quinta-feira, 12 de fevereiro de 2015

Direção - Eduardo Almeida Reis

Hoje os automóveis têm cintos de segurança e air bags, mas os pedestres, os postes, as paredes e a lataria dos outros veículos ainda não contam com essas comodidades


Estado de Minas: 12/02/2015




Em números redondos, desde o começo da Lei Seca no trânsito do Rio, caiu 13% o número de motoristas parados nas blitze “depois de ingerir bebida alcoólica”. Quando começaram as blitze (plural de blitz), eram mais de 20% e hoje são pouco mais de 7%. Realmente, álcool e volante não combinam, como também descombinam barbeiros e direção. Continuo defendendo a tese de que mais de 80% dos portadores de carteiras nacionais de habilitação não sabem dirigir.

Hoje os automóveis têm cintos de segurança e air bags, mas os pedestres, os postes, as paredes e a lataria dos outros veículos ainda não contam com essas comodidades. Voltemos no tempo, não mais que 40 anos. Os carros não tinham air bags nem cintos de segurança – e o pessoal bebiam, como diz Luiz Inácio. Um agiota estabelecido na Rua México, Centro do Rio, bebia cavalarmente, ficava trêbado e todos os dias voltava dirigindo para Copacabana, onde morava. Cansei-me de pegar carona em seu carro, sem cinto e air bag, para saltar no Morro da Viúva, onde morei. Escapei ileso, ortoépia é ou ê, diz Houaiss, mas prefiro é.

Não raras vezes recorri aos seus juros escorchantes para escapar das entaladas em que andei metido criando galinhas e plantando abacateiros. Tive notícia das vezes em que o bom amigo destruiu postes, mas morreu de velho emprestando dinheiro a juros. Outro amigo, desta vez amigo/irmão, também bebia cavalarmente, casava-se com frequência e dirigia veículos automotores. Até que uma noite entrou na rua mais larga do Leblon, deserta, quando só havia um veículo estacionado junto da calçada. Sabe o leitor o que fez esse amigo/irmão? Trombou no único veículo e destruiu os dois carros. A partir de então, contratou motorista noturno.

Ideal, lógico e inteligente é não beber quando a gente vai dirigir, o que não significa ausência de riscos. Contei-lhes de uma leitora aqui de Juiz de Fora que saiu para beber com amigos, tomou um táxi de volta para casa e o motorista estava bêbado feito um gambá. É raro, mas acontece.

Matinais

Acordar cedo não é crime capitulado no Código Penal. Mesmo sem obrigação profissional, acordo cedo. Logo depois das 6h já estou de banho tomado, janelas abertas, tevê ligada. Antes do café dou uma espiada nos bons-dias Minas, Rio e São Paulo. Os dois últimos enfatizam o trânsito naquelas cidades, milhares, milhões de veículos que se dirigem para as regiões centrais. Em São Paulo os ônibus articulados já são maioria. Vejo ainda muitos triônibus, o da frente com motorista e dois outros a reboque. Sem falar do metrô que a gente não vê do helicóptero.

É cena que contraria a natureza, digam lá o que disserem todos os especialistas em urbanismo, sociologia e outras ciências. Em defesa de minha tese, de resto indiscutível, peço licença para lembrar ao leitor que ainda em 1908, portanto há 107 aninhos, a Light anunciava pelo Estadão e pelos jornais cariocas a conveniência da instalação da eletricidade doméstica.

Não foi há mil anos, mas ainda outro dia. E a empresa prometia a troca das lâmpadas queimadas. Você levava a lâmpada e recebia de volta e de graça outra novinha. No dia em que escrevo há 350 mil pessoas sem energia elétrica só na cidade de São Paulo. Ontem havia 600 mil.

Logo, logo, a capital de todos os mineiros terá problemas de trânsito comparáveis aos do Rio e São Paulo. Se isso não é contrariar a natureza, confesso que não entendo mais nada. E o leitor está dispensado de dizer que nunca entendi: seria descortês.

 O mundo é uma bola


12 de fevereiro de 881: coroação de Carlos III, o Gordo, como imperador do Sacro Império Romano-Germânico. O Gordo (839-888) nasceu em Neidingen e morreu em Reichenau. Casou-se em 862 com Richarda da Suábia (845-900), que, como sabe o leitor ou devia saber se perdesse tempo com essas bobagens, era filha do conde Erchander. Tiveram dois filhos. Sem-vergonha como todo imperador gordo, Carlos III teve ainda Bernardo da Germânia, filho bastardo. Desconhecendo a cirurgia bariátrica – e a bariatria é o ramo da medicina que estuda as causas e consequências da obesidade e o seu tratamento – o Gordo bateu o pacau aos 49 aninhos.

Em 1541 Pedro de Valdivia, militar e conquistador espanhol, funda Santiago do Chile. Hoje, o Palmeiras tem um jogador chamado Valdívia, acho que chileno, razoável quando não está machucado. Em 1870, as mulheres de Utah recebem o direito de voto. Utah foi um dos primeiros estados ou territórios a conceder esse direito às mulheres. Salvo engano, é a região dos mórmons, que concediam ou ainda concedem às mulheres o direito de dividir um marido (poliginia). De repente, um marido dividido por quatro ou mais mulheres fica menos chato do que o deus do lar monogâmico. Hoje é o Dia do Orgulho Ateu.

Ruminanças

“Perguntaram um dia a alguém se havia ateus verdadeiros. Você acredita, respondeu ele, que haja cristãos verdadeiros?” (Diderot, 1713-1784)

Centros musicais ao alcance das mãos

Centros musicais ao alcance das mãos 

  Em tempos em que serviços de streaming de áudio conquistam cada vez mais usuários, surgem no mercado três aplicativos, criados no Brasil, cada um deles com uma proposta diferente


Marcus Celestino
Estado de Minas: 10/02/2015



Exclusivo para iOs, já há planos  de que o SoundShare chegue ao Android (Divulgação)

Exclusivo para iOs, já há planos de que o SoundShare chegue ao Android


O app Radialize já está disponível para Android e iOs e melhorias devem vir em futuras versões (Divulgação
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O app Radialize já está disponível para Android e iOs e melhorias devem vir em futuras versões

Numa época em que os serviços de streaming de áudio arrebatam cada vez mais usuários, há que se esforçar para conquistar um espaço e perdurar no mercado. Por isso, inúmeras soluções são apresentadas ano após ano a fim de conquistar pessoas que busquem uma área diferente neste nicho em específico. Alguns brasileiros têm desenvolvido, e até mesmo adaptado de outrem, aplicativos interessantes com o enfoque nas canções. Três dos mais bacanas detectados pela reportagem recentemente, se consistindo em excelentes ideias, são o SoundShare, o Punks S.A. e o Radialize, uma tríade na qual cada um apresenta propostas diferentes.

Não à toa algumas das grandes mentes da Apple ficaram extasiados com o SoundShare. “Eles ficaram muito surpresos, espantados, com a qualidade e também por eu ter feito tudo sozinho”, comenta o CEO da companhia, o mineiro Mateus Abras. Podemos equiparar o que o SoundShare faz pelas músicas com o que o Instagram faz pelas fotos. A ferramenta lhe mostra as músicas que seus amigos estão escutando e, caso elas estejam disponíveis no SoundCloud, você pode ouvi-las na íntegra – diferentemente, por breves 30 segundos. O grande barato do app é que, ao ouvir uma canção no player de seu iPhone, ela é devidamente identificada e todos os que te “seguem” têm conhecimento do que você está apreciando no momento. Tal solução faz com que você amplie seus horizontes musicais.

Exclusivo para iOs, já há planos de para que o SoundShare chegue ao Android. “É de nosso interesse ir para o Android, mas isso envolve uma questão de custos e também meu perfeccionismo. Quero que ele esteja perfeito para o funcionamento nesse sistema operacional”, salienta o empreendedor, que chegou a pensar durante a faculdade em trabalhar na seara dos filmes de animação em três dimensões como os da Disney/Pixar. Com relação ao serviço, Abras enfatiza que seu produto não está no mesmo balaio de Spotify ou rádio, por exemplo. “Temos que ser comparados com uma rede social e não com um serviço de streaming de áudio”, ressalta. “Quero que o SoundShare seja uma plataforma parecida com o Facebook, que ele seja um centro musical.” Vale frisar que, por enquanto, para usufruir da rede tem de se receber um convite de um colega, assim como funcionavam o próprio Facebook e o finado Orkut eram em suas fases embrionárias.

Você está querendo curtir uma canção de sua banda favorita, mas já está enfastiado de ouvir alguma coisa do catálogo do grupo pela ducentésima vez. Por esse motivo, você deseja escutar uma música com estilo parecido com o do seu conjunto predileto, mas está com muita preguiça de buscar pela trilha ideal nos confins da internet. Bom, a premissa do Radialize é facilitar esse serviço. O usuário busca um artista no aplicativo e “recebe” uma gama de webradios que tocam especificamente canções da banda procurada e de outras similares a ela. “Fazemos algo como o Google. Não entregamos, mas disponibilizamos o conteúdo geral já presente na web”, comenta o professor Álvaro Pereira Junior, coordenador do projeto financiado pelo Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq). Ademais, de acordo com Pereira Junior, não há serviço desse tipo oferecido nem no Brasil, nem no exterior.

O Radialize já está disponível para Android e iOs e melhorias devem vir em futuras versões. O design ainda é um tanto simplista e há uma dependência muito grande de uma boa conexão de internet, mas o projeto é muito promissor e vale a pena o download do aplicativo. “Queremos reinventar a maneira com que se ouve rádio”, ressalta o professor.

IMPORTAÇÃO Arthur Abrami, Maurício Herszkowicz e Gil Viana decidiram trazer para o Brasil uma ferramenta já consagrada nos Estados Unidos. No esquema business to business, o Punks S.A. funciona como um buscador para que os clientes possam encontrar a canção perfeita para a sua peça publicitária, filme e até mesmo jogo de videogame. “Somos um elo entre os artistas e a indústria de entretenimento e propaganda”, afirma Arthur Abrami. Os artistas submetem suas músicas ao crivo da equipe de análise do site e, caso aprovados, entram no escopo dos clientes da Punks S.A. e, por conseguinte, da Jingle Punks, a “matriz” norte-americana. Isso lhes dá uma chance de, além de ganhar um bom dinheiro, serem alçados ao estrelato com mais facilidade. Aproximadamente 8 mil músicas chegam aos ouvidos da equipe do Jingle Punks mensalmente, das quais 20% são aprovadas. No Punks S.A. 320 canções são submetidas e a porcentagem de aproveitamento é a mesma da central estadunidense.

 O MGMT, por exemplo, estava no Jingle Punks e acabou fechando com uma grande gravadora, posteriormente. Para conferir melhor o que a empresa oferece, basta acessar o endereço www.punkssa.com.