, um CD), sendo que ele mesmo fez a entrega para quatro jornalistas. (Aqui, Lula se refere ao “escândalo dos aloprados” e ao vazamento das fotos do dinheiro usado para comprar falsos dossiês contra José Serra e Geraldo Alckmin.) Todo mundo sabe o que houve na eleição do (Fernando) Haddad. Aquele julgamento (do mensalão) no meio da eleição, qual era o objetivo? Tudo isso o povo percebe.

Então o senhor acha que não terá efeito?
O povo sabe separar as coisas. Agora, o que não se pode é negar o direito das pessoas de exigirem provas. Eu sinceramente tenho muita vontade de falar, mas eu preciso me calar. Alguns companheiros estão condenados. Se amanhã a Justiça falar que absolveu, estarão condenados do mesmo jeito. Ninguém se dá conta do que aconteceu com a família das pessoas, com os filhos das pessoas. Esta substituição da informação pela versão que interessa não pode ser adequada à construção de um país democrático.

O tema econômico da hora são as concessões. Na eleição, a oposição não vai explorá-las como uma forma de privatização feita pelo PT, que combateu as privatizações tucanas?
Não é privatização. Deixa eu dizer uma coisa: é urgente mudar a Lei 8.666/93, que regula as licitações nesse país, se quisermos que as coisas aconteçam. Hoje, para fazer uma obra, são tantos os obstáculos, como eu já disse…TCU, Ibama, CGU, Iphan… Uma verdadeira máquina de fiscalização que emperra a máquina da execução. Então, é melhor passar pelo crivo uma só vez e entregar o serviço para a iniciativa privada explorar, com mais facilidade e rapidez. A segunda coisa é que o Estado também não tem recursos. As concessões são um convite à iniciativa privada, que pode suprir a deficiência do Estado para investir. A Dilma estava na Casa Civil, nós reuníamos os ministros e órgãos envolvidos nos projetos. Eu falava todos os palavrões que tinha de falar, mas as coisas não andavam. Um problema aqui, outro ali. Temos que encontrar uma solução. A Dilma anunciou as concessões em junho do ano passado e os leilões só estão saindo agora. Se estivéssemos em 1955, começando a construir Brasília, nem a picada para o avião do JK pousar tinha saído.

Como o senhor avalia a decisão da CGU de pedir a destituição do serviço público da ex-chefe do Gabinete da Presidência de São Paulo, Rosemary Noronha, por 11 irregularidades, incluindo propina, tráfico de influência e falsificação de documentos?
Ela já estava demitida. O que a CGU fez foi confirmar o que todo mundo já sabia o que ia acontecer.

Mas tudo ocorreu dentro de um escritório da Presidência, em São Paulo...
Deixa eu falar uma coisa. A CGU julgou um relatório feito pela Casa Civil. E, pelo o que eu vi, do relatório, ele confirma as conclusões da Casa Civil. Todo servidor que comete algum ilícito tem de ser exonerado. O que valeu para o escritório vale para qualquer lugar no Brasil, no setor público. Vale para banco, vale para a Receita Federal. Vejo isso com muita tranquilidade. (Lula se vira para o assessor de imprensa e pergunta) “Não foi exonerado esses dias um companheiro que trabalhava com a Ideli (Salvatti)? (Lula se refere ao assessor da Subchefia de Assuntos Federativos Idaílson Vilas Boas Macedo, após notícias de que faria parte do esquema de lavagem de dinheiro descoberto pela Polícia Federal na Operação Miqueias.)

O que o senhor achou da reação do governo brasileiro em relação à espionagem norte-americana?
Dilma agiu certo. Não podia aceitar a ideia que o (Barack) Obama tentou passar, de que não aconteceu nada. Com aquele jeitão imperial do Obama falar.

Quase três anos depois de deixar a Presidência, como o senhor gostaria de ser lembrado?
O que me importa é a forma como serei lembrado pelas pessoas. Algo que me marcou foi meu último encontro com os cantadores de material reciclado e moradores de rua de São Paulo. Uma menina, afrodescendente, pegou o microfone e perguntou: “Presidente, você sabe o que mudou na minha vida nestes oito anos?” Eu não sabia. E ela disse: “Não foi o dinheiro que eu ganhei, nem as cooperativas que organizei. Foi o direito de andar de cabeça erguida que o senhor me restituiu. Hoje, não tenho vergonha de andar com o carrinho catando papelão na rua. Me sinto tão importante quanto os que passam de carro ao meu lado”. Nada é mais gratificante que isso. Foi o que me inspirou a pedir ao Fernando Morais para tentar fazer uma biografia do meu governo, conversando com quem ele quiser: banqueiro, dono de jornal, metalúrgico, bancário, catador de papel. Ouvir o que as pessoas pensam é mais importante, pois todo mundo tem tendência a falar bem de si mesmo.


Falando nas manifestações, o que mudou com elas no Brasil?
Eu acho que fizeram muito bem ao Brasil. Com exceção dos mascarados. Todas as reivindicações que apresentaram, um dia nós também pedimos. Veja o discurso do (Fernando) Haddad na campanha de São Paulo: “Da porta da casa para dentro a vida melhorou, mas da porta para fora ainda precisa melhorar”. Hoje, muito mais gente anda de carro, mas o transporte público não melhorou. Eu andava de ônibus lotados como latas de sardinha em 1959, e continua a mesma coisa. O povo nos disse o seguinte: “Já conquistamos algumas coisas e queremos mais”. As pessoas querem mais, mais salário, mais transporte, melhorarias na rua, e isso é extraordinário. Nem dá mais para ficar dividindo tarefa: isso é com o prefeito, isso com o governador, aquilo com o presidente. Agora é tudo junto.

E o programa Mais Médicos, é uma boa solução?
É uma coisa fantástica, mas vai fazer com que o povo fique ainda mais exigente com a saúde. O sujeito vai subir o primeiro degrau. Vai ter um médico que vai lhe pedir os primeiros exames, e a saúde vai ser problema outra vez. Discutir saúde sem discutir dinheiro, não acredito. E não adianta dizer, como fazem os hipócritas, que o problema é só de gestão. Chamem os 10 melhores gestores do planeta e perguntem como oferecer tomografia, ressonância, tratamento de câncer sem dinheiro. O hipócrita diz: “Eu pago caro por um plano de saúde, porque o SUS não me atende”. Mas, quando ele vai fazer a declaração de renda, desconta tudo do imposto a pagar. Então quem paga a alta complexidade para ele é o povo brasileiro. E aí vem a Fiesp fazer campanha para acabar com a CPMF. Não foi para reduzir custos, mas para tirar do governo o instrumento de combate à sonegação.

O Mais Médicos é uma marca de governo para Dilma?
Os médicos brasileiros que protestaram sabem que cometeram um erro gravíssimo. O (Alexandre) Padilha tem dito, corretamente: “Não queremos tirar o emprego de médico brasileiro. Queremos trazer médicos para atender nos locais onde faltam médicos brasileiros”. Em vez de protestar, eles deveriam ter feito um comitê de recepção aos colegas estrangeiros. E Deus queira que um dia o Brasil forme tantos médicos que possa mandar médicos para um país africano. É admirável que um país pequeno como Cuba, que sofre um embargo comercial há 60 anos, tenha médicos para nos ceder.

Na semana passada, foram criados dois partidos políticos, houve um grande troca-troca de deputados, para lá e para cá. Como o senhor vê isso?
O fato de você legalizar um partido é o menos importante. Levar 10, 15 deputados, também. Eu quero saber é se na próxima eleição estes partidos passarão pelo teste das urnas.

Marina Silva talvez não consiga registrar o partido dela…
Quando nós fomos construir o PT, as exigências legais eram até maiores. Na primeira eleição, eu achava que seria eleito governador de São Paulo. Eu era uma figura estranha, um metalúrgico, levava muita gente aos comícios. Fiquei em quarto lugar. O Estadão fez uma pesquisa, dizendo que eu tinha 10%. Eu logo xinguei a imprensa burguesa (risos). E eu tive exatamente 10% (risos). Então, essas pessoas que estão criando partidos vão ter de trabalhar muito. E precisamos evitar as legendas de aluguel. Não serei contra, depois de tudo que fiz pela criação do PT. Eu não sei se a Marina vai cumprir as exigências legais. Ela é uma personalidade política do país, tem todo o direito de criar um partido. Agora, tem de ter coragem de dizer que é partido, não tem que inventar outro nome, dizer que não é partido, é uma rede. É partido e vai ter deputado, como todo partido. Mas o que vai contar nas eleições de 2014 são os partidos existentes: o PT, o PMDB, o PSB, o PSDB e outros mais.

Agora, sem a candidatura de Marina, a disputa presidencial se alteraria, não?
Ela ainda tem tempo. Ela tem de assistir ao dia final do julgamento com a ficha de outro partido do lado. Eu acho que a Marina tem o direito de ser candidata. Marina é um quadro político importante para o país. Caso ela não consiga o partido e não seja candidata, será importante saber para onde vão os votos dela. Ninguém pode perder o pé da realidade do país, achar-se melhor que o Congresso, que lá só tem corrupto, como vejo alguns dizerem.
O senhor mesmo já falou, quando disse que no Congresso havia 300 picaretas...
O Congresso é a cara da sociedade brasileira. Ulysses Guimarães dizia: “Toda vez que a sociedade começa a falar em muita mudança no Congresso, o Congresso piora”.

Quase 300, na realidade 280 deputados, foram responsáveis de alguma forma pela absolvição do deputado Natan Donadon em plenário...
Veja que eu não errei. O que acontece no Congresso acontece num clube de futebol, acontece no condomínio em que a gente mora, na sauna... Você tem gente de qualidade, você tem gente de menos qualidade, gente comprometida com os setores mais à esquerda, gente comprometida com os setores mais à direita. Se as pessoas fossem de direita ou de esquerda, era melhor do que serem simplesmente fisiológicas. O que eu acho que mata na política é o fisiologismo. E você não vai acabar com isso. É uma cultura política que está estabelecida no mundo, não é só no Brasil. E não é uma questão nacional, senão a Itália não tinha o Berlusconi.

Mas o senhor defende a reforma política não é buscando superar estes problemas?
Eu defendo a reforma política, mas acho que ela só virá quando tivermos Constituinte própria para fazê-la. O Congresso não vai aprovar. Pode fazer uma mudança aqui, outra ali, mas não uma reforma profunda. Defendo o financiamento público porque eu acho que é a forma mais barata e mais honesta de fazer campanha. Por que os empresários não defendem o financiamento público? Não seria melhor para eles não ter que dar dinheiro para candidato? Mas eles preferem que os políticos dependam deles. Eu li a biografia do Juscelino, os dois volumes do (Getúlio) Vargas, do Lira Neto (escritor cearense), estou lendo a biografia de Napoleão Bonaparte e a do Padre Cícero. A política é sempre a mesma. Nos Estados Unidos, Abraham Lincoln precisou vencer os mesmo obstáculos. Penso que com partidos mais sérios e valorizados, com mais seriedade nas campanhas, a política vai se qualificando e motivando mais. Eu sempre digo aos jovens: mesmo que você não acredite em mais ninguém, e ache que todos são corruptos, não desista. O político honesto que você procura pode estar dentro de você. Ao invés de negar a política, entre na política.

O momento mais delicado da Dilma ocorreu durante as manifestações. E naquele momento o PMDB, o principal aliado do PT, tentou emparedar a presidente no Congresso...
O ideal de um partido político é eleger um presidente da República, eleger a maioria dos governadores, eleger a maioria dos senadores, a maioria dos deputados federais. Isso é o ideal. Não parece maravilhoso? Pois bem, em 1987, o PMDB teve isso. O PMDB elegeu 306 constituintes e 23 governadores. O (José) Sarney teve moleza? Não teve. O principal adversário do Sarney era Ulysses Guimarães. Por isso eu prezo a democracia. Eu fico imaginando se o PT tivesse 400 deputados, 79 senadores. Iria ser fácil? Temos de aprender a lidar com a realidade. Angela Merkel acabou de ganhar as eleições na Alemanha, mas, para governar, terá que fazer aliança.

E a divisão interna no PT, entre lulistas e dilmistas?
Se houver alguém que se diz lulista e não dilmista, eu o dispenso de ser lulista. A Dilma é a presidente da República e ela representa o PT. Eu não estou pedindo que as pessoas gostem de Dilma. Eu quero que as pessoas a respeitem na função institucional e saibam que o PT está lá para apoiá-la. O povo de Brasília votou no (José Roberto) Arruda porque acreditou que o Arruda ia fazer as mudanças prometidas. Não deu certo. Você vai dizer que o eleitor do Roriz era pior do que o eleitor do Agnelo? Não era. O eleitor vota esperando que as coisas melhorem. Se tivermos agora como candidatos Dilma, Aécio, Eduardo Campos e Marina, o Brasil está qualificado. Todos candidatos de centro-esquerda para a esquerda.

O senhor tentou evitar o rompimento de Eduardo Campos com o governo. Agora que aconteceu, como ficará este relacionamento? Ele pode sair do campo de sua influência, o campo da esquerda?
Eu não tenho influência. Mas eu gostaria que não tivesse acontecido o que aconteceu.

Quem errou?
Não sei, acho que todo mundo errou. E eu posso estar errado também. Pode ser que o governo e o Eduardo estejam certos no rompimento, e eu errado. Mas eu não dou de barato que o Eduardo é candidato. Ele tem potencial? Ele tem estrutura, sabedoria política? Tem. Ele pode ser candidato, como o Aécio, a Marina. Eu só acho que foi um prejuízo para a gente ter o PSB, e sobretudo o Eduardo Campos, do outro lado. Isso aconteceu apenas quando o Garotinho foi candidato contra mim, em 2002. Se ele vai ser candidato, nós temos de ter uma regra de comportamento. Se a eleição não terminar no primeiro turno, poderemos ter aliança no segundo turno. Mas eu não dou de barato que as coisas estão definidas na eleição. Nem para o Eduardo Campos ser candidato, nem para o Aécio ser candidato. Sabe-se lá o que o Serra vai tramar contra o Aécio? Nem para a Marina. Eu acho que a gente tem de ver o seguinte: temos de esperar, até março. São mais seis meses pela frente, até as pessoas anunciarem de fato suas candidaturas. Sei apenas que, entre todos, a Dilma é a que tem mais credenciais e é mais qualificada para governar o Brasil. Eu vou percorrer o Brasil como se eu fosse candidato.

Qual será a diferença, na disputa com o PSDB, em ter o Aécio como candidato, e não o Serra?
Eu acho que vai trazer mais dificuldades para o PSDB. O Aécio vai ter que se tornar conhecido. O Serra já é conhecido, tem o recall de outras disputas. Não é fácil criar um candidato num país do tamanho do Brasil. Então eu não sei como o PSDB vai conseguir se livrar do Serra ou se o Serra vai conseguir provar que tem mais qualidades para ser candidato. Mas o PT não pode escolher adversário. Tem que enfrentar quem aparecer, e acho que pode ganhar dos dois.

Sua participação na campanha da Dilma agora será diferente da que teve em 2010?
Tem de ser diferente. Em 2010 a Dilma não era conhecida. Fizemos uma campanha para que ela se tornasse conhecida, e para mostrar ao eleitor o grau de confiança que eu tinha nela. Obviamente que depois de quatro anos de governo a Dilma passou a ser muito conhecida e conseguiu construir a sua própria personalidade. Então já tem muita gente que vai votar na Dilma independentemente de o Lula pedir. Naquilo que eu tiver influência, nas pessoas que eu tiver influência, eu vou pedir para votar na Dilma. O que eu vou fazer na campanha depende dela. Eu não quero estar na coordenação, eu quero ser a metamorfose ambulante da Dilma. Estou disposto. Se ela não puder ir para o comício num determinado dia, eu vou no lugar dela. Se ela for para o Sul, eu vou para o Norte. Se ela for para o Nordeste, eu vou para o Sudeste. Isso quem vai determinar é ela. Eu tenho vontade de falar, a garganta está boa. Eu estou com mais disposição, mais jovem. Apesar da idade, eu estou fisicamente mais preparado. Estou com muita saudade de falar. Faz tempo que eu não pego um microfone na rua para falar. Conversar um pouco com o povo brasileiro. Vou ajudar. Se for importante ficar quieto, eu vou ficar quieto. A única coisa que eu não vou fazer é cantar, porque eu sou desafinado, mas no resto ela pode contar comigo.